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CIENTÍFICA EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

CIENTÍFICA EM UMA SOCIEDADE DE CLASSES

Meu partido É um coração partido E as ilusões Estão todas perdidas Os meus sonhos Foram todos vendidos Tão barato Que eu nem acredito Ah! eu nem acredito... Pois aquele garoto Que ia mudar o mundo Mudar o mundo Agora assiste a tudo Em cima do muro Em cima do muro... Meus heróis Morreram de overdose Meus inimigos Estão no poder Ideologia! Eu quero uma pra viver Ideologia! Eu quero uma pra viver...

Cazuza e Frejat14

Com relação ao conceito de ideologia, este sempre suscitou enorme polêmica na produção do conhecimento científico. De maneira geral, podemos identificar duas grandes modalidades de entendimento da ideologia na perspectiva marxista. Uma vai entendê-la como

“produção da ilusão”, “falsa consciência”, outra a concebe como “visão do mundo”. Na

primeira, a ideologia propicia a ilusão da autonomia do pensamento e sua subordinação aos interesses da classe dominante,justificando a dominação de classe ou escondendo-a. Ao

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62 conhecimento crítico caberia a desmistificação, uma espécie de ―verdade superior‖ que destrói a ideologia, podendo ser usada para as classes subalternas enquanto ―esclarecimento‖. Na segunda, a ideologia é posta como ―visão de mundo‖, a ideologia passa a ser vista como ―dimensão política‖ inscrita na práxis. Defende-se, aqui, a unidade entre pensamento e ação. A ideologia cumpre um papel legítimo e crítico. A ideologia é avaliada em sua positividade, como a imaterialidade que impulsiona a prática social(MORAES, 2005).

Vamos, primeiramente, analisar como este conceito foi tratado por alguns autores marxistas que o compreenderam como fenômeno exclusivo das classes dominantes para manter a dominação, ou seja, como sinônimo de falsa consciência,dentre estes destacamos Karl Marx e Friedrich Engels (1984), Marilena Chauí (1980; 2000; 2007) e Paulo Freire (1981; 1983a; 1983b; 1999). Depois, sem a intenção de esgotar este tema tão complexo, vamos trazer elementos para discutir a ideologia dentro de uma outra perspectiva, a ideologia como elemento inerente a realidade que é estratificada, desigual, contraditória, dinâmica e disputada. Neste caso, a idelogia é elemento intrínseco a produção do conhecimento. Instituições, pesquisadores, classes dominantes e classes subalternas produzem ideologia. Esta está em disputa pela hegemonia. A classe que está no poder tem a ideologia hegemônica e as classes subalternas produzem a contra-hegemonia. O significado de ideologia por nós defendido tem um sentido mais amplo significando: ―[...] um conjunto de ideias, princípios e valores que refletem uma determinada visão de mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo, uma prática política. [...]‖. (JAPIASSU; MARCONDES, 2008, p. 141). Para discutir o conceito de ideologia nesta perspectiva vamos nos basear nos autores Bernardo Mançano Fernandes (2009); Augusto Buonicore (2012); Leandro Konder (1998; 2002; 2012); Hilton Japiassu e Danilo Marcondes (2008); Antonio Carlos Robert Moraes (2005); István Mészáros (2004; 2008); Moacir Gadotti (2000) e Antonio Gramsci (1974; 1982; 1992; 2006).

De acordo Michel Löwy (1991), é difícil encontrar um conceito tão complexo e cheio de significados nas ciências sociais como o conceito de ideologia. O conceito de ideologia não nasceu com Karl Marx, elefoicriado pelo filósofo francês pouco conhecido chamado Destutt de Tracy (1754-1836)que publicou em 1801 um livro chamado Élements

d‟idéologize. Quando criado dizia respeito à ciência das idéias, compreendendo o estudo da

origem e do desenvolvimento delas (COTRIM, 2002). ParaDestutt de Tracy a ideologia era um ramo da zoologia (LÖWY, 1991). Estas eram tratadas como fenômenos naturais (biólogos), exprimindo a relação do corpo humano com o meio circundante (SPOSITO, 2004).

