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3.3 Estratégias de DfE

3.3.1 Classificação Ambiental para Produtos

De acordo com Wimmer & Züst (2001), do ponto de vista ambiental, os produtos podem ser classificados em: produtos intensivos em matérias-primas, produtos intensivos na fabricação, produtos intensivos em transporte, produtos intensivos no uso e produtos intensivos no descarte.

O maior impacto ambiental causado pelos produtos intensivos em matérias- primas (tipo básico A) é devido à obtenção das matérias-primas. O consumo de energia e de materiais necessários para o processamento das matérias-primas contidas no produto claramente excede os impactos ambientais que ocorrem nas fases subsequentes do ciclo de vida. Exemplos típicos são computadores e dispositivos eletrônicos com baixo consumo de energia. Alguns fatores são indicativos de um produto do tipo básico A:

 O produto contém uma considerável proporção de materiais intensivos em recursos, tais como alumínio primário, aço de alta liga, cobre, níquel, fibras de carbono, etc.;  O produto contém materiais intensivos em recursos e não é possível desmontá-lo nem

reutilizar ou reciclar suas partes;

 Na fabricação do produto não são utilizados materiais reciclados, matérias-primas renováveis ou partes restauradas;

 O produto contém materiais intensivos em recursos e é utilizado apenas por um curto período de tempo.

O maior impacto ambiental causado pelos produtos intensivos na fabricação (tipo básico B) é resultante do processamento dos materiais na etapa de manufatura. Estes impactos são devido à provisão de energia e materiais para a fabricação do produto, bem como às emissões e ao consumo de recursos requeridos pelos processos de produção.

Produtos do tipo B contêm partes e montagens manufaturadas em processos intensivos em energia, tais como fundição e forjaria, ou processos intensivos em materiais, tais como limpeza e recobrimento. Adicionalmente, produtos do tipo B contêm partes e montagens que envolvem muitos estágios produtivos individuais ou que são manufaturadas em diferentes locais, exigindo muito transporte. Um exemplo de produtos do tipo B é mobília. Algumas características dos produtos do tipo B são:

 A manufatura do produto consome bastante energia;

 A manufatura gera uma considerável quantidade de resíduos sólidos, efluentes líquidos ou emissões gasosas;

 A manufatura envolve grandes quantidades de processos e materiais auxiliares;  A manufatura utiliza processos e materiais auxiliares prejudiciais ao ambiente;  A manufatura é intensiva em recursos, mas o produto só é utilizado por um curto

período de tempo;

 O produto contém partes e componentes transportados por longas distâncias.

Para os produtos intensivos em transporte (tipo básico C), o transporte (da planta industrial até o local de uso do produto) e a embalagem são os fatores determinantes para o desempenho ambiental global do produto. Os produtos do tipo C são caracterizados por uma forma especial de distribuição, enquanto as fases de extração de matérias-primas, manufatura, uso e descarte causam relativamente poucos impactos ambientais. Isso ocorre quando produtos muito pesados ou volumosos são transportados por longas distâncias, por exemplo, de avião. Outro exemplo são produtos tais como cerâmica, que são produzidos e importados de países distantes. Algumas características de produtos do tipo C são:

 O produto requer transportes de longa distância entre o fabricante e o usuário final;  São utilizados meios de transporte intensivos em recursos, tais como aviões,

caminhões, etc.;

Para os produtos intensivos no uso (tipo básico D), os impactos durante o uso dominam o seu impacto ambiental global. O consumo de energia e/ou materiais ou a geração de emissões gasosas, efluentes líquidos ou resíduos sólidos durante o uso causam impactos substanciais. Estes impactos estão intimamente ligados à utilização das funções e serviços pretendidos. A função desejada somente pode ser obtida por meio da introdução de processos adicionais. Resumindo, produtos do tipo D possuem as seguintes características:

 O produto requer energia para a sua operação (combustível, energia elétrica, etc.) e é utilizado regular ou intensivamente;

 A operação do produto requer materiais adicionais;

 O uso do produto gera emissões gasosas, efluentes líquidos ou resíduos sólidos.

Para este tipo de produto, o usuário do produto necessita de informações que o habilite a operá-lo de maneira segura e eficiente. Nesse contexto, o desenvolvimento de produto tem uma influência decisiva sobre o comportamento do usuário e, consequentemente, sobre o desempenho ambiental do produto.

Entretanto, nem sempre produtos que são ativos na sua fase de uso são produtos que requerem estratégias de otimização ambiental ligadas a produtos do tipo D. Considere, por exemplo, uma unidade de refrigeração. Para diminuir seu impacto, as medidas a serem tomadas relacionam-se com o aumento da eficiência da unidade, por exemplo, utilizando mais material para melhorar o isolamento térmico. Considere, agora, uma unidade de refrigeração acoplada a um caminhão frigorífico. O foco agora muda da eficiência da unidade para a eficiência do conjunto. Ou seja, a melhor estratégia agora é diminuir o peso da unidade, isto é, uma estratégia para produtos do tipo A. O importante é sempre ter em mente a eficiência ambiental global de forma a alocar as estratégias ambientais corretas. Isto é, o raciocínio de ciclo de vida sempre considera o projeto do sistema como um todo.

Züst (2002) faz da distinção entre produtos ativos imóveis ou estacionários e produtos ativos móveis, ou seja, aqueles que são movimentados com frequência. Os primeiros são produtos do tipo D. Já para os produtos ativos móveis, a estratégias de melhoria ambientais são semelhantes àquelas dos produtos intensivos em matérias-primas.

Produtos intensivos no descarte (tipo básico E) são caracterizados pelo fato de descarte, retomada e desmontagem serem os fatores dominantes no impacto global. Isto pode ser causado por substâncias problemáticas contidas no produto ou por materiais combinados inseparáveis que causam problemas no descarte.

A desmontagem e separação dos materiais consomem muito tempo, são intensivas em mão de obra e causam um ônus adicional ao ambiente. Além disso, uma mistura desvantajosa de materiais pode reduzir dramaticamente a possibilidade de reciclagem. Ainda, outro problema é o descarte do produto, pelo usuário, juntamente com lixo doméstico, sem a separação e o descarte adequado dos materiais perigosos. Esta prática pode gerar emissões venenosas e ambientalmente perigosas.

Para a utilização de materiais por meio da reciclagem, os diferentes materiais deveriam idealmente estar presentes em grandes quantidades, limpos e não misturados uns com os outros. Outra dificuldade com a fase de fim de vida é que o tempo entre o projeto e o descarte pode ser longo. Nesse ínterim, as condições econômicas podem se alterar e as medidas originalmente planejadas para um abastecimento e descarte eficientes podem não existir mais. Ou o sistema de suprimento, retomada e descarte podem ter se tornado ineficaz. Algumas características dos produtos do tipo E são:

 O produto contém substâncias ou montagens ambientalmente nocivas e que necessitam de tratamento especial na sua etapa de fim de vida;

 O produto causa problemas no descarte porque não pode ser desmontado, reformado ou reciclado;

 O produto e suas partes intensivas em recursos não podem ser reintegrados ao ciclo de materiais.

Por fim, algumas vezes não é possível designar inequivocamente um produto a um dos 5 tipos vistos anteriormente. Nesses casos, é aconselhável investigar pelo menos dois picos de impactos em detalhes e combinar as estratégias pertencentes aos tipos básicos para realizar a melhoria do produto.