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5. TENDÊNCIAS NA OCUPAÇÃO E USOS DO SOLO

6.2. Protecção

Relativamente às necessidades de protecção efectuou-se um exercício comparável ao das sensibilidades. Numa fase inicial, procedeu-se à cartografia das necessidades de protecção gerais, sem ter em conta que tipo de protecção seria relevante. A cada biótopo foi atribuído um grau de necessidade de protecção que é tanto maior quanto maior a sensibilidade (Carta [38a]) e maior a relevância global, tendo-se obtido a Carta [38b]. A relevância global foi calculada através da combinação das relevâncias da fauna e da flora, cada uma destas, por sua vez, resultante da a) combinação da relevância das comunidades vegetais e da relevância florística e b) combinação da relevância dos biótopos e da relevância das espécies prioritárias da fauna. A combinação das relevâncias obedeceu a uma regra pensada no sentido de dar mais peso às relevâncias elevadas de tal modo que estas se potenciam, e se sobrepõem de certo modo às mais baixas.

Deve-se notar que a carta [39b] expressa a necessidade de protecção de cada biótopo mas não o modo como se deve proceder para assegurar a protecção. Uma necessidade muito elevada não significa que seja adequado um regime de protecção total, pois a ecologia da(s) espécie(s) em questão pode não ser compatível com estádios da sucessão mais avançados. Assim, esta carta não deve ser entendida necessariamente como indicadora, ou “proporcional” ao regime de protecção que se deve aplicar, mas sim o grau de atenção que se deve dar a cada biótopo em função da conjugação dos factores de sensibilidade e relevância. Esta informação foi considerada subsequentemente na avaliação do regime de protecção mais adequado em cada caso (ver secção 11).

Numa segunda fase, particularizou-se mais este tópico com a construção de uma matriz detalhada (Anexo 2). Assim, identificou-se para cada factor de ameaça os tipos de protecção necessários. Para a selecção do conjunto de medidas a implementar, tomou-se em consideração as que fizessem sentido para a PPCB, no enquadramento das delineadas no plano sectorial rede natura 2000, para o Sítio de Importância Comunitária de Corno do Bico (Corno do Bico, PTCON0040), pela Resolução do Conselho de Ministros nº 76/00, de 5 de Julho. Seguidamente, considerou-se qual a importância directa e indirecta de cada medida de protecção sobre cada biótopo, com a atribuição de um nível qualitativo de importância (Elevado, Médio e Baixo). Tal como para as sensibilidades, atribuiu-se a classe “não aplicável” quando a medida de protecção não afecta de todo o biótopo. Apesar disso, consideraram-se sempre os efeitos indirectos, uma vez que uma medida de protecção pode incidir fisicamente sobre um biótopo, mas ter efeitos indirectos noutros. A matriz de necessidades de protecção é apresentada no Anexo 2, incluindo 23 medidas de protecção. Cada uma destas medidas é descrita seguidamente (ordem alfabética).

Assegurar a protecção da turfeira – A turfeira depende da quantidade de água

disponível, estando presentemente sujeita a um regime hidrológico insuficiente. De modo a assegurar a sua continuidade é necessário criar um plano de gestão que assegure um caudal mínimo. Adicionalmente, é ainda necessário controlar a pressão do pastoreio na sua envolvência, de forma a minimizar os riscos de pisoteio e reverter o actual processo de nitrificação.

Assegurar a manutenção de usos agrícolas extensivos - Muitos dos valores

naturais da PP estão dependente da actividade agrícola gerida de forma extensiva. Os incentivos agro-ambientais devem assim visar de forma prioritária a manutenção dos sistemas agrários extensivos de produção, de modo a garantir o seu papel na manutenção dos habitats e estrutura da paisagem.

Condicionar a construção de infra-estruturas - A urbanização é um dos maiores

factores de ameaça aos biótopos da Paisagem Protegida, estando directamente relacionada com a destruição directa do habitat, e com o aumento do risco de pisoteio, perturbação e incêndio. Neste contexto, as novas construções deverão ser fortemente condicionadas ou mesmo proibidas. A construção deverá restringir-se à recuperação de casas abandonadas, mantendo os estilos arquitectónicos tradicionais.