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63 O conceito mudou de significado para ―falsa consciência‖ depois que Napoleão Bonaparte chamou Destutt de Tracy e seus discípulos de"ideólogos" no sentido pejorativo, como sinônimo de "falseadores da realidade". Para Napoleão Bonaparte ideólogos são metafísicos que vivem em um mundo especulativo (LÖWY, 1991; KONDER, 2002). Todavia, este é um conceito que ganha força a partir de Karl Marxe Friedrick Engels que vaidifundiro conceito de ideologia como sinônimo de falsa consciência a partir de seu livro A

ideologia Alemã publicado em 1845. Considera como ideólogos os metafísicos especuladores

que ignoram a realidade.Na construção desse conceito em Karl Marx e Friedrich Engels, a ideologia se transformou em um conceito com caráter necessariamente pejorativo. Ele implica em ilusão ou se refere a consciência deformada. São ideias produzidas pelas classes dominantes que fantasiam a realidade engendrando uma consciência desfigurada sobre a mesma(LÖWY, 1991). Com estes autores, a ideologia se torna, especificamente, em um conjunto de ideias que ―[...] dissimulamessa realidade, porque mostram as coisas de forma apenas parcial ou distorcida em relação ao que realmente são. O que se buscaria ocultar ou dissimular na realidade seria, por exemplo, o domínio de uma classe social sobre outra‖. (COTRIM, 2002, p.47, grifo do autor). Assim, sua função é a de preservar a dominação.

Assim, em ―A ideologia alemã‖, principal referência marxista para a discussão dessa temática, os autores afirmam: ―[...] A consciência jamais pode ser outra coisa do que o ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo de vida real. [...]‖. (MARX; ENGELS, 1984, p. 37). No início do texto, os autores avaliam de maneira crítica como se deu, até o momento, esse processo de interpretação da realidade material pelos seres humanos. Dizendo que o ser humano havia invertido a ordem nesta relação. Isto quer dizer que as representações criadas pelo próprio ser humano passaram a comandá-los como verdades supremas sem a compreensão de que se tratava de construções humanas. Sendo que estas representações dos seres humanos a respeito deles mesmos não passavam de falsas representações. Este é o sentido principal proposto por Karl Marx para a ideologia. No prefácio, os autores afirmam: ―até agora, os homens formaram sempreidéias falsassobre si mesmos, sobre aquilo que são ou deveriam ser [...]‖. (MARX; ENGELS, 1984, p. 03, grifo nosso). E acrescenta: ―as criações da cabeça deles desbordaram, agigantaram-se sobre a própria cabeça‖. E de ―criadores, os homens se curvaram diante de suas próprias criações‖ (MARX; ENGELS, 1984).

Em ―A ideologia alemã‖ Karl Marx tinha a intenção de focalizar a sua análise nos pensadores alemães pós-hegelianos, no qual o mesmo os considerava como ideólogos que ignoravam a realidade alemã. Como explica Marilena Chauí:

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64 Embora Marx tenha escrito sobre a ―ideologia em geral‖, o texto onde realiza a caracterização da ideologia tem por título: A Ideologia Alemã. Isto significa que a análise de Marx tem como objeto privilegiado um pensamento historicamente determinado, qual seja, os dos pensadores alemães posteriores a Hegel. Sabemos que Marx dirige duas críticas principais aos ideólogos alemães (Feuerbach, F. Strauss, Max Stirner, Bruno Bauer entre os principais). [...]. Com isto, os ideólogos alemães, além de fazerem o que todo ideólogo faz (isto é, deduzir o real das idéias desse real), ainda imaginaram estar criticando Hegel e a realidade alemã simplesmente por terem escolhido novas idéias que, como demonstrará Marx, não criticam coisa alguma, ignoram a filosofia hegeliana e, sobretudo, ignoram a realidade histórica alemã. (1980, p. 14).

Karl Marx e Friedrich Engels tiveram como objetivo principal retratar as deformidades ideológicas causadas pela tradição idealista-subjetivista característica dos pensadores alemães que enfatizavam a importância do poder do imaterial sobre o material. Por isso, neste livro os autores:

[...] ilustraram sua crítica às distorções ideológicas da tradição idealista subjetiva, que supervaloriza o poder das representações, com um exemplo sarcástico: o de um sujeito que insiste em convencer os outros de que os homens só se afogam porque, ao caírem na água, ficam presos à idéia de que são mais pesados que a água. Caso venham a se libertar do pensamento do peso, conseguirão flutuar. (KONDER, 2002, p. 39, grifo do autor). Para os autores, isto seria como pensar que a gravidade seja somente uma ideia supersticiosa que nos foi dada, a partir do momento que conseguirmos romper com esta ilusão ela deixará de existir. Em suas palavras: ―Em tempos, houve quem pensasse que os homens

se afogavam apenas por acreditarem na idéia da gravidade. Se tirassem esta idéia da cabeça,

