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4. Análises das Narrativas

4.2 Chico

A gravação da entrevista narrativa com professor Chico iniciou após a introdução do tema da pesquisa, diferentemente do que ocorreu com a entrevista com Olga. De qualquer forma, as informações ditas aos professores, conforme exposto no capítulo metodológico, são equivalentes. Chico inicia sua narrativa expondo que, no início da ditadura militar, ele estava finalizando seus estudos e que, logo em seguida, entre 1966 e 1967, começou a dar aulas em uma escola municipal. O excerto abaixo ilustra o início de sua narrativa:

Chico 2 Muito bem/ começamos por onde? hh do início/ bem na verdade o início já é

3 parte da minha vida que é/ esse período ditatorial

7 [...] como estudante a gente tem maior envolvimento com

8 as coisas/ política/ até porque você tem mais liberdade para agir e falar/ menos

9 represamento/ vamos dizer assim né/ bom então eu tive já de imediato um problema/

10 eu fui impedido de seguir na minha atividade política né/ fui denunciado por

11 professores como subversivo/ nem isso eu era na verdade/ mas eles entendiam assim/

12 então eu já comecei com o pé esquerdo/ é uma metáfora que pode não ser metáfora

No início da sequência acima, professor Chico direciona-se faticamente ao pesquisador, ao questionar por onde começar a narrar. Ele ri, logo em seguida, demonstrando familiaridade com a história a ser contada. Nas linhas 2 e 3, o professor constitui o início de sua história, como já sendo parte de sua vida, evidenciando o caráter construtivo e performático da narrativa. O docente, ao narrar sobre ser estudante, predica esse período como tendo mais “liberdade” para “agir e falar”, pois teria menos “represamento”. Essa predicação pressupõe a ideia de não

ser estudante, o que nesse contexto é ser professor de determinada instituição, onde há regras e não se pode quebrá-las. Conforme ele conta, foi “impedido de seguir” o trabalho político, porque foi denunciado por outros professores, pois era considerado “subversivo”. Assim, Chico posiciona-se, inicialmente, de forma desprivilegiada.

Na linha 11, o entrevistado diz que “nem isso eu era na verdade/ mas eles entendiam assim”. Chico coloca a predicação “subversivo” como uma forma de compreensão social sobre ele. Tal ideia pressupõe um julgamento e pela discordância do entrevistado, evidencia-se um conflito de ideias entre ele e os personagens da interação “eles”. Esse é um aspecto importante da narrativa de Chico, pois a predicação “subversivo” passa a ter características de um índice avaliativo, por ser construído como uma expressão usada por um grupo para identificar algumas pessoas. Nesse sentido, quando ele narra “fui denunciado por professores como subversivo”, há a mobilização de uma ordem de indexicalidade de preconceito com o comunismo. Assim, em sua performance, essa ordenação aponta para julgamento sofrido e até exclusão, como vê-se mais adiante.

Sendo essa sequência as primeiras linhas da entrevista de Chico, considerando suas colocações em relação às que são narradas posteriormente (como o fato de ser denunciado, os conflitos de ideias com outros professores e o entendimento dele como “subversivo”), ressalta-se as ideias de Mishler (2002) sobre o narrador possuir um conhecimento sobre o final da história que está sendo contada. Ainda em relação a essas considerações, no final do excerto, o professor narra que começou com o “pé esquerdo”, e que isso seria “metáfora que pode não ser metáfora” (linha 12). Nota-se que Chico relaciona a história a ser contada com a ideia de algo desfavorável e desventurado dando, assim, indícios de como será o restante do evento narrativo. Observa-se ainda que a “ideia de esquerdo”, como ele coloca, não significa, necessariamente, uma metáfora, pois está vinculada à ideia de subversivo, como ele contou na linha 11. Dessa forma, o entrevistado está construindo uma coerência para a sua performance narrativa (LINDE, 1993). Então, ainda segundo Mishler (2002), Chico reconstrói os eventos narrados e os performa em uma ordem hierarquicamente significativa.

