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Plano de Ordenamento e Gestão da. Paisagem Protegida de Corno do Bico. 2ª Fase - DIAGNÓSTICO

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Plano de Ordenamento e Gestão da

Paisagem Protegida de Corno do Bico

2ª Fase - DIAGNÓSTICO

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Equipa Técnica

Coordenação • Pedro Beja Colaboradores • Susana Rosa • Sofia Lourenço • Luís Reino • Luís Gordinho • Joana Santana

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ... 5

2. VISÃO ESTRATÉGICA ... 8

3. VULNERABILIDADES E CONDICIONANTES ... 11

3.1. Riscos Naturais... 11

3.2 Risco de incêndio ... 14

3.3. Pisoteio ... 16

3.4. Perturbação ... 17

3.5. Qualidade da água ... 17

3.6. Risco e Vulnerabilidade à poluição... 18

3.7. Espécies invasoras... 19

3.8. Caça ... 20

3.9. Pesca... 21

3.10. Pastoreio... 21

3.11. Predadores naturais e assilvestrados ... 22

3.12. Urbanização... 22

3.13. Infra-estruturas lineares ... 23

4. VANTAGENS E OPORTUNIDADES... 24

4.1. Estado de conservação ... 24

4.2. Potencial turístico ... 25

4.3. Actividades agro-pecuárias... 25

4.4. Instrumentos de Ordenamento ... 26

5. TENDÊNCIAS NA OCUPAÇÃO E USOS DO SOLO ... 27

6.1. Sensibilidade ... 28

6.2. Protecção... 29

7. ADEQUAÇÃO DOS USOS E ACTIVIDADES ... 36

7.1. Usos do solo ... 37

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8. ADEQUAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE ORDENAMENTO ... 39

8.1. PROT Norte ... 40

8.2. PROF Alto Minho... 40

8.3. PBH Minho... 41

8.4. PBH Lima... 42

8.5. PDM – Paredes de Coura... 42

9. POTENCIALIDADES DA RESERVA... 43

9.1. Conservação dos valores naturais... 43

9.2. Conservação de valores históricos e culturais... 44

9.3. Actividades económicas ... 45

9.4. Educação e investigação ... 45

10. CENÁRIOS DE PLANEAMENTO E GESTÃO ... 47

10.1. Cenário 1 – Renaturalização ... 47

10.2. Cenário 2 – Situação actual... 48

10.3. Cenário 3 – Exploração sustentável ... 49

10.4.- Discussão de cenários... 50

11. ESTRATÉGIA DE PLANEAMENTO DO TERRITÓRIO ... 52

11.1 Biótopos aquáticos ... 52

11.2 Biótopos herbáceos ... 53

11.3. Biótopos arbustivos... 53

11.4 Biótopos florestais ... 54

11.5. Ambientes artificializados ... 55

12. QUADRO ESTRATÉGICO DE REFERÊNCIA ... 56

12.1. Regime de Protecção ... 56

12.2. Usos e actividades... 58

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ANEXOS

ANEXO 1. Sensibilidade dos biótopos aos principais factores de ameaça que

incidem sobre a Paisagem Protegida

ANEXO 2. Necessidades de protecção dos biótopos relativamente a cada

um dos factores de ameaça que incidem sobre a Paisagem

Protegida

CARTOGRAFIA

[34] - Carta de riscos naturais

[35] - Carta de comportamento e ocorrência de fogos √

[36] - Carta com fontes poluidoras, zonas de degradação paisagística

[37] – Carta de risco e vulnerabilidade dos solos e da água à poluição

[38a] – Carta de sensibilidades √

[38b] – Carta de necessidades de protecção √

[38c] – Carta preliminar de aplicação do regime de protecção √

[39a] – Carta de adequação de uso e actividades √

[39b] – Carta de adequação de uso e actividades – Compatibilidade Potencial

com Turismo e Recreio √

[40] – Carta de adequação do ordenamento vigente

[41] – Carta síntese de adequação e conflitos

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1. INTRODUÇÃO

O presente relatório inscreve-se no quadro do Contrato de Prestação de Serviços entre o Instituto da Conservação da Natureza e a ERENA – Ordenamento e Gestão de Recursos Naturais, Lda, estabelecido no âmbito da elaboração do Plano de Ordenamento e respectivo Regulamento da Paisagem Protegida do Corno do Bico. A elaboração deste Plano de Ordenamento foi determinada pela Resolução do Conselho de Ministros nº 72/2003, de 16 de Maio, visando os seguintes objectivos: a) Assegurar, à luz da experiência e dos conhecimentos científicos adquiridos sobre o

património natural desta área, uma correcta estratégia de conservação e gestão que permita a concretização dos objectivos que presidiram à classificação como área de paisagem protegida;

b) Cumprir os imperativos de conservação dos habitats naturais da fauna e flora selvagens protegidas, nos termos do Decreto-Lei nº140/99, de 24 de Abril;

c) Estabelecer propostas de ocupação do solo que promovam a necessária compatibilização entre a protecção e a valorização dos recursos naturais e culturais e o desenvolvimento das actividades humanas em presença, tendo em conta os instrumentos de gestão territorial convergentes na área da Paisagem Protegida;

d) Determinar, atendendo aos valores em causa, os estatutos de protecção adequados às diferentes áreas, bem como definir as respectivas prioridades de intervenção.

Neste contexto, o presente relatório apresenta os resultados da segunda fase do trabalho, correspondente ao diagnóstico da Paisagem Protegida. Conforme o Caderno de Encargos, os objectivos desta fase são:

1. Definir orientações que traduzam uma visão estratégica a longo prazo para o território face aos valores presentes;

2. Identificar e avaliar as vulnerabilidades e condicionantes presentes na área, relativamente às componentes de conservação da natureza e desenvolvimento territorial, de acordo com uma tipologia pré-definida;

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3. Identificar e avaliar as vantagens e oportunidades presentes na área, relativamente às componentes de conservação da natureza e desenvolvimento territorial, de acordo com uma tipologia pré-definida;

4. Identificar as transformações/evoluções/pressões/tendências mais substanciais a nível de ocupação do espaço e utilização dos recursos, desde a designação da área;

5. Determinar o índice de protecção indicado para cada classe de valores naturais presentes, pela aplicação de um Factor de Sensibilidade a diferentes graus de intervenção humana;

6. Analisar a adequação das classes de espaço definidas em Instrumentos de Ordenamento tendo em conta a vulnerabilidade dos valores naturais;

7. Analisar os Instrumentos de Ordenamento eficazes na área do plano análise individualizada dos perímetros urbanos tendo em conta os perímetros definidos nos diferentes instrumentos de planeamento, de forma a detectar incongruências, necessidade de alteração;

8. Definir as potencialidades da área, nomeadamente as potencialidades turísticas;

9. Traduzir a estratégia de gestão do território, anteriormente preconizada, de acordo com as potencialidades reais determinadas para a área;

10. Formular e validar cenários alternativos, tendo por base os valores presentes no espaço em estudo, com identificação de objectivos e linhas de actuação preconizadas, e das várias possibilidades de redefinição de limites;

11. Recomendar um quadro estratégico de referência, onde se inclua, face à avaliação dos cenários alternativos, uma proposta de linhas orientadoras para o Plano de Ordenamento ou Gestão.

A abordagem necessária para a prossecução destes objectivos é também expressa no Caderno de Encargos, consistindo em quatro etapas, designadamente:

• ETAPA 3. Definição de uma estratégia de gestão territorial, tendo por base uma situação ideal, próxima do original, com grandes linhas de acção para o que se quer daquele território;

• ETAPA 4. Identificação de limitações e constrangimentos e estimativa da sua influência negativa relativa na gestão do território em questão;

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• ETAPA 5. Identificação de recursos, e estimativa da sua influência positiva relativa na gestão do território em questão;

• ETAPA 6. Resumo técnico que consiste numa reavaliação de objectivos estratégicos e apresentação de cenários e propostas que os viabilizem.

Em conformidade com a metodologia e prazos propostos no Caderno de Encargos, este trabalho de diagnóstico baseia-se exclusivamente em informação bibliográfica, uma vez que não foi prevista qualquer recolha de informação adicional. Apesar disso, foram feitas visitas de reconhecimento geral ao terreno e contactados vários especialistas, de forma a ter uma visão tão integrada quanto possível sobre os vários problemas e oportunidades associados à Paisagem Protegida. Com base neste trabalho, julga-se ter sido possível efectuar um diagnóstico completo, o qual foi subsequentemente utilizado para lançar as bases estratégicas para o Plano de Ordenamento.

