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CAPÍTULO 5 PROJETOS DE ORDENAÇÃO TERRITORIAL NO MARANHÃO (1972-1995)

5.4 UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Inicialmente, convem lembrar que até o advento da República, no Brasil houve poucas “medidas precursoras de uma política de conservação de recursos

200 Isto porque [...] “a tática do governo se desenvolveu claramente no sentido de fazer o cerco e a

desativação dos focos de tensão, sem conceder uma política de colonização social, de redistribuição de terras, de reassentamento maciço de colonos sem terra” (Ibid., p. 53).

201

Sobre esse tema, Cf. Sader, op. cit., (especialmente o quarto capítulo – A expropriação do campesinato - p. 139 a 208). ALMEIDA, Alfredo W. B. de. Carajás: a guerra dos mapas. Belém: Falangola, 1994. FERREIRA, Benedita. As relações cidade/campo no vale do Tocantins: o caso de Imperatriz no Maranhão. São Paulo, 1995. Tese (Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

naturais” que remontam à Colônia e ao Império202. A criação do Parque Estadual da Cidade de São Paulo, em 1896, é considerada a primeira iniciativa republicana que almejava à conservação da natureza. A noção de “reserva natural”, todavia, foi introduzida enquanto dispositivo legal através do Decreto n° 23.793/1934 que aprovou o primeiro Código Florestal e instituiu o Serviço Florestal Federal, o precursor dos órgãos dedicados à questão ambiental. A partir de então foram iniciadas ações governamentais com o intuito de regulamentar a apropriação de recursos (estratégicos) a serem explorados pela indústria em que os códigos de Águas (1934), de Caça e Pesca (1967), e de Mineração (1968) servem de exemplos.

No Maranhão, o referido Código Florestal serviu de base para o Decreto Federal nº 51.026/1961 que criou a Reserva Florestal do Gurupi, com uma área de aproximadamente 1.674.000 hectares localizados no setor oeste, abrangendo os municípios de Bom Jardim, Carutapera e Monção (Figura 14), de maneira que se tornou marco da conservação estadual203, ao lado de mais oito reservas, parques e florestas que foram instituídas no país nesse ano. Isto parece contraditório com as ações anteriores que almejavam a colonização em Barra do Corda e o povoamento no oeste (entre os vales do Pindaré e do Turiaçu), contudo deve ser entendido como necessário e complementar no sentido de proteger (no papel) a flora e a fauna de uma área muito representativa e que durante muito tempo foi considerada empecilho

202 De acordo com Silva (1995 apud Rosa, Maria C. Conservação da natureza, políticas públicas e

reordenamento do espaço: contribuição ao estudo de políticas ambientais no Paraná. São Paulo, 2000, p. 156, Tese - Doutorado em Geografia – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo).

203

A proteção de sítios naturais remonta a 1872 quando foi criado o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos da América; este serviu de modelo de conservação para a instituição de congêneres em outros países a exemplo do Canadá (1885), Nova Zelândia (1894), Austrália, África do Sul e México (1898), Argentina (1903), Chile (1926), Equador (1934), Venezuela e Brasil (1937). Neste, o marco é a criação do Parque Nacional de Itatiaia. Seguiram-se: o Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Nacional da Serra dos Órgãos (1939); a Floresta Nacional Araripe-Apodi (1946); e a Floresta Nacional de Jamari (1954). Cf. BRESSAN, D. Gestão racional da natureza. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 25. ROSA, op. cit., p. 48-60.

ao avanço da colonização/ povoamento em que predominavam “terras baixas, constituída por floresta úmida perenifólia ombrófila densa, amazônica [...], cujas [...] árvores de maior altura atingem 40 metros e seus troncos são retos e de grande diâmetro, o clima é quente e úmido com precipitações pluviométricas entre 1.750 e 2.000 mm anuais, com temperaturas máxima de 40°C e mínima de 12°C”204.

