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ANÁLISE DOS EXEMPLARES DA ARQUITETURA BRUTALISTA DO CAMPUS CENTRAL DA UFRN

1ª ETAPA DA OBRA 2ª ETAPA DA OBRA

5.12. Centro de Biociências

Autor do Projeto: Carlos Bross e equipe

(BDSEL Arquitetos)

Ano do Projeto: 1978

Empresa que Executou a Obra: A. Rêbelo Flor

Período da Obra: 1978-81

Data / Ano da Inauguração: 27/071981

O projeto do Centro de Biociências, contratado com recursos do PREMESU IV115, foi

elaborado no início de 1978 pela equipe de profissionais escritório paulista Bross, dos Santos & Leitner Arquitetos S/C116 (identificada nos carimbos das pranchas apenas como BDSEL

Arquitetos), formado por João Carlos Bross117, Altino Mário dos Santos, Ricardo Júlio Leitner

e Arnaldo Villares de Oliveira. A escolha da empresa que iria construir o prédio foi feita por meio de uma Concorrência Internacional, vencida pela Construtora A. Rêbelo Flor.

Edital de Concorrência Internacional para construção do prédio destinado aos Laboratórios do Centro de Biociências, com área aproximada de 11.000m2,

de conformidade com os Contratos de Empréstimos nº. 459/SF-BR e 305/OC- BR, firmados entre o governo federal e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e nos termos do Convênio PREMESU IV de 06 de maio 1976.118

O discurso comemorativo dos dois anos da administração do reitor Diógenes da Cunha Lima, publicado no Diário de Natal em maio de 1981, destaca que a obra do Centro de Biociências seria brevemente finalizada119. Outras notícias relacionadas ao andamento das

obras eram constantemente objeto de matérias nos jornais da época.

O diretor do BID visitou a UFRN esta semana, visitando as obras do Centro de Convivências e no Centro de Biociências. Garantiu a aprovação dos projetos, que asseguram Cr$ 60 milhões para conclusão do Centro de Biociências, compra de câmaras frigoríficas e exaustores para o Centro de Biociências [...].120

115 RESOLUÇÃO nº. 57/77-CONSUNI, de 25 de novembro de 1977 - Homologa o Termo do Contrato nº. 04/77, firmado entre o Escritório Técnico Administrativo da UFRN e Empresa Bross, dos Santos & Leitner Arquitetos S/C Ltda. para a elaboração dos anteprojetos e projetos definitivos do Laboratório de Ciências Biológicas.

116 O prédio da Reitoria, o Laboratório II de Química e a ampliação do Hospital das Clínicas (atual Hospital Universitário Onofre Lopes) também foram projetados por esse escritório.

117 Ver nota 9.

118 UNIVERSIDADE Federal do Rio Grande do Norte. Diário de Natal, Natal, 03 abr. 1978. Disponível em: http://memoria.bn.br/. Acesso em 03/07/2017.

119 UNIVERSIDADE com alma nordestina. Diário de Natal, Natal, 21 mai. 1981. Disponível em: http://memoria.bn.br/. Acesso em 03/07/2017.

120 BID garante recursos para equipar a UFRN. Diário de Natal, Natal, 10 abr. 1981. Disponível em: http://memoria.bn.br/. Acesso em 03/07/2017.

A inauguração oficial do prédio, ocorreu em 27 de julho de 1981, na abertura do semestre letivo121 (Figura 130). Originalmente ocupava uma área de 11.500 m2, sendo até

hoje considerada a maior obra do campus central.

O reitor Diógenes da Cunha Lima inaugurou na manhã de ontem o Centro de Biociências da UFRN, localizado no campus central e considerado sua maior obra. O centro ocupa uma área de 11.500 m2 e custou Cr$ 392 milhões. Dispõe de 19 laboratórios totalmente equipados para as aulas práticas e 4 anfiteatros, cada um com capacidade para 100 alunos e mais duas salas de aula para o ensino teórico. O Centro conta ainda com um setor de Anatomia Comparativa, que é pioneiro no país122.

Figura 130: Fotografia da fachada oeste dos blocos de aula do Centro de Biociências tirada logo

após a inauguração oficial do prédio.

Fonte: UNIVERSIDADE com alma nordestina. Diário de Natal, Natal, 21 mai. 1981. Disponível em: http://memoria.bn.br/. Acesso em 03/07/2017.

O conjunto edificado que forma o Centro de Biociências possui um programa de necessidades abrangente, composto por laboratórios, salas de aulas teóricas, salas administrativas, áreas de convivências e ambientes de apoio. Da mesma forma como ocorreu no projeto da Reitoria, esse programa é distribuído em diferentes blocos prismáticos com dois pavimentos que se articulam ao redor de um bloco central, no qual estão concentradas as áreas de vivência do prédio (também partindo do princípio da “grande praça”).

