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Comunicação e letramento: diálogos possíveis em sala de aula?

NO CENÁRIO ESCOLAR

Os dados de pesquisa na área educacional evidenciam um grande número de crianças que ao final da 4ª série do ensino fundamental não tem o domínio esperado da escrita e leitura. A este problema se confere o fato de se ter desenvolvido a decodificação da escrita sem a preocupação de seu uso social. Entendendo que letramento seja o processo de aprender a ler e a escrever, bem como o resultado da ação de usar essas habilidades em práticas sociais Evidencio que o pro- cesso de alfabetização e letramento deve acontecer simultaneamente (Soares,1998,p.47). Não esquecendo da inserção deste cidadão no ce- nário sócio-político.

Sendo esta uma grande preocupação dos autores, professores e edu- cadores envolvidos com a educação e considerando que as crianças vivem numa sociedade letrada em que a língua escrita está presente de

maneira visível e marcante nas atividades cotidianas, é imprescindível a apresentação e contato com textos escritos, para que formulem hipó- teses sobre sua utilidade, seu funcionamento e sua configuração. Essas ações foram objeto do meu projeto desenvolvido junto ao TIME: o desenvolvimento do letramento utilizando diferentes gêneros textuais através de situações e necessidades reais para que sua compreensão, sua utilidade e uso na sociedade sejam assim assimilados, tendo para isto as mídias como ferramentas.

Figura 1 - Alunos da 3ª série C professora Léia.

Uma questão muito marcante para nós, professores, é quanto à avaliação desta aprendizagem. Medir e avaliar letramento em um indivíduo é algo muito complexo, bem como as possíveis causas da sua falta ou escassez. Mas o que inegavelmente não podemos contestar é a necessidade de um cidadão ser letrado, pois O letra-

mento é, sem duvida alguma, pelo menos nas modernas sociedades industrializadas, um direito humano absoluto, independentemente

das condições econômicas e sociais... (Soares, (1998,p.120). Para

que o mesmo possa se comunicar, argumentar, compreender e atri- buir significados alternativos.

Outros autores apresentam estas necessidades, porém Demo argu- menta que:

“O desafio social de leitura detém, com nódulo central, a habilidade de contraleitura, porque é com ela que

podemos, com base na habilidade de brandir autoridade do argumento, não só ir além do argumento de autoridade, mas principalmente cultivar o saber pensar para melhor intervir. Ler significa tanto compreender significados quanto atribuir significados alternativos ao mundo, emergindo o leitor/autor” (DEMO, 2007, p.23)

Neste sentido, o projeto TIME: Tecnologias Interativas e Mídias na Escola proporcionou o atendimento das minhas necessidades jun- to à sala de aula, visto que após a apresentação das mídias e seus respectivos usos, bem como capacitações teóricas articuladas às ati- vidades práticas, foi possível desenvolver um trabalho diferenciado, muito atrativo para as crianças e com a riqueza de abarcar diferentes possibilidades e alcançar nossos objetivos. Apresentarei mais a fren- te neste artigo que os objetivos não ficaram apenas no letramento, indo além das ações desenvolvidas em sala de multimídias, surpre- endendo alunos e professora.

COMUNICAçãO E LETRAMENTO DIGITAL

Ao compreender que letramento é o resultado da ação da leitura e da escrita em práticas sociais, bem sabemos que já é uma prática social a comunicação digital, o desenvolvimento destas ações podem acon- tecer de forma simultânea, de modo que um complemente o outro, contextualiza e enriquece a construção do conhecimento.

A inserção do cidadão nas práticas sociais de leitura e escrita na sociedade atual, inclui o uso das mídias interativas, e neste contexto novos conceitos de letramentos surgem, como o letramento digital. Para esclarecer Xavier (p.2 )alega:

O letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos verbais e não verbais, como imagens e desenhos.

