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Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários

No documento Mediação nas serventias extrajudiciais (páginas 77-99)

4. A mediação nas serventias extrajudiciais no Brasil

5.2. Mediação Notarial em Portugal

5.2.1. Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários

O Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários foi criado com a “competência para dirimir, por via da mediação ou arbitragem, quaisquer litígios que possam ser submetidos a meios alternativos de resolução, em quaisquer matérias não excluídas por lei”191. Desta forma, o Centro tem como objetivo “administrar arbitragens voluntárias institucionalizadas e processos alternativos de resolução de litígios, em quaisquer matérias não excluídas por lei” e “prestar serviços conexos com a administração de arbitragens e meios alternativos de resolução de litígios”, de acordo com

185BARROS, Kamilly Borsoi - O Fenômeno da desjudicialização e as competências exercidas pelos cartórios extrajudiciais no Brasil, p. 76.

186Art. 4º. Função notarial. 1 – Compete, em geral, ao notário redigir o instrumento público conforme a vontade dos interessados, a qual deve indagar, interpretar e adequar ao ordenamento jurídico, esclarecendo-os do seu valor e alcance e exercer todas as demais competências que lhe seja atribuída por lei. 2 – Em especial, compete ao notário, designadamente: m) Intervir em processos de mediação e de arbitragem.

187Pontua-se que este diploma foi recentemente alterado pelo Decreto-Lei 145/2019, de 23 de setembro.

188Artigo 3º. Atribuições: 1 – São atribuições da Ordem dos Notários: r) Constituir um centro de mediação e arbitragem.

189MAGALHAES, Luísa - A Evolução do Regime Jurídico da Mediação em Portugal: Os Antecedentes Normativos de Maior Relevo até à Lei Nº 29/2013 de 19 de abril, p. 164.

190PORTUGAL - Despacho nº 14517/2013 de 11 de novembro.

191PORTUGAL - Despacho nº 14517/2013 de 11 de novembro.

A mediação em Portugal

78 o art.1º, nº 2 dos Estatutos do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários192.

A partir da criação do Centro, após a autorização junto do Ministério da Justiça, a Ordem dos Notários buscou com a sua implementação fomentar a mediação como meio de resolver conflitos em Portugal. Assim, qualquer litígio, que por lei seja cabível de ser resolvido por meio de arbitragem ou mediação, pode ser submetido pelas partes ao Centro de Informação, Mediação e Arbitragem (CIMA) da Ordem dos Notários193.

Além disso, buscou-se aproveitar da confiança já existente que os cidadãos e as empresas têm nos notários portugueses, bem como a questão da abrangência dos cartórios. Portanto, o Centro tem uma abrangência de âmbito nacional e os cidadãos e empresas portuguesas poderão instaurar o processo de arbitragem ou mediação no concelho que lhes seja mais conveniente, quer nas instalações do Centro quer nos cartórios notariais, uma vez que a rede nacional de cartórios cobre praticamente todo o território194.

Nesse sentido, determina o art. 13 do Regulamento de Mediação195: “a Mediação decorrerá no Cartório do Mediador designado se este for Notário, ou na sede do Centro nos restantes casos.” Portanto, o objetivo é possibilitar às partes realizar o procedimento no concelho que lhes seja mais conveniente, dando-lhes a possibilidade de fazer a escolha com base na localização e, também, por razões de confiança na competência.

Destaca-se quanto a isso que há também a possibilidade de escolher um mediador que não seja notário. Dessa forma, quando for assim, o procedimento de mediação, tendo em vista as questões práticas de garantia das partes envolvidas, ocorrerá na sede do Centro, uma vez que os mediadores escolhidos não terão um local específico para sua atuação, utilizando, portanto, da estrutura do CIMA196.

Adicionalmente, as partes podem escolher um cartório notarial, desde que essa escolha coincida com a escolha de um notário que possua licença de cartório notarial e

192ORDEM DOS NOTÁRIOS - Estatutos do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

193ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

194ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários.

195ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

196ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários.

A mediação em Portugal

79 que conste na lista aprovada pelo Centro, não precisando se deslocar a local específico197. Quanto a isso Maraschin determina que “a medida da não vinculação visa facilitar às partes que não precisarão ir em um determinado lugar, e sim, apenas ao local da escolha do mediador, facilitando o acesso a partir dessa descentralização”198.