Em termos de apresentação do trabalho desenvolvido, seguiu-se em termos gerais a organização proposta no Caderno de Encargos. Fizeram-se, contudo algumas alterações pontuais, de forma a adaptar o modelo geral proposto às características próprias da Paisagem Protegida.

Uma vez que o diagnóstico deverá ter uma consequência directa na formulação do plano de ordenamento da Paisagem Protegida, o presente relatório inclui dois capítulos finais nos quais se concretizam os principais aspectos relacionados com os futuros zonamento e regulamento. Estes capítulos deverão ser entendidos como uma base de discussão para o desenvolvimento de consensos entre as várias entidades sobre as normas de planeamento territorial a que a Paisagem Protegida deverá estar sujeita. Uma vez discutidos e aprovadas estas orientações, poder-se-á evoluir rapidamente para a elaboração da proposta do plano (3ª fase).

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2. VISÃO ESTRATÉGICA

A elaboração de um plano de ordenamento de um qualquer território implica a existência de uma visão estratégica para esse território, a qual deverá servir de base para o desenvolvimento do modelo de organização espacial a adoptar. Esta visão deverá traduzir as perspectivas e expectativas dos diferentes agentes para o território em causa, consistindo portanto num conjunto de metas genéricas que deverão ser atingidas num horizonte temporal de médio ou longo prazo. A elaboração de uma visão é assim um exercício de antecipação do futuro desejável, envolvendo portanto uma boa dose de utopia e ficção. O seu objectivo é clarificar o âmbito das ambições, definir as condições de coerência do processo de desenvolvimento e identificar as acções necessárias à sua viabilização.

No caso concreto da Paisagem Protegida do Corno do Bico, o desenvolvimento da visão estratégica tem que ser balizado pelos imperativos de conservação da natureza, os quais constituem uma opção legal para este território, já assumida pelo Estado Português aos níveis nacional e internacional. Dentro deste quadro, procurou-se elaborar uma visão que maximizasse o valor de conservação da área, ao mesmo tempo que potenciava a sua valorização e utilização sustentáveis aos níveis local, regional e nacional. Procurou-se assim estabelecer um equilíbrio entre perspectivas e expectativas eventualmente antagónicas ou mesmo conflituosas, as quais deverão posteriormente ser materializadas na prática através das opções de planeamento. Em termos temporais, considerou-se para esta visão o horizonte de 2030, transcendendo portanto o prazo de vigência do Plano de Ordenamento da Paisagem Protegida. Para propor este horizonte, atendeu-se ao facto de o Caderno de Encargos estabelecer a necessidade de se considerarem objectivos de longo prazo, os quais deverão orientar as linhas gerais de planeamento e gestão da Paisagem Protegida. Apesar disso, considerou-se este prazo como razoável, permitindo assim estabelecer uma linha de rumo que poderá guiar este e futuros Planos de Ordenamento. Claramente, contudo, a visão poderá ser melhorada e actualizada quando o Plano de Ordenamento for revisto, em função de novas realidades ecológicas, socio-económicas e legais.

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Neste contexto, a visão assume que em 2030 a Paisagem Protegida terá as seguintes características:

i. Aumentou significativamente o valor para as espécies de conservação prioritária, através da implementação bem sucedida de um Plano de Gestão

ambicioso, devidamente enquadrado no Plano de Ordenamento. Assim, as populações de espécies faunísticas associadas aos bosques de caducifólias, bosques ripícolas, aos matos, e a determinadas áreas agrícolas, como a víbora de Seoane Vipera seoanei, o picanço-de-dorso-ruivo Lanius collurio ou o tritão-palmado Triturus helveticus, aumentaram e expandiram a sua área de ocorrência devido à melhoria das condições do habitat. O mesmo se prevê para as espécies associadas às linhas de água, como a toupeira-de-água

Galemys pyrenaicus, a panjorca Chondrostoma arcasii ou a

salamandra-lusitânica Chioglossa lusitanica. De igual modo, o plano de gestão possibilitou o aumento significativo de populações de espécies prioritárias da flora, nomeadamente da população sensível de Menyanthes trifoliata da turfeira, da brioflora como a Bruchia vogesiaca e Bryoerythrophyllum campylocarpum, e das populações de Veronica micrantha e Narcissus cyclamineus;

ii. Encontraram-se e implementaram-se modelos de gestão florestal adequados, que permitiram uma compatibilização harmoniosa entre a

actividade silvícola e a conservação da natureza, nomeadamente nas áreas de bosquetes de folhosas, no quadro das orientações do Plano Regional de Ordenamento Florestal do Alto Minho. Estes permitiram de igual modo reduzir de forma significativa o risco de incêndio, promovendo a conservação da globalidade dos habitats florestais e das espécies que deles dependem, incluindo algumas de conservação prioritária;

iii. Encontraram-se modelos de gestão agrícola equilibrados, mantendo os

regimes de exploração extensivos nas áreas com valores relevantes de flora e fauna associados a esta actividade. Foi igualmente possível reduzir a taxa de abandono agrícola, promovendo a manutenção dos habitats que beneficiam desta actividade.

iv. Foi implementado um modelo equilibrado de exploração pecuária extensiva, baseado em encabeçamentos compatíveis com a manutenção dos

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v. A utilização turística da Paisagem Protegida é compatível com as restrições ambientais, as quais foram estabelecidas tendo em atenção

problemas como o pisoteio e a perturbação de espécies sensíveis. Neste quadro, desenvolve-se na Paisagem Protegida uma actividade eco-turística ligada aos passeios pedestres e à observação da natureza, a qual valoriza os recursos naturais e é desenvolvida numa perspectiva de educação ambiental. vi. A Paisagem Protegida tornou-se uma área privilegiada para o

desenvolvimento de investigação científica no domínio da gestão de zonas agrícolas e florestais, produzindo permanentemente informação

actualizada sobre o estado da Paisagem Protegida e o sucesso de implementação de medidas de gestão, através de um programa de monitorização a longo prazo. Este tipo de investigação é um dos suportes básicos da gestão adaptativa da Paisagem Protegida, permitindo melhorar permanentemente as medidas de gestão em função da sua real eficácia ambiental.

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3. VULNERABILIDADES E CONDICIONANTES

Para o planeamento e gestão da Paisagem Protegida é fundamental diagnosticar as principais vulnerabilidades e condicionantes, permitindo assim optimizar os usos e ocupação do solo. No âmbito do Plano, foi feito portanto um diagnóstico exaustivo de todos os problemas que a afectam em cada caso, caracterizando os aspectos mais importantes para as fases subsequentes do Plano de Ordenamento. O tratamento dado a cada tema foi necessariamente variável, tanto devido à sua importância relativa, como devido aos dados disponíveis para proceder à sua caracterização. Seguidamente descrevem-se todas as condicionantes e vulnerabilidades diagnosticadas.

3.1. Riscos Naturais

À escala das bacias hidrográficas dos grandes rios é habitual considerar os seguintes tipos de riscos naturais (e.g. Ribeiro da Fonseca 2000): erosão, assoreamento, riscos associados à geologia e tectónica (deslizamentos, escorregamentos ou quedas de blocos; expansibilidade de argilas e subsidência), seca, inundação e cheias e um conjunto de riscos diversos (descargas poluentes localizadas, poluição difusa, radioactividade e rotura de barragens). Para além de alguns dos riscos naturais acima mencionados, poderão ainda ser considerados os riscos sísmicos e riscos de incêndio. A análise de alguns destes factores de risco é bastante complexa, necessitando de um grande volume de informação de base, a maior parte da qual não se encontra disponível para a área da Paisagem Protegida do Corno do Bico. Há outros riscos naturais que, em nosso entender, não faz sentido avaliar no âmbito do Plano de Ordenamento de uma PP com as dimensões da PPCB, como o risco sísmico e da radioactividade. Em todo o caso, na zona da Paisagem Protegida o risco sísmico é bastante reduzido, já que das 5 classes de risco definidas para o território nacional esta área se encontra na segunda de menor risco (INAG 1999).