Enriquecendo este conceito Kleiman(-2005 p.25) faz menção:

O letramento abrange o processo de desenvolvimento e o uso dos sistemas da escrita nas sociedades, ou seja, o desenvolvimento histórico da escrita refletindo outras mudanças sociais e tecnológicas, como a alfabetização universal, a democratização do ensino, o acesso a fontes aparentemente ilimitadas de papel, o surgimento da internet.

mana, estamos diante de uma delas, a comunicação digital e o uso das mídias, faz-se necessário uma inclusão, um desenvolvimento e apro- priação do novo. Para corroborar Braga e Ricarte (2005 p.37) alegam:

Na sociedade atual além de saber ler e escrever , os indivíduos precisam também estar familiarizados com o uso do computador e com as práticas sociais que são mediadas por essa máquina. O “letramento digital”,assim como o domínio das práticas escritas, passa a ser uma necessidade social e não apenas uma opção viável oferecida pela nossa sociedade.

Nestas diferenciações propriamente ditas de letramento, no papel e na tela, Soares(2002-p.156) sugere que a palavra letramento seja pluralizada;

Diferentes espaços de escrita e diferentes mecanismos de

produção, reprodução e difusão da escrita resultam em diferentes letramentos.

O papel da escola e a importância de se preparar as crianças para esta comunicação digital tão presente em nossa sociedade é funda- mental. O desenvolvimento do letramento acontece a todo instante em que a criança está em contato com a leitura e escrita. No am- biente escolar a leitura diária, seja individual ou compartilhada e o trabalho com diferentes gêneros textuais de forma contextualizada numa prática real, é indispensável, o mesmo podemos encontrar no cenário das mídias.

menta necessária, uma vez que está presente em nossa sociedade. Os mais variados tipos de textos podem ser produzidos e lidos fazendo uso das mídias, o conteúdo de um cartão no paint, uma história em qua- drinhos no Hágaquê, apresentação de um projeto ou evento no movie

maker , relatórios através de registros fotográficos, reescrita e conclu-

sões de pesquisas, diferentes leituras na internet, produções de roteiros e laudas para programas de web rádio e telejornalismo, entre outros.

A riqueza da diversidade não deixa dúvidas da amplitude que se pode ter, favorecendo, neste sentido, o hipertexto1.. Johndan Johnson

Eiola (1994, p. 197) menciona que:

escritores e leitores de hipertexto dependem de um esquema organizacional baseado no computador que lhes permita

moverem-se, rápida e facilmente, de uma seção de texto (...) para outras seções relacionadas ao texto.

Quando busca tais informações no hipertexto está ocorrendo uma amostra interdisciplinar, isto é, informações em várias áreas do conhe- cimento podem ser encontradas, estando relacionadas entre si ocor- rendo uma construção de conhecimentos.

Ainda maior é a interação, na hipermídia, do uso de imagens, sons e movimentos simultâneos na tela do computador, e a possibilidade de lidar com um turbilhão de informações disponíveis.

O contato com diferentes gêneros textuais e a utilização dos re- cursos midiáticos é uma riqueza em diversidade e motivação para as crianças. Certamente o hipertexto, bem como a hipermídia colaboram

2 Trata-se de textos não lineares, com informações interligadas, formando uma teia de textos onde o leitor escolhe por onde vai passear; ou direcionar-se nesta teia

no desenvolvimento da leitura e comunicações, construindo conheci- mentos, oportunizando as múltiplas escolhas. A atenção é exercitada para que não se perca a idéia ou a informação central, abrindo novos caminhos, possibilidades e competências. Para esclarecer Braga e Ca- lazans (2001, p. 92) alegam:

Selecionados seus produtos mediáticos, os usuários não simplesmente os “absorvem”, mas interagem com estes, sofrem suas interpelações reagem, interpretam. E aí já temos aprendizagem.