Condicionar as limpezas de linhas de água - Eventuais intervenções de limpeza dos

cursos de água e respectivas margens, deverão ser sujeitos a parecer da Paisagem Protegida, sendo obrigatório realizar as operações fora das épocas de reprodução das espécies aquáticas e ribeirinhas. A necessidade da limpeza deverá ser devidamente equacionada e justificada em cada caso.

Condicionar o acesso - O acesso a áreas sensíveis para a fauna e flora deverá ser

restringido devido à pressão da perturbação e pisoteio. Estas restrições de acesso deverão incidir por exemplo na zona da turfeira ou onde existam populações de espécies de flora prioritária. De igual modo deverão ser tidos em conta os locais de nidificação de rapinas e condicionar o acesso a essas zonas pelo menos durante o período de nidificação das mesmas. O regime de acesso deverá ser estudado caso a caso.

Condicionar o esforço e períodos de pesca - Esta medida está associada à

preservação das espécies autóctones que existem nos cursos de água da PP, nomeadamente a panjorca Chondrostoma arcasii ou o ruivaco Chondrostoma

oligolepis. Deverá manter-se um período de defeso para protecção das populações

piscícolas. De forma a diminuir o esforço de pesca, deveria limitar-se o direito de pescar preferencialmente aos pescadores residentes nas Freguesias próximas

Condicionar operações de desmatação - Quaisquer operações de remoção do sub-

coberto arbustivo para redução dos riscos de incêndio devem ser feitas de forma selectiva. A remoção do mato não deverá ser contínua, assegurando que são mantidas manchas arbustivas de forma e dimensão adequadas. O planeamento das desmatações deverá portanto ter em conta as necessidades de conservação da natureza, sendo feita num quadro de aumento da diversidade estrutural dos povoamentos.

Condicionar povoamentos florestais de pinhal - Na Paisagem Protegida existem

manchas dispersas de manchas de pinhal e eucaliptal. Estes povoamentos têm um interesse relativamente reduzido em termos de conservação, pelo que poderiam beneficiar de uma diversificação das espécies arbóreas. Em particular, deveria ser estudada a possibilidade da conversão progressiva destas manchas de pinhal e eucaliptal em manchas florestais autóctones. Esta medida estende-se ao Perímetro Florestal de Entre Vez e Coura.

Controlar efectivos de animais assilvestrados - Refere -se sobretudo ao controle

de cães e gatos vadios. Justifica -se pelo impacto directo que têm sobre os passariformes ou sobre a postura de certas espécies de aves que nidifiquem no chão.

Controlar espécies exóticas - Uma medida importante de conservação é o controlo

das várias espécies exóticas existentes na PP, nomeadamente das acácias(Acacia spp.) háquea (Hakea sericea) e árvore-do-céu (Ailanthus altissima), que constituem uma forte ameaça à biodiversidade de todo o sistema, em particular, ao nível das galerias ripícolas. A erradicação destas espécies exige um processo agressivo e continuo. De igual modo, dever-se-á criar um programa de monitorização para o visão-americano (Mustela vison).

Criar um banco de sementes para fins de reintrodução - Com vista ao aumento

das populações das espécies de flora de conservação prioritária, como por exemplo

Bruchia vogesiaca, Narcissus cyclamineus e Veronica micrantha, propõe-se a recolha

Educação ambiental – Deverá ser fornecida informação aos visitantes da Paisagem

protegida, de forma a melhorar os comportamentos relativamente à perturbação, pisoteio, deposição de resíduos, etc. Desta forma, será possível diminuir o impacto dos visitantes da PP, principalmente no caso da utilização das praias balneares.

Implementar medidas para diminuir risco de incêndio – Os incêndios são dos

maiores factores de ameaça para as manchas florestais da PP. É assim necessário implementar medidas para prevenção de incêndios, nomeadamente através de limpezas selectivas do mato com desmatações, limpezas de caminhos e das orlas dos bosques, estabelecimento de uma rede de aceiros, criação de pontos de água, investimentos na vigilância a incêndios e existência de rede viária (sem alcatroamento) nas matas para fácil acesso de bombeiros e sapadores. A implementação destas medidas terá que ser necessariamente articulada com a conservação dos valores naturais na PP.