Neste contexto, na presente secção considerou-se apenas com algum detalhe os riscos naturais para os quais existisse alguma informação para a PPCB e fossem relevantes no contexto do planeamento e gestão do território. Assim, descrever-se-ão as questões relacionadas com o assoreamento, a seca e a inundação. Os problemas

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relacionados com os incêndios e a poluição foram tratados em secções separadas, devido à sua complexidade e importância no âmbito do presente estudo.

Risco de assoreamento

Os riscos de assoreamento são avaliados com base em informação detalhada sobre caudais e transporte de sedimentos, a qual não existe no contexto da área de estudo, mas apenas para os troços principais do rio Minho e Lima (INAG 1999). No que respeita à Paisagem Protegida, não existem evidências de problemas de assoreamento. O único risco poderá eventualmente estar relacionado com eventuais incêndios nas zonas florestais da PP, que originem a erosão dos solos e o subsequente assoreamento das linhas de água. A maioria da vegetação ripícola associada às linhas de água encontra-se bem conservada, com abundante vegetação nalguns troços. No entanto, em alguns troços onde a vegetação foi eliminada ou se encontra degradada, existe alguma erosão que foi detectada ao nível dos taludes (ICNB, dados não publicados).

Risco de Seca

A seca pode ser genericamente definida como a “ocorrência de um défice significativo nas disponibilidades de água durante um período de tempo suficientemente longo e abrangendo uma área suficientemente extensa” (Cunha 1985). O clima da região do Minho é resultado da sua posição geográfica na fachada ocidental do Continente Europeu, proximidade do Atlântico e forma e disposição dos principais conjuntos montanhosos do noroeste de Portugal (INAG 2000). Estes factores determinam que seja a região mais pluviosa de Portugal (INAG 1999). O risco de seca e o seu impacte foram analisados no âmbito do Plano de Bacia do Rio Minho, que concluiu que a seca nesta região não é um fenómeno muito relevante, no sentido que não põe em risco a satisfação das utilizações do recurso hídrico em questão (INAG 1999). Considerando que a seca não apresenta uma gravidade de assinalar, e a escassez de dados de caracterização para a área específica, optou-se por não analisar de forma mais profunda este risco.

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Risco de Inundação

A topografia da PPCB, com as suas zonas montanhosas e vales encaixados, juntamente com os seus tipos de solos e as características da precipitação do Alto Minho (ver riscos de seca), revelam uma certa tendência para a ocorrência de cheias (ICNB, dados não publicados). A análise de cheias foi considerada no Plano de Bacia Hidrográfica do rio Minho compreendendo a identificação das zonas críticas de inundação e a caracterização do fenómeno de cheias, em termos de caudais de ponta de cheia e de volumes de cheia associados a diferentes períodos de retorno (INAG, 2000). Com base nesta análise, foram identificados algumas áreas da Paisagem Protegida susceptíveis a riscos de inundação, que se encontram representadas na carta [34]. Como se pode observar, estas zonas correspondem a vales encaixados com linhas de água, propicias à ocorrência de inundações localizadas.

Risco de erosão

A informação disponível acerca dos riscos de erosão para a Paisagem Protegida do Corno do Bico é escassa. O plano Regional de Ordenamento Florestal (PROF) do Alto Minho apresenta uma carta de riscos de erosão que engloba a PPCB, mas a escala tem pouco detalhe. A carta revela que a erosão, à qual estão associados vários agentes, em particular a água, é claramente um risco natural com incidência nesta área. Na generalidade o Alto Minho possui um risco de erosão entre o médio e o elevado, explicado predominantemente pelo relevo acidentado das Serras da região, caracterizadas por montes elevados e vertentes de declive acentuado, intercalados por vales de fundo chato ou em “v”, propícios a rápida actuação dos processos erosivos

Dentro dos limites da Paisagem Protegida, existem algumas áreas cujo risco de erosão é considerado moderado. Os resultados da referida carta são apresentados na carta de riscos naturais (carta [34]). O principal factor que parece condicionar o risco de erosão é o relevo acentuado (presença de grandes encostas declivosas) de certas áreas da PP. À medida que se avança das referidas áreas mais declivosas em direcção aos vales, o risco de erosão vai, progressivamente, diminuindo até culminar na sua anulação. No entanto, a presença de coberto vegetal em grande parte da área, permite diminuir consideravelmente a incidência dos diferentes processos erosivos.

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3.2 Risco de incêndio

O incêndio pode ser considerado um dos riscos com grande potencial na PPCB. Apesar de ser um fenómeno natural, com o qual as comunidades vegetais evoluíram ao longo dos tempos, o potencial aumento da sua frequência e/ou intensidade agrava significativamente o seu impacto sobre a vegetação da Paisagem Protegida, levando ao seu recuo, degradação e fragmentação. O plano Regional de Ordenamento Florestal (PROF) do Alto Minho apresenta uma carta de riscos de incêndio para a região, que engloba a área da Paisagem Protegida, embora com um detalhe reduzido. Nesta carta, é possível verificar que a zona do Alto Minho possui vários núcleos com probabilidade anual de fogo extrema e muito elevada, verificando-se igualmente uma grande coincidência espacial com os diversos Perímetros Florestais existentes na região. Também os trabalhos de Moreira et al. (2001a, 2001b) referem que a expansão das áreas florestais no Noroeste do país favorece as ocorrências de incêndios. A grande extensão de áreas com risco de incêndio tão elevado está em grande parte relacionada com a existência de manchas florestais extensas e contínuas, assim como a extensa área de incultos presentes, que favorecem a ocorrência de incêndios grandes e severos. De facto, em anos recentes, nomeadamente 2005 e 2006, a área do PROF do Alto Minho tem apresentado uma incidência de área ardida em povoamentos florestais superior ao habitual. No que se refere à PPCB, segundo a carta de riscos, esta tem associadas áreas com risco de incêndio moderado e alto. A Paisagem Protegida tem classificado um Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura (Decreto de 8/5/1944- DG nº 105), que provavelmente não tem associado um risco de incêndio mais crítico devido às acções de fogo controlado que aí se efectuam.

O risco de incêndio associado a uma área não é reflexo apenas da probabilidade que um fogo tem de eclodir nesse local. Os factores relativos à propagação do fogo após ignição são parte integrante do conceito de risco, pois se esta for deficiente, o risco do fogo deflagrar é reduzido.

Podem-se considerar dois tipos de índice de risco de incêndio, os estáticos e os dinâmicos. Os primeiros baseiam-se em dados que não se alteram ao longo do tempo, ou se alteram muito pouco; como sejam a topografia, o tipo de coberto vegetal, etc.. Os últimos são índices que dependem das condições meteorológicas do local numa

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dada altura e, como tal, variam ao longo do tempo. Tendo em conta os dados disponíveis, bem como os objectivos do presente documento, que se pretende que seja aplicável a um prazo temporal alargado, neste relatório calculou-se um índice estático, tendo por base os dados relativos à vegetação. O resultado desta análise da vulnerabilidade da Paisagem Protegida ao fogo está expresso na Carta de Risco de Incêndio (Carta [35]).

A Carta de Risco de Incêndio foi então elaborada de acordo com uma metodologia cujo esqueleto consiste sempre numa soma ponderada de duas variáveis relativas ao uso do solo, escolhidas a priori, de acordo com a bibliografia e a disponibilidade das mesmas. Os pesos atribuídos às variáveis basearam-se nos resultados de outros trabalhos, tendo sido ajustados no contexto do modelo usado em particular.

Ambos os parâmetros seguidamente explicados variam entre 0 e 1, correspondendo estes a uma escala relativa, restrita ao perímetro da Paisagem Protegida, aferida pelos valores máximos e mínimos nela presentes. Como tal, o índice de risco de incêndio, que resulta da soma ponderada destes parâmetros, apenas faz sentido enquanto meio para relativizar o risco, indicando onde este poderá ser mais elevado e mais reduzido, mas nunca permitindo uma comparação com outras áreas fora da Paisagem Protegida.

