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A. Processos administrativos – infração contra a ordem econômica – função repressiva

A.2. Cláusula de exclusividade Unimed Mogiana

As empresas Unimed de Bragança Paulista, Unimed Regional da Baixa Mogiana, Unimed Leste Paulista, Unimed de Mococa, Unimed de Capivari, Unimed de São José do Rio Pardo, Unimed de Amparo, Unimed de Araras e Unimed Campinas foram condenadas pelo CADE, em 30.3.2005 (P.A. nº. 08012.005071/2002-41), pela prática anticompetitiva de imposição de exclusividade na prestação de serviços médicos aos cooperados.

O CADE decidiu pela extinção do Processo Administrativo em relação à Representada Unimed Campinas porque a empresa fora anteriormente condenada pela mesma conduta. Em relação às demais empresas, o CADE aplicou as seguintes penas:

(i) multa no valor de R$ 63.846,00 (sessenta e três mil, oitocentos e quarenta e seis reais), correspondente a 60.000 (sessenta mil) UFIRs, às Representadas Unimed de Amparo/SP; Unimed de Araras/SP; Unimed de Bragança Paulista/SP; Unimed Regional da Baixa Mogiana/SP; Unimed de Mococa/SP; Unimed de Jundiaí/SP; Unimed de Capivari/SP e Unimed de São José do Rio Pardo/SP;

(ii) quanto à Unimed Leste Paulista, tendo em vista a reincidência, com fundamento no art. 23, parágrafo único, da Lei 8.884/94, aplicou-se multa no valor de R$ 127.692,00 (cento e vinte e sete mil, seiscentos e noventa e dois reais), correspondente a 120.000 (cento e vinte mil) UFIRs;

(iii) determinação de remessa de cópia dos autos ao Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual do Estado de São Paulo e à Agência Nacional de Saúde Suplementar, para as providências que acharem necessárias;

(iv) determinação de alteração do Estatuto das Representadas a fim de que fosse excluída a cláusula de exclusividade, devendo abster-se de impor qualquer sanção a médicos cooperados que não observem a unimilitância;

(v) imputação, sem prejuízo de multa cominada e em conformidade com o art. 24, inciso I, da Lei n.º 8.884/94, de obrigação às Representadas de realizar, às suas expensas, publicação em meia página, no jornal de maior circulação no mercado relevante geográfico, do extrato do voto do Relator, por dois dias seguidos e em duas semanas consecutivas;

(vi) determinação às Representadas que comunicassem o teor da decisão aos seus associados, por qualquer meio interno de divulgação.

A Unimed Mogiana, condenada ao pagamento de R$ 63.846,00 (sessenta e três mil, oitocentos e quarenta e seis reais), requereu ao Judiciário que a multa fosse suspensa (ação de procedimento ordinário nº. 2005.34.00.018111-0 em trâmite perante a 20ª Vara da Justiça Federal de Brasília), porém, o juiz Paulo Ricardo de Souza Cruz, julgou improcedente o pedido, em agosto de 2006.

A decisão reconheceu que a cláusula de exclusividade aos cooperados poderia configurar manobra para dominação de mercado relevante e violação da livre concorrência:

“Cumpre ter claro que, efetivamente, a imposição de cláusula de exclusividade para os médicos ‘cooperados’, isto é, filiados a um determinado plano de saúde, pode configurar

manobra objetivando a dominação de mercado relevante e violação da livre concorrência.

É que na hipótese de um plano de saúde que ocupe uma posição de relevo no mercado relevante, impedir seus médicos de atenderem a pacientes vinculados a outros planos acabará por relegar esses outros planos a uma posição periférica, quase marginal no mercado, dado que não poderão oferecer a seus clientes potenciais a possibilidade de serem atendidos por uma grande quantidade de médicos, que certamente já serão filiados ao plano que ocupe a posição dominante no mercado.

A permitir-se tal estado de coisas, cedo ou tarde, o plano dominante acabaria por controlar praticamente sozinho o mercado, posto que os demais planos estariam fadados à extinção. Ora, no presente caso, apurou-se que a Autora detém 42% do mercado relevante, tornando óbvio que será ela o plano de saúde preferido pelos médicos da região.

Se, esses médicos, por aderirem à UNIMED local, não puderem prestar serviços também para outros planos, esses outros planos acabarão por, aos poucos, abandonar o mercado ou ficar relegados a posições de pequena expressão, fazendo com que a participação do plano da Autora aumente ainda mais.

E à medida que a importância do plano da UNIMED local fosse crescendo, mais e mais médicos passariam a atender somente por ele, praticamente forçando os consumidores a optarem por aderir a esse plano, permitindo, obviamente, que o mesmo imponha preços maiores.

Tenho, pois, que efetivamente resta configurada a infração apontada pelo CADE como fundamento à aplicação da multa e demais penalidades” (negritos acrescentados).

O magistrado entendeu que a multa imposta não foi em montante razoável diante da extensão do dano:

“Assim, não há qualquer ilegalidade na aplicação da multa imposta à Autora, uma vez que, configurada a infração à ordem econômica, deve obrigatoriamente o CADE estipular uma penalidade pecuniária para o infrator, penalidade essa que não se mostra com um valor

absurdo, posto que tal condenação podia variar entre 6.000 e 6.000.000 de UFIRs, mostrando- se razoável a sua fixação em 60.000 UFIRs, diante da extensão do dano à livre concorrência e à coletividade reconhecidos pelo CADE na decisão do processo

administrativo” (negritos acrescentados).

Por fim, o juiz concluiu que a penalidade aplicada pelo CADE para a alteração do estatuto social não configurava violação ao princípio que proíbe a interferência estatal no funcionamento das cooperativas:

“No que toca à alegação da Autora de que a exigência de alteração do seu estatuto social pelo CADE afronta o princípio que veda a interferência estatal no funcionamento das cooperativas, previsto no artigo 5º, XVIII, da Constituição Federal, tenho que também não assiste razão à Autora.

Não se pode entender que o dispositivo constitucional tornou as cooperativas ‘terra de ninguém’, permitindo que elas façam o que bem entenderem, completamente à margem da lei. Assim, da mesma maneira que o dispositivo constitucional invocado não desobriga as cooperativas de, por exemplo, cumprirem as leis trabalhistas ou as normas de defesa da saúde pública ou as leis de posturas relativas a edificações, também não impede a atuação sobre as cooperativas da lei de defesa da concorrência, que tem múltiplos fundamentos constitucionais, como já estatuí de início”.