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3.3 Organizações Virtuais

3.3.1 Ciclo de vida das organizações virtuais

As interpretações de como o ciclo de vida de uma OV se desenvolve também são variadas. Tröger e de Oliveira (1998) fazem uma comparação de quatro autores (Fuchs, 1997; Zimmermman, 1997; Bremer et al., 1997; Merkle, 1997), onde o ciclo de vida de uma OV está dividido em oito passos. Entretanto, este modelo possui algumas tarefas cuja execução pode ser de responsabilidade dos ACVs. As fases desse ciclo são:

1. Verificação da melhor estratégia a ser adotada pela organização, que pode ser caracterizada como uma auto-análise da empresa para levantar seus pontos a favor e contra a participação de uma empresa virtual.

2. Identificação da oportunidade de formação de uma organização virtual apresentada pelo mer- cado no qual as organizações que desejam cooperar estejam inseridas.

3. Procura dos parceiros e gestores que mais se adequam à formação da organização virtual que a companhia está disposta a aderir.

4. Negociação entre os potenciais parceiros.

5. Comprometimento e definição dos padrões, objetivos da infra-estrutura e metas que irão com- por a OV.

6. Implementação da OV.

7. Execução do trabalho.

8. Rearranjo (relançamento) ou término da OV.

O modelo para o ciclo de vida de uma EV, e que pode ser usado para o caso das OVs, apresentado por Spinosa et al. (1998), Camarinha-Matos e Afsarmanesh (1999c) e Camarinha-Matos et al. (2000b) traz uma visão mais resumida se comparado ao modelo anterior. Este modelo inclui quatro estágios: criação, operação, evolução e dissolução, como pode ser observado na figura 3.5. Este modelo está fortemente atrelado ao uso de TICs para dar suporte às suas operações.

Criação da OV Operação da OV Evolução da OV Dissolução da OV

Figura 3.5: Ciclos de vida de uma EV. Fonte: Camarinha-Matos e Afsarmanesh (1999c).

• Criação: Esta é a fase onde uma OV é criada e configurada. No modelo proposto por (Camarinha- Matos e Afsarmanesh, 1999c) as suas principais características são:

– Configuração dos Recursos de Infraestrutura: nesta etapa são identificados e instala- dos os recursos computacionais que serão utilizados pela organização, ou seja, a instala- ção da plataforma computacional da OV e sua integração e configuração com os possíveis sistemas legados, tais como o sistema operacional, sistema de gerenciamento de base de dados, conexão com Internet, entre outros.

– Manifestação: uma vez tendo instalado a plataforma da OV, as organizações estarão prontas (tecnologicamente falando) para se envolverem em futuras OVs. Nesta etapa pode ser feito um cadastro em um catálogo público para armazenar informações gerais, tais como áreas/serviços de interesse e perfil geral.

– Seleção de Parceiros e Formação da OV: quando surge uma oportunidade de colabora- ção, os parceiros adequados são procurados, identificados e selecionados. Alguns acordos preliminares são firmados, e então a topologia8da OV e os papéis a serem desempenhados pelos parceiros são especificados.

– Negociação e Contrato: uma vez que a topologia da OV e os papéis dos seus parceiros foram definidos, os parceiros devem assinar contratos para definir os direitos e responsa- bilidades de cada um em relação à OV. Por exemplo, são definidos “planos de produção” para empresas e “cláusulas de supervisão” para definir direitos de acesso à informação, lançamento da OV, entre outros.

Similarmente ao modelo apresentado por Tröger e de Oliveira (1998), no modelo de Camarinha- Matos e Afsarmanesh (1999b) a fase de criação acaba sobrepondo algumas fases que podem ser de responsabilidade do ACV. Apesar de ainda não existir um ponto exato que delimita onde terminam as tarefas do ACV e onde começam as tarefas de uma OV, em um trabalho mais recente, e discutido na seção 3.2, Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2006b) enfatizam que as tarefas de caracterização de uma oportunidade de colaboração, planejamento prévio da OV e a busca e seleção de parceiros podem ser facilitadas quando existe um ACV. Eles argumentam que estas tarefas podem ser agi- lizadas quando executadas pelos integrantes de uma associação de longo prazo (ACV), sendo que estes integrantes estão preparados comportalmente e tecnologicamente para colaborar e irão respon- der prontamente a tal oportunidade.