[...] ficariam imediatamente livres de qualquer perigo de afogamento. [...]‖. (MARX; ENGELS, 1984, p. 6, grifo nosso). Os autores fazem a seguinte consideração: ―nenhum destes filósofos se lembrou de perguntar qual seria a relação entre a filosofia alemã e a realidade alemã, a relação entre a sua crítica e o seu próprio meio material‖. (MARX; ENGELS, 1984, p. 6). A partir dessas considerações, os autores chegam à definição do que é a ideologia, referindo-se como sendo a falta de capacidade de relacionar as ideias com a

materialidade da realidade, com o real, o concreto. Dito de outra maneira: ―[...] era a

expressão da incapacidade de cotejar as idéias com o uso histórico delas, com a sua inserção prática no movimento da sociedade. [...]‖. (KONDER, 2002, p.40).

Segundo Marilena Chauí, para Karl Marx, a ideologia era a inversão entre a ideia e o real. Neste sentido, ―[...] Marx conservará o significado napoleônico do termo: o ideólogo é

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aquele que inverte as relações entre as idéias e o real. Assim, a ideologia, [...] passa a

designar, daí por diante, um sistema de idéias condenadas a desconhecer sua relação com o

real”. (1980, p. 11, grifo nosso).A ideologia surge com o desprendimento da ideia do real-

concreto. O pensamento não só passa a explicar a realidade como a produz também. É a crença na autonomia das ideias e na capacidade dessas ideias criarem a realidade. Podemos considerar a ideologia como fenômeno moderno que vem substituir os mitos e a teologia. Nesta concepção, os homens, a sociedade, a política, o Estado, o direito etc. são resultantes da manifestação da consciência (CHAUÍ, 2000). Dessa maneira, a ideologia para Karl Marx é um conjunto de códigos imateriais que se encontram separados das condições materiais que a produziu. As ideias são produzidas autonomamente sem necessitar da base material para constituí-la. Isto ocorre porque os ideólogos desconhecem a produção material para existência das relações sociais. O ideólogo ao se distanciar da história concreta cria uma história autônoma que se desenrola sem a participação dos sujeitos. Essa não é a historia real, mas apenas uma ideia sobre uma história que não foi criada, mas sim, inventada. Por isso, os ideólogos são os pensadores responsáveis, a partir da sistematização de ideias, em transformar as ideias das classes dominantes em ideias universais. Os mesmos podem ser membros da classe dominante ou mesmo da classe média que se une a classe dominante (CHAUÍ, 1980).

Uma das questões mais relevantes levantadas por Karl Marx quando se refere ao processo de produção/reprodução da ideologia, diz respeito aos desdobramentos que tem a ideologia para a luta de classes. Esta é a grande contribuição que Karl Marx traz para a discussão de ideologia. Este fato cria um divisor de águas para discutirmos esse conceito. Pois, a partir desse pressuposto podemos confirmar que as teorias estão sempre ligadas às classes sociais e não se separa delas, mesmo que para o mesmo essas ideias estivessem vinculadas apenas as classes dominantes. Dizia ele que os pensadores-ideólogos têm o objetivo de apresentar os interesses das classes dominantes como se fosse o interesse comum de toda a sociedade. E, ao mesmo tempo, tenta apresentá-las como as únicas ideias válidas para a nossa sociedade e, portanto, indica a impossibilidade de refutá-las. Todavia, esclarece Karl Marx que o empenho dedicado pelos ideólogos das classes dominantes é tamanho que não é de todo desprezível. Assim, a preocupação de Karl Marx nunca foi o de desqualificar essas teorias divergentes, mas o de revelar os pontos falhos dessas obras. Esta postura se comprova no fato de Karl Marx ter estudado com afinco obras que eram consideradas por ele como sendo de ideólogos da burguesia, como foi o caso de Friedrich Hegel, Adam Smith e David Ricardo, que fizeram parte da construção de sua elaboração teórica. Muitas vezes, Karl

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66 Marx considerava as obras dos ideólogos burgueses de melhor qualidade do que de alguns teóricos progressistas. Por isso, é importante ressaltar que Karl Marx não reduzia essas obras apenas a uma propaganda ideológica mentirosa e mal feita para as classes dominantes, tendo em vista que existem entre os elementos da construção falsa da realidade alguns elementos que constituem em uma interpretação verdadeira da realidade(KONDER, 2002).

