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Em 1937, surgiu uma nova versão da autometralhadora TN SPE-34 com um casco modificado e um motor mais poderoso, designada por TN SE-37. Após a construção dum protótipo seguiu-se a produção de quatro veículos. Estes foram

88 A Guerra Eslováquia-Hungria deu-se entre fim de março e princípio de abril de 1939, tendo a Hungria

atacado a Eslováquia que acabou por ser obrigada a ceder território.

89 Operação Barbarossa foi o nome de código usado pelas forças do Eixo para a invasão da União

Soviética em 1941.

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Imagem disponível em <http://aviarmor.net/tww2/armored_cars/czech/tnspe.htm>, [acesso em 1/8/2019].

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enviados para a Roménia, onde foram usados em 1940 contra diversas revoltas em Bucareste, junto com as viaturas TN SPE-34.

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3.4. Espanha

Em Espanha, tal como noutros países, debateu-se a questão da mecanização e o futuro das armas tradicionais. As ideias que os espanhóis seguiam baseavam-se no modelo francês do pós-guerra. As experiências vividas na Guerra do Rife 91, em que a França também participou, alertaram para a importância do poder de fogo da Artilharia e o papel importante da Infantaria.

Das razões técnicas para a incipiente mecanização das forças militares espanholas, salientam-se o terreno acidentado e montanhoso, as deficiências das vias de comunicação e do abastecimento de combustível. No entanto as causas para o atraso no desenvolvimento tecnológico eram, além de militares, principalmente económicas: a falta de infraestruturas industriais limitava a produção de equipamentos. Os militares mais tradicionalistas opunham-se à modernização mecânica, preferindo manter o modelo da Cavalaria tradicional. Mas Espanha apesar de ser um país rural, não conseguia fornecer à Cavalaria todos os cavalos de que necessitava 92.

No entanto, em 1921 o Exército Espanhol acabou por encomendar blindados de trilhos Schneider CA 1 e Renault FT. Mas o desempenho destes veículos em Marrocos não foi satisfatório, em parte devido ao acidentado do terreno e à falta de preparação das tripulações das viaturas 93. Isto não ajudou a causa dos defensores da mecanização do Exército mas deixou a ideia de que eram preferíveis os blindados de rodas aos de trilhos, sobretudo em missões de reconhecimento 94.

Durante a Segunda República, a reforma militar de Manuel Azaña Díaz, presidente do Governo de Espanha de 1931 a 1933 e em 1936, baseou-se em objetivos políticos e foi limitada pelos efeitos da Grande Depressão. Em 1931 criou-se o Grupo

91 A Guerra do Rife (1920-1927) foi um conflito entre Espanha e as tribos Berberes que viviam nas

montanhas do Rife. Em 1925 os franceses participaram no conflito, apoiando a Espanha.

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MARTÍN, Alberto Guerrero, La Colección Bibliográfica Militar y el Debate sobre la Mecanización y la Motorización, RUHM (Revista Universitaria de Historia Militar) 6, Vol 3, 2014,pp. 187 e 188 de pp. 174-189, disponível em <https://www.ruhm.es/index.php/RUHM/article/view/70/62>, [acesso em 1/8/2019]. O debate sobre questões militares estava na ordem do dia em Espanha no início da década de trinta. É neste contexto que nasce a Colecção onde se publica o texto sobre a motorização do Exército.

93 PÉREZ, José Vicente Herrero, The Spanish military and warfare from 1899 to the civil war, Palgrave

Macmillan, Cham, Suiça, 2017, p. 270.

94

MAZARRASA, Javier de, Fresno`s (ilustrações), Blindados en España - La Guerra Civil 1936-1939, La Maquina y la História nº. 2, Vallodid, Quiron Ediciones, 1991, p. 16.

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de Autoametralladoras-Cañón, afeto à Cavalaria e sediado em Aranjuez. Entre 1933-

1935 tentaram criar uma unidade completamente motorizada, mas sem sucesso.

Em 1936 o governo de Espanha era formado por uma coligação de republicanos, com o apoio parlamentar de socialistas e comunistas. Nesse ano, militares das forças armadas liderados pelo general José Sanjurjo fizeram um pronunciamento contra o governo. Este golpe militar marca o início de um conflito armado entre o regime da Segunda República e um grupo de oposição conservador/nacionalista liderado pelo general Francisco Franco, devido à morte por acidente do general Sanjurjo no Estoril.

