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Entrevistador-Oi professora, pode se apresentar

MAG – meu nome é M.A.G, sou professora de Matemática, aqui no E.G, eu tenho de quinta até oitava série, desde quinta

série, desde os pequenos, até EJA, dos adultos à noite. E no Estado eu trabalho com Ensino Médio.

Entrevistador – e a sua formação...?

MAG – é Matemática, inclusive eu fiz licenciatura em matemática. Entrevistador – Que ano que a senhora concluiu?

MAG – Concluí... Agora deixa eu me lembrar... foi em 92... 92. Entrevistador – Fez Magistério também?

MAG – não.

Entrevistador – E... há quantos anos a senhora já dá aula aqui, na Prefeitura? MAG – na Prefeitura, esse é meu oitavo ano.

Entrevistador – Qual é a média de alunos por sala?

MAG – numa escola estadual, a média é entre, de 40 a 45 alunos. Em algumas situações ultrapassa, mas assim, tipo, na escola

Entrevistador – superlotação, nossa... e qual que é número de aulas semanais que a senhora dá? MAG – Aqui no E.G são 25 aulas semanais, e no Estado também, 25 aulas.

Entrevistador – ou seja, 50 horas semanais. MAG – semanais.

Entrevistador: Como você se envolveu no ensino de crianças com necessidades educacionais especiais?

MAG: Ah, já faz um tempo. Na verdade a gente ainda nem falava em inclusão, sempre tive algumas crianças que eu percebia

que tinham algum problema, mas isso não era falado, então foi natural, eles foram chegando e eu nunca me recusei a fazer esse trabalho. Às vezes eu fico meio angustiada, mas quando dá certo é gratificante.

Entrevistador – Relate para mim um dia típico de aula. MAG – No Estado são 50 minutos e na Prefeitura 45. Entrevistador – Certo e como é um dia típico de aula? MAG – Hã... um dia que eu tenho manhã, tarde e noite. Entrevistador – uhum...

MAG – então, às sete da manhã, aula no Estado, seis aulas, e 50 minutos, não, digo, cinco, porque eu não dou a última aula lá

pra poder chegar aqui na primeira aula. Aí venho pra cá, direto, faço um lanche rápido, pra pegar as turmas da tarde, aí aquela correria, a gente diz que está indo pro front, porque é uma roda viva, né, você sai daqui, corre ali... Na sala de aula é quase sempre parecido, não dá muito tempo para mudar. Eu chego falo com eles e já vou passando a matéria, mas no grupo projeto tento diversificar ao máximo as atividades.

Entrevistador – e é longe professora?

MAG – não,... é em Cotia. Então eu venho de ônibus, de ônibus, de ponto a ponto, vinte minutos, talvez até menos, nesse

horário não tem trânsito porque é horário do almoço. E tenho uma sala à noite...

Entrevistador – aqui, também? MAG – tem uma sala à noite de EJA.

Entrevistador – a senhora começa a dar aula às sete da manhã e termina que horas? MAG – oito e meia... por volta de oito e meia, estou encerrando o expediente. Entrevistador – Nessas três situações a senhora tem alunos com deficiência na sala? MAG – tenho aqui no E.G, na 6ªA.

Entrevistador – e na, no Estado não tem? MAG – na do Estado não tenho... Entrevistador – olha...! MAG – não tenho...

Entrevistador – e nem à noite, no EJA?

MAG – não... no Estado não tem, eu não tenho, né?Mas na escola tem. Aqui no EG, a proposta era a gente fazer um trabalho

diferenciado, com um número menor de alunos, porque aí você tem mais tempo pra dar atendimento individual na sala. E a gente começou assim sem saber como fazer, aprendendo com eles, então, eu vou falar da minha disciplina. Tem alunos ali que eles só pegam o básico. Assim, por exemplo, multiplicação. Então, se tem um desenho pra eles visualizarem quantas vezes aquela quantidade apareceu, ele faz com contagem, aí na hora de formalizar, a multiplicação, aí ele já tem um pouco de dificuldade. Mas ele consegue entender o oral, na hora de registrar, fica difícil. E alguns não passam disso, mas outros alunos que também tem laudo, inclusive, eles conseguem avançar.