Karl Marx tinha plena convicção de que as limitações ideológicas não era o motivo suficiente para fazermos uma caça destruidora a qualquer obra que apresente estas limitações. Tendo em vista que alguns pensadores produziram obras admiráveis, mesmo com estas influências ideológicas da classe dominante. Escritores clássicos como Homero, Ésquilo, Sófocles e Shakespeare eram admirados por Karl Marx, pois o mesmo sabia que seria inútil desqualificar estas obras devido às marcas ideológicas que as mesmas continham.

Os representantes políticos de uma classe podem alcançar níveis excepcionalmente elevados de eficiência em suas ações históricas, apesar das limitações de seus horizontes ideológicos. Os representantes literários podem produzir expressões vigorosas, dignas de admiração irrestrita, apesar das limitações de seus horizontes ideológicos. Como admirador das epopéias de Homero, das tragédias de Ésquilo e de Sófocles, do teatro de Shakespeare, Marx sabia quanto seria vã e ridícula qualquer tentativa de desqualificar esses autores através da invocação das marcas deixadas pela ideologia em suas obras. (KONDER, 2002, p. 44-45, grifo nosso).

A ideologia da classe dominante é produzida/reproduzida pelos seus ideólogos na academia, no governo, nos movimentos sociais reacionários (como a União Democrática Ruralista), nos partidos de direita etc. Isto porque a classe dominante exerce sua influência, maior do que as classes subalternas, sobre o Estado capitalista, sobre os meios de comunicação, sobre o setor produtivo, sobre a academia etc. A mesma classe domina, ao mesmo tempo, os meios materiais e imateriais da sociedade. No caso da sociedade capitalista, é a classe burguesa quem tem esse domínio. A classe burguesa se utiliza de diversos meios, inclusive do Estado, para disseminar a sua ideologia que justifica a dominação das camadas subalternas. Dessa forma, ―As classes dominantes, ao governarem a sociedade dividida, utilizam o aparelho do Estado para inculcarem nos indivíduos das classes exploradas a

ideologia que serve para justificar a exploração. [...]‖. (KONDER, 1998, p.64-65, grifo

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67 Concordando com a perspectiva de Karl Marx, para Marilena Chauí15 a ideologia é a explicação para que os trabalhadores não se revoltem com a situação de exploração em que se encontram submetidos. Para que os mesmos não se percebam enquanto classe social e não enxerguem que a sociedade capitalista é formada de interesses antagônicos.

[...] Como entender que o trabalhador não se revolte contra uma situação na qual não só lhe foi roubada a condição humana, mas ainda é explorado naquilo que faz, pois seu trabalho não pago (a mais-valia) é o que mantém a existência do capital e do capitalista? Como explicar que essa realidade nos apareça como natural, normal, racional, aceitável? De onde vem o obscurecimento da existência das contradições e dos antagonismos sociais? De onde vem a não percepção da existência das classes sociais, uma das quais vive da exploração e dominação das outras? A resposta a essas questões nos conduz diretamente ao fenômeno da ideologia. (1980, p. 23, grifo nosso).

A ocultação da realidade por parte da ideologia se torna necessária pelo fato de que se as classes sociais subalternas entenderem como sendo ilegítimas as formas de dominação impostas, as mesmas irão se revoltar e romper com as estruturas estabelecidas pela classe dominante. Portanto, o papel principal desempenhado pela ideologia é o do impedimento de que a dominação e a exploração se tornem perceptíveis, bem como o de esconder a existência

das classes sociais(CHAUÍ, 1980). Assim como em Karl Marx, para Marilena Chauí (1980), a

luta de classes é o motivo para a existência da ideologia. Pois, a ideologia apresenta os

interesses contraditórios como se fossem interesses comuns de toda a sociedade. Impedindo a percepção de que a história é feita pela dominação de uma parte da sociedade sobre outra. O sentido da ideologia é o de esconder a luta de classes. A ideologia é concebida como mais um dos instrumentos de dominação. Dessa maneira, a ideologia tem origem na luta de classes, tendo em vista que a sociedade possui suas instituições que são responsáveis pela reprodução das relações sociais. Estas instituições são pensadas por meio das ideias que vai desde a ciência a religião. Todavia, a luta de classes marca a divisão de interpretação e de finalidades dessas instituições porque as mesmas são marcadas pelas classes sociais que pressupõe a necessidade de uma ideologia. Neste sentido, a ideologia pode ser entendida como uma proposição teórica (religioso, filosófico ou científico) que escamoteia a luta de classes que lhe deu origem. Assim, o conhecimento científico, bem como as instituições privadas e o Estado podem ser usados pelas classes dominantes para manter a dominação.A ideologia é, portanto,

