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Quanto à forma de abordagem do problema e à sistemática do estudo, este trabalho é quantitativo. Richardson (1999, p. 29) esclarece que “o método precisa estar apropriado ao tipo de estudo que se deseja realizar, mas é a natureza do problema ou o seu nível de aprofundamento que, de fato, determina a escolha do método”.

Quanto à matriz teórica e aos objetivos de pesquisa, segundo Selltiz et al. (1967, p. 59), o estudo descritivo tem os seguintes objetivos: “(a) apresentar as características de uma situação, grupo ou indivíduo; (b) verificar a frequência com que algo ocorre ou com que está ligado a alguma outra coisa”. Como este estudo pretendeu avaliar o relacionamento entre governança e desempenho, valor de mercado e risco, ele se insere no item “b”.

Segundo Gil (1999), alguns estudos descritivos vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação, aproximando-se, neste caso, dos estudos explicativos e/ou causais. Este estudo se enquadra nesta definição.

No que se refere à amostra e aos dados, esta investigação utilizou dados secundários, coletados no banco de dados Economática, nos sites da CVM e da BM&FBovespa e na demonstração das Informações Anuais (IANs) das empresas, entregues à CVM a cada ano. A amostra foi composta por empresas brasileiras de capital aberto listadas na BM&FBovespa, no período de 2000 a 2009. Consideraram-se como empresas com liquidez significativa aquelas que apresentaram índice de liquidez anual calculado pelo Economática superior a 0,001% do índice correspondente à empresa com ações mais líquidas em quatro anos ou mais da pesquisa, incluindo, necessariamente, o ano de 2009, conforme o critério adotado por Silveira (2004). O setor de Finanças e Seguros ficou excluído da amostra, pois possui estrutura financeira bastante peculiar, sendo seus critérios de análise distintos em relação aos das demais empresas. A amostra final ficou composta por 245 empresas, após os filtros de liquidez e setor financeiro. Foi formado, então, um painel não balanceado de empresas negociadas na BM&FBovespa entre 2000 e 2009. Ou seja, para algumas empresas há dados somente em parte do período amostral. De acordo com Baum (2006), é preferível trabalhar com um painel não balanceado, porque o uso de painéis balanceados pode gerar um viés de

sobrevivência, além de provocar a redução acentuada da dimensão cross-section, isto é, do número de unidades analisadas.

Para definir os períodos de crise e de não crise, utilizou-se da literatura sobre o tema18 e dos indicadores do mercado financeiro, como o Ibovespa e o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Além disso, foi realizado o teste de Chow, com o objetivo de verificar possíveis quebras estruturais no período investigado. Dessa forma, segmentou-se o período investigado da seguinte forma: (i) crises locais – período compreendido entre 2000 e 2002; (ii) não crise – período entre 2003 e 2007; e (iii) crise global – período entre 2008 e 2009. A justificativa para essa segmentação de períodos foi fundamentada e descrita no item 2.6.1. Em relação aos EUA, a crise envolveu os anos de 2007 e 2008, considerando em 2007 a origem e em 2008 os desdobramentos da crise (FISCHER, 2012). Em relação ao Brasil, os desdobramentos da crise se fizeram sentir de outubro/2008 até abril/2009 no mercado de capitais (RAFFAELLI, 2010). Como os dados referentes à GC são todos disponibilizados em base anual, não foi possível trabalhar com os meses de crise, e sim com a aproximação por meio dos anos.

O ano de 2000 foi escolhido como sendo o início do período amostral, devido à criação do IGC pela BM&FBovespa nesse ano, momento em que passou a ser possível às empresas listadas aderirem aos diversos segmentos de listagem (nível 1, nível 2 e Novo Mercado).

Os anos de 2010 e 2011 não fizeram parte da amostra, pois, a partir do exercício contábil de 2010 as empresas brasileiras de capital aberto passaram a adotar as normas internacionais de contabilidade (IFRS), o que causou variações superiores a 10% nos lucros, para mais ou para menos, em 35% dos casos, dentre outras alterações em contas contábeis usadas neste estudo, o que dificultaria as análises comparativas de desempenho, valor e risco (VALOR ECONÔMICO, 2011).

A consulta às demonstrações IANs das empresas, entregues à CVM a cada ano possibilitou a obtenção dos dados referentes às variáveis que envolvem os mecanismos “conselho de administração”, “modalidades de compensação aos gestores”, “proteção aos acionistas minoritários”, e “estrutura de propriedade e controle”.

A consulta à base de dados Economática possibilitou a obtenção dos dados referentes a desempenho contábil, valor de mercado e risco, bem como ao mecanismo de governança

“transparência das informações publicadas”. Os dados sobre empresas emissoras de ADRs em seus diversos níveis foram solicitados via e-mail à CVM, que, posteriormente, enviou uma listagem para esta investigação. Os valores financeiros foram deflacionados pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI)19.

Após o período dedicado à construção do banco de dados, recorreu-se a um conjunto de procedimentos estatísticos com o objetivo de estimar: (i) as relações ceteris paribus entre os aspectos de governança corporativa e os indicadores de desempenho/valor/risco; e (ii) como este efeito se altera em períodos econômicos distintos. Para tanto, adotaram-se os seguintes procedimentos: (a) utilização da abordagem análise de componentes principais (ACP), método que permite resumir em um indicador um conjunto de variáveis, a qual, no contexto deste trabalho, foi utilizada para construir um indicador baseado em estimativas representativas das cinco dimensões da governança; (b) aplicação de métodos de regressão para dados longitudinais, em que se contrapõem aspectos de desempenho/valor/risco ao indicador de governança e outras variáveis de controle, com o objetivo de reconhecer o efeito da governança sobre a variação do desempenho/valor/risco das firmas; e (c) adoção da estatística de teste conhecida como teste de Chow (1960), cujo objetivo é verificar se em determinados pontos da reta de regressão ocorrem quebras estruturais.