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O FIM DE UM CICLO: OS CONFLITOS TRABALHISTAS DA DÉCADA DE 1980 COMO PRELÚDIO DA ERA NEOLIBERAL

CRICIÚMA (1990 2015) 151 5.1 CRICIÚMA, O PÓS-MODERNISMO E O NEOLIBERALISMO

2. As atividades centrais se espraiam pelas vias estruturais Figura 69 Atividades de centralidade Imagem de 1978.

4.11 O FIM DE UM CICLO: OS CONFLITOS TRABALHISTAS DA DÉCADA DE 1980 COMO PRELÚDIO DA ERA NEOLIBERAL

A partir da metade dos anos 1980, à luz da dinâmica de acumulação de capital em países desenvolvidos na década anterior, o Brasil seguiu para um quadro de forte recessão econômica, de desregulamentação de diversos setores produtivos e de recuo de políticas públicas em todas as áreas sociais, inclusive sobre a urbanização. Ao mesmo tempo, o país finalmente conquistava a abertura política após uma ditadura de duas décadas e discutia a organização do Estado democrático, o que justificava o frenesi dos movimentos sociais. Na questão energética, pauta importante para a matriz econômica da Região Carbonífera, a partir de 1983 tornaram-se sucessivas as portarias e resoluções que reduziam os subsídios estatais às empresas privadas de mineração e incentivavam, aos poucos, o desmanche do aparelho estatal com consequentes privatizações e passivos sociais.

Em Criciúma, a espacialização da economia desenvolvimentista dos anos 1970 foi sendo substituída pelos conflitos operários e pelo empobrecimento desencadeados pela crise nas companhias carboníferas, historicamente dependentes de medidas protecionistas à concorrência do carvão importado. As conseqüências da desregulamentação da mineração repercutiam em demissões em massa cada vez mais numerosas, em falências e na difusão da crise às demais indústrias de transformação ligadas à atividade extrativista.

O Estado começou a esboçar sua saída do cenário da economia carbonífera não só pela gradual redução dos subsídios, mas também pela decisão de passar para o controle da iniciativa privada as empresas de mineração sob a sua tutela, as quais estavam sob o controle acionário da CSN. Compreendiam as minas da própria CSN e as minas da Carbonífera Próspera S/A (VIEIRA, Jorge Luiz. 2001, p. 116).

É diante da ambiência de incertezas e de exaltações que a história das lutas trabalhistas dos mineiros documenta uma fase difícil para a garantia de empregos e de direitos. Não foram poucos os movimentos organizados pelo Sindicato dos Mineiros na forma de greves, de passeatas, de cartas reivindicatórias, cotidianamente apoiadas por outros setores industriais. "As tensões que nascem nos subterrâneos

das minas e ali crescem, se expandem pelos bairros, se articulam nos sindicatos e envolvem a comunidade e a opinião pública" (VOLPATO, 1984, p. 160). De certo modo, a cidade acompanhava, à sua escala, a organização sindical dos grandes centros econômicos do país, a exemplo dos metalúrgicos de São Paulo, todos articulados nacionalmente à CUT em seus tempos mais combativos.

Um desses grandes momentos do fim da década de 1980 se decorreu dos sucessivos pacotes de medidas que propunham o congelamento de salários para o controle da inflação, o que recuava quaisquer avanços à valorização salarial e, de imediato, provocava o descontentamento de diversos setores sindicais da cidade. Com a experiência e a maturidade conquistadas após décadas de lutas, o movimento operário de Criciúma articulou em 1986 uma greve geral, a primeira de tantas outras, que se sucediam como resposta a cada nova investida neoliberal, com cada vez mais efervescência, envolvendo mineiros, metalúrgicos, ceramistas, comerciantes, calçadistas, entre outros setores, que juntos, destacavam a resistência na cidade de raízes carvoeiras na imprensa estadual e nacional (MIRANDA, 2013).

Outro episódio marcante desse período envolveu o processo de privatização da CSN - Companhia Siderúrgica Nacional - que, por ser mantenedora da Carbonífera Próspera S/A, detinha nos municípios de Criciúma e Siderópolis o maior complexo de extração de carvão mineral de Santa Catarina. Até meados dos anos 1980, a companhia possuía a maior reserva de jazidas, cerca de 20% de todo o carvão pré-lavado produzido e gerava na região aproximadamente 2.600 empregos diretos, segundo Rabelo (2004). Notavelmente, uma potência estatal de grande influência sobre a economia local, especialmente pelos empregos e por toda a cadeia produtiva que a envolvia.

O processo de dissolução da estatal na região se deu a partir de 1988, com a gradativa desativação de cargos de gerência, de postos de trabalho e de unidades mineradoras. Primeiramente, sob o pretexto de uma represália do governo federal à direção local por autorizar aumento de salários após conflitos com o movimento sindical mineiro, foi definida a dissolução da Carbonífera Próspera S/A, transformando-a em uma superintendência subordinada à Volta Redonda/RJ, sede da CSN. A partir daí, com o comando da empresa longe de Criciúma, passaram a ser frequentes o fechamento das unidades de mineração com consequentes demissões em massa, apesar da forte resistência do movimento operário. A greve geral de 1988, um dos maiores episódios da história sindical da região, é até hoje lembrada pela violência no conflito entre policiais militares e operários mineiros nas ruas do

entorno da Praça Nereu Ramos (Figura 80). Como desfecho de todo esse processo, apesar das negociações, da persistência e da solidariedade entre os diversos segmentos sindicais, o jogo de estratégias permitiu com que a privatização da CSN se oficializasse em 1990 de acordo com os planos do Estado neoliberal e 1.500 mineiros foram sumariamente demitidos.

Percebe-se que a ideia de privatização deste setor de mineração já estava nos planos dos governantes. Quando a CSN transformou a Carbonífera Próspera em Superintendência, tinha a real intenção de inviabilizá-la, preparando, assim, caminho para a privatização que se erguia como proposta salvadora da empresa. Nas minas, por exemplo, medidas técnicas preventivas não foram efetivadas para garantir a continuidade da exploração do carvão. Problemas foram se acumulando até que a proposta de privatização emergisse como solução (RABELO, Giani. 2004, p. 299-300).

Figura 80 - Conflito entre policiais militares e mineiros no centro de Criciúma durante a greve geral de 1988.

Fonte: Acervo do Sindicato dos Mineiros de Criciúma

A insegurança no quadro sócio-econômico se intensificou no decorrer da década até que, em 17 de setembro de 1990, já sob o governo do presidente Collor de Melo, foi editada a Portaria Ministerial

n° 801, que definia a saída total do governo no gerenciamento da mineração. Tratava-se, evidentemente, de um marco simbólico para a consolidação do Estado neoliberal e para o fim de um ciclo de desenvolvimento, o que repercutiu como um golpe à economia carbonífera e a todos dela dependentes. Afetou o desempenho das administrações municipais, diminuiu a circulação de dinheiro, enfraqueceu toda a rede de atividades de comércio e serviços e pôs em crise a economia doméstica, até então comumente dependente da remuneração do homem. No capítulo seguinte, sob a conjuntura da urbanização, serão analisadas as repercussões do neoliberalismo sobre a produção da centralidade de Criciúma de 1990 até a atualidade, quando, diante da crise sem precedentes, a cidade improvisa na economia e nas dinâmicas espaciais.

Figura 81 - "Privatização não. A CSN é do povo!"

5. O NEOLIBERALISMO E SUAS INFLUÊNCIAS NA

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