• Nenhum resultado encontrado

I Considerações finais e orientações para novas investigações

Gostaríamos de realçar algumas dificuldades de ordem epistemológica e metodológica que sentimos ao longo deste estudo:

A primeira situa-se na actualidade recente do conceito de literacia ambiental e na delimitação da sua abrangência conceptual quando aplicada às questões ambientais 13° que contém em si factores sociais (educação/ informação,

qualidade de vida), culturais e ecológicos.

A segunda situa-se na ambivalência e interpenetrabilidade dos elementos constituintes das diversas categorias131levando-nos a inseri-las nas literacias de

acordo com a representatividade (informação teórica que (en)formava as literacias) mas também de acordo com a nossa subjectividade.

A terceira refere-se à limitação de tempo, dado que nos inserimos na categoria de trabalhador- estudante, e que por conseguinte esta limitou a investigação no que diz respeito à consideração de factores (práticas familiares e profissionais quotidianas e práticas educativas) que pudessem contribuir para o

r

enriquecimento da investigação.

Passaremos, seguidamente, a apresentar os resultados que a investigação nos permitiu concluir.

Contribuir para o conhecimento das várias lógicas - sociais, económicas, culturais, ambientais que explicam a literacia no contexto da cultura urbana e rural, foi a

O conceito é tão recente e tão complexo visto que hoje nos encontramos envolvidos na resolução de outras literacias. Entre nós. e os estudos que dela se fazem (ver Benavente 1996) apontam para grandes taxas de analfabetismo e analfebetismos funcionais. Embora o nosso estudo se centrasse numa literacia recente não deixámos de nos preocupar ou de termos presente a existência de um grau ainda elevado de iliteracia que apontam para grandes taxas de analfabetismo. Talvez estas ausências de literacia estejam implicadas em respostas que nos levaram a alguns resultados que nos deixaram presos num paradigma de suspeição.

131

Um exemplo do que acabámos de referir: o cão e gato tanto podem pertencer à literacia ambiental funcional como à literacia ambiental cultural.

primeira preocupação deste trabalho. No nosso trabalho tivemos de ter em consideração que as diferentes relações com o ambiente induzem a diferentes percepções ambientais ou se quisermos a diferentes literacias, dependendo estas da forma como esta relação se estabelece e do local/espaço onde se estabelece. As crianças fazem aprendizagens pela primeira socialização no seio da família e do meio envolvente, uma vez expostas às forma culturais daquelas. As investigações realizadas, relativamente à perspectiva ecológica e ambiental do desenvolvimento humano, sublinham o papel crucial dos diferentes contextos no desenvolvimento e socialização das crianças, considerando que a sua explicação e compreensão residem nas interacções que se estabelecem nos e entre os contextos. Isto fornece um novo registo cultural enquanto contributo para a alfabetização ambiental ou seja, significa reconhecer a importância pedagógica do capital cultural das chanças como sendo crucial para expandir a possibilidade de múltiplos alfabetismos e agências, devendo por isso, aquele registo cultural ser visto como parte do processo de aprendizagem.

Genericamente concluiríamos, partindo do "olhar" que procurámos realçar, que quer as crianças do meio urbano quer as crianças do meio rural possuem conhecimentos locais e globais que reflectem preocupações ambientais. Estes conhecimentos situam-se muito mais ao nível das literacias ambientais funcionais e culturais do que ao nível da literacia crítica que requer percepções ambientais baseadas numa ética de sustentabilidade e tomadas de decisão que reflectem uma visão a longo prazo. Estes resultados prendem-se, possivelmente, com o facto de o capital cultural das crianças, ou seja da primeira cultura, raramente ser trazida para o centro do processo educativo/ ou aprendizagem. O não fazer- se isto, conduz a que não se exerça uma educação crítica pela qual a realidade seja interrogada o que conduz à inibição das literacias ambientais e

particularmente à literacia ambiental crítica, que no nosso estudo foi de facto aquela que menos visibilidade teve.

A diferenciação atenua-se quando se trata das literacias ambientais funcionais: As crianças são detentoras de saberes convergentes visíveis sobretudo na alimentação, e na poluição. Este conhecimento é substancialmente diferente na qualidade de vida, na biodiversidade, na água e no ambiente.

Reportando-nos à biodiversidade verificamos que as crianças de ambos os meios são possuidoras de um elevado nível de literacia ambiental funcional. Na biodiversidade vegetal existe uma grande diferenciação. As crianças do meio urbano enumeram em maior número enfatizando sobretudo uma biodiversidade local que remete para valores estéticos. Identificam ainda os agentes susceptíveis de causar danos à biodiversidade enquanto as crianças do meio rural enfatizam uma biodiversidade vegetal que contribui para aspectos económicos e alimentares. Na biodiversidade animal as referências são convergentes, embora a enumeração seja superior nas chanças urbanas. Também os malefícios que o fogo e a caça podem provocar à biodiversidade e ao património natural é preocupação dos dois grupos de crianças. A caça é mais acentuada pelas crianças urbanas e o fogo é mais salientado pelas crianças rurais.

Relativamente à literacia ambiental cultural concluímos que o enfoque na biodiversidade vegetal, pelos crianças urbanas se situa em valores estéticos (embelezar), e despoluidores (purificar o ar); enquanto as crianças rurais colocam o enfoque na alimentação, na sensibilidade olfactiva, no vestuário e na protecção que estas proporcionam face aos raios solares (sombra). Na biodiversidade animal os valores convergem na enunciação, divergindo na enumeração que é mais acentuada nos primeiros. Ambos os grupos enfatizam o

vestuário, a alimentação, a companhia e brincadeira que a biodiversidade animal proporciona.

Relativamente ao fogo, as chanças urbanas enfocam atitudes intolerantes, muitas vezes regidas pelo valor económico e para a necessidade de se preservar o património cultural. As crianças rurais enfocam como prioridade a defesa do património cultural.

Na literacia crítica detectamos pequenos resíduos nas crianças urbanas quando invocam o valor da biodiversidade no equilíbrio da natureza e quando apontam para locais demarcados para o exercício da caça. Este acto intuitivo apenas é possível de se transformar numa postura crítica, no nosso entender, se houver um enquadramento moral clarificador. Apreendemos, ainda, um saber local intuitivo, nas crianças rurais. São saberes cuja tónica é acentuada pelos saberes locais que se poderá transformar num saber "consciente", conferindo-lhe uma postura crítica na qual está subjacente uma acção intencional: a precaução contra os danos causados pelo fogo à biodiversidade.

Podemos ver as diferenças nas literacias ambientais funcionais, na temática da água, sobretudo na enumeração, que é maior nas crianças urbanas no entanto são convergentes na enunciação das suas funções, visível nas respostas dadas ao questionário. As chanças do meio urbano privilegiam as funções alimentares, higiénicas e o regadio. As crianças rurais enfatizam as funções alimentares.

A maior diferenciação situa-se na literacia ambiental cultural: as chanças urbanas atribuem à água o valor "fonte de vida" e apelam para o não desperdício e para a sua repartição ; as crianças rurais colocam o enfoque em valores religiosos (baptizar), fonte de via, valores estéticos (beleza da terra), apelando e também, para o não desperdício de água e para a sua repartição.

Na literacia ambiental crítica foram enfocadas como prioridades das crianças urbanas e rurais a educação e informação. Estes valores são mais enumerados

pelas crianças urbanas. Os dois grupos de crianças apontam ainda para o não

Outline

Documentos relacionados