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SUMÁRIO AGRADECIMENTOS

PASTA 1 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (versão em PDF) PASTA 2 APÊNDICES

I. PROGRAMA ENSINO MÉDIO INOVADOR NO CONTEXTO SOCIAL EMERGENTE

1.1 Cenário de Mudanças Globais

Ao observarmos o mundo à nossa volta percebemos que vivemos num cenário de profundas desigualdades e grandes inquietações de ordem social, política, ambiental e ética que permeiam o atual contexto. Basta assistirmos aos telejornais e veremos essa realidade aqui esboçada: o ser humano cada vez mais distante da sua humanidade em turbulências constantes e conflitos urbanos e rurais cada vez maiores.

Além disso, visualizamos um período de grandes transformações, marcado principalmente por avanços científicos e tecnológicos, pensamento que encontra suporte nas palavras de Toffler (1988), para quem a tecnologia é apresentada como o motor destas transformações, cujo combustível é o conhecimento. O autor afirma: “A razão de tudo isso é que a tecnologia se alimenta de si mesma. Tecnologia torna possível mais tecnologia, como podemos ver se observarmos por um momento o processo de inovação” (1988, p. 35). Ora, o homem tem criado utensílios para facilitar sua vida, transformando até mesmo seu modo de fazer suas atividades dia após dia. O homem de ontem não é o mesmo de hoje, graças à sua criatividade.

Na verdade, são mudanças paradigmáticas que, segundo Sousa e Fino (2008), representam uma ruptura com o passado, provocando uma reorganização do pensamento e da

sua própria difusão cultural. Desde a invenção da imprensa por Gutemberg até os nossos dias, o homem deu um salto qualitativo e quantitativo na disseminação do saber, pois o que antes era privilégio de poucos, com o avanço tecnológico passou a ser mais difundido. Esta explicação é encontrada de forma sucinta em material destinado à formação de pessoal de Biblioteca:

[...] nossos antepassados tiveram de percorrer um longo caminho até chegar ao nosso conhecido papel, ao livro, ao computador, ao CD-ROM, à internet e aos e-

books. A utilização da tecnologia foi, e ainda é, uma constante na viabilização da

descoberta de novas formas de codificação (PIMENTEL, 2007, p. 19).

Por conseguinte, pela ação das TIC (tecnologias da informação e comunicação), o mundo ficou muito pequeno e vivemos hoje numa grande aldeia global (SOUSA; FINO, 2008), o que nos leva a saber em tempo real o que se passa do outro lado do planeta sem sair de casa. Apesar disso, esta realidade se apresenta cheia de contradições e inseguranças. Uma dessas contradições está no fato de que, se por um lado o ser humano foi capaz de criar novas tecnologias que conseguem derrubar as barreiras geográficas, através da globalização, por outro, elas não foram capazes de aproximar as pessoas.

E traz inseguranças porque, apesar de estarmos na era da informação e da comunicação, sem dúvida esta se apresenta como um terreno controverso, no qual as pessoas encontram dificuldades de reflexão e criticidade com relação às mensagens recebidas.

E dentro deste contexto de profundas mudanças e inquietações, encontra-se a escola, alvo de constantes críticas por não ter acompanhado as grandes transformações sociais e por ter se tornado indiferente aos problemas do presente e às necessidades dos estudantes. Seu currículo se tornou obsoleto e não oferece aos jovens opções do que querem aprender, pois tudo já vem determinado pelo critério de ingresso nas universidades (TOFFLER, 1988). Mesmo com as constantes mudanças curriculares e com a incorporação de novas tecnologias, inclusive o próprio computador, observamos que isso não é suficiente para favorecer a reflexão na aprendizagem dos alunos. A respeito disso, Correia (2015) faz uma critica:

A digitalização, o e-learning e a e-educação, pelo menos retoricamente, têm como objetivo melhorar as práticas de ensino e aprendizagem. É o conhecimento, diferentemente da informação, que torna a sociedade e os indivíduos que a compõem autorreflexivos, capazes de assimilar, contextualizar, entender e dar sentido à informação que encontram no processo de aprendizagem (CORREIA, 2015, p. 2).

Para contextualizar melhor um comportamento de deslumbramento típico da era da informação e da comunicação, vamos observar o quadrinho abaixo, do cartunista Maurício de Sousa. Ao analisarmos a cena, percebemos que o personagem Capitão Feio (FIG. 1) encontra- se em pleno processo de inclusão digital. Esse antagonista, que antes queria conquistar o mundo com seus planos maléficos, se rende ao mundo virtual e passa a dominar o mundo, de fato, mas através da Internet.

Figura 1 – Capitão Feio

Fonte: Revista Cascão (2011, p. 58)

Mas, o que à primeira vista parece algo muito positivo traz em seu contexto uma série de contradições. A primeira delas diz respeito à velocidade das informações, que sobre a qual Correia (2015) comenta:

O imediatismo da Internet e outras tecnologias digitais, a sobrecarga de informação que é sua propensão, a dinâmica social e cultural da globalização e os efeitos debilitantes que estes têm sobre a capacidade de auto-reflexão são questões que precisamos proximamente pensar mais seriamente (CORREIA, 2015, p. 97).

Isso nos faz refletir que, apesar da facilidade de acesso às informações, as pessoas têm dificuldades para refletir sobre os hipertextos e os dados audiovisuais que recebem através da Internet. A velocidade é tamanha e são tantas informações simultâneas, que não é fácil transformá-las em conhecimento, o que exige esforço cognitivo. Também se percebe a dificuldade de filtrar as mensagens, principalmente pelas crianças e adolescentes, exigindo capacidade de discernimento.

Em segundo lugar, mesmo com a generalização das tecnologias digitais, pelo menos aqui no Brasil a realidade se mostra desigual, pois temos observado que nem todas as pessoas que têm acesso às TIC. Se por um lado estas tecnologias facilitam o acesso à aprendizagem, por outro, nem todos têm a oportunidade de utilizá-las, tornando-se excluídos desse mundo

digital. Ou seja, vivemos num mundo globalizado, onde muitos não fazem parte dele, são os “desglobalizados”.

Assim, a despeito desta globalização e dos problemas que são frutos dela, temos observado no Brasil consequências desastrosas para nossos alunos: “Uma juventude sem perspectivas de vida, de emprego, de saúde mental e emocional, sem condição de pensar em ter uma vida futura digna e segura, onde ele (sic) possa realizar a finalidade de sua existência” (MORAES, 2003, p.4).

Dentro deste caldeirão cheio de inquietações e disparidades e toda ordem de problemas sociais, políticos, econômicos, ambientais, éticos e morais, encontra-se a escola com suas implicações. Como essa instituição pode dar conta de um contexto tão difuso quanto o nosso? É urgente redefinirmos o papel da escola contemporânea para que ela possa dar respostas concretas aos estudantes e à sociedade.