Por se tratar de um projeto feito à mesma época e pela mesma equipe que elaborou o projeto da Reitoria, várias são as semelhanças encontradas entre os mesmos. A Planta de Ubicação presente em todas as pranchas do projeto e adoção de um módulo mínimo, repete os mesmos padrões daqueles adotados na Reitoria, ou seja, a distribuição dos ambientes e composição de espaços seguindo uma modulação de 1,20 x 1,20 metros / 14,40 x 14,40 metros (Figura 131).

121 CENTRO. Diário de Natal, Natal, 08 jul. 1981. Disponível em: http://memoria.bn.br/. Acesso em 03/07/2017. 122

Figura 131: Ubicação do projeto do Centro de Biociências, mostrando a articulação entre os blocos e

a malha adotada no projeto, traçada a partir do módulo inicial de 1,20 x 1,20 metros.

Fonte: Projeto original arquivado na Mapoteca da INFRA/UFRN.

Em relação à implantação do conjunto, verificamos que projeto toma partido dos desníveis topográficos. Lembrando mais uma vez o que ocorreu na Reitoria, o Centro de Biociências está implantado em uma cota mais elevada em relação ao entorno. O Bloco A ocupa a parte frontal do prédio, voltado para a via por onde é feita a circulação de veículos e por onde fica situada a escadaria do acesso principal ao conjunto, é ocupado por quatro anfiteatros. Paralelo a este, encontra-se o Bloco B, localizado na parte central do complexo e concentrando na parte térrea as áreas de vivência (lanchonete e praça central). Na parte posterior, encontram-se três blocos paralelos (Blocos C, D e E), com fachadas maiores orientadas na direção norte-sul, onde estão localizadas as salas de aulas teóricas (Figura 135 a Figura 137).

Além da articulação dos espaços, as soluções formais do Centro de Biociências também se assemelham àquelas adotadas no primeiro projeto elaborado pela equipe de Bross para o campus, com os elementos da estrutura de concreto armado (pilares, vigas e lajes) deixados aparentes e definindo a volumetria do prédio. Neste projeto, as paredes de alvenaria são revestidas com um casquilho cerâmico avermelhado, fazendo um belo contraste com a aparência rugosa e acinzentada dos elementos estruturais e definindo claramente a

função de cada elemento (Figura 132). O concreto aparente também foi utilizado em outros elementos formais, como as placas de proteção solar que protegem as esquadrias da insolação direta, além dos bancos, floreiras, escadas e outros elementos que compõem os espaços internos.

Figura 132: Fotografias tiradas de um mesmo ângulo, mostrando um dos blocos do Centro de

Biociências na época de sua inauguração e atualmente.

Fonte: MACEDO, 2012, p.322. Acervo da INFRA/UFRN

A composição do Centro de Biociências apresenta uma solução em caixa portante, com plantas genéricas de vãos livres, teto em grelha e vazios verticais internos criando áreas para penetração da iluminação zenital. De uma forma geral, o projeto se volta para o interior e, devido às suas dimensões, os recuos e reentrâncias existentes entre os blocos foram ocupados por jardins internos, contribuindo para a amenização do clima e gerando um conforto visual nos usuários (Figura 133). Os blocos de escadas e os ambientes de serviço (banheiros, copas e depósitos), concentram-se em núcleos compactos e as esquadrias mantêm o mesmo padrão das anteriormente adotadas para os projetos do campus, ou seja, de vidro e alumínio com venezianas fixas.

Figura 133: Jardins internos do Centro de Biociências.

Fonte: Acerco da INFRA/UFRN.

Os elementos de adequação climática mais marcantes do projeto são os painéis de concreto fixados nas extremidades das vigas que se estendem além dos limites do prédio, protegendo as aberturas e sombreando o interior dos ambientes. Além disso, uma estratégia projetual muito interessante é que no bloco central, que tem a fachada de maior dimensão orientada na direção leste-oeste, foram previstas circulações laterais dispostas ao longo das salas de aula, funcionando como alpendres que protegem o interior dos ambientes da incidência solar (Figura 134).

Figura 134: Painéis de proteção solar protegendo as aberturas dos ambientes localizados nos blocos

orientados N-S e varandas existentes ao longo das salas de aula do bloco central, orientado E-W.

Figura 135: Plantas baixas do Centro de Biociências.

Figura 136: Cortes do Centro de Biociências.

Fonte: Digitalizados a partir da planta original arquivada na Mapoteca da INFRA/UFRN.

Figura 137: Fachadas do Centro de Biociências.