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Ciência, guerra e energia atômica

No documento O Desencantamento das Ciências (páginas 43-50)

Se mudarmos o tema sobre qual falam os cientistas, a mesma maleabilidade poderá ser observada. Vejamos por exemplo o que dizem sobre a Segunda Guerra, recém-terminada. A experiência da guerra estava demasiado próxima para ser descartada como argumento e sua rememoração era constante. Por exemplo, no primeiro número de Ciência e Cultura, na descrição da trajetória profissional de um cientista inglês, sublinha-se exatamente o momento em que ele atua como um contribuinte ímpar à vitória da Inglaterra contra “as poderosas e numerosas” armas alemãs. Assim Ciência e Cultura relembra o papel de um cientista na Segunda Guerra:

Qua ndo a guerra de 1939 sobreveio, Bla ckett voltou sua a tençã o pa ra os problem a s de na tureza milita r e na val, torna ndo -se um dos pioneiros da "pesquisa opera ciona l", a que a Ingla terra deve tã o gra nde pa rte de sua vitória contra a s po derosa s e numero sa s a rma s a lemã s. Este foi um perío do muito brilha nte da vid a de Bla ckett, no q ua l ele a pa rece nã o a pena s como cientista ma s ta mb ém como orga niza dor de notá veis qua lida des e revoluciona dor d a s tá tica s milita res, na s qua is intro duziu a precisã o do método científico.41

A exaltação do método científico como um elemento decisivo num desequilíbrio de forças que teria levado ao fim da Segunda Grande Guerra, serve ao mesmo tempo como um elogio do gênio – o recurso nem sempre negligenciado do apelo às capacidades do cientista – e reforço da oposição entre a força e o método científico, uma retomada do argumento senão da superioridade, da anterioridade da ciência em relação à técnica. A guerra, então, não é objeto de recusa em bloco42, mas

41Ciência e Cultura : vol. I, n. 1-2, 1949, p. 47.

é seletivamente repartida entre elementos censuráveis e louváveis. O tom geral da apreciação do papel desempenhado pela ciência é de elogio à maneira pela qual ela modifica a pro dutividade das armas e táticas de guerra. Isso é tanto mais surpreendente quando se recorda que ao final da Segunda Guerra não poderiam ser desconsiderados nem um mal-estar generalizado quanto ao fim do conflito nem uma mais aguda incerteza sobre o futuro (como é óbvio, nunca se tem uma certeza sobre o futuro, porém a incerteza natural foi agravada pelo temor e apreensão que se acumulavam com a lenta revelação dos horrores daquela guerra e com o também paulatino acirramento do conflito ideológico entre os Estados Unidos e a União Soviética bem como a lembrança da explosão do armamento atômico). Mas, na avaliação dos cientistas,

foi sem dúvida o choque que trouxe a o nosso mundo o progresso científico a lca nça do dura nte a última guerra que a lertou a todos qua ntos vivemos neste mundo dependentes do progresso científico43

Um posicionamento seletivo no momento em que se avaliam os progressos que a guerra pode trazer ao desenvolvimento das ciências deu o tom das menções à guerra e seus efeitos nos variados artigos publicados na revista. A necessidade da formação de cientistas como maneira de aparelhar o desenvolvimento nacional é relembrada, relacionando-a ao esforço de guerra para produzir mais conhecimento científico:

em breve esta remo s sem homens pa ra a s ta refa s científicas que devemos empreender. Só uma a celera çã o de forma çã o científica , ta l como se processou nos Esta do s Unidos no período de mobilizaçã o da guerra pa ssa da poderá soluciona r em pa rte o problema44

.

