• Nenhum resultado encontrado

2.4 A Fase de Projeto Conceitual

3.1.2 Análise de Inventário

3.1.2.1 Compilação do Diagrama de Fluxo e dos Dados dos Processos

De acordo co Guinée (2002), em uma ACV, todo e qualquer fluxo deveria ser seguido até que suas entradas e saídas econômicas ou tecnológicas tenham sido transformadas em intervenções ambientais. Intervenções ambientais são fluxos retirados do ambiente que entram no sistema do produto sem terem sido processados ou fluxos saindo do sistema e

descartados no ambiente sem transformações subsequentes, como indica a figura 3.3. As intervenções ambientais são, portanto, fluxos que cruzam a fronteira entre a economia e o ambiente.

Figura 3.3 – Intervenções Ambientais e Fluxos Econômicos

(Fonte: Guinée, 2002 p. 479)

Sempre que o sistema do produto é estudado, fronteiras são necessárias para separá-lo do resto do mundo. Para Guinée (2002), três tipos de fronteiras podem ser distinguidos em uma Análise de Inventário. As duas primeiras pertencem a esta seção, enquanto a terceira é tratada na seção 3.1.2.2. São elas:

 As fronteiras entre o sistema do produto e o sistema ambiental;

 A fronteira entre os processos relevantes e irrelevantes (critério de corte);  A fronteira entre o sistema do produto estudado e outros sistemas de produto

(alocação).

Normalmente o sistema do produto e suas fronteiras com o sistema ambiental são representados por meio de um diagrama de fluxo. O diagrama de fluxo fornece um esquema de todos os processos elementares mais importantes, incluindo sua inter-relação.

Segundo Guinée (2002), esboçar um diagrama inicial é útil para auxiliar a coleta de dados. Uma vez que só se tornarão aparentes quais fluxos econômicos e processos são relevantes para um estudo em particular após os dados serem coletados, a compilação de um diagrama de fluxo é um exercício iterativo. Inicialmente, o diagrama cobrirá apenas os processos que entregam a unidade funcional e os processos adjacentes que fornecem as matérias primas principais, os principais fluxos de resíduos e suas interconexões. Mesmo após todos os dados terem sido coletados, um diagrama completo é impossível, devido à quantidade de processos elementares, suas relações e a ocorrência de vários ciclos. Na maioria

Processo Unitário / Sistema de Produto Bens Serviços Materiais Energia Resíduos (para tratamento) Bens Serviços Materiais Energia Resíduos (para tratamento) Produtos Fluxos Econômicos Produtos Fluxos Econômicos Recursos bióticos Recursos abióticos Ocupação da terra Transformação da terra Intervenções Ambientais Emissões para o ar Emissões para a água Emissões para o solo Radiação Calor Ruído Etc. Intervenções Ambientais

das vezes, uma solução prática é esboçar apenas os processos principais e ampliá-los, se necessário, em diagramas parciais separados.

De acordo com Guinée (2002), uma vez traçado o sistema do produto e suas fronteiras, o próximo passo consiste de coletar os dados, normalizá-los e relacioná-los com a unidade funcional.

Primeiramente todos os dados relevantes dos processos elementares são coletados, tanto os de entrada, como os de saída. O fluxo de referência é o ponto de partida para a coleta de dados. Tais dados podem ser primários, isto é, diretamente medidos ou calculados, ou secundários, ou seja, vindos da literatura, bancos de dados públicos ou eletrônicos etc..

Após todos os dados terem sido coletados para os processos elementares, eles passam por um processo de normalização. Isto significa colocá-los em quantidades comuns, respectivamente à saída do processo elementar. Assim, por exemplo, todos os processos elementares que geram materiais são expressos por 1 kg de produto; os que geram eletricidade são expressos em 1 kWh, os que geram calor, 1 MJ etc..

A seguir, os dados são relacionados com o fluxo de referência. Assim, se os dados do subsistema X estão normalizados em função de 1 kg de produto X e para a fabricação do produto principal são necessário 5 kg de X, todos os dados do subsistema X (materiais, energia, emissões) são multiplicados por 5.

De acordo com Suh & Huppes (2005), caso quatro condições sejam atendidas, os cálculos acima seriam suficientes para compilar os resultados do inventário (seção 3.1.2.3 a seguir). Tais condições raramente acontecem simultaneamente na prática. São elas:

 Cada processo elementar produz um único material ou energia;

 Cada processo de tratamento de resíduos recebe apenas um tipo de resíduo;

 O sistema do produto fornece entradas para, ou recebe saídas de apenas outro sistema;  Fluxos de materiais e energia entre processos não tem laços (loops).

Estas quatro condições relacionam-se com a questão da multifuncionalidade e alocação (tratadas na seção 3.1.2.2) e a última adicionalmente com os cálculos dos resultados do inventário (tratados na seção 3.1.2.3).

Finalmente, após o traçado do sistema do produto e suas fronteiras e a coleta dos dados, sua normalização e seu relacionamento com a unidade funcional, o último passo da etapa de “Compilação do Diagrama de Fluxo e dos Dados dos Processos” é o traçado da

fronteira entre os processos relevantes e irrelevantes, denominado de critério de corte (GUINÉE, 2002).

Segundo Guinée (2002), em princípio, uma ACV deveria rastrear todos os processos do sistema do produto ao longo de seu ciclo de vida, do “berço ao túmulo”. Na prática, isto é impossível e um número de fluxos deve ser estimado ou ignorado. A raiz do problema é a falta de dados prontamente acessíveis, implicando um esforço desproporcional na coleta de dados, muitas vezes irrelevantes. Entretanto, há um paradoxo nesta situação: só se sabe que um dado é irrelevante depois deste ter sido coletado (WENZEL, HAUSCHILD & ALTING, 1997). Mas se o dado já foi coletado, não faz sentido não considerá-lo depois de todo o esforço despendido (GUINÉE, 2002). Assim, o problema do critério de corte é segundo Guinée (2002): ter que quantitativamente estimar intervenções ambientais associadas a fluxos para os quais não há dados prontamente disponíveis.

De acordo com Vigon et al. (1993), de um ponto de vista prático, pode-se adotar duas medidas. A primeira consiste em ignorar aqueles processos que contribuam em termos de massa com menos de certa porcentagem (por exemplo, 1%) do fluxo total do sistema do produto. A segunda opção é colocar um limite para o número de passos que o processo esteja removido do fluxo principal. Por exemplo, na produção de sabão em barra, a produção de soda cáustica a partir de eletrólise de sais é parte da sequência do processo principal e deve claramente ser incluída. Carbonato de sódio é uma matéria prima para a produção de soda cáustica e, portanto, uma entrada secundária no processo principal de fabricação do sabão em barras. Cloreto de amônia é uma entrada do processo de produção do carbonato de sódio. Relativo ao processo principal, o cloreto de amônia é uma entrada terciária. Utilizando o critério de corte de “um passo para trás”, o cloreto de amônia seria excluído.