Neste contexto a escola não precisa concorrer com a comunicação midiática, mas promover uma parceria, uma vez que livros, jornais, rádio e televisão, conquistaram seu espaço e valor na sociedade, como afirma Braga e Calazans 2001, -p.190) que:

Na verdade, o que observamos é uma sociedade moderna ampliando e diversificando suas possibilidades de interação mediatizada desde a segunda metade do século XIX, através de novos procedimentos e tecnologias, que vão compondo, ao lado do livro e do jornal (os dois principais processos mediáticos anteriores e já multisseculares), um conjunto crescentemente complexo.

Rádio Web E LETRAMENTO

O rádio é um dos meios de comunicação mais popular no Brasil, atingindo todo tipo de faixa etária e aceito em todas as classes sociais.

Com estas características é um grande disseminador de informações, persuasão e entretenimento, sendo, portanto, um veículo ideal para uma educação informal.

Figura 2 - Gravação com os alunos da Rádio Recreio

O rádio aqui referido seria sua programação e não o aparelho em si, programação esta que pode ser desenvolvida com os alunos, opor- tunizando e criando situações para uma educação formal, sendo um motivador meio de comunicação de massa.

Desenvolvemos com os alunos uma rádio web que consiste cons- truir uma programação de rádio que possa ser postada na web. A pro- dução deste aconteceu com a escolha de um tema norteador, que por ocasião do aniversário da cidade, se adotou assuntos referentes à mes- ma, como notícias, entrevistas e dicas. A escolha do nome e desenho de apresentação na web foram sugeridos e escolhidos pelas crianças através de votação.

A ferramenta utilizada foi com o software Audacity, que propor- ciona a edição como num programa convencional, com entradas de vinhetas, gingles, entrevistas e músicas. Os recursos deste programa são variados, um deles permite adicionar fundo musical e fala simul- taneamente com volume diferenciado conforme a necessidade. As ati- vidades de construção deste programa foram feitas de forma coletiva e após a escolha e correções dos textos, deu-se o momento da gravação no Audacity, oportunizando às crianças ouvirem suas produções, ob- servarem suas vozes, a altura e o timbre , a clareza na fala ao fazer uso correto dos sinais de pontuação e com autonomia fazerem correções e críticas, regravando sempre que necessário, tendo o professor como mediador. As notícias do programa são escolhidas e redigidas pelas crianças que se colocam como repórteres, buscando acontecimentos, entrevistas, anúncios, seja no ambiente escolar bairro ou cidade.

Fazer uso da rádio web na sala de multimídias é um recurso de muito valor para o desenvolvimento da leitura e da escrita, bem como abordar diferentes assuntos. Na construção de um programa é neces- sário a escolha de um tema que abranja desde assuntos da escola como informativos, notícias, dicas e esportes relacionados ao bairro, cidade, ou acontecimentos como campanhas, enfim, são variados os conteú- dos e todos articulados a outros trabalhados em sala de aula.

O trabalho da escrita e correções das programações para a rádio, bem como a leitura com clareza, observando pontuação e tempo ver- bal, são exercícios de usos da leitura e escrita. A motivação e satisfa- ção de ver um trabalho realizado pelo grupo e postado na web, ou exi- bida nos horários de intervalo escolar, ver-se como um comunicador assimilando-se a um meio de comunicação de massa como o rádio é muito gratificante.

O trabalho com a rádio oportuniza pesquisas e reflexões sobre como funciona um meio de comunicação e suas técnicas; um descorti- nar dos bastidores e do funcionamento dos meios de comunicação, as comparações de uma mesma notícia em diferentes óticas podem ser o foco de uma pesquisa. Com todo este contexto vai se formando uma visão mais crítica, ou seja, receptores e produtores mais críticos.

Devemos recorrer a uma nova forma de interagir com a internet no processo de comunicação com nosso aluno, buscando a formação de um sujeito para um mundo em transformação, no mínimo, é possibilitar a visão de um mundo em que as informações cheguem sobre diferentes óticas e, cabe ao insubstituível professor a análise junto com seu aluno de um descortinar de verdades. (BRITO, 2003, p. 75)

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