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o chamado é escutado

No documento Volta ao mundo em 13 escolas (páginas 153-156)

Os cartazes de Partanen trouxeram exatos 24 aprendizes. Desse grupo nasceu a primeira equipe da Team Academy. Na sala, carteiras e cadeiras foram trocadas por poltronas e sofás dispostos em círculos, para facilitar as conversas. Em vez de aulas tradicionais, a equipe criou sessões com o intuito de trocar ideias e desenvolver projetos junto de clientes. Desde o início, a Team Academy considera que explorar o mun- do além das portas da universidade é determinante para o aprendizado. A criação do curso não foi tão simples: a maneira de aprender desen- volvida por esse grupo foi criticada dentro da Escola de Negócios. Al- guns aprendizes defendiam que o modelo tradicional, com professores dizendo o que os alunos deviam fazer, era o melhor método de apren- dizagem. Três anos e inúmeras críticas depois, havia cinco times e 80 aprendizes no total. O projeto cresceu a ponto de se tornar uma unidade independente dentro da universidade.

A iniciativa completou 20 anos recentemente, e sua ampliação segue a passos largos. Partanen comenta: “No início, os professores diziam: ‘Você domina o aspecto prático, mas não a teoria’. Agora, depois que escrevi o livro The Team Coach’s Best Tools (“As melhores ferramentas do Mentor da Team Academy”, sem tradução em português), ouço o se- guinte: você domina a teoria, mas e o aspecto prático?”.

Na Espanha, o País Basco abriu as portas para a metodologia da Team Academy. O curso encontrou território fértil na cidade de Mondragón, um lugar que tem o princípio da cooperação como sua identidade. O grupo empresarial Corporação de Mondragón (CM), por exemplo, foi considerado em 2012 pelo jornal britânico The Guardian como “uma

alternativa incrivelmente bem-sucedida para a organização capitalista de produção”. O CM conta com cerca de 85 mil membros em empresas cooperativas, agrupadas nas áreas industrial, financeira, varejo e de co- nhecimento. Entre 80% e 85% dos membros das empresas são coopera- dos, ou seja, também são donos de parte do negócio. Aquele que está no maior cargo só pode ganhar até 6,5 vezes mais do que o membro com menor remuneração.

O CM criou a Universidade de Mondragón, onde surgiu o anseio por uma metodologia inovadora para promover a aprendizagem dos cooperados. Importaram o modelo da Team Academy, e o complemen- taram à sua maneira. Daí nasceu o curso de graduação Liderazgo Em- preendedor e Innovación – LEINN (em português, “Liderança Empre- endedora e Inovação”).

Seja na Finlândia ou na Espanha, a Team Academy é um laboratório de desafios conectado ao mundo real. Um lugar onde os alunos apren- dem a ser empreendedores sendo empreendedores.

desaprendizagem

Os primeiros dias do LEINN deixam a maioria dos aprendizes con- fusos. No segundo dia de aula, a aprendiz Amaia, 19 anos, vivenciou momentos desconfortantes. Deixaram toda a turma em uma sala, sem nenhum mentor por perto. Amaia não conhecia as pessoas ao seu redor, então as primeiras três horas serviram para que os alunos se apresentas- sem uns aos outros, trocando ideias que vinham à cabeça. O tempo foi passando e nada de alguém da Team Academy voltar para a sala...

Três horas findaram-se até o momento em que despertou a pergunta: “Não deveríamos fazer alguma coisa?”. Assim começaram a se movi- mentar. Não havia nenhuma tarefa definida, mas todos estavam a par de certas informações sobre os processos do curso, descobertas princi- palmente em conversas com ex-alunos. Conheciam, por exemplo, um de seus desafios: gerar lucro. “Procuramos um produto na internet. Aca- bamos comprando 500 isqueiros e saímos para as ruas para vendê-los”,

#modelomental #c

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conta Amaia. A falta de habilidade não superou a vontade de ação. “Não sabíamos nada sobre a profundidade que existe em um processo de con- vencimento, então imagine como foi nossa conversa com os primeiros compradores”, diz Amaia.

Se não sabem o que fazer, os aprendizes entram em um campo des- conhecido, que provoca um nó na cabeça. Em vez de receber ordens, eles mesmos decidem os primeiros passos. Como se chegassem em uma sala escura e, pouco a pouco, conseguissem distinguir os objetos, porque os olhos vão se acostumando aos ínfimos feixes de luz espalhados pelo lo- cal. De certa forma, são impulsionados a lidar com a própria autonomia.

“Somos levados a mudar o modelo mental praticado nas escolas tra- dicionais”, explica a finlandesa Kaisu, 26 anos, ex-aluna da Team Acade- my da Finlândia e atual mentora de equipe do LEINN. “Modelo mental” é uma expressão importante no vocabulário da Team Academy, e se re- fere aos filtros através dos quais olhamos o mundo. São “modelos inter- nalizados em nós, que guiam nossas ações”, complementa Kaisu. Estão ligados à maneira como agimos, respondemos a problemas e criamos soluções.

Desde o primeiro dia de curso, os alunos são estimulados a sair de um modelo mental que restrinja seu campo de ação. Desaprendendo parte das amarras, dão espaço para o caos criador. Em um workshop sobre liderança realizado por ex-alunos da Team Academy finlandesa, adesivos com a expressão “mais caos” estavam espalhados pela sala in- teira. O caos, vale explicar, representa, na mitologia grega, o vazio onde nasce o mundo, o espaço aberto à criação.

A aprendiz Ane, 22 anos, da Team Academy Mondragón, declarou que, desde o início do curso, o caos da desaprendizagem a levou a um processo de questionamento pessoal sobre os rumos da sua vida. Pouco afeitos a tantas reflexões, seus amigos não entendiam bem a experiência que a aprendiz vivenciava, então costumavam interrogá-la: “Por que você anda tão cheia de dúvidas?”. Amaia também conta: “Às vezes, quando fico estressada, meus amigos não me entendem. Eles me perguntam: ‘Como você está estressada se o seu curso te dá tanta liberdade?’”.

No documento Volta ao mundo em 13 escolas (páginas 153-156)