Risco = (0.66 . Inflamabilidade) + (0.33 . Carga combustível)

Inflamabilidade (Inf)

A inflamabilidade refere-se à facilidade com que a matéria vegetal se inflama quando aquecida a uma determinada temperatura. Esta medida é de importância crítica pois está directamente relacionada com a probabilidade de ignição e progressão inicial do fogo. Não deve ser confundida, no entanto, com a carga de combustível. Os valores de inflamabilidade foram atribuídos aos diferentes usos do solo (estreitamente associados às comunidades vegetais correspondentes), a partir do tipo de folhada associado a cada um deles, baseando a estimativa em escalas relativas mais ou menos empíricas que hierarquizam os tipos de povoamento florestal segundo este parâmetro. O valor máximo deste parâmetro foi assim atribuído aos povoamentos de pinhal, eucalipto e a manchas de povoamento misto, enquanto os valores mínimos foram atribuídos essencialmente a zonas agrícolas, e outros locais com um coberto

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vegetal muito escasso ou mesmo inexistente, logo, com reduzida deposição de folhada.

Carga de combustível (Car)

Esta medida quantifica o combustível disponível para arder num determinado local. Em geral, quanto mais combustível existe, maior a intensidade do fogo e a sua velocidade de propagação, o que não está necessariamente relacionado com um maior risco de ignição, que depende da natureza do combustível. Este parâmetro foi estimado para os usos do solo tendo em conta as comunidades vegetais respectivas, incluindo a sua estrutura, densidade e quantidade de detritos vegetais associados, tomando os valores máximos para povoamentos de pinhal e eucaliptal, em oposição a zonas de pastagens ou artificializadas.

Com base na combinação destes dois parâmetros, verificou-se que o risco de incêndio é elevado essencialmente nas zonas de bosques de folhosas e matos e nas áreas de povoamentos de pinhais e eucaliptais, que no seu conjunto ocupam uma área considerável da PPCB. Os locais de risco médio correspondem às zonas de galerias ripicolas mais densas e aos mosaicos agro-florestais. Apesar da turfeira ser um habitat higrófilo, esta situa-se no meio de uma extensa área florestal, e como tal considerou-se que existe um risco inerente a essa proximidade. Neste contexto, considerou-considerou-se a turfeira com um risco de incêndio médio. Por sua vez, as áreas de hortas e campos foram classificadas com um risco de incêndio baixo. Às zonas urbanas e às linhas de água no interior da PP foi dado um risco nulo de incêndio.

3.3. Pisoteio

O pisoteio tem um forte impacto sobre as formações vegetais, podendo ser particularmente nocivo sobre a área de turfeira presente na Paisagem Protegida. Adicionalmente, pode ter um impacto negativo elevado sobre outras populações de espécies endémicas e ameaçadas presentes na PP, nomeadamente de espécies de brioflora como a Bruchia vogesiaca e Bryoerythrophyllum campylocarpum, e das populações de Veronica micrantha e Narcissus cyclamineus. Neste contexto, a expansão da actividade turística tem o potencial para afectar negativamente certas áreas de vegetação natural da Paisagem Protegida, pelo que é necessário manter regras de conduta claras que minimizem impactos negativos nas áreas abrangidas

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pelos percursos pedestres. É ainda necessário prevenir a visitação desordenada, dando especial atenção à época em que realiza o festival de Paredes de Coura numa área relativamente próxima da Paisagem Protegida.

3.4. Perturbação

A perturbação humana gerada pela visitação pode constituir um risco para o equilíbrio dos ecossistemas, dependendo em geral do número de indivíduos, da frequência de visitação, e da sensibilidade dos biótopos visitados. Algumas espécies faunísticas, em especial durante os períodos de reprodução, são influenciadas negativamente pela presença humana, o que em situações extremas, as impede de procriar e desse modo, as torna vulneráveis a médio/longo prazo.

Trabalhos realizados na Paisagem Protegida identificaram como fonte significativa de impacte, o elevado movimento de veículos verificado na zona Sul da PPCB sobretudo no caminho que liga a entrada Sul da Paisagem Protegida ao caminho de acesso ao Corno do Bico, que induz elevada perturbação sobre importantes espécies nidificantes na área, como sejam Lanius collurio, Sylvia undata e Sylvia communis (Espaço Terra, 2004).

3.5. Qualidade da água

A qualidade da água do rio Minho e dos seus principais afluentes portugueses é considerada aceitável, observando-se contudo uma degradação de montante para jusante (INAG2000). No rio Coura, que atravessa a Paisagem Protegida, são especialmente relevantes os problemas de poluição difusa, derivados do carácter predominantemente florestal e agrícola desta área (INAG 2000). De facto, observam-se sistematicamente focos pontuais ou difusos indutores de degradação de qualidade da água ao longo do rio, provenientes da descarga de efluentes domésticos, actividade agrícola e pecuária. Este rio apresenta ainda os valores mais elevados de concentração de fosfatos e fósforo de toda a bacia (INAG 2000). O rio Coura é frequentemente sujeito a descargas poluentes, no entanto, estes problemas são mais significativos fora da Paisagem Protegida. Efectivamente, os únicos dados bacteriológicos para a região revelaram valores positivos, mas foram recolhidos numa estação já a jusante da Paisagem Protegida, na freguesia de Paredes de Coura (INAG

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2000). Na Carta [36] são identificadas as principais fontes de poluição pontual da Reserva.

3.6. Risco e Vulnerabilidade à poluição

A vulnerabilidade dos solos e da água à poluição é geralmente estimada através da sensibilidade da qualidade das águas subterrâneas a uma carga poluente (Lobo Ferreira & Oliveira 2003). A avaliação atende apenas às características físicas do aquífero e dos solos, não tomando em consideração a eventual existência de actividades poluentes nem a sua distribuição ou magnitude (Leitão et al. 2003). No caso destes dados serem incorporados nesta avaliação, fala-se então de risco de poluição.

Existem diversos índices que avaliam de uma forma objectiva a vulnerabilidade e o risco. No entanto, os últimos requerem dados quantitativos sobre vários parâmetros relativos às características do aquífero, para além dos dados relativos ao uso do solo (preditor indirecto da contaminação por poluentes). Para produção de cartografia, estes dados têm necessariamente de ser obtidos numa grelha geográfica (mais ou menos intensiva, conforme a escala) de forma a permitir a interpolação para toda a área em causa.

A área da Paisagem Protegida e a ausência dos dados de base necessários à utilização de uma escala suficientemente detalhada, não permitem que uma abordagem desse cariz seja aplicada. É, contudo, possível enveredar por uma abordagem mais simplificada que se baseia apenas na geologia e cujo resultado se limita à cartografia da vulnerabilidade. Tal abordagem foi proposta por EPPNA (1998) e os seus resultados têm, desde então, sido testados em diversos trabalhos comparativos. Nestes já foi demonstrado que, pelo menos em algumas circunstâncias, o método produz resultados muito similares aos outros métodos bastante mais complexos e exigentes em termos de informação de base (Lobo Ferreira & Oliveira 2004), revelando-se, portanto, uma alternativa razoável na maioria dos casos.

O método preconiza que a vulnerabilidade é principalmente função da formação geológica em que o aquífero se insere e das formações geológicas suprajacentes, não considerando quaisquer outros parâmetros. Assim, a área da Paisagem Protegida deverá enquadrar-se na classe de vulnerabilidade Média. As águas subterrâneas

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correspondentes à bacia hidrográfica do rio Lima ocorrem inteiramente em aquíferos descontínuos com permeabilidade fissural instalados emrochas cristalinas e cristalofíticas, existindo ainda pequenos depósitos de vale ou mesmode maciços muito alterados em que a permeabilidade dominante é intersticial e, nalguns casos, mista (INAG 1999). As actividades humanas na Paisagem Protegida e na sua periferia podem, portanto, ter influência na qualidade das águas subterrâneas.