Na sequência deste golpe de Estado, os nacionalistas, constituídos por vários grupos da direita conservadora, conseguiram ocupar algumas cidades espanholas. No entanto, as mais importantes continuaram nas mãos dos republicanos. O conflito arrastou-se até 1939, com a vitória dos nacionalistas. A maioria dos países ocidentais mantiveram-se neutrais, à excepção da Alemanha nazi e da Itália fascista (que apoiaram os nacionalistas) e da União Soviética (que se colocou ao lado dos republicanos). Apesar das intenções de neutralidade, havia o receio de que esta guerra se pudesse tornar num conflito que ultrapassasse as fronteiras de Espanha. Embora tivesse decorrido em território peninsular, a Guerra Civil de Espanha foi um acontecimento europeu, dando início a uma nova forma de fazer guerra. Foi um campo de experimentação para armas e táticas, o que se refletiu na Segunda Guerra Mundial.

Em 1936, no início da guerra, a mecanização do Exército Espanhol estava numa fase muito inicial. As viaturas eram poucas e antiquadas, em parte provenientes das campanhas de Marrocos. No total as forças militares dispunham de cerca de setenta e nove veículos blindados, incluindo exemplares de trilhos e de rodas. Destas, quarenta e oito viaturas de rodas Bilbao, pertenciam ao Grupo de Autometralhadoras - Cañón de Cavalaria e aos «Grupos de Assalto da Policía» 95. Da totalidade dos blindados, cerca de sessenta estavam na posse das forças governamentais e os restantes nas mãos dos rebeldes. Estes veículos não eram dos mais modernos e incluíam o Schneider CA1 (uma viatura de trilhos da Primeira Guerra Mundial), ou o modelo Bilbao 1932 96, sendo este o mais numeroso.

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MAZARRASA, Javier de, Fresno`s (ilustrações), “Blindados en España, 1ª parte, La Guerra Civil 1936-1939”, La Maquina y la História nº. 2, Vallodid, Quiron Ediciones, 1991, p. 6.

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Quanto ao número exacto de blindados na posse das forças em confronto, Lucas Molina Franco e Garcia Manrique referem que os blindados de rodas seriam inferiores a cinquenta, o que confirma o número apresentado por Mazarrasa. Aqueles dois autores afirmam que estes veículos não se poderiam considerar verdadeiras viaturas blindadas, uma vez que não passavam de veículos a que se tinha aplicado umas chapas e uma metralhadora 97.

3.4.1. Viaturas produzidas em Espanha

«Tiznaos»

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No início da guerra cada um dos contendores procurou reunir meios que lhe dessem vantagem no confronto. Deste modo, armaram vários carros motorizados para usar como blindados improvisados. Devido à sua cor escura, resultante da acção dos elementos sobre os revestimentos metálicos, estes veículos foram designados de «tiznaos» (tisnados pode ser o termo português). Tratavam-se de viaturas em que se punham chapas blindadas, de acordo com a imaginação e capacidade de quem as aplicava. Blindaram-se diferentes tipos de veículos como automóveis, camiões, autocarros, e até máquinas agrícolas e de construção civil. Segundo Mazarrasa, os registos sobre estes veículos não permitem identificar corretamente as peças envolvidas na sua produção, uma vez que na maior parte dos casos é desconhecido o modelo original do chassis ou do motor.

A eficiência dos «tiznaos» era praticamente inexistente, com exceção de alguns modelos construídos na Biscaia e na Catalunha. Destacavam-se as autometralhadoras da União Naval de Levante, a viatura Chevrolet de 1937 e o da construtora Field, com chassis do camião Federal. Com o avançar do conflito foram desaparecendo das primeiras linhas de combate, mas em 1937 ainda se continuavam a fabricar.

97 FRANCO, Lucas Molina, GARCIA, José Maria Manrique, Blindados Españoles en el Ejército de

Franco 1936-1939, Valladolid, Galland Editorial Books, 2009, p. 5.

98 Imagem disponível em MAZARRASA, Javier de, Fresno`s (ilustrações), “Blindados en España, 1ª

parte, La Guerra Civil 1936-1939”, La Maquina y la História nº. 2, Vallodid, Quiron Ediciones, 1991, p. 10.

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Devido às suas características eram dados a avarias frequentes e o peso excessivo da blindagem prejudicava o seu desempenho. Apesar das suas deficiências, esses blindados exerceram várias funções de transporte de militares, prisioneiros, armas, munições e mantimentos. Também serviam para impressionar os inimigos e moralizar os aliados.

O carácter publicitário dos «tiznaos» pode verificar-se nas mensagens que tinham escritas como «VIVA LA REPUBLICA», «ARRIBA ESPAÑA», «HERMANOS NO TIRAR», «SOLDADOS ESTAIS PELEANDO CONTRA VUESTROS HERMANOS», «CAMARADAS SI QUEREIS A VUESTROS PADRES NON DISPARAR QUE SOMOS VUESTROS HERMANOS» ou «COGIDO AL ENEMIGO»99.

Os republicanos controlavam as áreas mais industrializadas de Espanha e por isso conseguiram construir mais blindados.