Nesse contexto, é de observar que se estimula a possibilidade de uma desconcentração dos processos. Assim, ao permitir a realização de arbitragens e mediações em cartório é cabível a realização de inúmeros processos ao mesmo tempo199. Dessa forma, em decorrência da descentralização quanto ao lugar em que decorrerá a mediação ou arbitragem, o art. 5º do Estatuto do Centro determina que “o Presidente poderá delegar num ou mais membros do Conselho Directivo alguns ou todos os poderes que lhe são conferidos pelos Regulamentos de Arbitragem ou Mediação”, tendo como objetivo permitir o andamento de um número de processos grande e com a celeridade necessária.

Em relação aos notários que queiram fazer parte da lista do Centro em decorrência da possibilidade de as mediações funcionarem no seu cartório, deverão assinar um termo de responsabilidade e de aceitação das regras do Centro, como também autorizar que o Conselho Diretivo proceda à fiscalização e acompanhamento do andamento dos procedimentos dentro dos cartórios. Ademais, haverá uma indicação de um funcionário do cartório para integrar o Secretariado do Centro, nos termos previstos no Estatuto, com competências, deveres e responsabilidades previstos nos regulamentos, possuindo um manual de regras de procedimentos para apoiar a sua função. Ressalta-se ainda que, com o intuito de gerar uma uniformidade na prática dos atos, haverá modelos de minutas e formulários a serem oferecidos pelo próprio Centro em cada fase do procedimento200.

Nesse sentido, o art. 8º determina que:

Compete ao Conselho Directivo aprovar uma lista aberta de mediadores e árbitros do Centro, composta pelos profissionais liberais que se disponibilizarem para o efeito e disponham das qualificações adequadas, bem como qualquer alteração ou revisão da mesma. A referida lista de mediadores e de árbitros, sem prejuízo das alterações que lhe forem sendo introduzidas pelo Conselho, será revista trienalmente.”

197ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários.

198MARASCHIN, Inês Maria Viana - Mediação extrajudicial nas relações privadas civil e comercial em Portugal e no Brasil – com ênfase no âmbito notarial e registral. In COSTA NETO, Raimundo Silvino;

FILGUEIRAS, Synara Rodrigues (org.) - Perspectivas luso-brasileira na resolução alternativa de conflito. Lisboa: Legit Edições, 2019, p.150.

199ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários.

200ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários.

A mediação em Portugal

80 Pontua também o dito artigo que “a lista funcionará, apenas, como indicador de aceitação por parte de determinadas pessoas, com competência e formação específica do papel mediador do Centro e não impedirá que Conselho Diretivo de indicar outros mediadores ou árbitros que não constem da referida lista”, tendo em atenção as características de determinado caso ou litígio.

Por fim, observa-se que o objetivo do Centro é que as mediações realizadas neste âmbito sejam convidativas à sociedade em geral, gerando assim um maior desenvolvimento e crescimento dos procedimentos, em decorrência das características e vantagens apresentadas. Assim, é importante e necessária a participação dos notários que queiram aderir ao Centro e investir nessa área e é essencial ir ao encontro dos interesses e direitos dos cidadãos e das empresas com o objetivo de contar com o apoio e participação destas partes201.

5.2.2. Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários

Com a criação do CIMA foram estabelecidos regulamentos para os procedimentos de arbitragem e mediação. Nesse sentido, iremos abordar algumas regras presentes no Regulamento para a realização da mediação de modo a entender o funcionamento do Centro e as normas aplicáveis. Inicialmente, com pontuado anteriormente, em seu art. 1º, o Regulamento de Mediação202 estabelece o objeto da mediação, ao permitir que qualquer conflito no qual seja admitida transação possa ser submetido ao procedimento de mediação, bastando apenas a aceitação pelas partes dos termos estabelecidos no regulamento.

Quanto a isso, o art. 11 da LM fixa o critério de que são mediáveis, em matéria civil e comercial, os litígios que envolvam interesses patrimoniais, mas também aqueles que não envolvam interesses de natureza patrimonial, desde que as partes possam realizar transação sobre o direito controvertido203. Em relação as matérias insuscetíveis de transação, o art. 1.249 do Código Civil português determina que “as partes não podem

201ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários

202ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

203PORTUGAL - Lei nº 29 de 19 de abril de 2013.