3.7. Espécies invasoras

O coberto vegetal da Paisagem Protegida é na sua maioria caracterizado por manchas florestais de espécies autóctones. Ocorrem, no entanto, algumas espécies de flora que constituem espécies invasoras, a maioria das quais são espécies introduzidas. As espécies invasoras constituem uma ameaça às comunidades naturais, uma vez que com a sua capacidade de adaptação ao meio e a sua facilidade de dispersão, rapidamente colonizam novos espaços e, na maioria dos casos, impedem a regeneração da vegetação nativa, possuindo ainda o potencial para criar manchas monoespecíficas. Entre as espécies exóticas, são de destacar a acácia (Acacia spp.). Uma outra espécie, a háquea (Hakea sericea), está presente na Paisagem Protegida, necessitando de um controle premente. Ainda de referir a presença da árvore-do-céu (Ailanthus altissima), uma espécie originária da Ásia temperada (China), que ocupa com facilidade as áreas perturbadas, nomeadamente as bermas das estradas, áreas agrícolas abandonadas e espaços urbanos. Potenciais incêndios na PP poderão levar a um aumento de algumas destas espécies. De facto, a Acacia melanoxylon rebenta vigorosamente de touça e raiz, além de produzir grande quantidade de sementes, cuja germinação é estimulada pelo fogo. A sua dispersão pode ser efectuada por vários agentes, animais, o vento e a água, o que aumenta o seu potencial de invasão. Por outro lado, fixa o azoto e altera o balanço de nutrientes no solo, dificultando a regeneração e a permanência da vegetação autóctone.

Relativamente às espécies faunísticas, é de destacar a presença do visão-americano (Mustela vison). Esta espécie tem sido observada em diversos locais da região, sendo a sua ocorrência resultante da fuga de exemplares de quintas para produção de peles ornamentais que conseguiram estabelecer populações em estado selvagem (ICNB, dados não publicados), à imagem de muitos outros locais do norte da Península Ibérica. É um predador de largo espectro alimentar com uma elevada tendência oportunista, e as consequências do aparecimento desta espécie para a restante fauna

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deverão ser monitorizadas, uma vez ainda não ser claro qual o seu impacto nas espécies autóctones.

Tendo em consideração os impactes potenciais destas espécies sobre as restantes comunidades florísticas e faunísticas, reveste-se de grande importância o conhecimento detalhado da sua distribuição no perímetro da Paisagem Protegida. De igual modo é necessário implementar acções que visem o controlo das espécies invasoras de flora, assim como a monitorização da regeneração da vegetação natural nas áreas controladas.

3.8. Caça

Na PPCB, as espécies exploradas são o coelho bravo Oryctolagus cuniculus, a perdiz vermelha Alectoris rufa, o pombo bravo Columba oenas, o javali Sus scrofa e a raposa

Vulpes vulpes (Soares, 2001).

A magnitude do impacte da caça na Paisagem Protegida é desconhecida. No entanto, dado que nesta ocorrem várias espécies com elevado interesse de conservação, prevê-se que possa ter um impacto potencial. Segundo Dahlin (1997), o simples impacto da presença de caçadores durante determinadas épocas do ano pode afectar espécies não cinegéticas directamente pela caça ilegal de espécies protegidas, roubo de ovos por coleccionadores (Lúcio and Purroy 1992), ou indirectamente pela perturbação e acções de repovoamento ou reforço cinegético (Watson et al. 1988). Nesse contexto, a caça pode potencialmente constituir um impacte negativo nas populações de aves da PP, dado que se pode verificar-se o abate acidental ou esporádico de espécies de aves com estatutos de protecção elevados. O mesmo se aplica a outros grupos faunísticos, como os mamíferos, sujeitos ao abate acidental ou esporádico de espécies relevantes para a conservação. A sua prática deverá ser sempre praticada de forma sustentável e acompanhada por monitorizações das espécies faunísticas, de modo a minimizar os seus efeitos negativos.

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3.9. Pesca

Parte do troço do rio Coura no interior da PP encontra-se concessionada para a pesca desportiva sob gestão da Câmara Municipal de Paredes de Coura, estando sujeitos a exploração cerca de 1000 lotes. O período de pesca é de 1 de Março a 31 de Julho, sendo as espécies exploradas a Boga, a Truta, o Escalo e a Enguia. Apesar das restrições impostas às espécies, e às dimensões e número de indivíduos capturados, a pesca é passível de provocar impactos negativos significativos sobre outras espécies de peixes existentes na Paisagem Protegida, e que possuem estatutos de conservação elevados, nomeadamente a panjorca, boga-comum e ruivaco. No entanto, não existe qualquer informação objectiva que indique se estes impactes potenciais ocorrem de facto nesta área.

3.10. Pastoreio

A pecuária ocupa lugar de destaque nas freguesias da Paisagem Protegida, nomeadamente na criação de gado bovino, ovino e garranos em liberdade. O impacto do pastoreio sobre os valores naturais pode ter aspectos negativos e positivos. Em termos gerais, a presença de pastoreio em regime extensivo contribui para a heterogeneidade de habitats, o que normalmente está associado a uma maior diversidade biológica. No entanto, o nível de pastoreio que se desenvolve em certas áreas da PPBC poderia ter um efeito negativo o coberto vegetal, e um efeito lesivo sobre a maior parte dos habitats. Com efeito, a pastorícia extensiva de rebanhos de cabras e ovelhas e manadas de vacas e cavalos, associadas ao uso de fogo, provocou o recuo das zonas de carvalhal típicas da região, e a sua fragmentação e degradação (ICNB, dados não publicados). Embora a situação actual não seja tão preocupante, o efeito negativo do pastoreio levou os Serviços Florestais a intervir há umas décadas atrás, reduzindo drasticamente a sua área. O pastoreio pode ainda ter impactos negativos a nível da alteração da flora devido ao input de nutrientes, no sentido de aparecerem cada vez mais nitrófilas e ruderais, e consequentemente espécies menos interessantes.

É aconselhável a manutenção em regime extensivo desta actividade, com a monitorização do gado que pasta em liberdade, e o seu condicionamento em certas zonas mais sensíveis. Destaca-se a extrema necessidade de condicionar o pastoreio nas proximidades da zona da turfeira, dado a vegetação turfófila ser extremamente

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sensível aos seus efeitos nefastos, nomeadamente à pressão física do pisoteio e da alimentação.

3.11. Predadores naturais e assilvestrados

Apesar de ser um fenómeno natural, a predação pode constituir um factor muito negativo sobre determinadas espécies ameaçadas. Em particular, a incidência de predação deve ser gerida quando se tratem de animais assilvestrados (ex: cães e gatos). Outra situação em que a predação deve ser gerida é quando afecta populações reduzidas de espécies muito sensíveis, mesmo quando envolva processos naturais de predação. Os problemas são normalmente causados por predadores generalistas, muito abundantes, e que portanto não necessitam de quaisquer medidas de conservação. Nestas circunstâncias, poderão justificar-se acções de redução das densidades dos predadores, ou pelo menos a protecção das áreas críticas de forma a reduzir a probabilidade de predação. Na Paisagem Protegida, a predação sobre ninhos é um dos factores que poderá afectar algumas das espécies de aves. Assim, o planeamento deverá ter em atenção os processos de predação, conduzindo o território de forma a reduzir as populações de espécies predadoras generalistas.

3.12. Urbanização

A transformação do solos rurais em urbanos, ou mesmo a construção de habitações para apoio à actividade agrícola ou florestal, ou para apoio às actividades turísticas, poderá ter impactes negativos fortes ou muito fortes sobre os valores naturais da Paisagem Protegida. A construção implica a destruição irreversível das comunidades naturais, proporcionando também o aumento do pisoteio, da perturbação sobre a fauna e a flora, da probabilidade de introdução e expansão de espécies não indígenas, entre muitos outros impactes directos e indirectos. No caso da PPCB, existem ainda locais pouco perturbados e nos quais qualquer novas construções iriam alterar os biótopos existentes. Outro problema poderá ser o crescimento das áreas edificadas para actividades turísticas na área da PPCB. Esta expansão poderá aumentar significativamente a pressão de visitantes, com consequências negativas para as espécies e habitats mais sensíveis.