Entrevistador-Então, aproveitando o assunto, fale um pouco de como estruturou seu trabalho com relação aos conteúdos, materiais...

MAG – Por exemplo, primeiro, foi potenciação, aí, como é que você vai trabalhar com a operação inversa da potência?

Naquela sala, é complicado. Eu tinha introduzido o assunto antes de ontem, e o aluno falou assim: “raiz quadrada professora? Que raiz? Raiz não é de planta, não é de árvore?!”

Entrevistador – Ele tem razão não é mesmo?

MAG – aí, com o desenho, hoje foi muito bacana, porque eles entenderam o conceito, de você fazer um quadrado, então, raiz

da árvore, a base, aquilo que sustenta. O que me sustenta? Meu pé e estou aqui, é a base. Aí eu tenho um quadrado, aí eu tenho uma fileira de quadrados, que está aqui sustentando, segurando.

Entrevistador – uhum.

MAG – isso é a base. Eu tava associando com a raiz da árvore, que sustenta a árvore, é a base do quadrado. Com o desenho

todo mundo conseguiu entender.

Entrevistador – olha, que legal.

MAG – aí, então, alguns ficam nessa fase, aí outros vão além. E aí a gente vai contornando, fazendo atividades com desenho,

com cores, pra associar,

Entrevistador – materiais concretos,

MAG – é... mas a gente está aprendendo assim, eu não sei se o que eu faço é certo, a gente troca muito entre os colegas de

sala, o que um fez, deu certo, então, olha, eu fiz assim, deu certo, ah, então vou por aí, vou tentar fazer alguma coisa seguindo essa linha...

MAG – e a gente tem a Márcia, né, você conhece a Márcia da SAAI? Entrevistador – conheço.

MAG– ela dá total apoio pra gente nesse sentido, com sugestões, chamando os alunos pra conversar...

Entrevistador – e esse projeto surgiu como? Vocês viram que tinha um pouco de alunos com dificuldade, aí vocês...? MAG – é assim, ou esses alunos iam ficar soltos numa sala, dois no outro, espalhados, eles iam ficar perdidos, na sala, ou eles

ficavam numa sala e a gente ia poder dar mais atenção pra eles, foi isso, é pra que eles não ficassem perdidos, que imagine, uma sala, com 40 alunos, todo mundo chamando ao mesmo tempo, quinta série é assim, até você chegar naquele aluno, você não ia conseguir.

Entrevistador – uhum...

MAG – porque eles te puxam, 5ª série te puxa pela roupa, e eu chamei: e agora? Todo mundo falando ao mesmo tempo, eles

iam ficar perdidos lá, estou aqui fazendo o que? Ia ser o que, uma carteira a mais na sala? E nessa turminha, os outros compreendem, ajudam,

Entrevistador – e isso partiu dos professores? MAG – dos professores, direção, coordenação... Entrevistador – direção... vocês juntos pensaram? MAG – é, direção principalmente

Entrevistador – E assim, professora, além dessa sala, é, porque nessa sala, como é que é, são só crianças com deficiência? MAG – não, tem alunos que não são deficientes, mas que tem dificuldade de aprendizado.

Entrevistador – qual que é a média, assim? MAG – a média de alunos nessa turma? 29, 30... Entrevistador – e desses, quantos têm deficiência? MAG – olha, exatamente eu não sei te dizer, Entrevistador – é, uma média,

MAG – mas acho que cinco ou seis, que tem laudo mesmo, mas tem outros que têm deficiência, mas ainda não tem laudo, que

Entrevistador – e não é, é uma sala homogênea, uma sala, como é que é? Ou as dificuldades são diversas...?

