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No âmbito de um processo de ordenamento, é fundamental o desenvolvimento de cenários alternativos, correspondentes a diferentes opções para o desenvolvimento do território. No caso da Paisagem Protegida, a construção de cenários alternativos foi feita atendendo que existem imperativos de conservação que devem ser respeitados. De facto, todo o quadro legal existente, incluindo os vários instrumentos de ordenamento existentes e os vários estatutos de protecção, indica que o planeamento e a gestão devem ser feitos respeitando os objectivos de conservação dos valores patrimoniais. Desta forma, julgou-se que não faria sentido a construção de cenários que alterassem de forma substancial as características da área, como por exemplo a construção de empreendimentos turísticos, a instalação de campos de golfe, ou outros usos totalmente incompatíveis com a sensibilidade e necessidades de protecção dos valores identificados na Reserva. Desta forma, os cenários foram construídos em função da variação da ênfase que deve ser dada a processos ecológicos e actividades socioeconómicas que actualmente já ocorrem na PP, discutindo as suas implicações em termos de conservação dos valores naturais.

10.1. Cenário 1 – Renaturalização

No cenário de renaturalização considera-se que os objectivos do presente PO passariam pela renaturalização dos habitats da PPCB, deixando decorrer naturalmente os processos ecológicos característicos dos ecossistemas.

Neste cenário, as áreas agrícolas e florestais passariam por processos de renaturalização, com o desenvolvimento de vegetação que se aproxima da vegetação autóctone, num processo de evolução relativamente lento ou mais acelerado se fossem aplicadas medidas que favorecessem o seu desenvolvimento. Por seu lado, nas áreas urbanas expandir-se-ia a tendência actual de abandono. A presença humana deveria ser mínima, existindo apenas actividades de investigação e monitorização dos processos naturais. Eventualmente, poderiam ser admitidas acções de educação ambiental. Este cenário equivaleria a ter praticamente toda a PP com o estatuto de Protecção Total.

Este cenário teria como principal vantagem a criação, no noroeste de Portugal, de uma área de montanha verdadeiramente natural, caracterizada pela acção exclusiva dos processos ecológicos, reduzindo ao mínimo a intervenção humana. A diminuição dos níveis de perturbação permitiria também o aumento da área de alguns dos habitats com maior importância para a conservação, bem como a preservação das espécies da fauna, algumas das quais se encontram ameaçadas. Estas áreas são extremamente raras a nível europeu, principalmente no sul, o que só por si poderia considerar-se muito interessante a nível científico. Um cenário de protecção estrita teria contudo várias desvantagens, tanto a nível sócio-económico como a nível ambiental, já que muitos dos seus mais importantes valores naturais estão dependentes de actividades humanas, como a agricultura e pastorícia extensivas. A adopção das referidas medidas geraria situações de conflito com as populações, retirando o apoio social para a existência da Reserva, que agora poderá existir.

10.2. Cenário 2 – Situação actual

Uma das opções de planeamento pode ser simplesmente a manutenção do status

quo, incluindo os modelos actuais de gestão agrícola e florestal. Com esta opção, a

actividade agrícola continuaria num processo de abandono gradual, que resultaria a curto prazo no desaparecimento de muitas das actividades agrícolas e ao abandono generalizado dos campos. Dessa forma, a regeneração natural daria origem, no estádio final da sucessão, a área florestal, principalmente de carvalhais. As áreas urbanas manteriam aproximadamente os actuais limites, sem grande aumento da densidade habitacional, consequente da regressão demográfica gradual. Nestas condições, o zonamento deveria ser feito de acordo com os usos actuais, atribuindo um nível de protecção elevado às áreas com maior valor de conservação (bosques de caducifólias, turfeira, zonas de matos, incluídos por vezes em mosaicos que também podem incluir pequenas manchas agro-florestais e galerias ripicolas). Com níveis de protecção mais baixos seriam classificadas as áreas de povoamento de pinhais e eucaliptais.