Embora tenha sido concebida como uma ação de ordenamento territorial, a reserva mencionada tornou-se figura decorativa porque pretendia desapropriar terras para diminuir a pressão de colonos, posseiros e pessoas vinculadas a empreendimentos diversos que se instalavam no entorno, além de concorrer para a demarcação de terras indígenas. Por isso, durante dezoito anos (1961 a 1979) o estado do Maranhão não desenvolveu ações concretas no sentido de ampliar o que hoje se entende por “unidade de conservação”205, apesar da Lei n° 4.771/1965 ter instituído o novo Código Florestal que passou a exigir planos de manejo para exploração de florestas e criou a categoria Reservas Florestais Legais em que deveriam ser mantidos, pelo menos, 50% da vegetação nativa.

Em função de diretrizes do II PND, o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF)206 apresentou, em 1979, o plano do Sistema de Unidades de Conservação para o Brasil através do qual propôs a criação de reservas biológicas e novos parques na Amazônia a partir do uso de critérios técnicos e científicos, sendo

204

BRASIL. Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis/Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Turismo do Maranhão. Diagnóstico dos principais problemas ambientais do Estado do Maranhão. IBAMA-PNMA/SEMATUR. São Luís: Lithograf, 1991, p. 148.

205 Por unidade de conservação, entende-se o “espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo

as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção” (inciso I, artigo 2°, da Lei Federal n° 9.985/2000). De acordo com a referida lei, as unidades de conservação dividem-se em dois grupos: 1) Unidades de Proteção Integral – estação ecológica, reserva biológica, parque nacional, monumento natural, e refúgio da vida silvestre; 2) Unidades de Uso Sustentável – área de proteção ambiental, área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva extrativista, reserva de fauna, reserva de desenvolvimento sustentável, e reserva particular do patrimônio natural (artigos 7, 8 e 14).

206

O Decreto-Lei n° 285/1967 criou o IBDF e o vinculou ao Ministério da Agricultura. Foi antecedido pelo Departamento de Recursos Naturais Renováveis (1963) e o Serviço Florestal Federal (1934).

que, de 1980 até 1989, foram instituídas 58 unidades de conservação no país contra 11 no período de 1970 a 1979207. Por essa razão, somente no início da década de 1980 é que foram instaladas três unidades de conservação no Maranhão, sendo duas estaduais e uma federal, as quais somaram 658.061 hectares e abrangeram quatro municípios. A primeira corresponde ao Parque Estadual do Mirador, localizado no sul do estado e no município homônimo. Ainda nesse ano foi criado em São Luís o Parque Estadual do Bacanga. No ano seguinte foi instalado o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses (litoral oriental – Quadro 13) já como reflexo do Decreto n° 84.017/1979 (instituiu o regulamento dos parques nacionais brasileiros) e da Política Nacional do Meio Ambiente que foi criada pela Lei n° 6.938/1981. Esta, por conseguinte,

[...] disciplina o Sistema Nacional de Meio Ambiente (integrando as esferas federal e estaduais) e cria o Conselho Nacional de Meio Ambiente (organismo intergovernamental e com ampla representação da sociedade civil) [...], implicando que os [...] ecos da democratização começam a se fazer sentir na estrutura setorial, [...] cuja segunda fase [...] prioriza as ações de conservação e preservação de áreas dotadas de condições naturais pouco alteradas pela ação antrópica. (MORAES, 2002, p. 185)208.

Quadro 13 - Maranhão: unidades de conservação, 1980 - 1981.

Categoria Área Total (hectares)

Diploma Legal Subordinação Municípios

Parque Estadual do Mirador 500.000 Lei 7.671/80 SEMA Mirador

Parque Estadual do Bacanga

3.061 Dec. 7.545/80, 9.550/84 e 9.677/84

SEMA São Luís

Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses

155.000 Dec. 86.060/81 IBAMA Primeira Cruz e

Barreirinhas Total

658.061 - - -

Fonte: BRASIL, 1991a; MARANHÃO, 2002.

207

ROSA, op. cit., Quadro 8, p. 59.

208

Cf. MORAES, Antônio Carlos Robert. Território e história no Brasil. São Paulo: Hucitec, 2002. Para esse autor, a política ambiental do Brasil teve três fases: 1) pioneira – prioriza o combate à poluição e “uma ótica tecnicista permeia as propostas elaboradas”, vigorando entre 1975 e 1980; 2) “visão biologista predomina no setor”, mais precisamente entre 1981 – 1987; 3) a noção de “desenvolvimento sustentável” é incorporada ao setor a partir de 1988 e tem por base a promulgação da Constituição Federal que possui “índole claramente descentralizante”, o Programa “Nossa Natureza”, a criação do IBAMA, a instituição de um Ministério afeto à temática, e a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro (p.185-186).