MAG – São diversas, nós temos ali desde uma aluna que ela não... Ela identifica o alfabeto, mas ela não fala nem sílaba,não consegue ler, nem escrever.

Entrevistador – não consegue juntar?

MAG – não, ela vai mais pelos desenhos; até aluno que não tem deficiência nenhuma e ele só estava defasado no aprendizado

e está lá, esse avança.

Entrevistador – Uhum...

MAG – que às vezes você passa uma atividade mais avançada, pra aquele grupo e ele vai, enquanto ele vai fazendo, você vai

vendo os outros

Entrevistador – ... então é uma classe heterogênea

MAG-heterogênea. E até quando a gente faz... tem um período que a gente faz o Provão, avaliação pra todo mundo. Nessa

sala, a gente faz em vários níveis, pra que todos possam...

Entrevistador – ter alguma coisa ali, registrado... MAG – é, é... isso...

Entrevistador – Tem uma semana de prova na escola, e nesta semana essa sala também faz.

MAG – Isso... Então, o interessante é que eu não sabia que funcionava assim, pra alguns alunos, tal aluno ele não sabe ler,

nem escrever, ele reconhece algumas palavras, mas completar o raciocínio, assim, que, de um texto, não consegue, mas se alguém ler o problema pra ele, ele relaciona as variáveis, os dados e consegue resolver. Então, pra matemática, eles conseguem registrar. Então, se... o problema envolve, vamos supor, uma compra, comprou, ele faz uma multiplicação, pra ver quanto gastou, e depois uma subtração pra ver o troco.

Entrevistador – uhum

MAG – tem alunos que conseguem até registrar isso. Mas eles não conseguem ler o problema, se alguém ler, ele entendeu o

registro, a parte matemática, que eu achava que era impossível.

Entrevistador – uhum

MAG – Estou descobrindo que é possível. Entrevistador – Isso é uma coisa legal mesmo.

MAG – é, a gente consegue perceber que o aprendizado é possível.

Entrevistador – De quantos cursos relacionados à inclusão a senhora teve a oportunidade de participar? MAG – olha,

Entrevistador – nos últimos dois anos?

MAG – eu não participei de nenhum, relacionado à inclusão, palestras, sim, mas curso mesmo, não. Entrevistador – tá.

MAG – não fiz nenhum.

Entrevistador – E por que não foram oferecidos ou por conta de estar em dois empregos...? MA – por conta do tempo, de..., é fora do horário de trabalho;mas palestra, eu assisti várias. Entrevistador – E isso ajudou na prática?

MAG – ajudou a sensibilizar com o assunto, mas em termos de recursos não...

Entrevistador – e o que a senhora sente professora, com relação à educação como um todo? Do momento atual?

MAG – olha,para mim a maior dificuldade é conseguir envolver o aluno nas nossas aulas. Eles são muito dispersos, a gente

sente que não tem uma cobrança da família, a sensação de que, pra família, é que não é tão importante. Tem algumas exceções, mas a grande maioria não... Os pais não comparecem pras reuniões, pra conversar com a gente, é... a gente manda

bilhete em caderno, não tem retorno, a criança pequena mesmo, de quinta série, quando o pai vem, fala assim: olha, mas, eu não vi o caderno porque ele não mostrou o caderno pra mim, você fala: mas você tem que ir lá e pegar o caderninho dele, conversar com ele, ver o que está acontecendo, mas isso não é feito. Então a gente fica sozinho, parece que caiu tudo em nossas mãos. A educação... a educação mesmo, de bons modos, a aprendizagem escolar. Tudo junto, e a gente não está conseguindo dar conta.

Entrevistador – vocês são responsabilizados demais...

MAG – demais! E o excesso de alunos na sala, né? Muitos alunos. Os professores têm boa vontade, mas parece que na hora

não acontece, então vem material diferenciado, vem quando? As aulas já começaram faz tempo. Cadê material diferenciado?

