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chanças urbanas Esta afirmação sugere nos a literacia ambiental crítica :

"há coisas bonitas que as pessoas não notam porque andam apressadas"

"tem coisas lindas para se apreciar só que as pessoas não têm tempo para as ver porque andam muito apressadas"

Esta mesma literacia ambiental crítica é reforçada pela noção de procurar atribuir às desordens provocadas pelo modos de vida do homem urbano/ industrial a redução da vida na Terra.

Significa um puro ambiente, a Natureza a não poluição para que haja vida na Terra"

Também o amor pela vida, pela própria vida como pela dos seres que nos são caros constitui um objecto de valorização por parte das crianças do meio urbano, inventariando, em alguns casos, o que lhe falta em termos de qualidade de vida. Remetem-nos para a literacia ambiental crítica, os seguintes segmentos:

"Significa que o ambiente serve para proteger os animais, plantas, pessoas, árvores, Terra e outras coisa "

"Que temos proteger os animais a Terra, a vida, as plantas, etc. "Significa que temos de proteger os animeis e as pessoas"

"Proteger a fauna e a flora"(3 vezes)

"Significa um puro ambiente, a Natureza e a não poluição para que haja vida na terra " "proteger os animai, as pessoas, as árvores, a Terra e outras coisas"

"Protegera fauna e a flora"

O ambiente, nestes extractos, é visto como um todo indivisível, nos quais as inter-relações e interdependências são consideradas para se efectivarem acções que visem a precaução/ protecção. Os factores naturais, sociais e culturais conferem uma nova conceptualizaçãò do ambiente mais global, que nos remete para o conceito estruturado pela UNESCO (1989) " é não só o ambiente natural constituído pela água, o ar, o clima, a temperatura, o solo, o relevo, a radiação solar e cósmica - que formam parte do habitat da espécie humana, mas também o ambiente social que esta vai construindo graças à criatividade da sua

evolução" (Esteves 1 9 9 8 : 4 6 )1 2 8

ESTEVES , Lídia Máximo (1998). O Fio da História- Da teoria à prática: Educação ambiental com crianças pequenas. Porto: Porto Editora. P. 46

As crianças do meio rural têm uma concepção de ambiente que se centra nos aspectos constrangedores (poluição) do meio físico ou natural tal induz à literacia ambiental crítica:

"o ambiente para mim é uma natureza e não haver poluição " "Não botar fumo como as arvores. Meter a água limpa" "Não deitar lixo para o chão... "

"significa para não deitar lixo para o chão e não sujar o ambiente "

A emergência de novos valores que implicam não só a sua aceitação mas também o direito à diferença é sintetizada na afirmação:

" Respeitar os outros"

Uma visão social que confere à biodiversidade vegetal e ao ambiente despoluído as condições que permitam a vida que remete para pequenos resíduos de uma literacia ambiental crítica:

"Significa ter vida porque se não sem plantas e não fazer poluição"

A partir da análise efectuada podemos concluir que os conhecimentos ambientais das crianças urbanas e rurais se inserem nas seguintes literacias:

Ambiente Ambiente

Urbano Rurais

Literacia ambiental funcional 35 24

Literacia ambiental cultural 5 "~8

Literacia ambiental crítica 14 9

"Quadro 30"

Os conhecimentos das crianças urbanas inscrevem-se; sobretudo nas literacias

ambientais funcional e crítica embora também se situem na literacia ambiental cultural. Os conhecimentos ambientais das crianças rurais situam-se sobretudo nas literacia ambiental funcional e crítica embora a literacia ambiental cultural também esteja presente.

Está presente em alguns extractos das crianças urbanas e rurais uma harmonia entre humanidade e natureza/ambiente que cingem as pessoas à natureza, numa simbiose harmónica que nos transporta às culturas dos povos ancestrais e aos modos como esses povos viviam as suas relações com a Terra.

Também estão presentes necessidades emergentes do mundo vivido e a viver - como a poluição, necessidade de proteger a fauna e a flora - e que nos alertam para as necessidade de precaução e antecipação

A constatação da vida, do espaço de vida, da biodiversidade e o cnar condições para que exista a vida são dimensões dos problemas ambientais entoadas nas preocupações das crianças. Compreender esta ligação à Terra e à sua biodiversidade (ambiental e cultural) supõe compreender a relação que se estabelece com o que nos é exterior ( o outro, o diferente) é compreender simultaneamente o mundo em que vivemos e os efeitos das opções que tomamos.