Contudo, há uma importante exceção a este discurso pragmático sobre a guerra. Ao meio da década de 1950, um grupo de cientistas fez publicar um manifesto contrário à guerra e que avaliava de modo negativo o papel desempenhado pela ciência e pelos cientistas no curso do último conflito mundial. Especificamente, a explosão das bombas atômicas e o modo, digamos, cooperativo que um

poderíamos relembrar a posição de dois renomados intelectuais franceses – cada um deles crítico à sua maneira do caminho trilhado pelo desenvolvimento das técnicas – com relação a esse mesmo papel. Michel Serres e Paul Virilio entendem que a guerra foi um fator decisivo para a posição crítica que ambos têm a respeito das tecnociências contemporâneas. A posição contrária, o elogio total às técnicas foi assumida pelos chamados futuristas italianos ou por intelectuais como Ernst Jünger que, apesar de recusar um alinhamento político imediato com os nacional-socialistas, construiu um discurso de enaltecimento ao poder renovador das técnicas modernas. De modo geral, essa avaliação das “aplicações da tecnologia” encontra somente defensores das posições diametrais de total recusa ou total aceitação. É também interessante assinalar que, ao contrário do que fazem os cientistas da SBPC, essa recusa ou essa aceitação nunca é justificada pela ciência em si mesma, mas em estrita conexão com fatores de ordem sociopolítica.

43Ciência e Cultura : vol. IV, n. 3-4, 1952, p. 82.

empreendimento dessa amplitude demanda4 5 (o mesmo esforço mencionado acima como modelo de

ação necessária do Estado brasileiro), colocou aos cientistas a problemática do uso de suas pesquisas. Ciência e Cultura fez publicar uma versão traduzida do texto, em um número especialmente dedicado ao debate do tema. Esse número da revista de certo modo destoa de todos os outros exatamente porque não é dedicado à demonstração do valor da ciência, mas sim à uma reflexão sobre seus rumos. Ciência e Cultura volta-se então para a

a huma nid a de dia nte de um pro blema que tem preocupa do todos os homens conscientes d e sua s responsa bilida des, especia lmente os homens de ciência : o do destino da ra ça huma na e do mundo em gera l em ca so de um conflito em que venha m a ser utilizada s a rma s a tômica s, visto que a experiência dos últimos a nos mostrou que a s conseqüência s terríveis de um bom ba rdeio a tômico se espa lha m por regiões muito dista ntes do loca l bomba rdea d o.46

Por que considerar esse posicionamento como uma exceção? Certamente não por uma razão estatística ou numérica, uma razão formal, e ainda que a reflexão sobre os rumos da ciência não fosse exatamente freqüente em Ciência e Cultura. No entendimento dos cientistas brasileiros, ainda que demonstrassem alguma necessidade de homogeneidade de opinião com os seus pares internacionais, o caráter incipiente das condições de produção de conhecimento no Brasil exigia mais esforços por sua ampliação do que pausas para reflexão. A justificação da necessidade de desenvolvimento dessas condições impunha-se por seu papel decisivo no desenvolvimento nacional. É importante deixar claro que a prevalência aqui não é a da necessidade do desenvolvimento nacional. Da mesma maneira que os cientistas diziam não hierarquizar ciência e técnica, mas “apenas” ordená-las no tempo ( “não há e nunca haverá oposição entre a ciência e a tecnologia. Esta depende essencialmente daquela… Primeiro vem a ciência, a técnica vem depois”47), é o desenvolvimento nacional que serve como

argumento, que é instrumentalizado pela retórica dos cientistas. Como, para eles, a ciência constitui um valor em si mesma, as condições para seu desenvolvimento não podem ser outra coisa que não suportes de seu crescimento.

Nesse ambiente é que é elaborado o posicionamento frente às dúvidas que a guerra gerou. Ignorar as conseqüências da guerra não seria possível; ignorar o manifesto dos cientistas estrangeiros poderia até ser possível, mas não era taticamente aconselhável (e nem mesmo os cientistas e

45 Aqui o modelo seria certamente o do Projeto Ma nha tta n, no qual um enorme grupo de técnicos e

cientistas, trabalhando de forma descentralizada, e coordenado por militares americanos, “cooperou” para a construção da primeira bomba atômica.