Implementar uma gestão controlada da actividade cinegética - Dado o potencial

impacto desta actividade sobre as espécies não cinegéticas (quer directamente pela caça ilegal de espécies protegidas, roubo de ovos, ou indirectamente pela perturbação e acções de repovoamento ou reforço cinegético), é necessária a implementação de um programa de gestão, que passe pela sua vigilância.

Instalação subterrânea de linhas eléctricas – Devido ao seu impacte paisagístico e

sobre as comunidades de aves, quaisquer linhas de alta ou média tensão que venha a ser necessário instalar na Paisagem Protegida deverão ser subterrâneas.

Manutenção de aceiros – A manutenção de aceiros deverá ser assegurada de forma

a reduzir os riscos de propagação de incêndio e para aumentar a diversidade de habitats nas manchas de pinhal. Sem prejuízo da sua função essencial de criar descontinuidades no material combustível, os aceiros devem ser geridos de modo a manterem as suas ricas comunidades de herbáceas com arbustos dispersos, criando assim condições particularmente favoráveis para a conservação de várias espécies faunísticas e florísticas.

Manutenção de árvores velhas e mortas – A manutenção de árvores velhas e

mortas é um aspecto essencial para a conservação da biodiversidade em meios florestais. Desta forma, o plano de gestão florestal das manchas de pinhal explorado,

deverão incluir a obrigatoriedade de manter este tipo de estruturas. Exceptuam-se os casos em que possa haver riscos elevados em termos do estado fitossanitário dos povoamentos.

Melhorar a qualidade da água – As descargas poluentes são um problema relevante

do rio Coura, embora que maioritariamente a jusante da PP. Embora a zona no interior da Paisagem Protegida não seja considerada problemática em termos da qualidade da água, é ainda assim desejável manter uma monitorização frequente.

Ordenar actividades de recreio e lazer - Este ordenamento é necessário nas áreas

de ocorrência dos valores naturais, de modo a manter de forma sustentável as suas funções e a salvaguardar as áreas fundamentais para a sua conservação. Para tal, há que definir áreas de concentração espacial das actividades de recreio e lazer em função das áreas mais sensíveis para fauna, flora ou habitats. Adicionalmente, há que definir os limites máximos de capacidade de carga da PP. O ordenamento inclui ainda a necessidade de manutenção destes espaços, de forma a minimizar os impactes decorrentes da sua utilização, como a limpeza de lixos e conservação das infra- estruturas de apoio.

Outras medidas de criação de heterogeneidade estrutural dos povoamentos florestais – Os espaços florestais da Paisagem Protegida deverão ser geridos de

forma a aumentar a heterogeneidade horizontal e vertical dos povoamentos, aumentando assim o seu valor para conservação, sem impedir a continuidade da exploração florestal sustentável. Desta forma, a gestão deverá assegurar por exemplo, a presença de clareiras, a manutenção de árvores de grande porte, a manutenção de manchas diversificadas de coberto arbustivo de composição e estrutura variáveis, a diversificação da componente arbórea, a diversificação da estrutura etária, etc.

Proibição da abertura de novos acessos – De forma a limitar o trânsito dentro da

Paisagem Protegida, e assim permitir a presença de espécies muito sensíveis à perturbação humana, não deverá ser permitida a abertura de novos acessos.

Salvaguardar de pastoreio - A intensidade do pastoreio é um factor de ameaça em

alguns biótopos da Paisagem Protegida, nomeadamente nas áreas de carvalhal. Deverão assim definir-se níveis de encabeçamento compatíveis com a capacidade de suporte e a manutenção de elevados níveis de biodiversidade destas áreas.

Vigilância – A vigilância do território é essencial para reduzir os riscos de propagação

de incêndios. Para além disso, é importante manter uma vigilância que assegure o cumprimento das regras de planeamento e gestão da Paisagem Protegida nomeadamente no que diz respeito ao acesso a áreas restritas (áreas de reprodução da fauna, áreas florísticas de elevada sensibilidade, etc.).

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