• Nenhum resultado encontrado

Lei de mediação brasileira

No documento Mediação nas serventias extrajudiciais (páginas 33-36)

2. Mediação no direito brasileiro

2.2. Lei de mediação brasileira

A Lei 13.140/15 complementou a normatização do procedimento de mediação iniciado com a Resolução nº 125/2010 do CNJ e concretizado com a edição do Novo Código de Processo Civil também em 2015. Assim, o art. 1º da Lei de Mediação determina que a lei “dispõe sobre a mediação como meio de solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração pública”. Diante disto, observa-se que houve a regulamentação para a realização dos procedimentos de mediação tanto no âmbito judicial, como também no ambiente extrajudicial.

57CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL - Manual de mediação e conciliação da Justiça Federal, p. 65.

58DALLA, Humberto, Mazzola, Marcelo - Manual de mediação e arbitragem, p.157.

59DALLA, Humberto, Mazzola, Marcelo - Manual de mediação e arbitragem, p.157.

Mediação no direito brasileiro

34 Já o art. 3º da lei estabelece que “pode ser objeto de mediação, o conflito que verse sobre direitos disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação”, podendo inclusive abranger todo o conflito, ou apenas parte deste. No caso de se tratar de direitos disponíveis não é necessária a homologação judicial. Entretanto, o “consenso das partes envolvendo direitos indisponíveis, mas transigíveis, deve ser homologado em juízo, exigida a oitiva do Ministério Público”, nos termos do §2º do art. 3º da Lei de Mediação.

A legislação também estabelece normas comuns, tanto aos mediadores judiciais, quanto aos mediadores extrajudiciais. Assim, determina que:

Art. 4º O mediador será designado pelo tribunal ou escolhido pelas partes.

§ 1º O mediador conduzirá o procedimento de comunicação entre as partes, buscando o entendimento e o consenso e facilitando a resolução do conflito.

§ 2º Aos necessitados será assegurada a gratuidade da mediação.

Art. 5º Aplicam-se ao mediador as mesmas hipóteses legais de impedimento e suspeição do juiz.

Parágrafo único. A pessoa designada para atuar como mediador tem o dever de revelar às partes, antes da aceitação da função, qualquer fato ou circunstância que possa suscitar dúvida justificada em relação à sua imparcialidade para mediar o conflito, oportunidade em que poderá ser recusado por qualquer delas.

Art. 6º O mediador fica impedido, pelo prazo de um ano, contado do término da última audiência em que atuou, de assessorar, representar ou patrocinar qualquer das partes.

Art. 7º O mediador não poderá atuar como árbitro nem funcionar como testemunha em processos judiciais ou arbitrais pertinentes a conflito em que tenha atuado como mediador.

Art. 8º O mediador e todos aqueles que o assessoram no procedimento de mediação, quando no exercício de suas funções ou em razão delas, são equiparados a servidor público, para os efeitos da legislação penal.

Diferentemente das regras constantes no CPC/15 e no art. 11 da referida lei, abordadas anteriormente, em relação aos mediadores judiciais, o art. 9º estabelece que quanto aos mediadores extrajudiciais é possível ser “(...) qualquer pessoa capaz que tenha a confiança das partes e seja capacitada para fazer mediação, independentemente de integrar qualquer tipo de conselho, entidade de classe ou associação, ou nele inscrever-se”. Quanto a isso, Dalla e Mazolla pontuam que “(...) o art. 9º da Lei de n.13.140/2015 dispõe que os mediadores extrajudiciais não necessitam demonstrar qualquer formação específica, bastando que sejam capazes e gozem da confiança das partes – sendo a confiança, como se sabe, pilar básico para o sucesso do procedimento de mediação”60.

Outro ponto controverso em relação ao CPC/15 diz respeito à possibilidade de escolha do mediador, como explicado anteriormente, de acordo com o art. 168, as partes,

60DALLA, Humberto, Mazzola, Marcelo - Manual de mediação e arbitragem, p.40.

Mediação no direito brasileiro

35 em comum acordo, poderiam eleger o mediador. Ressalta-se que, o mediador escolhido pelas partes poderá ou não estar cadastrado no tribunal. Contudo, caso as partes não cheguem a acordo quanto à escolha do mediador, será realizada a distribuição entre aqueles cadastrados no registro do tribunal, sendo considera a respectiva formação.

Portanto, nestes casos, os mediadores não estarão sujeitos à aceitação, cabendo às partes se manifestarem, apenas, no que diz respeito à existência de alguma causa de impedimento ou suspeição do mediador, nos termos do art. 25 da Lei de Mediação61.

Em relação a mediação judicial, destaca-se que, a audiência de mediação é considerada uma fase obrigatória do processo judicial62, conforme o art. 27: “se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de mediação”. A lei também traz a regulamentação do prazo, estabelecendo o art. 28 que “o procedimento de mediação judicial deverá ser concluído em até sessenta dias, contados da primeira sessão, salvo quando as partes, de comum acordo, requererem sua prorrogação”.

Quanto a duração da mediação extrajudicial, não existe um limite específico determinado em lei. Assim, o art. 20 determina que “o procedimento de mediação será encerrado com a lavratura do seu termo final, quando for celebrado acordo ou quando não se justificarem novos esforços para a obtenção de consenso, seja por declaração do mediador nesse sentido ou por manifestação de qualquer das partes”. Por fim, o referido artigo determina que, caso haja acordo, o termo final da mediação “constitui título executivo extrajudicial e, quando homologado judicialmente, título executivo judicial”.

Já o procedimento da mediação extrajudicial encontra-se determinado nos artigos 21 a 23. Observa-se, portanto, que essa regulamentação sobre a mediação extrajudicial não tem o objetivo estabelecer regras rígidas ao procedimento. A lei busca apenas orientar a forma do procedimento, preservando a sua informalidade e sua flexibilidade, como também mantendo a autonomia da vontade das partes durante todo o processo.

Além disso, também foi estabelecido na lei um capítulo com artigos específicos com determinações sobre a “autocomposição de conflitos em que for parte pessoa jurídica de direito público” (art.32 a 34 – disposições comuns; e 35 a 40 – Dos Conflitos Envolvendo a Administração Pública Federal Direta, suas Autarquias e Fundações).

61DALLA, Humberto, Mazzola, Marcelo - Manual de mediação e arbitragem, p. 127.

62BUIKA, Heloisa Leonor - Mediação: uma parajurisdição no sistema judicial brasileiro. São Paulo, 2019, p. 140.

Mediação no direito brasileiro

36 Por fim, com base no art. 42, a lei também é aplicável “no que couber, às outras formas consensuais de resolução de conflitos, tais como mediações comunitárias e escolares, e àquelas levadas a efeito nas serventias extrajudiciais, desde que no âmbito de suas competências”. Há também a possibilidade e acordo com o art. 43 da lei, que “os órgãos e entidades da administração pública poderão criar câmaras para a resolução de conflitos entre particulares, que versem sobre atividades por eles reguladas ou supervisionadas”. Além disso, o art. 46, da lei possibilita a realização de mediação online, desde que as partes estejam de acordo, o que se enquadra perfeitamente no contexto mundial atual.

Portanto, destaca-se que estas legislações estimulam, cada vez mais, a utilização dos meios alternativos de resolução de conflitos como forma efetiva de acesso à justiça pela sociedade. Assim, observa-se que o intuito é desenvolver o procedimento, proporcionando uma cultura de pacificação social além de consequentemente amenizar o número de demandas judiciais.

No documento Mediação nas serventias extrajudiciais (páginas 33-36)