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3.13. Infra-estruturas lineares

As infra-estruturas lineares constituem uma forma de perturbação das comunidades naturais existentes num determinado território. No entanto, o impacte negativo originado pela sua presença pode ser maior ou menor, consoante a forma como a sua implantação é planeada (tamanho, dimensão, época de construção, materiais aplicados, etc.) e o maior ou menor interesse dos valores naturais existentes em redor. De entre as diversas infra-estruturas lineares, os acessos viários (estradas, caminhos florestais) constituem um dos maiores factores de perturbação e destruição das comunidades naturais. A presença de estradas e caminhos na Paisagem Protegida, originam de forma directa a morte por atropelamento de espécies de fauna e a alteração da drenagem natural das águas e, de forma indirecta, o aumento da perturbação humana e a possibilidade de deflagração de incêndios (Beja et al. 2005). No caso específico da Paisagem Protegida, são pouco conhecidos os impactos da rede de acessos, nomeadamente o risco de atropelamento, embora estudos prévios tenham detectado animais atropelados de uma forma dispersa (Espaço Terra, 2004). O mesmo estudo refere, no entanto, uma elevada mortalidade de anfíbios de várias espécies junto à represa formada no riacho que acompanha a estrada na quadrícula UTM NG4140. Os anfíbios e os répteis são grupos de vertebrados fortemente sujeitos a atropelamentos nas estradas dado terem tendência para usarem estas estruturas como passagem. Para além das espécies observadas, é bastante provável que outros grupos animais sejam negativamente afectados pelas estradas, como por exemplo certas espécies de morcegos de voo baixo. As estradas afectam assim directamente algumas das espécies para as quais a Paisagem Protegida assume maior relevância. Neste contexto, a instalação de novas infra-estruturas viárias no perímetro da PPCB faria prever impactos negativos muito significativos nos seus valores naturais.

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4. VANTAGENS E OPORTUNIDADES

Neste capítulo procurar-se-ão identificar e avaliar as vantagens e oportunidades presentes no território da PPCB. Pretende-se analisar as oportunidades que contribuem para o desenvolvimento e continuidade da conservação da natureza nestas áreas naturais e, em simultâneo, as que possam contribuir para o desenvolvimento económico da região e para o aumento da qualidade de vida das populações da Paisagem Protegida.

4.1. Estado de conservação

O estado de conservação dos ecossistemas da Paisagem Protegida constitui uma vantagem a considerar no presente PO. As áreas naturais que caracterizam de forma marcante a paisagem da região, são os carvalhais dominados por Quercus robur e

Quercus pyrenaica, que cobrem grande parte das encostas do Corno do Bico. Estes

contribuem simultaneamente para a conservação de habitats e de uma grande diversidade de espécies faunísticas ameaçadas e para a valorização socio-económica da área. Depois de uma significativa redução da sua área original, resultante das actividades humanas, deu-se uma rearborização e as manchas que subsistiram encontram-se correntemente preservadas. Estas áreas de folhosas apresentam-se ainda como áreas interessantes para desenvolver estudos de investigação que permitam aumentar o conhecimento deste tipo de ecossistemas e acções de educação ambiental que promovam a consciência ambiental e a mudança de atitudes no sentido de preservar os ecossistemas naturais e todas as dinâmicas a eles associadas.

Estas áreas de folhosas, associadas à diversidade de biótopos de elevada relevância da PPCB, nomeadamente a turfeira, os mosaicos agro-florestais, e os bosques ripícolas e linhas de água, favorecem a ocorrência de uma elevada biodiversidade, faunística, e ainda de outros organismos como os fungos. Algumas dessas espécies possuem um grande valor para a conservação, a nível nacional ou mesmo internacional. Também o valor de conservação dessas espécies constitui uma oportunidade para o recurso a fundos e financiamentos para aplicação directa na sua conservação.

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4.2. Potencial turístico

A envolvente essencialmente montanhosa da PPCB confere-lhe um elevado interesse paisagístico que contribui para o seu elevado potencial para o desenvolvimento do Turismo em Espaço Rural e para o Turismo de Natureza, vertentes turísticas que nos últimos anos têm conhecido algum incremento (ICNB, dados não publicados). A visitação surge como uma vantagem e uma oportunidade na PPCB, seja sua pela qualidade cénico/paisagística, seja pelos valores naturais presentes, dos quais se destacam os bosques de caducifólias. Os lameiros, outra marca característica da paisagem da Área Protegida e da área onde esta se insere, foram outrora fundamentais para a prática da pastorícia semi-extensiva; constituem também um dos elementos mais importantes da paisagem da PPCB (ICNB dados não publicados). Pelas características da PPCB, é ainda possível e desejável determinar novos espaços, de elevado potencial turístico, e novas dinâmicas, de forma que se contrarie a tendência para a concentração no espaço e no tempo da afluência de visitantes. Nestas novas dinâmicas incluem-se por exemplo o desporto de natureza e o turismo micológico. Dado que os cogumelos ocorrem principalmente no Outono, quando aumentam as condições favoráveis ao seu desenvolvimento, a sua exploração como recurso turístico possibilitaria a maior afluência do turismo durante esta época, contribuindo ainda para assegurar um fluxo de pessoas mais contínuo no tempo, e diminuindo a sazonalidade que se verifica. As oportunidades turísticas que se apresentam assentam ainda no património arquitectónico, arqueológico e etnográfico da região.Estas actividades deverão, no entanto, ser mantidas de uma forma sustentável, acautelando a capacidade de carga dos ecossistemas e respeitadas as condicionantes a estabelecer inerentes à conservação da natureza.

4.3. Actividades agro-pecuárias

As principais actividades económicas praticadas nas freguesias da PPCB sempre foram a agricultura e a criação de gado, o que se reflecte bem na heterogeneidade paisagística da região, em que predomina o mosaico agro-florestal. Apesar destas actividades se encontrarem em regressão, e outras actividades começaram a emergir, a agricultura e a pecuária ocupam ainda um lugar de destaque na PPCB. Apesar desta poder pontualmente ter impactes negativos sobre a conservação dos valores naturais, essencialmente as actividades de cariz mais extensivo têm um importante papel de

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diversificação e na manutenção de habitats adequados para várias espécies de flora e fauna prioritárias, bem como na diminuição do risco de incêndio, pela criação de zonas de descontinuidade na PP. A presença destas actividades pode portanto ser encarada como um factor positivo que contribui decisivamente para a manutenção da paisagem, de algumas componentes da biodiversidade da Paisagem Protegida e do seu valor ecológico.

4.4. Instrumentos de Ordenamento

Sobre a Paisagem Protegida incidem vários planos de ordenamento, os quais estabelecem condicionamentos aos usos do território: PROT- Norte, o qual se encontra actualmente em fase de elaboração, nos termos da Resolução do Conselho de Ministros nº 29/2006, de 23 de Fevereiro, PDM de Paredes de Coura (RCM nº nº 82/95, de 25 de Agosto), PBH do Lima (DR nº 11/2002, de 8 de Março), PBH do Minho (DR nº 17/2001, de 5 de Dezembro) e PROF do Alto Minho (DR nº 16/2007, de 28 de Março. Globalmente, todos esses planos prevêem para o território da Paisagem Protegida usos que favorecem a conservação e exploração sustentável dos valores e recursos naturais. Desta forma, não se prevê a existência de conflitos significativos entre o futuro Plano de Ordenamento da Paisagem Protegida e outros instrumentos de ordenamento actualmente em vigor, com algumas pequenas excepções, descritas no Capítulo 8 – Adequação dos Instrumentos de Ordenamento.

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5. TENDÊNCIAS NA OCUPAÇÃO E USOS DO SOLO

A análise da informação disponível, essencialmente bibliográfica, sugere que a Paisagem Protegida, à semelhança da região envolvente, tem vindo a assistir a alterações significativas na ocupação do solo, com um progressivo abandono da actividade agrária, resultando numa progressiva renaturalização desses espaços (Moreira et al. 2001a, 2001b). De facto, a informação bibliográfica sugere que só as pessoas de maior faixa etária se dedicam à agricultura com base subsistente, sendo os campos na bordadura do carvalhal preteridos relativamente àqueles cuja localização é contígua às aldeias ou de muito fácil acesso. A tendência do abandono de determinadas áreas nem sempre é favorável à conservação dos valores presentes na PPCB, uma vez que a diversidade de habitats favorece a diversidade de espécies da flora e fauna. A pecuária ainda ocupa um lugar de destaque nas freguesias da Paisagem Protegida, nomeadamente na criação de gado bovino, ovino e garranos criados em liberdade.

A silvicultura constitui uma actividade relevante na economia das populações que ocupam a Área de Paisagem Protegida de Corno do Bico, o que se deve, em grande parte, aos apoios e incentivos financeiros que têm vindo a ser adoptados ao longo dos anos. As folhosas, são na sua maioria carvalhos que nas suas diferentes produções – madeira, lenha, pastorícia, produção de cogumelos, agricultura e exploração cinegética – podem ser ainda objecto de maior rentabilização.