Em decorrência de um contexto em que conferências internacionais colocaram em voga a questão ambiental, o governo federal passou a organizar o seu setor temático baseado em uma noção de desenvolvimento sustentável que levou a efeito “a retomada de um enfoque territorial na condução das ações, com maior espacialização dos projetos e programas desenvolvidos” (MORAES, 2002, p. 186) em que se destaca o Programa de Defesa do Complexo de Ecossistemas da Amazônia Legal (Decreto n° 96.944/1988), incluído no programa “Nossa Natureza”. Este derivou das pressões de agências multilaterais para fins de obtenção de financiamento de obras de infra-estrutura e culminou na retomada da “discussão do ordenamento territorial na Amazônia”209, cujo principal instrumento foi a proposta de Zoneamento Ecológico-Econômico210 que pretendia articular duas dimensões opostas, isto é, a econômica e a ecológica, enquanto o mecanismo financeiro ateve-se ao Fundo Nacional do Meio Ambiente e as diretrizes incluíam a Educação Ambiental, a criação de unidades de conservação, a demarcação de terras indígenas e o Ecoturismo.

Isto implica que desde o final dos anos oitenta do século XX

[...] o Brasil dispõe de aprimorados instrumentos de planejamento e gestão ambiental, que contemplam a espacialização dos processos, que estimulam a participação dos atores locais das áreas de ação, que possuem uma retaguarda técnica substantiva, e que se amparam num quadro legislativo bem discriminado. Existem leis, metodologias, colegiados e propostas definidas à exaustão. Contudo, a efetivação das ações e metas revela-se ainda bastante problemática, muito aquém do requerido pela dinâmica territorial e populacional vivenciada

209

MELLO, Neli Aparecida de. Políticas públicas territoriais na Amazônia brasileira. Conflitos entre conservação ambiental e desenvolvimento, 1970-2000. São Paulo, 2002, p. 61. Tese (Doutorado em Geografia Humana) - Universidade de São Paulo/ Universidade de Paris X Nanterre.

210 Sobre este tema, Cf. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia

Legal. Detalhamento da metodologia para execução do zoneamento ecológico-econômico pelos estados da Amazônia Legal. Brasília: MMA/SAE, 1997; PRETTE, Marcos E. del. Metodologias de zoneamento: controvérsias sobre o ecológico e o econômico. In: STEINBERGER, Marília. (Org.). Território, ambiente e políticas públicas espaciais. Brasília: Paralelo 15 e LGE Editora, 2006, p. 187- 215. Entre as causas da “pouca efetividade” do ZEE, destacam-se os “desníveis entre as expectativas que foram geradas, o conjunto de argumentos e a dificuldade de se chegar à sua aplicação efetiva; os objetivos dos processos técnico e político encontram-se descompassados e temporalmente distantes um do outro; a negociação política poderia ter sido um caminho para a melhor gestão dos conflitos existentes; objetivos e escalas desse zoneamento” (MELLO, op. cit., p. 78 a 80).

no país. (MORAES, 2002, p. 188).

Isto ocorre a contar do artigo 225 da Constituição Federal de 1988 que, por exemplo, viabilizou a instituição e o enquadramento de várias áreas protegidas, o que também ficou previsto nas congêneres estaduais em que no caso do Maranhão é ressaltado que é “competência do Estado [...] proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”211. Esse quadro foi redimensionado em decorrência da instituição do Programa Nacional do Meio Ambiente, em 1989, que priorizou

[...] as ações de proteção dos grandes ecossistemas – Pantanal, Costeiro e Mata Atlântica; a consolidação de unidades de conservação existentes e criação de novas; o fortalecimento institucional do IBAMA e dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente da Amazônia Legal (ROSA, 2000, p. 149),

o que foi reforçado pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento que se realizou no Rio de Janeiro em 1992, ano em que o Brasil assinou a Convenção da Diversidade Biológica, que foi referendada pelo Congresso Nacional depois de dois anos. Com efeito, a mencionada Política Nacional de Meio Ambiente ganhou relevância212, dispondo de instrumentos, como a avaliação de impactos, o sistema de licenciamento ambiental, as penalidades, o sistema nacional de unidades de conservação, os padrões de qualidade ambiental e o zoneamento ambiental (MELLO, 2000, e 2002).