O entrevistado continua contando sua história e explica que, no início da carreira, trabalhava sob contrato municipal, pois ainda era estudante e não poderia prestar concurso. Logo em seguida, ele conta sobre outro problema enfrentado quando passou em um concurso docente para o Estado. Segundo ele, o problema foi fruto de sua relação “desarmônica” com o regime ditatorial, assim, ele posiciona- se de modo contrário ao regime. Nota-se, na linha 12, que a colocação “então eu já comecei com o pé esquerdo/ é uma metáfora que pode não ser metáfora” serve como um gancho para contar os eventos seguintes. O excerto que ilustra esse evento está abaixo:

Chico 20 começaram alguns problemas vamos dizer assim consequências né dessa relação

21 desarmônica que eu tinha com o sistema então imposto no país o sistema ditatorial

[...]

26 eu fui impedido de ser professor do Estado

27 tendo sido o primeiro colocado numa seleção feita na época/ primeiro colocado/ mas a

28 delegada de educação da época me disse que eu era assim como eu era o primeiro

29 colocado da seleção eu também era o primeiro de uma lista de/ abre aspas "subversivos" fechar aspas/ do

30 presidente da Arena em [cidade] ela disse que eu não podia ter contrato com o estado

31 era proibido e mesmo no [colégio] eu já estava dando aula que é um colégio público

32 eu tinha uma série de restrições por exemplo não podia participar de coordenações

Na primeira linha do excerto, Chico conta que foi proibido de assumir o cargo de docente, mesmo tendo sido o primeiro colocado no concurso. Ele enfatiza essa predicação com a repetição de “primeiro lugar” (linha 27), atribuindo importância ao

fato narrado. Por meio dos verbos metapragmáticos “impedido” e “tive”, em relação às restrições recebidas no trabalho, ele indexa a repressão por parte dos outros personagens, já que ele é reprimido pela delgada de ensino, devido a um documento do presidente da Arena, partido que representava os militares. Ele reitera esse evento, contando que, na escola municipal, teve “restrições”, repetindo seu posicionamento desprivilegiado.

Considerando os fatos narrados, compreende-se que, na performance narrativa de Chico, seu mérito e seus conhecimentos não foram considerados, naquele momento, devido à identidade subversiva atribuída a ele. Desse modo, ele reitera o posicionamento que contrapõe a liberdade que teria como estudante e se coloca, novamente, de forma desprivilegiada, conforme narrado no início da entrevista. Nesse sentido, pela contextualização do início da sua entrevista narrativa, ressalta-se que suas colocações seguem em torno da ordem de indexicalidade de discriminação e intolerância contra o comunismo, conforme evidenciado.

O professor segue narrando sobre suas práticas de ensino durante o período do regime militar. O entrevistado conta então sobre um projeto com filmes de super 8 criado por ele, o qual envolvia outros professores e vários alunos de uma escola. Ele expõe que, ao promoverem um evento para exibição dos filmes produzidos pelos alunos, o secretário de educação proibiu o acontecimento. Conforme lê-se no excerto abaixo, o docente reconstrói algumas de suas memórias, que evidenciam sua relação como docente com o sistema na época:

Chico 49 [...] uma série de pessoas que estavam fazendo

50 avaliação dos filmes/ que eram quase todos considerados pelo secretário de educação

51 da época como subversivos/ ele cancelou a apresentação e isso criou uma enorme confusão na cidade

52 porque/ pra azar desse secretario/ um dos alunos que fazia parte da equipe

53 que avaliava o filme/ filha do prefeito/ tinha a filha do comandante 54 da Brigada e do Comandante do então na época nono regimento de infantaria

55 e eram alunos meus/ trabalhavam juntos e sabia que não tinha nada de subversivo

56 nós fomos fazer um trabalho educacional/ mas que na época da ditadura a educação tinha que ser

57 uma coisa/ assim como um adestramento/ não existe educação no sentido de

58 construção de competências isso não existia e se existisse essa ideia/ essa aí não é

59 tão nova assim/ mas era considerada como uma atitude subversiva principalmente de

60 esquerda/ que matava pessoas comia criancinhas todos aqueles cartórios criados no

61 tempo da ditadura/ Mas aí nós conseguimos então através da interferência dessas