Um sector em expansão é o secundário, nomeadamente a construção cívil ou o tecido fabril, instalado nas zonas industriais de Castanheira ou de Formariz. Adicionalmente, uma pequena parte da população trabalha no sector terciário (serviços). Apesar do valor sócio-económico associado a estas actividades ser desconhecido (ICNB dados não publicados), a actividade turística encontra-se em franca expansão, nomeadamente Turismo Rural. Verifica-se ainda um investimento no desenvolvimento da vertente do Desporto de Natureza, patente na definição de uma Rede Concelhia de Percursos Pedestres num total de quinze, dos quais seis decorrem em território da Paisagem Protegida. Associado a este projecto, realizado pela Câmara Municipal da Paredes de Coura com a colaboração técnica da associação Celtas do Minho, está ainda a intenção de criação de percursos BTT e equestres.

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6.1. Sensibilidade

A sensibilidade e as necessidades de protecção no território da Paisagem Protegida foram diagnosticadas considerando a classificação em biótopos efectuada nas fases anteriores do trabalho. Assim, para cada um dos biótopos da PPCB, fez-se uma avaliação do nível de sensibilidade a cada um dos factores de ameaça identificados no ponto 3. Em cada caso, o nível de sensibilidade foi classificado como elevado, médio, baixo, e não aplicável. Esta última categoria foi atribuída quando o factor de ameaça não incide de todo sobre o biótopo.

Com base nesta abordagem, construiu-se a matriz apresentada no Anexo 1, onde para cada biótopo se apresenta o nível de sensibilidade a cada um dos factores de ameaça. Resumidamente, a análise desta matriz de sensibilidade permite verificar que muitos dos biótopos são sensíveis a um conjunto alargado de factores de ameaça, os quais poderão contribuir fortemente para a degradação do seu valor natural.

Entre os factores de ameaça com efeitos potenciais mais negativos para um conjunto vasto de biótopos, destacam-se o risco de incêndio, a urbanização e a construção de infra-estruturas lineares. O risco de incêndio pode ser considerado um dos riscos com maior potencial na PPCB. No que respeita à urbanização e à construção de infra-estruturas, apesar de terem actualmente uma incidência PP relativamente reduzida, o seu efeito poderia ser muito negativo caso viessem a aumentar. Adicionalmente, estes dois factores estão potencialmente associados ao aumento da perturbação e do pisoteio, que também afectam um conjunto muito alargado de biótopos.

Muitos biótopos são também sensíveis à exploração dos recursos naturais, se estes forem desenvolvidos de forma não sustentável e não se compatibilizarem activamente com os objectivos de Conservação da Natureza. Neste domínio destacam-se a caça, a pesca, o pastoreio intensivo e a gestão da actividade agrícola, cujos impactes dependem muito da forma como as actividades forem conduzidas. Apesar de na sua maioria a agricultura desenvolvida na PP ser compatível com a conservação dos valores naturais da PPCB, a sua intensificação poderá ameaçar espécies muito ameaçadas e sensíveis.

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O conjunto da informação referente às sensibilidades de cada um dos biótopos a cada um dos factores de ameaça foi reunido num índice, o qual pondera o tipo de ameaças a que cada biótopo está sujeito e o seu impacte potencial. Assim, o impacte potencial de cada ameaça em cada biótopo foi quantificado através da atribuição de uma pontuação entre 0 (nulo) e 3 (elevado), cuja soma traduz o nível global de impactes potenciais a que cada biótopo está sujeito.

Para calcular o índice global de sensibilidade de cada biótopo, considerou-se a soma simples dos valores obtidos para cada um dos factores de ameaça que afectam o biótopo. Embora de grande simplicidade de cálculo e percepção, este índice revelou-se bastante adequado para expressar as revelou-sensibilidades relativas dos biótopos. Este índice global de sensibilidade, escalonado em três níveis (Sensibilidade Baixa, Média ou Alta) foi então utilizado para mapear a variação espacial da sensibilidade ecológica da Reserva (Carta [38a]). Através desta cartografia, verifica-se que a sensibilidade Alta está associada à turfeira, aos bosques de folhosas, às galerias ripicolas, e às linhas de água da PP. Por sua vez, a sensibilidade Média é atribuída às zonas de matos e matagais, aos campos agrícolas e mosaicos agro-florestais, os quais possuem valores naturais que na sua maioria estão associados a actividades humanas. O nível de sensibilidade mais baixo é atribuído às zonas de pinhal.

6.2. Protecção

Relativamente às necessidades de protecção efectuou-se um exercício comparável ao das sensibilidades. Numa fase inicial, procedeu-se à cartografia das necessidades de protecção gerais, sem ter em conta que tipo de protecção seria relevante. A cada biótopo foi atribuído um grau de necessidade de protecção que é tanto maior quanto maior a sensibilidade (Carta [38a]) e maior a relevância global, tendo-se obtido a Carta [38b]. A relevância global foi calculada através da combinação das relevâncias da fauna e da flora, cada uma destas, por sua vez, resultante da a) combinação da relevância das comunidades vegetais e da relevância florística e b) combinação da relevância dos biótopos e da relevância das espécies prioritárias da fauna. A combinação das relevâncias obedeceu a uma regra pensada no sentido de dar mais peso às relevâncias elevadas de tal modo que estas se potenciam, e se sobrepõem de certo modo às mais baixas.

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Deve-se notar que a carta [39b] expressa a necessidade de protecção de cada biótopo mas não o modo como se deve proceder para assegurar a protecção. Uma necessidade muito elevada não significa que seja adequado um regime de protecção total, pois a ecologia da(s) espécie(s) em questão pode não ser compatível com estádios da sucessão mais avançados. Assim, esta carta não deve ser entendida necessariamente como indicadora, ou “proporcional” ao regime de protecção que se deve aplicar, mas sim o grau de atenção que se deve dar a cada biótopo em função da conjugação dos factores de sensibilidade e relevância. Esta informação foi considerada subsequentemente na avaliação do regime de protecção mais adequado em cada caso (ver secção 11).

Numa segunda fase, particularizou-se mais este tópico com a construção de uma matriz detalhada (Anexo 2). Assim, identificou-se para cada factor de ameaça os tipos de protecção necessários. Para a selecção do conjunto de medidas a implementar, tomou-se em consideração as que fizessem sentido para a PPCB, no enquadramento das delineadas no plano sectorial rede natura 2000, para o Sítio de Importância Comunitária de Corno do Bico (Corno do Bico, PTCON0040), pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/00, de 5 de Julho. Seguidamente, considerou-se qual a importância directa e indirecta de cada medida de protecção sobre cada biótopo, com a atribuição de um nível qualitativo de importância (Elevado, Médio e Baixo). Tal como para as sensibilidades, atribuiu-se a classe “não aplicável” quando a medida de protecção não afecta de todo o biótopo. Apesar disso, consideraram-se sempre os efeitos indirectos, uma vez que uma medida de protecção pode incidir fisicamente sobre um biótopo, mas ter efeitos indirectos noutros. A matriz de necessidades de protecção é apresentada no Anexo 2, incluindo 23 medidas de protecção. Cada uma destas medidas é descrita seguidamente (ordem alfabética).

Assegurar a protecção da turfeira – A turfeira depende da quantidade de água

disponível, estando presentemente sujeita a um regime hidrológico insuficiente. De modo a assegurar a sua continuidade é necessário criar um plano de gestão que assegure um caudal mínimo. Adicionalmente, é ainda necessário controlar a pressão do pastoreio na sua envolvência, de forma a minimizar os riscos de pisoteio e reverter o actual processo de nitrificação.

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Assegurar a manutenção de usos agrícolas extensivos - Muitos dos valores

naturais da PP estão dependente da actividade agrícola gerida de forma extensiva. Os incentivos agro-ambientais devem assim visar de forma prioritária a manutenção dos sistemas agrários extensivos de produção, de modo a garantir o seu papel na manutenção dos habitats e estrutura da paisagem.

Condicionar a construção de infra-estruturas - A urbanização é um dos maiores

factores de ameaça aos biótopos da Paisagem Protegida, estando directamente relacionada com a destruição directa do habitat, e com o aumento do risco de pisoteio, perturbação e incêndio. Neste contexto, as novas construções deverão ser fortemente condicionadas ou mesmo proibidas. A construção deverá restringir-se à recuperação de casas abandonadas, mantendo os estilos arquitectónicos tradicionais.

