• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 2: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO DE ADSORÇÃO

2.4.3 Cinética de Adsorção

O processo de adsorção ocorre em quatro etapas, sendo elas: o transporte do adsorbato, os íons metálicos, da matriz aquosa para a superfície externa do adsorvente (1: difusão externa), a passagem através do filme líquido da superfície sólida (2: difusão através do filme líquido), a difusão dos íons nos poros quando em sólidos porosos (3: difusão intrapartícula) e por fim, ocorrem as interações (químicas ou físicas) entre os

átomos superficiais do adsorvente e o adsorbato (4: difusão superficial). No caso de interações físicas, a dessorção seria representada como uma quinta etapa (DABROWSKI, 2001; GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011; MICHALAK et al., 2013).

A dependência temporal do processo de adsorção é chamada de cinética de adsorção. As taxas com que cada íon metálico é transferido da matriz aquosa para a superfície sólida determinam a eficiência desse processo. O estudo cinético provê informações acerca dos possíveis mecanismos de adsorção e vias reacionais a partir do conhecimento da etapa determinante da taxa de reação. Em geral, pode-se assumir que a taxa global do processo será determinada pela etapa mais lenta, mas é possível perceber pela descrição das etapas, que qualquer uma delas pode ser a etapa limitante da taxa global (ANASTOPOULOS e KYZAS, 2015; GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011).

Quando a primeira etapa é a mais lenta, a adsorção é um processo de transporte limitado, e as interações adsorvente-adsorbato não são importantes na eficiência do processo. Quando a etapa dois é mais lenta, há uma indicação de que o adsorvente não é muito eficiente no sistema estudado, pois a difusão através do filme líquido determina a taxa do processo. A etapa quatro sendo mais lenta, pode-se concluir que a adsorção é regida por um processo químico e uma modificação nas condições de operação podem favorecer a reação (GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011; DABROWSKI, 2001).

A descrição da cinética de adsorção pode ser muito obscura devido à complexidade do sistema, e para se chegar a uma lei de taxa consistente é requerido um conhecimento de detalhes como os requisitos de energia, considerações estereoquímicas e etapas elementares de um mecanismo particular. Diversos modelos matemáticos estão disponíveis na literatura e podem ser escolhidos de acordo com o sistema estudado (RUTHVEN, 1984; MICHALAK et al., 2013; PLAZINSKY, 2013). As subseções a seguir se dedicam a discutir os modelos utilizados no estudo cinético dessa pesquisa.

2.4.3.1 Modelo de Pseudoprimeira Ordem (PPO)

O equacionamento proposto por Lagergren (1898) é um dos mais antigos exemplos para descrever a taxa de adsorção em sistemas líquidos. Esse modelo representa uma análise simples da cinética e considera que a resistência à transferência de massa no adsorvente é o fator dominante. Ele é descrito pela Equação 2.2.

𝑑𝑞𝑡

Onde: dqt/dt é a taxa de adsorção do adsorbato no adsorvente, k1 é a taxa de

pseudoprimeira ordem (min-1) e q

eq é a capacidade de adsorção no equilíbrio (mmol.g-1).

Integrando a Equação 2 e aplicando as condições de contorno q(t) = 0 em t = 0 e q(t) = q(t) em t = t, obtém a Equação 2.3.

𝑞(𝑡) = 𝑞𝑒𝑞(1 − 𝑒−𝑘1𝑡) (2.3)

Para muitos processos de adsorção, esse modelo é adequado apenas para os primeiros 30 minutos de tempo de residência (enquanto a concentração de adsorvente está em excesso e pode ser levada em consideração na equação de taxa) (GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011).

2.4.3.2 Modelo de Pseudossegunda Ordem (PSO)

O modelo cinético de segunda ordem foi descrito por Ho e Mckay (1999) (Equação 4).

𝑑𝑞𝑡

𝑑𝑡 = 𝑘2(𝑞𝑒− 𝑞(𝑡))

2 (2.4)

Onde: k2 representa o coeficiente de taxa de uma reação de segunda ordem.

Integrando a equação e aplicando as condições de contorno q(t) = 0 em t = 0 e q(t) = q(t) em t = t, chega-se a Equação 2.5. 𝑞(𝑡) = 𝑞𝑒𝑞 2 𝑘 2𝑡 𝑞𝑒𝑞𝑘2𝑡+1 (2.5)

Os estudos apontam que k2 é inversamente proporcional a concentração inicial do

adsorbato na matriz (HO e McKAY, 1999). As influências do pH e da temperatura nesse modelo tem sido pouco estudadas devido à complexidade do problema (GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011).

2.4.3.3 Modelo de Difusão Intrapartícula (DI)

O modelo simplificado proposto por Weber e Morris (1963) considera que a etapa 3 de difusão dos íons nos poros é o fator determinante da taxa e a remoção do adsorbato varia com a raiz quadrada do tempo (Equação 2.6). Essa simplificação não leva em consideração parâmetros como a influência da dimensão dos poros e das partículas e o

comportamento cinético em t = 0. Poucos trabalhos na literatura tem tratado dos efeitos dessas variáveis na cinética de adsorção (GUPTA e BHATTACHARYYA, 2011).

