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CRICIÚMA (1990 2015) 151 5.1 CRICIÚMA, O PÓS-MODERNISMO E O NEOLIBERALISMO

3. DEFINIÇÃO DA CENTRALIDADE DE CRICIÚMA E DE SUAS ÁREAS DE INFLUÊNCIA

3.2 O CENTRO URBANO DE CRICIÚMA

A chegada ao centro de Criciúma pela Avenida Centenário expõe pela paisagem as dinâmicas e as fraturas de uma centralidade

urbana que vem se renovando a todo instante, sob a égide do capital imobiliário, e revela áreas em pujante transformação arquitetônica e outras que mantém suas formas históricas. Edifícios contemporâneos e economicamente valorizados dividem a paisagem com estabelecimentos de comércio popular em imóveis decadentes, além de dezenas de revendas de automóveis, de jardins, praças e de importantes equipamentos públicos para o funcionamento da estrutura urbana. Recortes e sobreposições de camadas de tempo, contornadas pelo excesso de automóveis e pelo trânsito de pedestres. Fluxos cotidianos cada vez mais intensos, que se entrelaçam e se misturam às permanências arquitetônicas e aos vestígios de outras épocas (Figura 7). Compõem, juntos, um quadro cheio de fragmentos e contrastes espaciais.

Figura 7 - Paisagem no trecho central da Avenida Centenário

Fonte: Ac4 Filmes (2014) [Captura de tela].

Na margem norte da Av. Centenário, onde está localizado o núcleo colonial da cidade, sobrados da primeira metade do século XX formam, junto com a catedral e o espaço público, um conjunto de grande relevância simbólica e histórica, ainda que a falta de zelo pelo patrimônio arquitetônico tenha permitido descaracterizações irreversíveis. Calçadas bem cuidadas pelo poder público, praças relativamente próximas umas das outras e edificações de épocas e estilos arquitetônicos distintos que abrigam, majoritariamente, estabelecimentos comerciais, compõem um conjunto urbano morfologicamente legível. Por outro lado, é também da Avenida Centenário donde se vêem setores de ocupação recente, especialmente em sua margem sul. São bairros residenciais ocupados por edifícios multifamiliares, muitos dos quais com mais de dez pavimentos. Como

num típico subúrbio de cidade brasileira, a ausência de parques e praças é somada à malha de ruas com calçadas descontínuas e de aspecto degradado.

Além da Avenida Centenário, ligações viárias a municípios vizinhos, que se convergem no centro da cidade, contribuem para estruturar a malha urbana e seus usos decorrentes. São vias seculares que tiveram envolvimento direto com a formação do núcleo colonial da cidade e com o desenvolvimento das atividades de centralidade no decorrer do século XX. O processo de expansão urbana, associado a condições naturais do território, contribuiu para definir Criciúma - e principalmente o seu centro urbano - como o centro geográfico regional, o qual polariza em si as mais importantes atividades econômicas, políticas e culturais do Sul Catarinense.

Ante a condição de Criciúma como pólo regional e tantas outras características que variam de acordo com as interações territoriais, torna-se necessário reconhecer e sistematizar quais são os papéis desempenhados por seu centro urbano nas escalas regional e municipal. Mais: é necessário, como método, descrever e analisar o que é esse centro, quais são seus limites e suas subdivisões.

Segundo Castells (1983), o centro é uma relação sistemática de atividades, de aspectos formais e sociais, que devem ser identificados na estrutura da cidade.

O centro urbano então não é uma entidade espacial definida de uma vez por todas, mas a ligação de certas funções ou atividades que preenchem um papel de comunicação entre os elementos da estrutura urbana. Quer dizer que não podemos assentar o centro urbano, e sim que é necessário defini-lo com relação ao conjunto da estrutura urbana. E convenientemente separar nitidamente a noção de centro urbano das imagens de ocupação do espaço que ele evoca, e dar-lhe uma definição deduzida de sua análise estrutural (CASTELLS, Manuel. 1983, p. 314).

Desse modo, reconhece-se uma sequência de critérios que, por desenharem limites quase circuncêntricos ao núcleo simbólico da cidade de origens coloniais, tornam-se complementares entre si. Se analisados de modo individual, são abstrações que impossibilitam o entendimento da diversidade do espaço. Juntos, no entanto, são importantes para o posterior entendimento das dinâmicas de urbanização nos diferentes

períodos históricos. São demonstrativos de como a centralidade, contígua aos contextos econômicos e sociais, foi protagonista do vigoroso processo de expansão urbana de Criciúma.

Seguem abaixo, portanto, os critérios que contribuem na delimitação do centro de Criciúma a partir de suas relações regionais e, conseguinte, a definição do objeto de estudo:

 O centro de Criciúma na escala regional;  O centro de Criciúma na escala municipal;  A Microbacia do Rio Criciúma;

 O anel de verticalização e o centro simbólico. 3.3 O CENTRO DE CRICIÚMA NA ESCALA REGIONAL

A Região Carbonífera foi colonizada no fim do século XIX majoritariamente por imigrantes italianos, conduzidos para o estabelecimento de núcleos coloniais espalhados pelo território das bacias dos rios Tubarão, Urussanga e Araranguá. Logo que instalados, os núcleos cresceram, tornaram-se pequenas cidades e se configuraram em uma rede urbana, ainda que completamente precária. Interligavam-se por estradas de terra construídas pelos próprios imigrantes, as quais se convergiam no núcleo central de Criciúma, o centro geográfico da região.