Em conseqüência, no Maranhão a Constituição estadual de 1989 previu “a implantação de unidades de conservação representativas de todos os ecossistemas

211

Cf. alínea f, inciso I, artigo 12, Seção II (Da Competência do Estado). A Constituição do Estado do Maranhão foi promulgada em 05/10/1989. O seu “Capítulo IX” (artigos 239 a 250) é dedicado ao “Meio Ambiente”, bem como o artigo 40 do “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias” criou o Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA).

212

Por exemplo, a União criou o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal (1993), efetivou a partir de 1994 o Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7), instalou as agendas Azul (recursos hídricos), Verde (biodiversidade e florestas) e Marrom (qualidade ambiental em assentamentos humanos).

originais da área territorial do estado, vedada qualquer utilização ou atividade que comprometa seus atributos essenciais”213, bem como a manutenção das existentes. Por isso, as unidades de conservação passaram de três (1981) para quatorze (1994), implicando que houve um incremento de 916,17% haja vista que a área protegida com UC passou de 658.061 hectares para 6.687.025,57 hectares que abrangem setenta municípios. Essa área distribuiu-se em cinco unidades de conservação federais, duas particulares e sete estaduais (Quadro 14 e Anexo D), sendo que 93,65% se referem a Áreas de Proteção Ambiental, 5,55% a RESEX, 0,51% à Reserva Biológica e 0,67% ao Parque Ecológico da Lagoa da Jansen (na capital maranhense) e à Reserva Biológica do Gurupi (REBIO, ambos de 1988).

Convém frisar-se que a citada REBIO resultou de estudos iniciados em 1981 pelo extinto IBDF214, os quais objetivavam a compreensão de “aspectos básicos da biologia da arajajuba em estado selvagem”, assim como conter a invasão da área da até então Reserva Florestal do Gurupi (existia só no papel) por parte de empreendimentos madeireiros e agropecuários, além da instalação de projetos de colonização. Três anos depois, o relatório final recomendou a instituição de uma reserva biológica ou parque nacional no oeste maranhense, suplementar estudo com o propósito de que fosse conciliado desenvolvimento econômico com conservação ambiental. Com efeito, através do Decreto Federal nº 95.614/88 ela foi criada, correspondendo a 341.650 hectares ou 20,40% da área definida em 1961 (1.674.000 ha) e que equivalia à mencionada reserva.

213

De acordo o inciso I, artigo 241, da Constituição do Estado do Maranhão/1989.

214 A Lei n° 7.735/1989 criou o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis

(IBAMA), o qual resultou da fusão da SEMA à Superintendência de Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVEA), à Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) e ao IBDF. Passou, logo, a executar a Política Nacional do Meio Ambiente, com ênfase no controle, fiscalização e monitoramento.

Quadro 14 - Maranhão: unidades de conservação, 1988 – 1994.

Categoria Área

(hectares)

Diploma Legal Subordin

ação Municípios٭

Reserva Biológica do Gurupi

341.650 Dec. 95.614/88 IBAMA Bom Jardim, Centro Novo do Maranhão e São João do Caru

Parque Ecológico da Lagoa da Jansen

150 Lei 4.778/88 SEMA São Luís Parque Estadual Marinho

do Parcel de Manuel Luis

45.237 Dec. 11.902/91 SEMA Cururupu APA da Região de

Maracanã

1.831 Dec. 12.103/91 SEMA São Luís APA da Foz do Rio

Preguiças/Pequenos Lençóis e Região Lagunar Adjacente

269.684 Dec. 11.899/91 corrigido no DOE n° 195, de 09/10/1991

SEMA Água Doce do Maranhão, Araioses, Barreirinhas, Paulino Neves e Tutóia

APA da Baixada Maranhense

1.775.035 Dec. 11.900/91 corrigido no DOE n° 195, de 09/10/1991

SEMA Anajatuba, Arari, Bequimão, Cajapió (incluindo a ilha dos Caranguejos), Cajari, Lago Verde; Matinha, Mirinzal, Monção, Olho d’Água das Cunhãs, Palmeirândia, Penalva; Peri-Mirim, Pinheiro, Pindaré- Mirim, Pio XII, Santa Helena, São Bento; São João Batista, São Mateus, São Vicente Ferrer, Viana e Vitória do Mearim. APA das Reentrâncias

