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No Brasil, os mecanismos de GC ainda carecem de aperfeiçoamentos, devido aos seguintes motivos principais: mercado de capitais ainda pouco expressivo, propriedade acionária concentrada, sobreposição propriedade-gestão, conflito de agência entre acionistas majoritários e minoritários, fraca proteção a minoritários, enforcement deficiente, baixa eficácia dos conselhos de administração e modelo voltado para os interesses dos proprietários. No entanto, há sinais de evolução no país, principalmente devido a: fusões, entrada de investimentos estrangeiros, reestruturações societárias em empresas de capital aberto, modificações em suas estruturas de propriedade e gestão, crescente profissionalização dos Conselhos de Administração, aumento das ofertas públicas de ações (IPOs – Initial Public

Offerings) e maior conscientização da classe empresarial (ANDRADE; ROSSETTI, 2006).

A bolsa de valores de São Paulo (BM&FBovespa) criou níveis diferenciados de governança corporativa (NDGC), que são divididos em: nível 1, nível 2 e nível 3 ou Novo Mercado. São todos destinados à negociação de ações emitidas por empresas que se

9 O índice de GC construído por Lameira (2007) alternou-se nos modelos de regressão, ora como variável dependente, ora como variável independente.

10 Medidos por volatilidade dos retornos das ações e custo médio ponderado de capital (WACC).

11 Logo, pode-se dizer que o suporte conceitual deste estudo foi proveniente principalmente de: Correia (2008), Lameira (2007), Srour (2005) e Gonçalves (2009).

comprometem, voluntariamente, com a adoção de práticas de GC adicionais em relação ao que é exigido para o mercado tradicional.

Segundo Peixe (2003), as vantagens da adesão ao Novo Mercado são: (a) empresas – melhor precificação das suas ações, conseguindo com isso menores custos de transação, com base no pressuposto de que os investidores se dispõem a pagar um prêmio para as empresas que adotam melhores práticas de GC e que apresentam maior grau de transparência; e (b) investidores – maior segurança e a oportunidade de adquirir o que a bolsa chama de “produto- ação diferenciado”, pois são negociadas apenas ações com direito a voto que permitem ao investidor participar e acompanhar melhor a evolução da companhia.

A BM&FBovespa, ao criar o Novo Mercado, também criou, em 2001, um novo índice de ações, chamado de índice de governança corporativa (IGC), formado apenas por empresas que adotam as práticas dos níveis diferenciados de governança. A criação do IGC tornou mais fácil a implementação de pesquisas em governança, possibilitando estudos de comparação entre empresas que possuem níveis diferenciados de GC e empresas pertencentes ao mercado tradicional da BM&FBovespa.

A principal inovação do Novo Mercado em relação ao mercado tradicional e aos níveis 1 e 2 é a exigência de que o capital social da companhia seja composto somente por ações ordinárias. As companhias nível 1 se comprometem, principalmente, com melhorias na prestação de informações ao mercado e com a dispersão acionária. As companhias nível 2 se comprometem a cumprir as regras aplicáveis ao nível 1 e, adicionalmente, um conjunto mais amplo de práticas de governança relativas aos direitos societários dos acionistas minoritários. O Quadro 2 detalha as exigências de cada um desses níveis.

No Brasil, a adesão aos NDGC da BM&FBovespa passou a ser quase uma condição para as empresas abrirem seu capital, especialmente no caso de elas necessitarem de financiamentos com taxas de juros reduzidas ou investimentos de instituições financeiras. Ademais, a governança passou a ter importância para investidores, analistas de mercado, bancos, instituições de investimento, agências de rating, fundos de pensão e private equities no processo de avaliação e valorização das empresas (AUDIT COMMITTEE INSTITUTE, 2007).

