• Nenhum resultado encontrado

COLÔNIA AGRÍCOLA DE BARRA DO CORDA

CAPÍTULO 4 – PROJETOS DE COLONIZAÇÃO NO TERRITÓRIO MARANHENSE (1942 – 1979)

4.1 COLÔNIA AGRÍCOLA DE BARRA DO CORDA

A idéia da colonização oficial foi retomada em nível federal com o advento do Estado Novo que, através do Decreto n° 3.059/1941, criou seis “Colônias Agrícolas Nacionais” com o intuito de “receber e fixar como proprietários rurais, cidadãos brasileiros reconhecidamente pobres que revelem aptidão para os trabalhos agrícolas e, excepcionalmente, agricultores estrangeiros”, o que de um lado estava vinculado ao discurso da “Marcha para o Oeste”, e por isso se concentraram em Goiás e Mato Grosso enquanto de outro lado revelava a preocupação do governo central com o incremento da presença do imigrante estrangeiro.

Entre as seis colônias, incluiu-se uma no Maranhão, isto é, a Colônia Agrícola de Barra do Corda que foi criada através do Decreto n° 10.325/1942, instalada dois anos depois e por isso é a referência em termos da implantação de políticas territoriais porque até então “a ocupação das áreas florestais do Estado, a partir da margem esquerda do Itapecuru, [...] era caracteristicamente uma [...] penetração espontânea e desordenada nas terras ‘libertas’ ou da ‘nação’” (BRASIL, 1984, p. 39). Para tanto, o governo estadual doou uma área de 340.000 hectares, localizada no município homônimo (na região do Alto Mearim), com o objetivo de colonizar e/ ou regularizar as terras através da distribuição de lotes (com dimensão máxima de 50 hectares), cujos pretendentes desde o início do século XX ampliavam

[...] o processo espontâneo de ocupação das terras virgens devolutas nas bacias dos rios Mearim, Pindaré, Tocantins e Turiaçu [...]. Nessa área, todavia, os solos eram [...] pobres, muito arenosos, a Colônia teve sempre problemas de abastecimento d’água, tendo necessidade desde o seu início de abrir poços e construir açudes (BRASIL, 1984, p. 25 e 38),

cujo agravante era o sistema agrícola baseado no deslocamento anual das roças e queimadas, bem como a proximidade (ao sul) das atuais Terras Indígenas Cana Brava e Guajajara, e da Lagoa Comprida. Convém notar que a partir da diretriz federal sustentada no “levantamento, pesquisa e de aconselhamento sobre os problemas do território”, atribuída ao IBGE, o governo do Maranhão procurou criar vínculos com essa política oficial através do Departamento de Terras, Geografia, Colonização e Imigração181.

A citada colônia não vingou uma vez que a distribuição dos lotes e, principalmente, dos títulos definitivos foi lenta, mas em sua área e em torno núcleos permaneceram e se beneficiaram da “expropriação e transferência de aldeias indígenas” (sobretudo, Tenetehara) do Alto Mearim (GOMES 1977 apud OLIVEIRA, 2006).

Em função da instituição do INCRA e aos diminutos resultados da Colônia Agrícola de Barra do Corda, na mesma área foi implantado, a partir de 1970, o Projeto Integrado de Colonização homônimo e, para tanto, em 1977, foi criada a Cooperativa Integral de Reforma Agrária – CIRA Barra do Corda - com o propósito de apoiar e implementar o citado projeto (Figura 14 e Quadro 9).

Devido ao número de colonos residentes na área (6.000 famílias e aproximadamente 30.000 pessoas), o INCRA reduziu os lotes de 100 hectares para

181

Tal departamento foi criado através da Lei n° 270/1948, com o intuito de “promover, em nome da Fazendo do Estado, a discriminação das terras devolutas, a fim de descrevê-las, medi-las e extremá-las das pertencentes a particulares, [...] funcionar nos processos de concessão, gratuita ou a título oneroso, e nos de arrendamento de terras devolutas [...] e dirigir o serviço de colonização em todo o território do Estado, de conformidade com a legislação reguladora do assunto” (artigo 2°, a, e, e m).

Figura 14 - Mapa das políticas territoriais implantadas no Maranhão, 1942 a 1980. Fonte: BRASIL, 1984, escala 1: 4.000.000.

50 ha em 1977 e até outubro de 1978 entregou 2.521 títulos que correspondiam a 161.400 hectares, ou seja: 48,91% da área total (330.000 ha) do projeto em tela, embora fosse divulgado que o PIC Barra do Corda já se encontrava com a superfície “ocupada de fato, a exceção de uma área aproximadamente de 30.000 hectares, localizada entre os rios Corda e Mearim, destinado à reserva florestal” (BRASIL, 1984, p. 25).

Quadro 9 – Maranhão: políticas territoriais implantadas entre 1942 e 1962 Estratégia de

intervenção

Mecanismo

concreto Início Objetivo Área (ha) Localização

Subordin ação Colonizar e/ou regularizar terras Colônia Agrícola Barra do Corda 1942 Promover o desenvolvimento econômico.