A vantagem de um cenário deste tipo seria manter um modelo de organização do território que já se sabe contribuir positivamente para a conservação da biodiversidade. De facto, na sua maioria, os mosaicos de habitats onde também podem ocorrer pequenas manchas agrícolas e florestais de produção são favoráveis à

conservação dos valores naturais. As desvantagens deste cenário residem fundamentalmente na incapacidade de lidar com as tendências de transformação do território, que poderão fazer com que o modelo actual já não seja eficaz no futuro. Entre estas tendências encontram-se principalmente o abandono agrícola, a intensificação pecuária em algumas áreas, e o crescente número de visitantes. Para além disso, este modelo é pouco ambicioso, não permitindo aproveitar todo o potencial da Paisagem Protegida para conservação dos valores patrimoniais. Por exemplo, este cenário é provavelmente incompatível com os objectivos de conservação da turfeira e de espécies de flora de conservação prioritária, incluindo Bruchia vogesiaca, Narcissus

cyclamineus e Veronica micrantha. De igual modo, os presentes modelos actuais de

gestão florestal não optimizam o potencial para conservação da biodiversidade do Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura, em que a área presentemente ocupada por pinheiro-bravo e por espécies exóticas não permite a expansão de povoamentos de carvalho e de outras espécies autóctones. Em geral., estas tendências poderão contribuir a médio prazo para a diminuição da diversidade de habitats, para o aumento do risco de incêndio, para a expansão de espécies invasoras e para a diminuição do grau de harmonia da paisagem.

10.3. Cenário 3 – Exploração sustentável

O presente cenário pressupõe um planeamento que favoreça a exploração sustentável dos recursos naturais, mantendo um elevado nível de protecção das áreas mais críticas para a conservação. Este modelo de planeamento e gestão pressupõe a valorização da conservação da natureza e da biodiversidade, enquanto elemento efectivo do desenvolvimento socio-económico local. As actividades agrícolas e florestais adquirem uma clara importância, uma vez que se pretende a sua optimização. Convém no entanto realçar que estas ficarão sujeitas a alguns condicionamentos decorrentes das necessidades de conservação do património Da mesma forma, poderá apostar-se no aumento das actividades associadas ao ecoturismo e educação ambiental, aumentando a presença humana de uma forma regulada e sustentável, e não colocando em risco os equilíbrios ecológicos. Esta opção poderia à partida ser considerada menos vantajosa para a conservação da biodiversidade, podendo contudo ser mais sustentável a longo prazo devido à maior aceitação social da Paisagem Protegida pelas populações locais. O desenvolvimento das actividades económicas indicadas poderá também aportar financiamento para

acções no âmbito da conservação da natureza que podem ser posteriormente aplicadas em acções de conservação, que de outra forma não teriam condições para ser implementadas. Visa-se assim o estabelecimento de medidas que garantam o equilíbrio entre a conservação dos valores e o desenvolvimento das actividades que possam garantir retorno económico e melhoria das condições de vida das populações locais, contribuindo de forma decisiva para a sua fixação.

As desvantagens desta opção relacionam-se com a potencial redução do valor patrimonial da Paisagem Protegida, especialmente se a expansão das actividades económicas se fizesse à custa de habitats importantes para a fauna e flora. Seriam de esperar repercussões negativas nas populações de algumas espécies mais sensíveis, que certamente tenderiam a diminuir os seus efectivos.

10.4.- Discussão de cenários

Qualquer dos cenários apresentados tem vantagens e inconvenientes, não existindo provavelmente nenhum que não cause problemas significativos para a gestão e a conservação do valor patrimonial da PPCB. Por outro lado, todos eles têm algumas vantagens não negligenciáveis, que poderiam contribuir positivamente para a Paisagem Protegida.

A resolução deste problema reside no próprio zonamento da Paisagem Protegida, em que se deverá fazer uma distribuição no espaço dos objectivos implícitos em cada um dos cenários apresentados. Assim, por exemplo, existem áreas onde se deverá promover a gestão, quer porque se encontram muito degradadas, quer devido a poderem desta forma aumentar substancialmente o seu valor natural. Casos específicos desta necessidade de gestão são a turfeira e também o Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura, onde poderão ser tomadas medidas para evitar a expansão dos povoamentos de pinhais e para controlar as espécies exóticas A gestão da actividade turística é também aconselhável, de modo a serem respeitadas as capacidades de carga e definida a estratégia de distribuição espacial e temporal da visitação. Noutros casos, o estado actual poderá ser o mais adequado para a conservação dos valores patrimoniais, como o caso do aproveitamento dos mosaicos agro-florestais. A certificação de alguns produtos agrícolas, poderia contribuir para valorizar os produtos locais de forma compatível com a conservação da biodiversidade.

A definição das estratégias mais adequadas para compatibilizar em cada caso as várias opções de planeamento e gestão da Paisagem Protegida são feitas nos próximos dois capítulos.

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