Novo Mercado Nível 2 Nível 1 Tradicional Percentual mínimo de ações em

circulação (free float) No mínimo, 25% de free float. No mínimo, 25% de free float. No mínimo, 25% de free float. Não há regra. Características das ações

emitidas Permite a existência somente de ações ON. Permite a existência de ações ON e PN (com direitos adicionais). Permite a existência de ações ON e PN. Permite a existência de ações ON e PN. Conselho de administração Mínimo de cinco membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes, com mandatos de 2 anos. Mínimo de cinco membros, dos quais pelo menos 20% devem ser independentes, com mandatos de 2 anos. Mínimo de três membros (conforme legislação). Mínimo de três membros (conforme legislação). Demonstrações financeiras

anuais em padrão internacional US GAAP ou IFRS. US GAAP ou IFRS. Facultativo. Facultativo. Concessão de tag along 100% para ações ON. 100% para ações ON e PN12.

80% para ações ON (conforme legislação). 80% para ações ON (conforme legislação). Adoção da câmara de arbitragem

do mercado Obrigatório. Obrigatório. Facultativo. Facultativo.

Quadro 2 – Exigências requeridas para integrar os NDGC da BM&FBovespa

Legenda: Ações Ordinárias (ON); Ações Preferenciais (PN); Generally Accepted Accounting Principles in the

United States (US GAAP); International Financial Reporting Standards (IFRS).

Fonte: BM&FBovespa (2012).

Além da criação dos NDGC, há diversas iniciativas que visam aprimorar as práticas de GC nas empresas brasileiras, tais como: (a) aprovação da Lei 10.303/2001, conhecida como “nova Lei das S.A.s”; (b) criação dos códigos de governança corporativa do IBGC e da cartilha da CVM; (c) definição do BNDES quanto à adoção de boas práticas de GC como um dos requisitos para a concessão de financiamentos; (d) Nova Lei de Falências, voltada para a proteção dos credores; e (e) Leis 11.638/2007 e 11.941/2009, que têm como finalidade atualizar as regras contábeis brasileiras e harmonizar essas regras com normas internacionais.

A Lei 10.303/2001 tem por objetivo permitir maior acesso do pequeno investidor ao mercado acionário e reduzir a concentração acionária. Assim, essa lei tem a intenção de proporcionar maior segurança aos investimentos do pequeno investidor e fazê-lo participar mais ativamente do controle das companhias em que ele investe. Tal lei consiste em um

marco fundamental no avanço da GC no Brasil. Dentre as principais mudanças trazidas por ela, destaca-se que:

a) alteração na proporção máxima entre ações ordinárias e ações preferenciais, que passa de 33% para 50% para as empresas constituídas após a lei; b) permissão para que, em determinados casos, os minoritários possam eleger e destituir membros do Conselho de Administração (representantes dos acionistas); c) explicitação das regras de atuação do Conselho Fiscal, melhoria no processo de divulgação de informações para assembleias, alargamento do seu prazo de divulgação; d) estabelecimento de regras mais rígidas para aquisições ou fechamentos de capital através da exigência de ofertas públicas de aquisição por parte do adquirente; e) permissão para que estatutos indiquem utilização de câmaras de arbitragem para a resolução de conflitos internos nas empresas (Lei 10.303/2001)13.

Visando complementar essas iniciativas, a CVM elaborou uma cartilha, em junho de 2002, com o objetivo de influenciar e disciplinar a relação entre acionistas, conselheiros, auditores e gestores. Tal cartilha aborda: (a) assembleias, estrutura acionária e grupos de controle; (b) estrutura e responsabilidades do conselho de administração; (c) proteção a acionistas minoritários; e (d) auditoria das demonstrações financeiras.

Em suma, pode-se dizer que a governança corporativa no Brasil tem apresentado sinais de evolução, mas ainda carece de aperfeiçoamentos legais, institucionais e de monitoramento, a fim de proporcionar maior reconhecimento nacional e internacional às empresas que escolhem o caminho da boa governança no país.

2.6 Governança corporativa e crises