46Ciência e Cultura : vol. VIII, n. 2, 1956, p. 81.

responsáveis pela publicação deCiência e Cultura puseram-se dúvidas nestes mesmos termos). Ecoar o sistema mundial de produção científica que, também ele, estava em processo de amadurecimento, era uma maneira de demonstrar sintonia e unicidade com os cientistas de todo o mundo. A promoção de associações do tipo da SBPC contou sempre com o apoio de organismos internacionais como a UNESCO, e o espírito do internacionalismo em ciência, uma espécie de comunidade48 de cientistas

atuando dispersos pelo mundo mas cooperando entre si, trocando informações e descobertas, compartilhando problemas e soluções, governava parte da construção da imagem e da auto-imagem que os cientistas tinham de si próprios, como pode ser percebido, por exemplo, na argumentação a seguir:

desta visã o dos recentes desenvolvimentos na orga nizaçã o dos conhecimentos científicos, torna -se cla ro que a biblioteca tra diciona l, o a rma zém ou o m a uso léu de livros deve ceder luga r a o d inâ mico centro de documenta çã o , com diferentes perspectiva s e emprega ndo a uxílios técnicos. A a lterna tiva é a esta gna çã o biza ntina e, com o tempo, a idiotiza çã o d a pesquisa científica . Na tura lmente, a média dos cientista s prefere fica r em pa z com seus la bora tórios e d esconfia de ta is a djutórios como a pa relhos de leitura de microfilmes e ficha s perfura da s. Nã o obsta nte, coletiva mente, os cientista s de uma na çã o têm uma séria responsa bilida de. Eles devem torna r os resulta dos de seus tra ba lhos disponíveis pela publica çã o, documenta d os de uma forma orga niza d a com resumos e índices cumula tivos regula res. É dever dos cientista s a ssegura r que tôd a a produçã o científica interna ciona l esteja tota lmente dispo nível em seu próprio pa ís49

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Por isso, a combinação da sintonia com a comunidade científica internacional com a sustentação do valor da ciência nos mesmos termos discursivos nos quais vinha sendo enunciada, deu uma estrutura interessante ao número de Ciência e Cultura que trata das questões relacionadas ao manifesto dos cientistas contra a utilização da energia atômica com finalidades militares. Ele é ao mesmo tempo uma reflexão sobre os rumos que tomou a pesquisa em energia atômica, uma descrição

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É de notar a consolidação da expressão “comunidade científica” como descritora do conjunto dos cientistas. A persistência dessa denominação talvez devesse ser objeto de reflexão, dado que o conjunto de cientistas no mundo hoje se diversificou a tal maneira – quaisquer que sejam os pontos a considerar: onde e para quem trabalham; se e como cooperam entre si; como e onde são formados etc. – que seria impossível mantê-los designados como “comunidade”. Efetivamente o termo “comunidade” designa um conjunto de pessoas que obedece à forma de organização preconizada e acreditada pelos cientistas que escrevem emCiência e Cultura . Essa forma é claramente oposta ao termo “sociedade”, que designa uma

cooperação entre interesses divergentes que deveria resultar no bem comum. No entanto, os cientistas somente correspondem à imagem da comunidade em um plano imaginário, coerente com a descrição da ciência como tendo um núcleo duro a-histórico do qual derivaria a atividade científica.

do evento em Genebra, uma explicitação do que seria a “pesquisa de verdade” e a afirmação da importância do desenvolvimento da pesquisa científica no Brasil.

Essencialmente, o objetivo da Conferência em Genebra era fazer desvencilhar-se a pesquisa em energia atômica dos objetivos e aplicações militares. Segundo o editorial deCiência e Cultura , a Conferência teve um “caráter fundamentalmente técnico”, onde

homens de ciência da ma ioria d os pa íses do mund o ( ) tivera m a oportunida de de discutir livremente qua se todos os a specto s funda menta is da ciência e tecnologia nuclea res50.

Em seguida ao Editorial, a revista publica versão traduzida do “Apelo dos homens de ciência contra a guerra” e mais cinco artigos sobre o tema, dois deles de pesquisadores brasileiros. Neles, são avaliados temas pertinentes ao uso da energia nuclear, sejam eles técnicos ou políticos. Quais poderiam ser os objetivos da revista nesse caso? Primeiro, mostrar-se sintonizada com os cientistas internacionais, ecoando os argumentos reunidos em defesa da pesquisa em energia atômica. E quais são eles? Resumidamente, a defesa da pesquisa começa pela descrição da necessidade crescente de energia pelas sociedades modernas e industrializadas, depois pelo caráter finito e não-renovável dos combustíveis fósseis e finalmente nomear a energia atômica como a alternativa viável para a substituição destes mesmos combustíveis; o entrave permanecia sendo, ainda na posição manifestada pelos cientistas, o recente uso militar da pesquisa e da tecnologia em energia nuclear.

