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SUMÁRIO AGRADECIMENTOS

PASTA 1 DISSERTAÇÃO DE MESTRADO (versão em PDF) PASTA 2 APÊNDICES

I. PROGRAMA ENSINO MÉDIO INOVADOR NO CONTEXTO SOCIAL EMERGENTE

3.2 Investigação Qualitativa

A linguagem dispõe de conceitos, de nomes mas o gosto da fruta só o sabes se a comes (Ferreira Gullar)

O fragmento da epígrafe acima nos faz lembrar o papel do pesquisador em experimentar os “sabores e saberes inerentes à vida”, que foram exorcizados pela ciência positivista (MACEDO, 2004, p. 39). Assim, a metodologia empregada nesta pesquisa foi Qualitativa com viés Etnográfico e sua implicação para o trabalho de campo não deixa de ser uma aventura. Como diz Macedo (Ibid., p. 147), “Na realidade, o trabalho de campo de inspiração qualitativa é uma certa aventura pensada sempre em projeto, e que demanda constantes retomadas. Não lida com objetos lapidados nem com a procura de regularidades”.

Tendo em vista esta compreensão da pesquisa qualitativa, apontamos sua origem, conceito, instrumentos empregados, como também o tratamento e análise dos dados, para fundamentar nossa pesquisa em pressupostos metodológicos condizentes com esta abordagem nas Ciências Sociais e na Educação. Segundo André (2012):

A abordagem qualitativa de pesquisa tem suas raízes no final do século XIX quando os cientistas sociais começaram a indagar se o método de investigação das ciências físicas e naturais, que por sua vez se fundamentavam numa perspectiva positivista de conhecimento, deveria continuar servindo de modelo para o estudo dos fenômenos humanos e sociais (ANDRÉ, 2012, p. 16).

Essa abordagem recebeu influências internacionais do Interacionismo Simbólico, da Fenomenologia Social e da Sociologia do Conhecimento e também de outras tradições de pesquisa, como a Escola de Chicago, a Etnometodologia, os Estudos Culturais ou a História Oral. Porém, apesar desse movimento ter sido um processo internacional, foi somente no século XX que ele ocorreu nos contextos nacionais (WELLER; PFAFF, 2013). Fato que nos leva à conclusão de que este processo não foi tão simples, gerando inúmeras divergências e debates no meio acadêmico, o que fez emergir uma polarização entre positivismo e pesquisa qualitativa.

Ora, o positivismo desenvolvido por Auguste Comte “acreditava que a vida social era governada por leis e princípios básicos que podiam ser descobertos através do uso dos métodos mais comumente às ciências físicas” (JOHNSON, 1997, p. 179). Decorrem desta

corrente epistemológica muitas críticas e restrições à pesquisa qualitativa, tais como: a questão da proximidade entre o sujeito e o objeto, causando o afetamento subjetivo; a falta de confiabilidade da pesquisa qualitativa, levando a trabalhos de caráter especulativo e pouco rigorosos; a falta de representatividade, uma vez que este conceito está relacionado à noção estatística de amostragem que leva à generalização, utilizada nas ciências naturais (MARTINS, 2004).

No entanto, quando se trata de seres humanos não somos capazes de estabelecer leis para generalizar os fenômenos. Assim, a abordagem qualitativa representa um “mergulho em interações situacionais nos quais os sentidos são produzidos, e os significados são construídos” (GATTI; ANDRÉ, 2013, p. 29), ou seja, esta abordagem compreende o ser humano como produtor de cultura e, portanto, determinados comportamentos necessitam ser interpretados dentro do seu contexto histórico-social, uma vez que interagimos e interpretamos em contato com outras pessoas, como defende a teoria de Vygotsky (2007).

Nesta abordagem é possível que sejam utilizados dados quantitativos, mas estes serão interpretados pelo pesquisador para compreender determinados fenômenos sociais. A esse respeito, André (2012, p. 24) nos esclarece: “Posso fazer uma pesquisa que utiliza basicamente dados quantitativos, mas na análise que faço desses dados estarão sempre presentes o meu quadro de referência, os meus valores e, portanto, a dimensão qualitativa”. Em outras palavras, são os valores e a visão de mundo do pesquisador, ou seja, os aspectos marcados pela subjetividade, que ajudam no distanciamento da postura positivista.

Porém, em resposta às críticas veiculadas sobre “a falta de rigor metodológico no tratamento e análise de dados” (MACEDO, 2012), a triangulação dos dados é defendida como uma “estratégia de validação de resultados de pesquisa” (WELLER; PFAFF, 2013, p. 21). Durante este processo, é importante que o pesquisador tenha a sensibilidade para perceber as diversas fontes de informações, para chegar a um trabalho consistente. Este procedimento é compreensível, uma vez que estamos lidando com seres humanos com interpretações diferentes para um mesmo fenômeno, sendo necessário “penetrar no universo conceitual dos sujeitos”, aspecto enfatizado pela fenomenologia (ANDRÉ, 2012, p. 18).

Para Macedo (2004, p. 47) a fenomenologia refuta de forma clara o positivismo, por outro lado, não dispensa o rigor com que ele aborda a realidade. Posto isso, como a fenomenologia se ocupa das manifestações e intencionalidades dos fenômenos – desde um simples ruído até as lembranças que as pessoas possuem –, dentro da educação esta análise é assim descrita pelo autor: “Da perspectiva fenomenológica, a ação de educar não pode ser conhecida apenas a partir de julgamentos contidos num arcabouço teórico a ela referente, mas,

principalmente, a partir daquilo que é construído na manifestação do próprio fenômeno” (Ibid., p. 43). Em outras palavras, podemos dizer que não são as teorias que importam dentro da análise do contexto educacional, mas as práticas que as pessoas elaboram a partir das suas interpretações pessoais ou, parafraseando André (2012), são as experiências cotidianas e os significados que as pessoas dão a elas que interessam no estudo fenomenológico.

Assim, nesta análise da realidade, ou melhor, dos fenômenos apresentados, se faz necessário ressaltar o papel da reflexão hermenêutica, que segundo o Macedo (2004), se constitui como um exame minucioso de todas as informações coletadas. Ele explica: “Ao tratar da interpretação de uma perspectiva múltipla, polissêmica, a hermenêutica está fazendo parte de um projeto notoriamente antipositivista” (Ibid., p.76). Deste modo, a hermenêutica permeia todo o processo, no qual o pesquisador questiona sobre a relevância das informações, procurando realizar a saturação dos dados para formar o conjunto do corpus empírico (Ibid.).