Maranhenses

2.680.911 Dec 11.901/91, corrigido no DOE n° 195, de 09/10/1991

SEMA Alcântara, Apicum-Açu, Bacuri, Bequimão, Cândido Mendes; Carutapera, Cedral, Central do Maranhão, Cururupu, Godofredo Viana, Guimarães, Luis Domingues; Mirinzal, Porto Rico do Maranhão, Serrano do Maranhão e Turiaçu.

APA Upaon-Açu / Miritiba / Alto Preguiças

1.535.310 Dec. 12.428/92 SEMA Axixá, Barreirinhas, Humberto de Campos, Icatú, Morros, Paço do Lumiar, Presidente Juscelino; Primeira Cruz, Raposa, Rosário, Santa Quitéria do Maranhão, Santa Rita, São Benedito do Rio Preto, São Bernardo; São José de Ribamar, São Luís, Tutóia e Urbano Santos.

RESEX Quilombo Frechal 9.542 Dec. 536/92 IBAMA Mirinzal

RESEX Mata Grande 10.450 Dec. 532/92 IBAMA Davinópolis, Senador La Roque e João Lisboa.

RESEX Extremo Norte 9.500 Dec. 535/92 IBAMA Imperatriz e João Lisboa RESEX Ciriaco 7.534 Dec. 534/92 IBAMA Cidelândia

RPPN Sítio Jaguarema 7,68 Portaria 2.468/90 São José de Ribamar RPPN Estiva 116,57 Portaria 053/94-N São Benedito do Rio Preto

Total 6.687.025,57

Fonte: BRASIL, 1991a; MARANHÃO, 2002; CNPT/IBAMA – Maranhão, 2006.

٭ Incluindo os municípios criados pelo artigo 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição do Estado do Maranhão, de 05/10/1989.

Tomando-se por base a instituição do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei 7.661/1988) e o extenso litoral maranhense (640 km, o segundo do país, atrás apenas do estado da Bahia) que “apresenta ecossistemas ricos em produtividade e especificidades tais como manguezais, praias, dunas, restingas, campos inundáveis, reentrâncias recortadas por rias, baías e enseadas, banco de corais, entre outros”215, em 1991 foi criado o Programa Estadual de Gerenciamento

215 Cf. MARANHÃO. Gerência de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais. Programa Estadual

de Gerenciamento Costeiro do Maranhão. Descrição situacional. São Luís. s.d. 9p. Nesse documento é ressaltado que o GERCO-MA atua em uma área de 42.771,228 km² que abrange 51 municípios em que residiam aproximadamente 1.778.889 habitantes em 2000 (p. 2).

Costeiro (GERCO-MA) visando às ações de gestão da costa dessa unidade da Federação as quais, inicialmente, se ativeram à implantação do citado programa e à instituição de unidades de conservação. Em relação a estas, nesse ano, foram criadas cinco, a saber: Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luís (na plataforma ocidental maranhense e considerado o primeiro do Brasil) e as Áreas de Proteção Ambiental (APA) das Reentrâncias Maranhenses (litoral ocidental), da Baixada Maranhense (região continental a oeste e sudoeste da baía de São Marcos), da Foz do Rio Preguiças - Pequenos Lençóis (litoral oriental), e da Região de Maracanã (em São Luís)216.

Em 1992 o Poder Público criou a APA de Upaon-Açu/Miritiba/Alto Preguiças (golfão maranhense e litoral oriental – Anexo D), o que implica que, a partir de então, toda a costa maranhense estava legalmente protegida e sustentada na lei 5.405 desse ano, a qual instituiu o Código de Proteção do Meio Ambiente do Estado do Maranhão. Este definiu que a finalidade da Política Estadual do Meio Ambiente consiste na “preservação, conservação, defesa, recuperação e melhoria do meio ambiente, como bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida” (artigo 2°). Essa deve ser concretizada pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente (artigo 10) e possuía onze instrumentos (artigo 20) em que se destacam o “planejamento e o zoneamento ambientais” (inciso II), além dos “espaços territoriais especialmente protegidos, incluindo as unidades de conservação” (inciso VI).