Essa estrutura de argumentos é reproduzida nos artigos apresentados emCiência e Cultura, tanto aqueles dos autores estrangeiros como os dos autores nacionais. Mas, um segundo conjunto de objetivos é posto em jogo na apresentação dos artigos dos pesquisadores brasileiros. De fato, se não se tivesse algo a acrescentar aos resultados e debates da Conferência em Genebra, os artigos de pesquisadores brasileiros mostrar-se-iam meros repetidores das conclusões e objetivos daquele fórum. O professor José Leite Lopes então discorrerá sobre a “Necessidade da Energia Atômica para o Brasil”, enquanto o artigo subseqüente versará sobre o “Papel do Tório no Aproveitamento Industrial da Energia Atômica”, repetindo assim a estrutura do encontro internacional: uma abordagem técnica de aspectos relacionados à utilização da energia atômica acompanhada de reflexões sobre a pertinência da continuidade da pesquisa.

No artigo do professor Leite Lopes também reproduz a estrutura que descrevemos acima: o esgotamento das fontes de energia tradicionais e a alternativa viável representada pela energia atômica. Porém, um outro conjunto de argumentos é acrescentado, cujo objetivo era demonstrar que a

necessidade da energia atômica era válida também para o Brasil. E que, por isso, também aqui a pesquisa nessa área deveria ser privilegiada. Ele adiciona novos argumentos àqueles já enumerados nos artigos internacionais, com a intenção de reposicionar o debate sobre o uso da energia atômica segundo o contexto brasileiro. Depois de discorrer sobre a premência de serem encontradas as novas fontes de energia, o professor afirma que

nã o se tra ta de interesse pessoa l dos físicos nuclea res, de equipa r seus la bora tórios pa ra a rea liza çã o de tra ba lhos a lta mente desenvolvidos. É uma necessida de pa ra a própria industria liza çã o d a s riqueza s na cio na is e a ssum e pa rticula r significa çã o pa ra um pa ís rico em ma térias-prima s a tômica s, em tório, que está contido na s a reia s mona zítica s, em urâ nio, em zircônio , em berílio51.

Misturam-se nesse artigo crenças sobre a história e a política que ajudam a estabelecer o que deveria vir a ser um papel progressista para os cientistas. Primeiro, os cientistas, na busca da depuração da pesquisa dos indesejados interesses militares, esquecem que a guerra não foi um empreendimento unicamente militar. O uso das bombas atômicas só num momento imediato poderia ser considerado uma decisão de tática militar. O confronto entre os Estados-nação envolvidos na guerra e a demarcação de fronteiras de poder político-militares explicitaram rápida e eficientemente o equívoco que é o isolamento da explosão dos artefatos nucleares em objetivos somente militares. Esse esquecimento é fundamental aqui, porquanto os cientistas da SBPC querem realocar a importância da pesquisa nuclear nos termos do interesse nacional, da mesma maneira que militares e grupos de cientistas nos Estados Unidos colocaram a necessidade da explosão da bomba atômica em termos do estabelecimento da hegemonia político-ideológica pela exposição de suas capacidades militares (REHG; 2003).

Segundo, ignorando ou subestimando estas mesmas injunções de caráter político, os cientistas sustentam que a Conferência de Genebra, da maneira em que foi organizada, como um colóquio no qual vigorou a “livre troca de informações”, permitiria dizer que

nã o há ma is segredo s neste ra mo da tecno lo gia nuclea r, embo ra pa ssem a surgir a gora , os interesses e as competições da s orga niza ções industria is -

Um pa ís que disponha de técnicos em númer o su ficiente - d e físicos nuclea res, de químicos, de metalurgistas, de engenheiros eletrônicos e tecnologistas - e de min er a is de ur â nio ou de tório, poder á inicia r e desenvolver u m substan cial programa atômico, com base nas infor mações contidas nas publicações desta Conferência (grifo da revista)52

51Ciência e Cultura : vol. VIII, n. 2, 1956, p. 106.