62 pessoas curiosamente e paradoxalmente o comandante da Brigada Exército e o

63 prefeito todos ligados ao sistema vigente da época e isso foi no início da década de

64 '70 e conseguimos levar adiante

Nessa sequência, professor Chico conta que havia um grupo de professores participando do trabalho com os filmes e “a maioria dessas pessoas” foi predicada como sendo consideradas “subversivas”. Conforme evidenciou-se nas análises da narrativa de Olga, o trabalho em grupo e interdisciplinar, como esse, não eram bem vistos pelo regime militar, pois indicava a formação de subgrupos. De acordo com Teles (1979), em um livro de educação moral e cívica, os subgrupos eram “prolixos” e deveriam ser denunciados. O docente conta que só foi possível continuar com as atividades devido ao apoio de militares e políticos, o que ele predicou como “curioso” e “paradoxal”, já que seriam atitudes muito incomuns.

De fato, ele explica que isso ocorreu pela influência da presença das filhas desses personagens, que eram suas alunas, atribuindo a elas um posicionamento positivo e não aos militares (linhas 52 e 53). Ele predica essas alunas como filhas de prefeito e de dois comandantes, o que atribui poder a ele contra o delegado de

ensino. Como ele diz, na linha 52, o delegado teve “azar”, o que indexa um posicionamento de sobreposição ao personagem. De certa forma, parece um reconfronto, depois de ter recebido proibições por parte da delegada de ensino anterior. Ademais, o entrevistado posiciona o prefeito e os demais personagens desse evento como sendo “ligados ao sistema vigente”, marcando oposição ao seu posicionamento.

Outro aspecto relevante a ser destacado é a educação que, nessa sequência, é tomada de duas formas. Chico constitui a educação para o regime militar como “um adestramento”, conferindo a ideia de obediência e de subordinação para professores e alunos (linha 57). Com essa ideia radical de ensino e o de poder de repressão incialmente narrados, o entrevistado contextualiza a relação entre a docência, a educação e o regime militar. Esse aspecto da educação, como constituído por Chico, foi abordada no capítulo inicial, que disserta acerca da profissão docente na ditadura. Então, a partir da experiência narrada, entende-se que, no sistema educacional ditatorial, havia um controle sobre o que seria aprendido e a forma como esse aprendizado se dava.

Essa colocação envolve uma ordem de indexicalidade sobre a educação e o sistema vigente. Ao expressar que “a educação tinha que ser [...] um adestramento” (linhas 55 e 56), Chico evoca a ideia à questão de controle sobre a profissão e, principalmente, sobre os alunos. Pode-se dizer ainda que o indexical avaliativo “adestramento” indexa significados como o de doutrinamento, de domesticação e de subjugação, pois esse é, comumente, utilizado em relação a animais e não a estudantes. O docente ainda narra a respeito da educação, de modo contrário ao que colocou sobre a ditadura, entextualizando a expressão “construção de competências”, a qual foi constituída como não sendo aceita na ditadura. Conforme ele conta, essa não seria uma ideia recente, mas que, para a contextualização ditatorial, era considerada subversiva (linhas 58 e 59). Dessa forma, o professor constitui, em sua performance, o modo como deveria ser a educação para o regime ditatorial.

Observa-se que essa colocação faz um movimento entre o evento narrado e o narrativo, estendendo a ideia de educação predicada pelo narrador ao entrevistador, professor em formação. Compreende-se que tal atitude considera os entendimentos do entrevistador dando, assim, credibilidade à história contada, o que posiciona o

interlocutor de forma participativa da construção narrativa. Ainda nessa sequência de linhas, o professor alinha a ideia de ser considerado subversivo, em relação à prática docente, com a de ter um posicionamento de esquerda “que matava pessoas comia criancinhas todos aqueles cartórios criados no tempo da ditadura” (linhas 60 e 61).

Essa entextualização, que remete a discursos da época, coloca as ideias de “comer criancinhas” e “matava gente” ligadas a ser de esquerda, isso no mesmo plano semântico. Assim, a performance narrativa constitui sentidos, a partir da ordem de indexicalidade de discriminação e intolerância em relação ao comunismo, sobre a sua vida docente. Pode-se dizer ainda que essa colocação indexa uma dicotomia radical em relação à ditadura, que é o fato de que todos aqueles considerados contrários ao regime vigente eram chamados de subversivos e, consequentemente, de esquerda, de comunista, de terrorista e etc.