• Operação: Nesta fase, os atores de uma OV executam as suas atividades visando alcançar os objetivos previamente estabelecidos. Muitas empresas como SAP, IBM, Microsoft, Cisco e Oracle, têm desenvolvido ferramentas de suporte para monitoração e controle visando dar su- porte à gestão organizacional (Mulder e Meijer, 2006). De acordo com Mulder e Meijer (2006), estas soluções estão baseadas em sistemas monolíticos e lentamente têm migrado de platafor- mas centralizadas para sistemas em rede. Todavia, essas abordagens ainda estão fechadas aos limites de uma única organização. Na fase de operação de OVs algumas funcionalidades se fazem necessárias, tais como (Camarinha-Matos e Afsarmanesh, 1999b; Tramontin Jr., 2004):

– Intercâmbio de Informações: inclui funcionalidades, tais como:

∗ Mecanismos para intercâmbio de informações: informações de negócios, informa- ções técnicas de produtos e serviços, informações de produtos, entre outros.

∗ Interoperabilidade entre padrões: um membro deve estar apto a interpretar e gerar mensagens em um padrão de comum acordo.

∗ Monitoramento de status: utilizado no processo de coordenação das OVs e para dar suporte à cooperação entre os diversos atores.

– Coordenação Avançada: necessária para que o coordenador de uma OV possa supervi- sionar o status geral de execução de toda OV e tomar as providências cabíveis no caso de algum problema em relação ao planejamento previamente descrito e acordado.

– Funcionalidades Relacionadas a Materiais e/ou Serviços: necessárias para representar e monitorar o fluxo de produtos e serviços através da rede da OV. São elas:

∗ Gerenciamento do fluxo de materiais e/ou serviços: identificação, representação e monitoramento dos fluxos de materiais e/ou serviços em uma OV.

∗ Logística: planejamento do transporte, inventário e armazenamento.

∗ Previsão: feita a partir de informações históricas transmitidas pelos pontos de venda.

Exemplos de esforços que vêm sendo desenvolvidos para suprir estas necessidades podem ser encontradas em Graser et al. (2005); Saiz et al. (2005); Karvonen et al. (2005); Pereira-Klen e Klen (2005); Mulder e Meijer (2006); Mathieu e Biennier (2006); Unal e Afsarmanesh (2006).

• Evolução: A evolução de uma OV ocorre quando há a necessidade de adicionar ou substituir um ator da OV, mudar o escalonamento de determinadas tarefas entre parceiros, ou mesmo modificar os seus direitos de acesso. A evolução pode ocorrer devido a algum evento não previsto, como por exemplo, uma incapacidade (mesmo que temporária) de um parceiro, ou a necessidade de aumentar a carga de trabalho. Para esta etapa são necessárias algumas das funcionalidades especificadas na fase de criação para que a OV possa ser reconfigurada.

• Dissolução: Quando uma OV termina suas atividades ocorre a sua dissolução. A dissolu- ção pode ocorrer em duas situações: quando os objetivos são alcançados com sucesso, ou por decisão dos parceiros de interromper a operação da OV (cancelamento da OV). Dentre as prin- cipais tarefas realizadas, destacam-se (Camarinha-Matos e Afsarmanesh, 1999b; Tramontin Jr., 2004):

– Definição das responsabilidades de cada parceiro depois da dissolução da OV.

– Redefinição/interrupção dos direitos de acesso à informação depois do fim do processo de colaboração.

– Avaliação do desempenho dos parceiros;

– Coleta de informações para serem usadas futuramente por outras OVs.

É importante deixar claro que uma OV não se dissolve quando um produto é entregue ao consumi- dor final, seja ele qual for. Conforme a legislação vigente e o tipo de produto, a OV deverá se manter formalmente conectada para prover serviços de pós-venda, como garantias, devolução, reciclagem, ou

mesmo questões legais como as diretivas da União Européia para resíduos de equipamento elétricos e eletrônicos9, ou seja, em alguns casos a logística reversa10é também de responsabilidade da OV.

O modelo de ciclo de vida apresentado por Camarinha-Matos e Afsarmanesh (1999b) foi esco- lhido como guia para esta tese, pois quando comparado com o modelo apresentado por Tröger e de Oliveira (1998) traz uma melhor distinção e clareza com relação às tarefas relacionadas a prepara- ção e execução de uma dada OV em relação ao ACV. Já a figura 3.6 ilustra o relacionamento entre ACV e as OVs. Como pode-se observar, as OVs são criadas a partir do ACV. A fase de criação da OV não pertence exclusivamente nem ao ACV e nem a OV. O que existe é um período onde as responsabilidades são compartilhadas entre o ACV e a OV.

Criação  do ACV Operação do ACV Metamorfose/ dissolução do ACV Tempo Criação da OV Operação e  Evolução da OV Dissolução da OV

Figura 3.6: Relacionamento entre um ACV e suas respectivas OVs. Fonte: Camarinha-Matos et al. (2005a).

As OVs também podem ser caracterizadas de acordo com a topologia pela qual elas estão estru- turadas. A topologia pode influenciar na divisão de tarefas, poderes, responsabilidades e obrigações.