• Nenhum resultado encontrado

O Centro de Formação e acompanhamento à inclusão: conhecendo possibilidades de apoio e suporte ao trabalho do professor

8. Tecendo a rede de apoio: a contribuição dos diferentes agentes da comunidade escolar

8.2. O Centro de Formação e acompanhamento à inclusão: conhecendo possibilidades de apoio e suporte ao trabalho do professor

O Cefai pode ser visto como uma estrutura muito importante para apoiar as famílias e os professores no processo de inclusão escolar de crianças com deficiência. Apesar disso, identificamos que essa estrutura ainda encontra dificuldades para fazer parcerias efetivas com as escolas. Suas ações esbarram, muitas vezes, em posturas contrárias à proposta que dificultam o trabalho desses profissionais:

— Nem sempre o profissional vai e é bem recebido. A escola recebe a gente como se a gente fosse a pessoa que fosse tirar a criança de lá, e muitas vezes também acha que a gente vai atender todo mundo (Entrevista7). Em alguns momentos, ainda, a escola veria os integrantes do Cefai como "espiões", como pessoas que vão investigar o trabalho da escola.

Além disso, como foi declarado pelo representante do Cefai, a equipe desse Centro não consegue chegar até o professor da criança com deficiência, o que depende também da abertura da coordenação e direção da escola. Algumas vezes, o acionamento desse órgão dá-se por uma demanda de crianças com problemas de comportamento.

— Quando a escola chama, geralmente não é por causa da criança com deficiência, é geralmente [por causa da] criança que dá problema de comportamento. Então, quando a escola chama a gente, tem dificuldade de chegar na criança que tem deficiência, porque se ela fica quieta lá, não dá trabalho, ela acaba ficando realmente de lado, e o nosso papel é fazer com que o

pedagógico alcance, que tenha atendimento

pedagógico (Entrevista 7).

Dessa forma, a equipe designada para apoiar o trabalho do professor de modo que seu planejamento pedagógico atinja todos os alunos, incluindo aqueles com deficiência, tem dificuldades diversas para realizar seu trabalho. Podemos pensar que um dos motivos para que isso aconteça se deve, em parte, ao desconhecimento dos professores sobre esse órgão, suas funções, suas possibilidades de ação. Mas, sobretudo, deve-se à dificuldade, por parte do professor, por um lado, de reconhecer ou conhecer as possibilidades pedagógicas diferenciadas de que ele pode lançar mão quando tem uma criança com deficiência em sua sala e, por outro lado, de compreender que esse aluno tem a possibilidade de aprender.

O próprio serviço também encontra obstáculos internos para formar e para manter uma equipe que já passou por diferentes reformulações. Dessa forma, necessita de um fortalecimento interno, uma estrutura para facilitar suas ações externas.

O número de integrantes da equipe do Cefai chegou no máximo a quatro no período do estudo. Quando a equipe está com esse número de integrantes, ainda restam muitas escolas — em média 23 para cada um —, e, muitas vezes, não é possível proporcionar o acompanhamento de que as escolas precisam.

— Como somos poucos, ainda não conseguimos fazer com que isso funcione mesmo, que a gente atenda os alunos. Então, muitas vezes, a gente atende mais ao grupo escola (Entrevista 7).

A formação de professores é uma das atribuições do Cefai, e sobre isso o integrante desse órgão comenta:

— Tem um material, por exemplo, usei na formação com os grupos de estudos, com professores, mas são materiais, assim, bem superficiais, e para dar noções básicas de como agir com alunos com surdez, mas não são materiais do município, são materiais também do MEC (Entrevista 7).

Os materiais do MEC são uma referência para o trabalho de formação e dão noções básicas ao professor. Mas, como enfatizou a entrevistada, a escola precisa dar continuidade, aprofundar as discussões e a prática em sala de aula.

Recurso interessante é o chamado "plantão de inclusão", que serviria como "pronto-socorro" para receber os professores. A esse respeito, o entrevistado assinala:

— Nesse dia, seriam as nossas reuniões de discussões de caso, mas a gente não tem conseguido, porque a demanda está muito grande. Então, a gente agenda alguém da comunidade pra atender, pra fazer os relatórios, pra discutir. Seria pra discutir casos também, e pra atender, por exemplo, na escola, que é alguma orientação, mas acabamos recebendo famílias à procura de escolas para seus filhos... (Entrevista 7).

Esse plantão pode ser um recurso interessante, e algumas instituições especializadas também usam essa estratégia. Mas é fundamental averiguar quem está freqüentando esse espaço. Como a própria integrante do serviço informou, a demanda maior vem da própria comunidade, dos pais que procuram o Cefai em busca de uma escola para seus filhos. Também é importante saber em que momento os professores poderiam ir ao Cefai, como ocorre a liberação pela escola ou se os professores precisam ir em um momento diferente do horário de trabalho.

Atualmente, o Cefai tem as seguintes estratégias de ação: concentração de trabalho nas EMEFs; adaptações de materiais; tentativa de manter uma regularidade quinzenal nas visitas às escolas; plantão de inclusão para receber os professores às sextas-feiras; recepção da família e realização de anamnese inicial; e encaminhamento para as escolas.

A integrante do Cefai explica: "— A gente vai mais na EMEF, porque é onde... pega mais." É a partir da 1ª série que passam a ser exigida uma série de conteúdos, atitudes e participações para além do brincar e da socialização, tão marcantes na Educação Infantil. Apesar disso, é importante deixar claro como os primeiros anos na escola são decisivos e podem se constituir na base para que a criança se desenvolva.

O Ensino Fundamental também foi escolhido para esta pesquisa, exatamente porque é nesse momento que os professores ficam mais angustiados diante da dificuldade que seus alunos mostram de aprender conteúdos acadêmicos específicos.

Outra estratégia do Cefai refere-se às visitas realizadas nas escolas para conhecer a realidade e tentar compor um trabalho. Contudo, diante da demanda excessiva e da troca constante da equipe, a constância das visitas não consegue ser mantida. A falta de estrutura dificulta o trabalho.

A recepção das famílias e o encaminhamento para as escolas é uma estratégia muito importante. Muitas vezes, as famílias ficam sem rumo, sem escolha diante das recusas das escolas. Assim, o trabalho de acolhimento do Cefai constitui o primeiro elemento na rede de apoio e suporte à inclusão escolar. O acolhimento e o encaminhamento às escolas foram mencionados como um dos principais avanços do trabalho realizado:

— A grande diferença que eu percebi é que as famílias estão chegando. E que vai uma propaganda meio boca a boca. Então, as próprias mães falam "não, ó, vai lá!" e dão o telefone daqui (Entrevista 7).

Em minha prática, tenho percebido esse avanço e orientado as famílias a procurar esse serviço. Percebo ainda que esses serviços, em algumas regiões da cidade de São Paulo, estão mais estruturados e conseguem acompanhar mais de perto essas crianças depois que entram na escola. As famílias também têm se mobilizado mais no sentido de procurar e buscar acompanhamento desse serviço.

Com relação aos professores que recebemos na instituição especializada, ou aqueles que entrevistamos, fica claro que esse serviço ainda está em constituição, ganhando espaço em cada uma das escolas que atua. O conhecimento e o acionamento desse serviço por parte dos professores tem relação importante com as ações do coordenador pedagógico.

8.3. O coordenador pedagógico: uma ponte para transformação da

Outline

Documentos relacionados