Na sequência a seguir, o professor reitera as ideias narradas anteriormente, mas muda o referente e passa a direcionar a narrativa para as suas experiências de trabalho na universidade. Assim como no excerto anterior, Chico passa a utilizar o referente nós, referindo-se ao grupo de professores que trabalhava com ele e que também era considerado subversivo. No entanto, nesse excerto, o professor posiciona esse grupo como “ficaram sendo quase fundadores da [universidade]” (linha 72). Nota-se o uso do modalizador epistêmico “quase” que insere esse momento da narrativa em um contexto de possibilidades, pois a ideia de fundadores não deve ser levada ao sentido literal de fundar ou construir, mas de possibilitar criações de cursos, como ele narra em seguida.

Ainda assim, a predicação “fundadores da [universidade]” indexa um grau de importância e de grande capacidade intelectual sobre o grupo a que ele pertencia. Nesse sentido, com base na modalização epistêmica, o narrador reivindica um valor de verdade sobre seu posicionamento de oposição expresso pelo indexical avaliativo “subversivos”, como eram considerados pelo governo militar. Dessa forma, o narrador performa um posicionamento para ele e para os outros professores como sendo contrários à ideia de subversivos, entretanto, mantendo-os em posição contrária ao sistema educacional do regime militar também, como pode-se ler a seguir:

Chico 66 enfim uma série de pessoas comuns como pessoas avançadas na época em termos

67 de pensamento né mas avançadas em mais em termos de subversão o que é

68 comprometida imagina só o desequilíbrio do sistema bom em razão disso a gente

69 teve então uma série de ações bloqueadas/ quer dizer o trabalho educacional feito

70 naquela época por mim e por uma série de outras pessoas/ professores que ficaram

71 sendo quase fundadores da [Universidade] esse pessoal todo era 72 considerado subversivo

Ainda sobre o grupo de professores, na sequência acima, Chico os predica como pessoas “avançadas” para aquele período. Nota-se que tal comentário faz parte do evento narrativo, pois é um comentário dele em relação ao passado. Essa predicação posiciona não apenas os professores mencionados, mas o sistema educacional da época, que seria ultrapassado. Ele ainda faz uma piada, dizendo que as pessoas seriam avançadas até mesmo “em termos de subversão” (linhas 66 e 67). Nesse ponto, ele ressignifica a ideia de subversão, o que reitera seu posicionamento, tanto contrário à ditadura como quanto às ideias relacionadas a ser subversivo destacadas anteriormente. Ao predicar os professores dessa maneira, o professor mobiliza uma ordem de indexicalidade sobre a docência no ensino superior constituída por pessoas “muito avançadas”. Os significados de “avançadas” e “fundadores” são, nesse momento da performance narrativa, a maneira como o docente constitui o grupo de professores, de certa forma, em oposição a serem considerados “subversivos”. Os termos destacados ainda apontam para questões de pertencimento, já que ele seria parte desse grupo, como lê-se nas linhas 71 e 72: “por mim e por uma série de outras pessoas/ professores que ficaram sendo quase fundadores”.

A partir desse momento da entrevista narrativa, o entrevistado passa a contar sobre suas experiências como professor em uma universidade, dando continuidade a nova contextualização sobre o trabalho docente iniciada nas linhas anteriores. Ele

inicia essa parte da sua história contando sobre seu papel na criação de um curso de graduação, para o qual lhe foi prometido uma vaga. Segundo o professor, essa vaga nunca lhe foi dada e ele se tornou professor universitário em outro curso, depois desse evento. Conforme lê-se na sequência a seguir:

Chico 80 [...] E eu nem era professor da universidade na época e o meu currículo foi

81 utilizado para criação do curso e eles inclusive me disseram: não assim que criar o

82 curso aqui/ vai ser professor do curso/ muito bem o curso foi criado e eu nunca fui

83 professor do curso/ quando me convidaram para dar aula na universidade aí eu tive