Condicionar as limpezas de linhas de água - Eventuais intervenções de limpeza dos

cursos de água e respectivas margens, deverão ser sujeitos a parecer da Paisagem Protegida, sendo obrigatório realizar as operações fora das épocas de reprodução das espécies aquáticas e ribeirinhas. A necessidade da limpeza deverá ser devidamente equacionada e justificada em cada caso.

Condicionar o acesso - O acesso a áreas sensíveis para a fauna e flora deverá ser

restringido devido à pressão da perturbação e pisoteio. Estas restrições de acesso deverão incidir por exemplo na zona da turfeira ou onde existam populações de espécies de flora prioritária. De igual modo deverão ser tidos em conta os locais de nidificação de rapinas e condicionar o acesso a essas zonas pelo menos durante o período de nidificação das mesmas. O regime de acesso deverá ser estudado caso a caso.

Condicionar o esforço e períodos de pesca - Esta medida está associada à

preservação das espécies autóctones que existem nos cursos de água da PP, nomeadamente a panjorca Chondrostoma arcasii ou o ruivaco Chondrostoma

oligolepis. Deverá manter-se um período de defeso para protecção das populações

piscícolas. De forma a diminuir o esforço de pesca, deveria limitar-se o direito de pescar preferencialmente aos pescadores residentes nas Freguesias próximas

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Condicionar operações de desmatação - Quaisquer operações de remoção do

sub-coberto arbustivo para redução dos riscos de incêndio devem ser feitas de forma selectiva. A remoção do mato não deverá ser contínua, assegurando que são mantidas manchas arbustivas de forma e dimensão adequadas. O planeamento das desmatações deverá portanto ter em conta as necessidades de conservação da natureza, sendo feita num quadro de aumento da diversidade estrutural dos povoamentos.

Condicionar povoamentos florestais de pinhal - Na Paisagem Protegida existem

manchas dispersas de manchas de pinhal e eucaliptal. Estes povoamentos têm um interesse relativamente reduzido em termos de conservação, pelo que poderiam beneficiar de uma diversificação das espécies arbóreas. Em particular, deveria ser estudada a possibilidade da conversão progressiva destas manchas de pinhal e eucaliptal em manchas florestais autóctones. Esta medida estende-se ao Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura.

Controlar efectivos de animais assilvestrados - Refere -se sobretudo ao controle

de cães e gatos vadios. Justifica -se pelo impacto directo que têm sobre os passariformes ou sobre a postura de certas espécies de aves que nidifiquem no chão.

Controlar espécies exóticas - Uma medida importante de conservação é o controlo

das várias espécies exóticas existentes na PP, nomeadamente das acácias(Acacia spp.) háquea (Hakea sericea) e árvore-do-céu (Ailanthus altissima), que constituem uma forte ameaça à biodiversidade de todo o sistema, em particular, ao nível das galerias ripícolas. A erradicação destas espécies exige um processo agressivo e continuo. De igual modo, dever-se-á criar um programa de monitorização para o visão-americano (Mustela vison).

Criar um banco de sementes para fins de reintrodução - Com vista ao aumento

das populações das espécies de flora de conservação prioritária, como por exemplo

Bruchia vogesiaca, Narcissus cyclamineus e Veronica micrantha, propõe-se a recolha

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Educação ambiental – Deverá ser fornecida informação aos visitantes da Paisagem

protegida, de forma a melhorar os comportamentos relativamente à perturbação, pisoteio, deposição de resíduos, etc. Desta forma, será possível diminuir o impacto dos visitantes da PP, principalmente no caso da utilização das praias balneares.

Implementar medidas para diminuir risco de incêndio – Os incêndios são dos

maiores factores de ameaça para as manchas florestais da PP. É assim necessário implementar medidas para prevenção de incêndios, nomeadamente através de limpezas selectivas do mato com desmatações, limpezas de caminhos e das orlas dos bosques, estabelecimento de uma rede de aceiros, criação de pontos de água, investimentos na vigilância a incêndios e existência de rede viária (sem alcatroamento) nas matas para fácil acesso de bombeiros e sapadores. A implementação destas medidas terá que ser necessariamente articulada com a conservação dos valores naturais na PP.

Implementar uma gestão controlada da actividade cinegética - Dado o potencial

impacto desta actividade sobre as espécies não cinegéticas (quer directamente pela caça ilegal de espécies protegidas, roubo de ovos, ou indirectamente pela perturbação e acções de repovoamento ou reforço cinegético), é necessária a implementação de um programa de gestão, que passe pela sua vigilância.

Instalação subterrânea de linhas eléctricas – Devido ao seu impacte paisagístico e

sobre as comunidades de aves, quaisquer linhas de alta ou média tensão que venha a ser necessário instalar na Paisagem Protegida deverão ser subterrâneas.

Manutenção de aceiros – A manutenção de aceiros deverá ser assegurada de forma

a reduzir os riscos de propagação de incêndio e para aumentar a diversidade de habitats nas manchas de pinhal. Sem prejuízo da sua função essencial de criar descontinuidades no material combustível, os aceiros devem ser geridos de modo a manterem as suas ricas comunidades de herbáceas com arbustos dispersos, criando assim condições particularmente favoráveis para a conservação de várias espécies faunísticas e florísticas.

Manutenção de árvores velhas e mortas – A manutenção de árvores velhas e

mortas é um aspecto essencial para a conservação da biodiversidade em meios florestais. Desta forma, o plano de gestão florestal das manchas de pinhal explorado,

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deverão incluir a obrigatoriedade de manter este tipo de estruturas. Exceptuam-se os casos em que possa haver riscos elevados em termos do estado fitossanitário dos povoamentos.

Melhorar a qualidade da água – As descargas poluentes são um problema relevante

do rio Coura, embora que maioritariamente a jusante da PP. Embora a zona no interior da Paisagem Protegida não seja considerada problemática em termos da qualidade da água, é ainda assim desejável manter uma monitorização frequente.

Ordenar actividades de recreio e lazer - Este ordenamento é necessário nas áreas

de ocorrência dos valores naturais, de modo a manter de forma sustentável as suas funções e a salvaguardar as áreas fundamentais para a sua conservação. Para tal, há que definir áreas de concentração espacial das actividades de recreio e lazer em função das áreas mais sensíveis para fauna, flora ou habitats. Adicionalmente, há que definir os limites máximos de capacidade de carga da PP. O ordenamento inclui ainda a necessidade de manutenção destes espaços, de forma a minimizar os impactes decorrentes da sua utilização, como a limpeza de lixos e conservação das infra-estruturas de apoio.

Outras medidas de criação de heterogeneidade estrutural dos povoamentos florestais – Os espaços florestais da Paisagem Protegida deverão ser geridos de

forma a aumentar a heterogeneidade horizontal e vertical dos povoamentos, aumentando assim o seu valor para conservação, sem impedir a continuidade da exploração florestal sustentável. Desta forma, a gestão deverá assegurar por exemplo, a presença de clareiras, a manutenção de árvores de grande porte, a manutenção de manchas diversificadas de coberto arbustivo de composição e estrutura variáveis, a diversificação da componente arbórea, a diversificação da estrutura etária, etc.

Proibição da abertura de novos acessos – De forma a limitar o trânsito dentro da

Paisagem Protegida, e assim permitir a presença de espécies muito sensíveis à perturbação humana, não deverá ser permitida a abertura de novos acessos.

Salvaguardar de pastoreio - A intensidade do pastoreio é um factor de ameaça em

alguns biótopos da Paisagem Protegida, nomeadamente nas áreas de carvalhal. Deverão assim definir-se níveis de encabeçamento compatíveis com a capacidade de suporte e a manutenção de elevados níveis de biodiversidade destas áreas.

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Vigilância – A vigilância do território é essencial para reduzir os riscos de propagação

de incêndios. Para além disso, é importante manter uma vigilância que assegure o cumprimento das regras de planeamento e gestão da Paisagem Protegida nomeadamente no que diz respeito ao acesso a áreas restritas (áreas de reprodução da fauna, áreas florísticas de elevada sensibilidade, etc.).

Referências

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