A mediação em Portugal

81 transigir sobre direitos de que lhes não é permitido dispor, nem sobre questões respeitantes a negócios jurídicos ilícitos.”

Nesse contexto, verifica-se que qualquer das partes pode solicitar a realização da mediação. Para tanto, deve ser apresentado um requerimento inicial contendo a identificação das partes e a indicação do objeto e dos fundamentos da solicitação. Em seguida, a outra parte é notificada para manifestar o interesse em participar da mediação em um prazo de 10 dias; caso não haja resposta ou esta seja negativa, é realizada a comunicação à parte solicitante de que não houve aceite da mediação, não havendo prosseguimento do procedimento, nos termos dos arts. 2º e 3º do Regulamento204.

Em relação à fixação dos valores, o art. 4º estabelece que ao ser manifestado o aceite ao procedimento de mediação o secretário do Centro fixará os valores dos encargos tendo como base a tabela em vigor no momento. Os valores abrangem “os honorários mínimos do mediador, as despesas que as sessões previsivelmente impliquem e os encargos administrativos que resultem da aplicação da tabela” constante no Regulamento.

A partir disso, as partes realizarão o pagamento de preparo equivalente a metade do valor fixado em um prazo de 5 dias205.

Destaca-se que, nos termos do art. 4, n.3 para a fixação do valor dos encargos a tabela é meramente indicativa, uma vez que, não conseguiria precisar de forma objetiva, o tempo gasto pelo mediador, nem a dificuldade ou as especificidades do caso concreto.

Nesse sentido, há a possibilidade de haver uma solicitação de um valor adicional em decorrência de despesas incorridas com a mediação, sempre que se justifique. Assim, o valor devido ao mediador será acordado pelas partes em reunião, na sequência de uma proposta do Conselho Diretivo dirigida às partes e ao mediador, considerando o tempo gasto pelo mediador e as particularidades de cada caso, com base art. 4, n.6.206.

No entanto, o valor acordado poderá ser alterado, considerando as circunstâncias objetivas e supervenientes, relacionadas ao tempo gasto e complexidade do assunto, nos termos no art. 12. O procedimento determina que “no termo da mediação o secretariado proceda à liquidação dos encargos e notifique-a às partes, que deverão proceder ao seu pagamento em 10 dias”. Assim, o valor ao final compreende os honorários do mediador

204ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

205ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

206ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

A mediação em Portugal

82 acordados, ressalvadas despesas incorridas durante a mediação, e os encargos administrativos, com base no art. 12, n.2. Portanto, do valor final “será deduzido o valor dos preparos efectuado ou efectuados pelas partes” inicialmente. Por fim, o regulamente, em seu art.12, n.5, determina que “as despesas incorridas durante a mediação, serão, na ausência de estipulação expressa em contrário, suportadas pelas partes, em igual proporção”.

Após o pagamento inicial, as partes escolhem os mediadores dentre os membros da lista de mediadores, nos termos do art. 5º. Contudo, caso as partes não cheguem a um acordo, caberá ao Conselho Diretivo nomear o mediador, tendo cuidado com as particularidades do caso específico, sendo as partes notificadas da escolha, sendo cabível impugnação no prazo de 10 dias207. Ademais, o Regulamento no art. 5º, n.3 determina que fica vedada a intervenção “como mediador de qualquer pessoa que, em relação a qualquer das partes ou seus representantes, tenha qualquer relação pessoal ou profissional que, que seja suscetível de pôr em causa a sua independência e isenção, bem como tenha qualquer interesse directo ou indirecto no litígio”.

Em seguida, o procedimento seguirá os trâmites estabelecidos entre as partes e o mediador, considerando as particularidades de cada caso, com base no art. 6º. Em geral, conforme o referido artigo, o procedimento, inicialmente, terá a fase de preparação da mediação, a assinatura do protocolo de mediação e a exposição escrita do caso pelas partes. Ato contínuo será realizada a sessão inicial, resumo dos interesses e ordenamento dos problemas apresentados pelas partes, além da possibilidade de sessões separadas, caso sejam necessárias, e as sessões conjuntas. Por fim, é realizada a sessão final para assinatura do acordo, se realizado208.