84 um outro problema e aí tinha que ter uma tal de certidão negativa da DOPS ao

85 departamento de operações políticas e sociais da ditadura e controlava as pessoas

86 se elas eram a favor ou contra a ditadura quem era a favor ou neutro tinha chance de

87 almejar cargos dessa natureza/ se não/ nem pensar/ e o reitor da universidade da época

88 [professor]/ que até tinha um grau de parentesco comigo me disse olha tudo bem

89 a situação está boa para ti/ perfeita/ mas sem este documento tu não consegue

Na sequência transcrita acima, professor Chico utiliza duas citações, para contar dois eventos distintos que ocorreram com ele. Nas linhas 80 e 81, o entrevistado enuncia que, antes de ser professor universitário, o seu currículo possibilitou a abertura de um curso. E, antes da citação, ele utiliza o termo “inclusive”, que enfatiza a informação que traz a citação. Citações são, geralmente, utilizadas para reconstruir um evento passado, o que pode demonstrar ser uma

“verdade”, pois seria uma repetição da fala daquele evento, o que transmite credibilidade ao interlocutor.

No entanto, ainda que a citação seja fiel ao fato ocorrido, ela está inserida em uma nova interação, cuja contextualização não trata da preparação de documentos para abertura de um curso superior como relatado, mas de uma entrevista narrativa, em que um professor universitário aposentado narra sua história de vida pessoal e profissional a um estudante em formação. Nessa interação, a citação, que não teve a fonte indicada, traz um posicionamento de irrelevância e exalta a importância que o professor atribui à sua trajetória como docente. Considerando os posicionamentos anteriores, Chico fortalece sua performance como docente, contando suas experiências educacionais, sendo contrário à ditadura e, principalmente, a ser considerado subversivo. Nota-se ainda que esse posicionamento está interligado, contextualmente, com a ordem de indexicalidade anterior sobre a docência no ensino superior constituída por pessoas “muito avançadas”.

Antes da segunda citação, o professor narra sobre a necessidade de um documento que indicasse sua posição política, para poder assumir o cargo de docente (linhas 83 a 87). Conforme já exposto, na ditadura militar, as universidades possuíam assessorias de segurança que vigiavam e controlavam a vida acadêmica de professores, de alunos e de funcionários. A segunda citação, nessa sequência, tem como fonte um ex-reitor da universidade, o qual é predicado, também, como tendo certo grau de parentesco com o narrador. A citação feita por Chico recontextualiza a narrativa, já que ele, que estava tendo trabalhos bloqueados, passa ter uma situação “boa [...]/ perfeita” (linha 89). Considerando a predicação atribuída ao personagem reitor, o acesso epistêmico de verdade à sua história se dá tanto pela referência desse personagem quanto pela contextualização da narrativa, legitimando o evento de entrada na universidade.

O professor entrevistado segue sua narrativa contando que conseguiu o documento necessário para nomeação e conseguiu trabalhar na universidade, onde atuou até a aposentadoria. Depois disso, ele retoma um evento que aconteceu enquanto ele era aluno, conforme lê-se a seguir:

Chico 105 [...] eu me lembro

106 quando teve um episódio lá bem no início do golpe/ logo que deram o golpe em

107 abril/ maio por aí/ as pessoas foram lá na Belas Artes para me levar no mural e um

108 professor me avisou e me avisou em nome da maçonaria/ a maçonaria

109 estava monitorando isso e a visão das pessoas e disse olha tu dá um jeito de sair porque

110 vai um caminhão do exército/ um caminhão eu ia ficar sobrando num caminhão né/ não

111 sei se tinha mais gente né hh e eu com certeza não estive lá/ depois terminei indo

112 mas essa coisa toda e proibido de uma série de ações lá no início em 64 coisa que

113 aconteceu lá e tive essas consequências todas né que eu tô colocando as maiores/

Professor Chico narra que, assim como os militares vigiavam os professores na universidade, a maçonaria também o fazia. Ele conta que foi avisado por um professor, em nome dessa organização, que os militares estavam indo buscá-lo. Ainda que esse aspecto curioso da narrativa não seja um dos objetivos de análise, cabe ressaltar tanto o trabalho realizado por essa organização, que ajudou a salvar