𝑞(𝑡) = 𝑘𝑑𝑖𝑡0,5+ 𝐶 (2.6)

Onde: kdi é o coeficiente de taxa de difusão intrapartícula (mmol.g-1min-0,5) e C é uma

constante relacionada a resistência à difusão dada em mmol.g-1.

Uma característica da simplificação feita por Weber e Morris é a multilinearidade, onde se pode perceber a presença de mais de um mecanismo no processo através dos segmentos de reta formados até que o equilíbrio seja atingido (reta horizontal). O valor de C fornece uma estimativa da espessura da camada limite, e quanto maior for esse valor, maior será o efeito da mesma. Quando C é igual a zero no primeiro segmento de reta, os estágios 1 e 2 são instantâneos e a etapa difusão intrapartícula controla a cinética. Quando C for diferente de zero, há uma indicação de que a difusão intrafilme controla a taxa global do processo (WEBER E MORRIS, 1963).

2.4.3.4 Modelo de Boyd

Boyd, Adamson e Myers Jr. (1947) propuseram modelos teóricos para troca iônica que mais tarde passaram a serem utilizados em sistemas de adsorção para estimar a difusividade efetiva do adsorbato no adsorvente. O modelo simplificado está representado na Equação 2.7.

𝐹(𝑡) = 1 − (6

𝜋2) exp (−𝐵𝑡) (2.7)

Onde: F(t) é a fração do soluto adsorvido no tempo t (q/qeq) e B é um parâmetro da função

F (s-1).

O modelo de Boyd permite inferir se a etapa limitante do processo de adsorção é a etapa 1 (difusão externa) ou a etapa 3 (difusão intrapartícula). O valor de Bt pode ser determinado rearranjando a Equação 2.7:

𝐵𝑡 = −0,4997 − ln (1 − 𝐹(𝑡)) (2.8) Os valores para Bt são calculados então para cada valor de F e o gráfico de Boyd (Bt vs. tempo) é traçado. Quando a reta gerada atravessa a origem, pode-se concluir que

a etapa limitante é a 3 no intervalo de tempo estudado e quando não, conclui-se que a etapa limitante é a etapa 1. A partir do coeficiente angular da reta B, pode-se ainda determinar o coeficiente de difusão efetiva Di (cm²/s) usando a Equação 2.9 (BOYD;

ADAMSON; MYERS JR., 1947).

𝐷𝑖 =𝑟²𝐵

𝜋² (2.9)

Onde: r é o raio médio das partículas do adsorvente (cm).

2.4.3.5 Modelo de Transferência de Massa em Filme Externo (TMFE)

O modelo TMFE assume que a etapa limitante da cinética de adsorção é a etapa 1, a transferência de massa entre a solução e o filme presente na superfície do sólido. A taxa dessa etapa pode ser representada pela Equação 2.10 (PURANIK et al., 1999).

dC

dt = −kTM(C(t) − Cp(t)) (2.10)

Onde: kTM é a taxa de transferência de massa no filme externo (min-1) e Cp é a

concentração do soluto no filme adjacente à superfície em função do tempo (mmol/L).

Assumindo que a concentração de íons na interface da partícula e da solução atinge o equilíbrio rapidamente, podemos combinar as Equações 2.1 e 2.10 obtendo a Equação 2.11.

dq dt = −

kTM𝑉

𝑚𝑎𝑑𝑠(C(t) − Cp(t)) (2.11)

Para obter a variação de quantidade adsorvida em função do tempo pode-se fazer uma diferenciação do modelo de Langmuir para isotermas de adsorção, apresentado na seção 2.4.4 (Equação 2.12). Esse modelo faz as considerações de que as partículas são perfeitamente esféricas e homogêneas, a distribuição do adsorbato na fase fluida é homogênea e a adsorção ocorre apenas na superfície (sólidos não porosos), não há variação de volume do sistema e o equilíbrio na interface sólido-líquido é atingido rapidamente (PURANIK et al., 1999). Fazendo a diferenciação e substituindo na Equação 2.10 chega-se a Equação 2.13 que representa o modelo cinético TMFE.

𝑞𝑒𝑞 = 𝑘𝐿𝐶𝑒𝑞

1+𝑘𝐿𝐶𝑒𝑞

𝑑𝐶𝑝 𝑑𝑡 = 𝑘𝑇𝑀𝑉 𝑚𝑎𝑑𝑠𝑞𝑚á𝑥𝑘𝐿[1 + 𝑘𝐿𝐶𝑝(𝑡)] 2 [𝐶(𝑡) − 𝐶𝑝(𝑡)] (2.13)

Onde: qmáx é a capacidade máxima de adsorção obtida pelo modelo de Langmuir (mmol.g- 1) e k

L é a constante de afinidade de Langmuir (L.mmol-1).

As equações 2.10 e 2.13 podem ser resolvidas numericamente ou analiticamente aplicando as condições de contorno C(t) = 0 e Cp(t) = 0 em t=0.