Concluímos dizendo que as crianças de ambos os meios possuem conjunto de conhecimentos sobre o ambiente. Estes conhecimentos aparecem mais realçados pelas crianças urbanas. Estas, são socializadas, sobretudo na escola, para um tipo de saber que se baseia "na cultura nacional, pela transmissão de saberes (uma divindade unificante universal, a problematização da natureza, do corpo, etc.) e de orientações (sistematização, dedução, ordenação gramatical e aritmética do real e do cálculo, das alianças e dos recursos) que visam integrar os grupos domésticos no espaço simbólico da nação" (Iturra, 1990a: 54-55) As suas

preocupações actuais centram- se em torno do ambiente entendido como uma questão problemática. Esta cultura tende a distanciar-se da socialização da família rural. Ao contrário da escola que assenta as bases do conhecimento na escrita, na generalização e na manipulação de símbolos, nas zonas rurais as aprendizagens efectuam-se pela observação e pela acção, e os saberes são

transmitidos oralmente, através da "pedagogia do ver- fazer" (idem). Esta discrepância entre o quotidiano destas crianças e os princípios organizacionais,

os conteúdos e a linguagem da escola r e f lecte-se nas competências que subjazem

à obtenção das Iiteradas.

Os problemas ambientais tornaram-se interrogações que atravessa as áreas da política, da ciência, da ética, da cultura e dos direitos, obrigando a repensar as múltiplas formas de perda de liberdade e de humanidade que a ordem actual do status quo engendrou.

A crise ambiental e social que estamos a viver obriga-nos a repensar o tipo de relações sociais, o modelo de relações entre os homens e as coisas, sobretudo um entendimento diverso do essencial das coisas que nos rodeiam. Recolocar, hoje, o problema das tarefas da cidadania implica um redefinir das relações entre a cultura e a natureza. Esta crise ambiental e social obriga também o cidadão a reconhecer as suas tarefas a partir de um processo de distanciamento reforçado por uma atitude crítica. "A determinação destas tarefas fundamentam-se na responsabilidade humana para com os outros seres do mundo, que se encontram em directa relação com a desmesura do nosso poder técnico"(Marques 19994:73)129

Consideramos com Stoer (s/d:6) "educação para a cidadania, nestes novos tempos, terá de se basear necessariamente quer no pilar dos direitos e dos deveres do contrato social que permitiu a concretização de algumas das promessas da modernidade (e que acabou por pôr em causa outras) como num outro pilar, o de um contrato social novo, ainda em negociação, que veiculará o processo de globalização"

Esta postura implica a valorização das culturas locais, o reconhecimento das possibilidades de expressão das populações, baseia-se na partilha, na protecção e

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na cooperação, numa reconversão de atitudes e valores no âmbito de uma ética ambiental.

A pobreza, enquanto fenómeno macro cultura, resulta frequentemente da degradação do meio ambiente e este, por sua vez acentua, em numerosos casos a pobreza, como fenómeno condicionante de desenvolvimento económico, social e cultural. Permitir melhorar as condições de vida dos populações é contribuir para a dignidade cultural e ambiental, é partilhar da ideia de pertença a uma comunidade planetária.

O principal desafio moral que será necessário responder será expandir e realizar inteiramente a nossa capacidade de cuidar dos outros e de nós próprios através da eliminação da pobreza, da satisfação de todos os direitos políticos sociais e económicos de todos os indivíduos, da melhoria da qualidade de vida e o direito à educação e a uma ambiente limpo.

A educação cabe sobretudo a tarefa de promover alternativas consistentes e perduráveis tendo de fazer frente aos riterados "fracassos" ou "crises" que as práticas educativas têm evidenciado nas suas relações com o meio urbano e rural, geralmente com repercussões desiguais e muito mais discriminativas para os segundos. Se se proceder a uma análise conjunta dos problemas educativos em ambas as sociedades - urbana e rural- devemos coligir que as suas problemáticas coincidam diacrónico e sincronicamente com as insuficiências que se têm manifestado no desenvolvimento dos sistemas educativos e, em geral em toda a prática educativa que toma por referência a formação de pessoas livres, responsáveis e plenamente conscientes da sociedade em que vivem. Problemas que nos situam ante carências e défices que apresenta a educação em relação à plena integração social, laboral, educativa e social. Neste sentido a educação deverá sofrer mudanças significativas, no sentido de se adequar às respectivas necessidades e peculiaridades, supõe um projecto educativo que contemple os

vários aspectos: económico, cultural, social e ambiental, de amplo alcance, que favoreça simultaneamente um desenvolvimento integral e integrador.

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