Assim, para dar início ao procedimento, após o prazo de notificação de 10 dias, sem impugnação da designação do mediador, “o secretariado promoverá uma reunião das partes e do mediador para a formação e respectiva assinatura, em conjunto, de um acordo de mediação, segundo minuta previamente aprovada pelo Conselho Diretivo do Centro", com base no art. 8º. O protocolo, segundo o referido artigo, conterá informações essenciais como identificação do mediador, descrição do objeto do litígio, data, local, identificação das partes e dos representantes das partes nas sessões de mediação.

Destaca-207ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

208 ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

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83 se que a “participação do mediador nesta reunião prévia não lhe confere direito a qualquer remuneração”, nos termos do art. 8º, nº 2.

Além disso, nesta primeira reunião que estabelece o protocolo de mediação, segundo o art. 8º, também serão estabelecidas algumas cláusulas necessárias para o procedimento, como a confidencialidade, possibilidade de desistência a qualquer momento e, ainda, “cláusula dispondo que o mediador poderá, por sua iniciativa, pôr termo à mediação, mediante decisão devidamente fundamentada”. Ainda, segundo o art.

8º, 1.10 será estabelecido que “as partes se comprometem a reduzir a escrito o eventual acordo que tenham obtido durante a mediação”, como também o art. 8º, 1,11 estabelece

“cláusulas dispondo de regras de conduta e éticas aplicáveis à mediação”.

Em relação à sessão inicial e as demais sessões, de acordo com o art. 9º, “o mediador procede livremente à organização da sessão inicial, bem como sessões subsequentes, conjuntas ou separadas, que promoverá segundo os princípios de imparcialidade, equidade e justiça”, além de determinar se ocorrerão de maneira individual ou conjunta. Ao finalizar as sessões, de acordo com o art. 9º, n.3, “o mediador elabora documento que conterá o resumo dos interesses e ordenamento dos problemas apresentados pelos mediandos e designará dia para a sessão final e assinatura do acordo, se conseguido”.

Nos termos do art. 10, “a sessão final destina-se à elaboração e assinatura do acordo, se conseguido, e a pôr termo à mediação. Destaca-se também que “o acordo das partes tem natureza confidencial, salvo se for outra a sua vontade ou se a publicidade for necessária para a sua aplicação ou execução”. Caso não haja acordo, “a sessão final termina com declaração correspondente feita por escrito pelo mediador, sem necessidade de fundamentação”.

Ressalta-se que a mediação poderá terminar a qualquer altura, por iniciativa do mediador, quando considerar que esta é inútil, dada a forte improbabilidade de um acordo, ou quando houver violação das normas éticas e de conduta (número 1.7 do art. 8º)209. Nesse sentido, discute-se também a possibilidade de a mediação finalizar em caso de ilegalidade do acordo.

Essa questão gera dúvidas face ao princípio da voluntariedade: por um lado, as partes têm o domínio do processo; por outro lado, tal implica o consentimento esclarecido e informado. O Regulamento não diz nada sobre essa questão. Entretanto, o Código

209ORDEM DOS NOTÁRIOS - Regulamento de Mediação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários. 2014.

A mediação em Portugal

84 Europeu de Conduta estabelece que o mediador pode terminar a mediação quando “tendo em conta as circunstâncias do caso concreto e a competência do próprio mediador, o acordo que está a ser determinado for, do seu ponto de vista, ilegal ou impossível de ser executado”210.

Ademais, segundo o art. 11, a mediação poderá finalizar “por iniciativa de qualquer das partes, desde que o comunique por escrito ao mediador, a sua vontade de não continuar, nos termos do número 1.6 do art. 8º, excepto se tal comunicação for efetuada durante uma sessão de mediação, bastando para o efeito a comunicação oral, que ficará registrada em ata”. Por fim, a mediação pode ainda terminar com a assinatura do acordo ou, pelo contrário, da declaração feita pelo mediador a respeito da não realização do acordo, prevista no nº 4 do art. 10.

A despeito das regras do procedimento, o regulamento também destaca a natureza da mediação e algumas regras gerais aplicáveis. O art. 7º, ns.1 e 2 destacam que “a mediação é confidencial” e que, “ao aceitar submeter-se a Mediação, as partes comprometem-se a não utilizar, como argumento ou como meio de prova, em processo arbitral ou judicial de qualquer natureza” as informações confidenciais tratadas nas sessões a. Assim, nos termos do art. 7º, n.3, “o mediador e quaisquer elementos do Centro que tenham participado ou contribuído para a mediação, não podem ser indicados, arrolados ou contratados por qualquer das partes como testemunhas, consultores, árbitros ou peritos em qualquer processo judicial ou arbitral relativo ou relacionado com o litígio em causa”.