340.000 Barra do Corda Colônia Agrícola Nacional Integração regional/nacio- nal Rodovia Belém-Brasília (BR-010)

1958 Implantar um eixo pioneiro para integrar a Amazônia Oriental ao restante do Brasil - - MINTER/ Governo Federal Ocupação /desenvolvi- mento regional

SUDENE 1959 Coordenar e supervisionar planos e programas de desenvolvimento regional via aplicação e distribuição de incentivos fiscais visando à “incorporação de sua economia ao todo nacional” - Macrorregião Nordeste Governo Federal Povoamento do oeste do Maranhão I Plano Diretor Regional Projeto de Povoamento do Maranhão 1961 1962 Ampliar a fronteira agrícola do país, viabilizar a absorção de parte dos excedentes da força de trabalho rural do Nordeste e a ocupação do oeste maranhense. Induzir a ocupação/ colonização do oeste maranhense 3.095.000 noroeste do Estado do Maranhão Entre o município de Pindaré-Mirim e a região do Alto Turi SUDENE SUDENE

Fonte: DROULERS; MAURY, 1981, p. 1038; BRASIL, 1984; BECKER, 1990, Quadro 1, p. 16 e 17; CANEDO, 1993; ALMEIDA, 1994; COSTA, 1997.

Apesar da instituição da mencionada cooperativa, o PIC de Barra do Corda resultou “num grande fracasso” pois em sua avaliação da primeira metade dos anos 1980 constatou-se

as más administrações, o envolvimento político de seus administradores, a não seleção do agricultor para receber o título do lote, a aquisição de lotes exclusivamente para a exploração madeireira ou a especulação imobiliária, a não existência de um módulo econômico de exploração, a preocupação básica de distribuição pura e simples do lote ao colono sem assistência técnica e creditícia de tipo algum (BRASIL, 1984, p. 25).

4.2 PROJETO DE POVOAMENTO DO MARANHÃO

O Projeto de Povoamento do Maranhão (PPM) foi precedido da inclusão deste na área da Amazônia Legal por força da Lei Federal n° 1.806/1953. Foi iniciado em 1962 e deriva de duas estratégias de intervenção: a primeira (integração regional /nacional) remonta a 1958, quando o Ministério do Interior (MINTER) iniciou a implantação da Rodovia Belém-Brasília, cujo traçado corta o Maranhão de sudoeste para oeste, isto é, de Carolina a Itinga (249,5 km, passando por Imperatriz); a segunda (ocupação /desenvolvimento regional) foi materializada a partir de 1959, quando foi criada a SUDENE. Esta apresentou o seu I Plano Diretor Regional (1961- 63) com o objetivo de ampliar a “fronteira agrícola do Nordeste do Brasil”, de maneira que fosse viabilizada a “absorção de parte dos excedentes da força de trabalho rural da região”182, bem como a ocupação das terras devolutas (aqui entendidas como fundos territoriais nos quais o Estado vai atuar) localizadas no setor noroeste maranhense, visto que o mesmo “concentrava 40% do total (500.000 km²) de terras públicas disponíveis na macrorregião Nordeste, em que poderiam ser alocadas 290.000 famílias” (D’Apote 1970 apud ANDRADE, 1973, p. 128).

O referido projeto de povoamento derivou do mencionado plano diretor que selecionou os vales úmidos, objetivando de um lado reduzir a evasão populacional do

182

ANDRADE, Gilberto O. de. O Projeto de Colonização do Alto Turi (Maranhão). In: Anais da Associação dos Geógrafos Brasileiros, São Paulo: AGB, v. XVIII, 1973, p. 124.

Nordeste decorrente da concentração de terras, falta de perspectivas, e seca183, e de outro aproveitar o fluxo migratório (espontâneo) que já se constatava em decorrência, sobretudo, da existência de fundos territoriais e do Decreto n° 2.098/1961 através do qual o governo estadual doou 3.095.000 hectares, localizados entre o município de Pindaré-Mirim e o Alto Turi. Isto, a fim de reduzir a pressão dos posseiros mediante “trabalhos de povoamento e desenvolvimento econômico em convênio com órgãos” das outras esferas de poder, cuja previsão indicava o “aproveitamento para 25.000 famílias”, devendo ser incorporadas 5.000 ao ano durante cinco anos184.

Cumpre considerar-se que tal superfície (3.095.000 ha) equivalia aos fundos territoriais, cuja tentativa de apropriação/ ocupação, principalmente no Alto e Médio Turi, foi precedida da implantação da “picada” da linha do telégrafo nacional rumo a Maracaçumé, em 1945, e da abertura de caminhos que originariam o traçado da rodovia BR – 316 (Teresina – Belém), entre 1959-60. Essa área, contudo, é próxima de Terra Indígena (Alto Turiaçu, a oeste), havia a dependência da via fluvial do Pindaré, e ainda os empecilhos que se apresentavam a exemplo “da falta de um levantamento das condições ambientais da área, assim como da falta de recursos financeiros para cobrir os investimentos e custos da implantação”185 de um projeto de tal envergadura, que por isso ficou restrito a uma área-piloto levada a cabo na localidade Zé Doca.

183 Convém ressaltar que na macrorregião Nordeste do Brasil, de “1900 a 1950, houve secas nos anos

de 1900, 1903, 1915, 1919, 1932 e 1942” [...], além [...] “de 1951-53 (três anos), 1958, 1966, 1970, e 1976” (CARVALHO, Otamar de. Nordeste: a falta que o planejamento faz. In: GONÇALVES, M. F.; BRANDÃO, C. A.; GALVÃO, A. C. (Org.). Regiões e cidades, cidades nas regiões: o desafio urbano- regional. São Paulo: Editora UNESP e ANPUR, 2003, p. 323-324).

184

Considerando-se a seca no Nordeste entre 1958-59, foi estimado que a população “de 40.000 colonos expontâneos (sic) em 1962, teria subido já a 60 ou 65.000 em 1966” no Maranhão (ANDRADE, op. cit., p. 146).

185 LIMA JÚNIOR, Heitor M. Colonização de fronteira agrícola: um modelo de desenvolvimento rural.