15 Apesar de discordarmos em vários aspectos do conceito de ideologia presente em Karl Marx e em Marilena

Chauí, estes autores nos ajudam a entender os mecanismos de funcionamento da ideologia da classe dominante. A discordância com relação aos mesmos será apresentada no decorrer do texto.

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68 a imaterialidade da luta de classes. É sinônimo dos mecanismos utilizados pelas classes dominantes, que envolve um conjunto de artifícios e práticas sociais, para manter a dominação e camuflar a existência do antagonismo de classes. A luta de classes não se manifesta apenas no confronto direto e material entre as classes sociais, mas por meio de um conjunto de procedimentos institucionais, jurídicos, políticos, policiais, pedagógicos etc. que são utilizados pela burguesia a fim de manter a sua dominação.

A luta de classes está presente em todas as ações e procedimentos dos dominantes e dominados para manter ou destruir a dominação. Logo, a ideologia está presente em todos os momentos vividos pelos sujeitos em sociedade. A organização dos trabalhos em movimentos sindicais, movimentos sociais etc. pressupõe a existência da luta de classes16 (CHAUÍ,

1980).O fato de a ideologia estar impregnada em todas as relações sociais, fez com que Karl Marx chegasse a uma conclusão que deu origem a sua famosa asseveração de que as ideias da

classe dominante são as ideias dominantes na sociedade de cada período histórico, ou seja, a cada período histórico temos uma ideologia dominante que condiciona o funcionamento da sociedade.

As idéias da classe dominante – sustentava o filósofo – são, em cada época, as idéias dominantes. Quer dizer: a classe que possui o poder material na sociedade possui ao mesmo tempo o poder espiritual. A classe que dispõe dos meios da produção material também dispõe dos meios da produção espiritual. (KONDER, 2002, p.42, grifo nosso).

A classe dominante possui a capacidade de transformar as suas ideias em ideias aceitas por toda a sociedade. Este é o significado da ideologia, a capacidade de transformar suas ideias de classe em ideias universais. Isto significa que a ideologia ―consiste precisamente na transformação das idéias da classe dominante em idéias dominantes para a sociedade como um todo, de modo que a classe que domina no plano material (econômico, social e político) também domina no plano espiritual (das idéias)‖. (CHAUÍ, 1980, p. 36). A ideologia, portanto, ―[...] deve transformar as idéias particulares da classe dominante em idéias universais, válidas igualmente para toda a sociedade‖. (CHAUÍ, 1980, p. 40). Marilena Chauí vai concluir que a ideologia é quando as ideias da classe dominante passam a ser seguidas por todas as outras classes sociais. Em suas palavras: ―A ideologia é o processo pelo qual as idéias da classe dominante se tornam idéias de todas as classes sociais, se tornam idéias dominantes [...]‖. (1980, p. 35).

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69 Mas, é importante esclarecer que as classes dominantes não sentam em uma mesa e decide qual serão as ideias que vão impor para que toda a sociedade seja passiva e submissa aos seus interesses. É na própria prática social dos sujeitos que se forja a ideologia. O processo ocorre da seguinte forma: cada classe social tem uma forma de representar a si mesmo a partir de sua própria existência. No entanto, as ideias dominantes na sociedade de uma determinada época não correspondem à pluralidade de ideias existentes nesta sociedade, mas apenas as ideias da classe dominante. Isto quer dizer que a representação que a classe dominante faz deles mesmos, da sua relação com a natureza e com as outras classes sociais, grupos sociais etc., passa a ser a forma com que toda a sociedade passará a enxergar a sociedade(CHAUÍ, 1980).

Esta dominação das ideias da classe burguesa sobre o restante da sociedade implica em que sejam consideradas como válidas apenas estas ideias. Os sujeitos das classes