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CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARA

CAPÍTULO 5 PROJETOS DE ORDENAÇÃO TERRITORIAL NO MARANHÃO (1972-1995)

5.6 CENTRO DE LANÇAMENTO DE ALCÂNTARA

O Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE), no qual se destaca a Missão Espacial Completa Brasileira (MECB), implantou no início da década de oitenta do século XX o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), subordinado ao Ministério da Aeronáutica, criado por intermédio do Decreto nº 88.136/1983 e passou a ocupar, através de Decreto Estadual nº 7.820/80 combinado com os Decretos Federais nº 92.571/86 e s/nº de 08/08/91224, uma área de 620 km² ou 41,45% do território municipal em tela dos quais 160 km² são considerados, hoje, de segurança enquanto o restante é destinado à expansão.

A escolha do município de Alcântara para sediar o referido Centro de Lançamento deriva de sua privilegiada posição geográfica, em que se relevam:

224 O Decreto Estadual (Maranhão) n° 7.820/1980 “declara de utilidade pública para fins de

desapropriação, área de terra necessária à implantação pelo Ministério da Aeronáutica, de um Centro Espacial, no município de Alcântara, deste Estado”, equivalente a 52.000 ha. O Decreto Federal n° 92.571/1986 “dispõe sobre o disciplinamento de terras federais incluídas na área afetada ao Centro de Lançamento de Alcântara – CLA, e dá outras providências”. O Decreto Federal s/n°, de 08/08/1991, “declara de utilidade pública, para fins de desapropriação, áreas de terras, e respectivas benfeitorias necessárias à implantação pelo Ministério da Aeronáutica, do Centro de Lançamento de Alcântara, em Alcântara no Maranhão”, cuja superfície correspondia a 10.000 ha.

a) a inviabilidade de expansão do Centro de Lançamento da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, devido ao comprometimento da segurança em decorrência do crescimento urbano em seu em torno;

b) a necessidade de atender à demanda interna e externa tanto de lançamentos de foguetes de sondagem quanto de veículos lançadores de satélites;

c) a boa proximidade do Equador Terrestre (apenas 02º 18’ ao sul), a qual favorece uma maior velocidade tangencial e, por conseguinte, uma economia de custos na relação combustível /lançamento. Esse fato fez sobressair a ótima vantagem de Alcântara e do Brasil (economia entre 13% e 31% por lançamento) em se tratando dos demais países que têm base de lançamento espacial, a exemplo de Baikonur (Casaquistão) e de Cabo Canaveral (Estados Unidos da América);

d) as condições meteorológicas climáticas regulares, pois as chuvas são bem definidas (janeiro a junho), enquanto os ventos predominantes e a temperatura são praticamente invariáveis;

e) as condições de segurança são excelentes no que tange ao mar, uma vez que Alcântara é separado da capital e maior cidade maranhense, São Luís, pela baía de São Marcos (a leste) e dos demais municípios da Baixada, a oeste, pela de Cumã;

f) o custo das desapropriações foi baixo;

g) a ausência de centros urbanos expressivos na rota de lançamento, aliada à baixa densidade demográfica da municipalidade em questão;

h) a mencionada capital é o principal núcleo de apoio logístico posto que apresenta facilidade de acesso aéreo e marítimo (22 km de distância), e ainda dispõe de boa infra-estrutura urbana.

Convém referir-se que a instalação do CLA consumiu US$ 260 milhões na primeira fase em que aproximadamente 40% se destinaram às instalações físicas. Todavia, essa instalação possui pontos positivos e negativos. Os primeiros vinculam- se à melhoria da infra-estrutura que pode ser expressa através da implantação da energia elétrica (até então, um motor a diesel que funcionava das 18 às 22 horas abastecia a cidade), da inauguração da agência do Banco do Estado do Maranhão, da ampliação do porto do Jacaré e das vias de acesso, incluindo-se calçamento (na sede municipal) e pavimentação (MA-106), assim como no incremento da oferta de empregos, além da “recuperação do acervo do patrimônio histórico, instalação de serviços públicos (água) [...] e ainda [...] a relocação e o assentamento de 312 famílias que viviam na área atualmente ocupada pelo CLA”225. Em termos geopolíticos e econômicos, o CLA, “localizado estrategicamente sobre (sic) o equador, é visto por outros países como uma alternativa aos centros existentes e é, freqüentemente, colocado como um serviço potencial a ser oferecido pelo Brasil a outros países”226.

