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Classificação das atividades da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

2.3 O papel da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

2.3.1 Classificação das atividades da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

De acordo com a IAS 7 (IASB, 2010) e o tópico 230 (FASB, 1987), antiga norma SFAS 95, as entradas e saídas de caixa devem ser classificadas nos grupos de atividades operacionais, de investimentos ou de financiamentos, nessa ordem.

Baseado nas normas internacionais de contabilidade, o artigo 188 da Lei nº 11.638/2007 (Brasil, 2007) requer que as empresas divulguem na Demonstração dos Fluxos de Caixa, no mínimo, três fluxos de maneira segregada, a saber:

a) Fluxos das operações;

b) Fluxos dos financiamentos; e c) Fluxos dos investimentos.

Conforme Nurnberg e Largay III (1993), a ideia subjacente para essa classificação é proveniente da teoria das finanças, segundo a qual uma empresa obtém caixa para financiar os seus investimentos de duas fontes distintas: (a) das suas próprias operações; e (b) dos financiamentos de credores e acionistas.

A DFC é mais facilmente entendida do que a DOAR. A DFC é considerada mais simples de entender pelos usuários das demonstrações contábeis, pois mostra as entradas e saídas de caixa segregadas por grupos de atividades, enquanto a DOAR mostra as origens e aplicações de recursos que compõem a variação do capital circulante líquido do período. Com a divulgação da DFC os usuários tomam conhecimento da geração de caixa das operações da empresa, dos seus investimentos, bem como dos seus financiamentos. (Martins, 1999, p. 8; Braga & Marques, 2001, p. 7).

Os fluxos de caixa das atividades operacionais reportam as entradas e saídas de caixa provenientes de itens da operação da empresa, tais como recebimento de vendas, compra de estoques, pagamento de fornecedores e empregados, dentre outros.

Os fluxos de caixa das atividades de investimentos retratam os fluxos de caixa provenientes de ativos tangíveis e intangíveis classificados no ativo não circulante, bem como dos investimentos permanentes em sociedades controladas, coligadas e joint ventures. São exemplos destes fluxos

a compra e a venda de ativos imobilizados, intangíveis e de participações societárias em empresas.

Por sua vez, os fluxos de caixa das atividades de financiamento representam os fluxos de caixa provenientes de empréstimos e financiamentos de curto e longo prazos com terceiros, bem como transações da empresa com seus sócios, tais como aumento e redução de capital, compra de ações para manutenção em tesouraria, dentre outras.

Há algumas operações que podem ser classificadas tanto em um quanto em outro grupo de atividade da DFC, porém a classificação em diferentes períodos deve ocorrer de maneira consistente.

Os fluxos de caixa relativos aos pagamentos e recebimentos de juros, bem como os recebimentos de dividendos e juros sobre o capital próprio devem ser apresentados separadamente, como decorrentes de atividades operacionais, de investimentos ou de financiamentos. No caso de instituições financeiras esses pagamentos e recebimentos citados são comumente classificados como atividades operacionais. Entretanto, em outras empresas não há consenso sobre essa classificação.

Conforme o CPC 03 (CPC, 2010, p. 13), os juros pagos e recebidos e os dividendos e juros sobre o capital próprio recebidos podem ser classificados como fluxos de caixa operacionais, uma vez que eles fazem parte da composição do resultado da empresa (lucro líquido ou prejuízo). Como alternativa, os juros, os dividendos e os juros sobre o capital próprio recebidos podem ser classificados fluxos de caixa de investimento, pois podem ser considerados como retorno sobre investimentos. Da mesma maneira, os pagamentos de juros, dividendos e juros sobre o capital próprio podem ser classificados como fluxos de caixa de financiamento quando são considerados custos necessários para a obtenção de recursos financeiros. O pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio pode ser classificado como fluxo de caixa operacional quando essa alocação auxiliar os usuários a determinar a capacidade da entidade pagar dividendos e juros sobre o capital próprio utilizando fluxos de caixa operacionais.

A Tabela 6 apresenta as opções oferecidas pela norma contábil na classificação dos fluxos de caixa entre das atividades operacionais, de investimentos e de financiamentos.

Tabela 6 - Opções de classificação dos fluxos de caixa entre as atividades Itens dos Fluxos de Caixa

Alocação dos Itens dos Fluxos de Caixa nas Atividadesa Empresas em Geral Financeiras Instituições Seguradoras Brasileiras Juros recebidos Investimento ou operacional Operacional Operacional Dividendos e juros sobre o

capital próprio recebidos Investimento ou operacional

Idem à coluna

anterior Operacional Juros pagos Operacional ou de financiamento Operacional Operacional Dividendos e juros sobre o

capital próprio pagos Financiamento ou operacional Idem à coluna anterior Financiamento Impostos pagos Operacional. Se praticável, deve-se alocar os impostos pagos nas

atividades que lhes deram origem

Idem à coluna

anterior Operacional

Fonte: CPC 03 (CPC, 2010) e Superintendência de Seguros Privados (2014a).

a No exemplo de DFC que foi citado na norma do IASB e do CPC, nas empresas em geral e nas instituições financeiras, a alocação dos itens do fluxo de caixa figurou na primeira opção.

Diferentemente do IASB, o FASB exige e o CPC 03 (CPC, 2010) sugere que as empresas brasileiras classifiquem como fluxos de caixa operacionais, os juros pagos, os juros recebidos e os dividendos e juros sobre o capital próprio recebidos. O pronunciamento brasileiro também sugere que os dividendos e juros sobre o capital próprio pagos sejam alocados nos fluxos de caixa de financiamento. Caso as empresas não considerem essa sugestão do CPC, a alocação alternativa deve ser evidenciada em nota explicativa.

Por sua vez, apesar de a Susep ter aprovado o CPC 03 (CPC, 2010), a sua norma contábil (Susep, 2014a) não apresenta opção de classificação dos fluxos dos juros e dividendos, haja vista que a autarquia definiu um modelo obrigatório a ser seguido por todas as empresas do mercado. No referido modelo, a Susep considera o pagamento de juros e impostos, bem como o recebimento de juros, dividendos e juros sobre o capital próprio como fluxos de caixa provenientes das atividades operacionais. Quanto ao pagamento de dividendos e juros sobre o capital próprio, a Susep requer que as empresas aloquem essas transações nas atividades de financiamento.