Além disso, o art. 7º determina que “o ritmo e duração das sessões de mediação, quer conjuntas, quer efectuadas em separado com cada uma das partes, é determinado por acordo entre as partes, com o apoio do mediador, atendendo à organização dos trabalhos e calendarização e com vista à sua celeridade e concentração no menor número de sessões possíveis”. Assim, esse acordo deverá constar do protocolo de mediação, sem prejuízo de poder vir a ser alterado durante o procedimento, caso se mostre necessário.

Segundo o n. 6 do referido artigo, “o mediador designado será absolutamente imparcial e neutro em relação ao objecto do conflito e aos interesses das partes, não podendo ter, directa ou indiretamente, qualquer interesse, pessoal ou financeiro, no resultado da mediação. A designação e manutenção do mediador em suas funções dependem dessa neutralidade”. O n.7 estabelece também que:

“O mediador e as partes obrigam-se, durante a mediação:

210COMISSÃO EUROPEIA - Código Europeu de Conduta para Mediadores. 2014.

A mediação em Portugal

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- A respeitar escrupulosamente os princípios do sigilo e confidencialidade;

-A acatarem as regras estabelecidas quanto à forma, local e tempo das sessões de mediação;

- A comportarem-se com respeito mútuo e urbanidade, evitando referências desprimorosas ou insultuosas;

- A respeitarem os tempos acordados ou fixados pelo mediador para a intervenção de qualquer das partes ou seus auxiliares, não interrompendo essa intervenção.”

Por fim, citado artigo determina ainda que “o mediador não poderá ser responsabilizado por quaisquer actos ou omissões relacionados ou emergentes da condução da mediação, exceptuando unicamente os casos de dolo, fraude ou violação de confidencialidade”.

Nesse sentido, observa-se que o objetivo do regulamento do Centro é possibilitar que a mediação notarial seja uma realidade na resolução de conflitos em Portugal, considerando as vantagens que trazem para os cidadãos e empresas211. Quanto isso, Maraschin determina que:

De igual modo tem trilhado o Direito Português, seja pela adoção de procedimentos similares aos do Brasil, seja pelo uso de outros institutos pertinentes à própria realidade, e com a mesma perspectiva de amplo atendimento social. Sem dúvida o instituto da mediação é ferramenta essencial à solução eficiente e eficaz de conflitos na esfera privada: a uma porque desafoga o já assoberbado Poder judiciário, sem retirar deste suas competências e atribuições ao mesmo tempo em que contribui economicamente com os Notários e Registradores; a duas porque viabiliza o atendimento mais célere e de menor custo às partes; e por último, porque concede certa autonomia às partes envolvidas (e suas respectivas defesas), além de deixá-las satisfeitas com os resultados obtidos por esse meio de solução extrajudicial de conflitos212.

Assim, observa-se que essas normas foram instituídas consideram as leis existentes sobre o tema, além de considerarem os interesses gerais da população de forma a garantir um procedimento mais célere, eficaz e menos custoso. No entanto, em contato213 com o Centro, fomos informados que não houve tramitação de processos de mediação e que foram realizados três processos de arbitragem. Ademais, informaram que atualmente, estão passando por um processo de reestruturação no Centro de Informação, Mediação e Arbitragem (CIMA) da Ordem dos Notários.

211ORDEM DOS NOTÁRIOS – Apresentação do Centro de Informação, Mediação e Arbitragem da Ordem dos Notários.

212MARASCHIN, Inês Maria Viana - Mediação extrajudicial nas relações privadas civil e comercial em Portugal e no Brasil – com ênfase no âmbito notarial e registral. In COSTA NETO, Raimundo Silvino;

FILGUEIRAS, Synara Rodrigues (org.) - Perspectivas luso-brasileira na resolução alternativa de conflito, p.144.

213Contatos realizados por e-mail nos no 19 de julho de 2021 e 05 de agosto de 2021 com a Ordem dos Notários.

No documento Mediação nas serventias extrajudiciais (páginas 77-99)