Os pontos negativos atêm-se exatamente à maneira como foi procedida a mencionada relocação de 312 famílias e 1.650 pessoas, as quais se distribuíam em 49 povoados227 em que viviam em harmonia com o meio natural, sobrevivendo da agricultura e da pesca artesanal, sobretudo porque os lotes não eram “compatíveis” com as necessidades dos relocados e não havia garantia “do título de propriedade da casa, que faz com que se sintam como zeladores do EMFA”228. Isto foi questionado

225 LAUANDE, José C. C. O Centro de Lançamento de Alcântara. In: REUNIÃO ANUAL DA

SOCIEDADE BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 47., 1995, São Luís. Anais... São Luís: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 1995. v. I, p. 236.

226 DIAS JR, Oscar P. Oportunidades e dificuldades. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE

BRASILEIRA PARA O PROGRESSO DA CIÊNCIA, 47., 1995, São Luís. Anais... São Luís: Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, 1995. v. I, p. 256.

227

CHAPUÍ, Eugênia M. A construção da Base de Alcântara e sua implicação na vida da população local. São Luís, 1995. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Geografia) - Universidade Federal do Maranhão.

228

ALMEIDA, Alfredo W. B. de. Carajás: a guerra dos mapas. Belém: Falangola, 1994, p. 93.

desde o início através do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do referido município, que tem levado a efeito as reivindicações básicas das famílias atingidas229.

O CLA tentou, contudo, amenizar esse problema da relocação mediante a construção de sete agrovilas para a população que foi remanejada, cujo discurso ressaltava o conforto dessas através de equipamentos sociais e urbanos antes inexistentes. Verificou-se, porém, que “a principal reclamação é em relação à terra considerada pequena e imprópria para a agricultura de subsistência que praticavam, além do que não possui rios e praias próximos para a prática de pescaria” (CHAPUÍ, 1995, p. 49).

Conseqüentemente, a população sem condições de sobrevivência migra, direcionando-se para a sede municipal e /ou para a capital estadual, engendrando e ampliando a periferia urbana.

A celeuma inerente à relocação das famílias que viviam no que passou a ser o Centro de Lançamento de Alcântara continuou. Isto porque, através do Decreto Federal n° 92.571/1986, assinado pelo ex-presidente José Sarney e pelos ministros da Aeronáutica, Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA) e MIRAD, revelou-se o documento “um golpe profundo nos direitos dos trabalhadores rurais ao fixar em 15 (quinze) hectares a dimensão da área a ser entregue a cada família atingida” (ALMEIDA, 1994, p. 92), pois representava 50% da área mínima (30 ha) a ser parcelada e estabelecida para o município em tela. As famílias que não quisessem ser remanejadas para as agrovilas tinham como opção o assentamento do INCRA. Houve demora no pagamento das indenizações às famílias que já haviam sido removidas para as agrovilas, cujo agravante era que os recursos

229Ibid., p. 96-99. Este autor relaciona sete correspondências (cartas e ofícios) do citado sindicato aos

órgãos fundiários oficiais, Ministério da Aeronáutica e Presidência da República, as quais foram enviadas em 1985.

previstos para o reassentamento eram administrados pelo EMFA. Tal quadro fez com que o Sindicato dos Trabalhadores Rurais realizasse entre os dias 26 e 28 de abril de 1991 o “Seminário Alcântara”, quando foram discutidas as reivindicações das famílias atingidas230 e que abrangiam as “precárias condições” de vida.

Mesmo com os questionamentos do sindicato mencionado, o Centro de Lançamento de Alcântara iniciou suas operações em 1989, quando foram lançados dezessete foguetes de treinamento. No ano de 1995 foram lançados “mais de 200 foguetes de sondagem, metereológicos e de teste, destacando-se o lançamento de 36 foguetes de sondagem para a NASA, em 1994” (LAUANDE, 1995, p. 236), bem como o primeiro Veículo de Sondagem (Sonda II, em 21/02/1990). Isto implica que o CLA se tornou não só uma área de segurança, mas que, em termos geopolíticos, passou a ser inserido nos grandes interesses nacionais, uma vez que sua continuidade e ampliação foram defendidas como a forma de o Brasil desempenhar um papel proeminente no setor aeroespacial231.

5.7 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO INTEGRADO DA AMAZÔNIA ORIENTAL