A divulgação de experiências positivas de Reservas Extrativistas (RESEX) localizadas no estado do Acre concorreu para que, ainda em 1992, fossem instituídas quatro no Maranhão (Mata Grande, Ciriaco, Extremo Norte, e Quilombo Frechal). Até

216

Vale ressaltar que desde 1981 havia dispositivo legal (Lei Federal n° 6.902) que estabelecia normas para a criação de Áreas de Proteção Ambiental (APA) e as Estações Ecológicas (Esec).

a efetivação de uma RESEX217, contudo, é necessário o cumprimento de quatorze itens: 1) solicitação dos moradores através de um abaixo-assinado; 2) vistoria do IBAMA por intermédio do Centro Nacional para o Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais (CNPT, criado em 1992), a quem cabe a gestão; 3) organização dos moradores; 4) estudos sócioeconômico e biológico; 5) levantamento fundiário; 6) realização de audiências públicas; 7) elaboração de base cartográfica digitalizada; 8) consulta a órgãos que tenham afinidade com a viabilização, a exemplo da FUNAI, INCRA, SPU, Marinha, governo estadual; 9) publicação do Decreto no Diário Oficial da União; 10) cadastramento das famílias; 11) criação do Conselho Deliberativo; 12) elaboração e aprovação do Plano de Manejo; 13) contrato de Concessão de Direito Real de Uso; e 14) formação dos agentes ambientais voluntários.

Em função do Decreto n° 98.914/1991 que criou a categoria de unidade de conservação denominada de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), combinado com o Decreto n° 1.922/1996 (estabeleceu regras para o reconhecimento pelo Poder Público das RPPN’s na categoria de uso indireto) pessoas físicas e/ ou

217 A Lei n° 7.804/1989, regulamentada pelo Decreto n° 98.897/1990 definiu a RESEX como uma

categoria de unidade de conservação de interesse ecológico e social, destinada à exploração sustentável dos recursos naturais por grupos sociais extrativistas, mediante contrato de concessão de uso. As RESEX’s surgiram na Amazônia “forjando um novo modelo de ocupação da região, em resposta a um modelo que se mostrou ineficaz nos anos 70 e 80 (que tinham como características estruturais dominialidade pública, a exploração condominial e a transferência do direito de uso através do Contrato de Concessão do Direito Real)” – (BRASIL. Reservas Extrativistas – instrumentos de conservação e desenvolvimento sustentado. 2. ed. Brasília: CNPT/IBAMA [s.d.]a, p. 4). Essa categoria de UC, todavia, não é unanimidade uma vez que ora é considerada arcaica, ora é moderna, sobretudo porque pretende aliar viabilidade econômica à eqüidade social e à conservação da natureza. A este respeito, Cf. HOMMA, A. K. O. O extrativismo vegetal na Amazônia: limites e oportunidades. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1993; GONÇALVES, Carlos W. P. Geo-grafías. Movimientos sociales, nuevas territorialidades y sustentabilidad. Madrid: Siglo XXI, 2001; HALL, A. Sustaining Amazônia. Grassroot actions for productive conservation. Manchester: Manchester University Press, 1997; BECKER, Olga M. S. A reserva extrativista como instrumento de gestão territorial e ambiental. In: STEINBERGER, op. cit., p. 349-369.

jurídicas do Maranhão se interessaram e iniciaram processos almejando à instituição dessa categoria de UC, o que se materializou através do Sítio Jaguarema, localizada no município de São José de Ribamar, bem como a da Estiva, em São Benedito do Rio Preto. Isto porque, uma vez criada a RPPN, o seu proprietário passa a usufruir dos seguintes benefícios: não pagamento do Imposto Territorial Rural na parte da propriedade sob reserva, prioridade na obtenção de recursos do Fundo Nacional do Meio Ambiente, proteção contra queimadas, caça e desmatamento e apoio do IBAMA no gerenciamento da área. A isso se deve acrescentar que tal categoria é uma segurança ao proprietário porque evita a ocupação e/ ou a desapropriação por falta de uso.