Posteriormente, ao longo do século XX, a eclosão da mineração de carvão como principal atividade produtiva induziu o rápido crescimento populacional e expansão urbana de Criciúma, especialmente de sua centralidade, a qual, simultaneamente, respondia às novas demandas com um conjunto de atividades cada vez mais dinâmico e diversificado.

Tal processo de urbanização fez do centro de Criciúma a maior concentração de estabelecimentos comerciais, de equipamentos institucionais e de atividades políticas da região. Além disso, as atuais vias que conectam a cidade aos municípios vizinhos obedecem, ainda que retificados no decorrer do século XX, ao traçado de estradas regionais de origem colonial que formavam no centro de Criciúma um nó viário e ponto de parada entre os deslocamentos. Mesmo que camuflada na malha viária contemporânea (Figura 8), essa importante herança dos imigrantes permanece e até hoje faz do centro um nó regional, o que até certo ponto o protege do esvaziamento, do deslocamento em massa de atividades econômicas e da consequente desvalorização.

Figura 8 - Acessos regionais ao Centro de Criciúma, com destaque em vermelho para as ruas históricas.

Fonte: Prefeitura Municipal de Criciúma (adaptado pelo autor) 3.2 O CENTRO DE CRICIÚMA NA ESCALA MUNICIPAL

A economia baseada na extração do carvão mineral, preponderante durante a maior parte do século XX, contribuiu para estabelecer as estruturas do espaço urbano de Criciúma. A localização das minas e o traçado das linhas ferroviárias, espalhadas por todo o território, impulsionavam a ocupação em suas proximidades. Em síntese, "onde o carvão aflorava, afluíam operários de todo lado, abria-se uma mina e, nas proximidades, uma vila operária" (GONÇALVES, 2007, p. 102). Cada uma das vilas possuía uma estrutura urbana diferenciada e relativamente independente das demais aglomerações. Dependendo do potencial econômico da companhia mineradora, as vilas eram equipadas com escolas, clubes de dança, campo de futebol, cinema, igreja e pequenos estabelecimentos de comércio, que, em alguns casos, com o decorrer do processo de expansão urbana,

configuravam-se como centros de bairro e até mesmo subcentralidades da cidade. Foi o caso da Próspera, que teve sua origem relacionada às atividades de mineração da Carbonífera Próspera e que, atualmente, acumula diversas atividades que a faz ter influência direta sobre um conjunto de bairros periféricos da porção leste do município.

Figura 9 - Evolução Urbana de Criciúma

Fonte: IPAT; Prefeitura Municipal de Criciúma (adaptado pelo autor)

A representação do processo de evolução urbana de Criciúma (Figura 9) é reveladora de uma estrutura urbana polinucleada e relativamente espraiada. Registram-se núcleos urbanos pouco conectados até 1957 (em amarelo), que se multiplicaram até 1978 em decorrência do aumento das atividades extrativistas e industriais (em laranja), e posteriormente envolvidos por uma extensa área periférica majoritariamente empobrecida (em vermelho). Nesse processo, além do centro principal, são identificadas outras quatro aglomerações urbanas importantes, que desempenham funções de subcentralidades (Figura 10): a Próspera, no segmento leste da Avenida Centenário; o Pinheirinho, na parte oeste da via; o Rio Maina, na porção noroeste da cidade; e, por fim, o conjunto Cidade Mineira e Santa Luzia, na extremidade oeste.

Figura 10 - Centro e subcentralidades de Criciúma

Fonte: Google, 2014 (adaptado pelo autor)

Com exceção do próprio Centro, as quatro subcentralidades foram fundadas em função do processo extrativista, ainda que cada uma com suas peculiaridades espaciais e históricas. De mesmo modo, cada um dos subcentros polariza um raio de influência direta sobre os bairros de seu entorno, geralmente originados pelo espraiamento da malha à medida que a população crescia (Figura 11).

Figura 11 - Áreas de influência do Centro e subcentralidades de Criciúma

Fonte: Google, 2014 (adaptado pelo autor)

Em conjunto, as subcentralidades caracterizam uma estrutura urbana historicamente polinucleada, na qual o centro principal se destaca por influenciar diretamente uma área maior e mais populosa sem a confluência dos subcentros. Como evidências desse processo, até hoje os limites das áreas de expansão das centralidades podem ser identificados através da presença de grandes vazios urbanos (Figura 12).

Figura 12 - Criciúma - vazios urbanos entre o Centro e o Pinheirinho

Fonte: Google, 2014 (adaptado pelo autor)

Vale considerar, entretanto, que de modo indireto, por agrupar as atividades mais importantes da cidade e estar no meio da estrutura urbana, é também o Centro principal que hierarquicamente exerce influência sobre todas as áreas do município e, como já observado, também da região.

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