Não chegou ainda, e a gente que tem que está improvisando, correndo atrás, gastando dinheiro do bolso, pra montar a xerox,

montar material pra trabalhar com eles. A gente não ganha esse tipo de apoio. Só parece que os projetos são mais de gabinete.

Eu acho que tem muita maquiagem ali em cima de estatística, o número de alunos aprovados nas escolas não garante que aquele aluno aprendeu. Ele foi promovido, agora só Deus sabe como. Então na estatística, ele obteve sucesso, mas na realidade.

Entrevistador – E com relação ao apoio para o desenvolvimento do trabalho na escola, quais você identifica?

MAG – Aqui nessa escola a gente tem sorte, porque além da CP, a gente tem a Márcia que ajuda muito. O grupo de

professores também é muito bom e um ajuda o outro, a gente desabafa, pensa em soluções em conjunto.

Entrevistador – E outra coisa que eu ia perguntar pra senhora é com relação aos CEFAIS, que são os Centros de Formação e Acompanhamento à Inclusão...

MAG – .olha... aí eu acho que é mais a Sabrina (CP) que pode responder,eu vejo apoio entre nós. Entre os professores, essa

troca, bem presente.

Entrevistador – e antes desta sala, teve alguma outra sala aqui que tinha uma criança, a senhora já chegou a pegar algum caso, alguma outra vez...?

MAG-Não, não...eu não, mas a escola tinha, mas aí não era deficiência mental, acho que era deficiência motora. Inclusive a

menina teve sucesso, ela tinha ajuda dos colegas, ela tinha dificuldade pra escrever, pra falar, mas pelo relato dos colegas ela acompanhava, era uma aluna dedicada.

Entrevistador – Ter uma SAAI na escola, a senhora sente que faz diferença?

MAG – faz.Faz diferença, total. É um apoio que sinto muita falta no Estado, dá uma outra segurança, sabe, quando a gente

tem para onde correr.

Entrevistador – E, bem, assim, pra terminar, que eu sei também que a senhora tem horário, com relação à inclusão como um todo, tem mais alguma coisa que a senhora gostaria de dizer, alguma dificuldade, alguma demanda, algo que a senhora acha que poderia ser diferente...?

MAG – hã... a gente podia ter mais material, de apoio pedagógico, não é mesmo? Entrevistador – e essa coisa de discussão da prática, mesmo, em sala de aula...

MAG – isso, então, essa discussão, aqui ocorre entre nós, mas talvez se isso fosse ampliado, encontros pra torças de

experiências, cursos mesmo, eu sinto falta de fazer um curso Entrevistador – que pudesse ser oferecido no horário de trabalho.

MAG – isso, no horário de trabalho. No fim de semana a gente tem que preparar aula, corrigir atividades e é bacana ver a

alegria deles, e ter o trabalhinho corrigido lá, aula de caderno. Eles esperam... olha, um visto no caderno faz a maior diferença, um visto, se você chegar ali, dar um certinho, dar um visto, escrever alguma coisinha, você ganhou esse aluno. Tudo que você propor ele vai fazer com vontade.

Entrevistador – lógico...

MAG – agora nós pegamos o carimbo, carimbar é outra coisa que... [riso] Entrevistador – é o máximo...

MAG – é, você tem que ir buscando meios pra trazer ele pra você... Entrevistador-No seu caso, fazer parte desse grupo projeto foi uma escolha?

MAG –Foi. A diretora colocou a situação da sala, e perguntou quem gostaria de trabalhar, sugeriu alguns nomes, e o pessoal

aderiu mesmo com essa proposta, de trabalhar de uma forma diferenciada e aprender com uma situação nova.

Entrevistador – Então, acho que é isso, tem mais alguma coisa que a senhora quer falar? Eu sei que já deu o sinal e agradeço pena que foi curto.

MAG – Tudo bem, acho que é tudo.

ANEXO G: ENTREVISTA COM COORDENADOR PEDAGÓGICO

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