Em termos simples, isolada a possibilidade de exploração militar, e dispondo de matéria-prima, um país precisaria apenas de formar mão-de-obra científica para lançar-se ao empreendimento da pesquisa em ciência e tecnologia nucleares. A centralidade da ciência é posta nos termos da trajetória do desenvolvimento dos “países mais avançados”, que estão em

uma eta pa em que o exercício da ciência é indispensá vel a o desenvolvimento econômico, e por outro la do começa m os dema is povos a compreender que este desenvolvimento é indispensá vel à verda deira independência e a o flo rescimento da cultura53

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Na história do desenvolvimento dos Estados-nação, a estabilidade política e as reformas sociais foram condições iniciais que se precisou garantir ou efetivar e que permitiram depois o desenvolvimento material. Os esforços de guerra da primeira metade do século XX, que impeliram as sociedades ocidentais à necessidade de transformar e acelerar a produção do conhecimento técnico-científico somente aconteceram quando um primeiro desenho político dos Estados-nação já vigorava – em outras palavras, a guerra técnico-científica assim se tornou por que as condições do progresso material resultantes dos processos assemelhados à revolução industrial já estavam disseminadas em parte significativa da Europa.

No caso do discurso dos cientistas brasileiros, que abordamos a partir do texto de Leite Lopes, o desenvolvimento material torna-se parte justificadora de seu discurso político em favor da ciência. Desenvolver-se é retrilhar a história dos países desenvolvidos, refazer seu caminho sem necessariamente imitá-lo. Ao mesmo tempo, articulam a igualdade progresso da ciência = progresso da nação, fazendo da ciência condição necessária ao desenvolvimento da nação. Veja-se bem: na própria estrutura da natureza do conhecimento que defendem os cientistas há, como já dissemos, a afirmação da anterioridade e da primazia da ciência sobre a técnica. Isso sublinha o fato de que retrilhar caminho dos países desenvolvidos não significarepetir seus passos. À frente do caminho para o desenvolvimento deverá estar agora o cientista e o conhecimento técnico deverá ter sido para sempre relegado a conhecimento de segunda ordem. Nesse aspecto reside a singularidade do discurso da SBPC porque ele é construído de maneira a tornar legitimamente polissêmico o significado da atuação e o espectro de ação dos cientistas, tentando atribuir-lhes vários papéis sociais. Essa legitimação da polissemia é tanto mais surpreendente porque pretende autorizar a convivência não apenas de sentidos diferentes para o que seria ciência, mas autorizar também sentidos que em algum momento poderiam estar em contradição.

O artigo termina com uma avaliação das características de nossa “tradição intelectual”:

esta mo s, no Bra sil, na fa se inicia l da industria liza çã o da s nossas riqueza s, que eclodiu na última déca d a com a insta la çã o da s b a ses da indústria pesa d a . Pela s hera nça s que recebemos na nossa forma çã o , construímos uma tra diçã o intelectua l inclina da pa ra a litera tura e os estudos jurídicos, sem curiosida de experimenta l e a lheia à menta lida de científica . ( ) O grosso de nossos intelectua is é constituído de roma ncista s e poeta s. Os nossos técnicos se resumem essencia lmente nos clá ssicos médicos e engenheiros civis, necessá rios mesm o em socieda des de estrutura primitiva54

Culpando nossa herança ibérica, que não tinha tradição intelectual voltada ao desenvolvimento da pesquisa experimental, o artigo clama pela formação de “cientistas e técnicos” capazes ao mesmo tempo de impulsionar e manter o desenvolvimento industrial e de perceber que estamos numa era nova, que carece de uma nova “mentalidade”. Como fazer isso? Com uma

urgente modifica ção da estrutura da s nossa s universid a des, a fim de que possa m a dquirir uma menta lida de a d a pta da a o Século XX e forma r cida dã os conhecedores dos nossos problema s e ca pa zes de orienta r com segura nça a independência , os destinos do pa ís55

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O que nos leva à voltar nossa atenção para a relação da SBPC com o ensino no Brasil.

No documento O Desencantamento das Ciências (páginas 43-50)