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Métodos da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

2.3 O papel da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

2.3.2 Métodos da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC)

Nas normas internacionais de contabilidade destacadas a seguir são definidos dois métodos que podem ser utilizados na preparação da DFC. Por sua vez, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis, seguindo as normas internacionais de contabilidade editadas pelo IASB, também definiu os mesmos métodos a serem utilizados no Brasil (CPC, 2010, p. 9), a saber:

a) Método direto; e b) Método indireto.

O método direto descreve os recebimentos (entradas de caixa) e os pagamentos (saídas de caixa) que são os fluxos de caixa das contas que compõem o Balanço Patrimonial e a Demonstração do Resultado, detalhando o valor dos pagamentos e dos recebimentos de cada componente. Por sua vez, o método indireto parte do resultado (lucro ou prejuízo), ajusta as despesas e receitas contidas no resultado que não afetam o caixa, como depreciações, amortizações e resultado de equivalência patrimonial, entre outras, e mostra a variação das contas operacionais do período, tanto do ativo quanto do passivo, resultando no fluxo de caixa das atividades operacionais. Nas atividades de investimentos e financiamentos não há diferença entre os métodos direto e indireto, uma vez que para essas duas atividades são divulgadas informações de pagamentos e recebimentos (entradas e saídas de caixa) e, portanto, não são permitidas divulgações de informações de variação das contas.

Reforçando este conceito, pelas normas internacionais de contabilidade, mesmo que a DFC seja preparada pelo método indireto, como os fluxos de caixa gerados pelas atividades de investimentos e de financiamentos não são apresentados pela variação das suas respectivas contas, os fluxos destas duas atividades são sempre apresentados pelos critérios utilizados no método direto. Dessa maneira, apenas para as atividades operacionais é que o método indireto difere do método direto.

A Lei nº 11.638/2007 (Brasil, 2007) não abordou os métodos do fluxo de caixa. Assim sendo, pela referida Lei, não há obrigatoriedade das empresas utilizarem um ou outro método. Tanto a IAS 7 (IASB, 2010) quanto o tópico 230 (FASB, 1987), antiga norma SFAS 95, oferecem a opção pelos dois métodos, porém esses normatizadores preferem a divulgação pelo método direto e o incentivam. Já o item 18 do CPC (CPC 2010, p. 9)10 não menciona sua preferência

por nenhum dos dois métodos. Tanto o CPC quanto o FASB exigem que as empresas conciliem o lucro líquido e o fluxo de caixa líquido das atividades operacionais quando a empresa divulgar a DFC utilizando o método direto. O IASB não requer tal conciliação.

A conciliação entre o lucro líquido e o fluxo de caixa líquido das atividades operacionais exigida pelo CPC e pelo FASB, na essência, significa que a empresa que divulga DFC pelo método direto está também divulgando informações pelo método indireto. Isso ocorre, pois como não há diferenças entre os métodos para as atividades de investimentos e financiamentos,

10 Trabalho desenvolvido por Costa, Theóphilo e Yamamoto (2012) apresenta diferenças entre os pronunciamentos

do CPC e as normas do IASB. Na página 12 do artigo consta a diferença entre o CPC 03 e a IAS 7, que tratam da DFC.

onde existe diferença que é na atividade operacional, há a informação pelo método direto na DFC e pelo método indireto na conciliação.

Quando um país segue integralmente as normas do FASB e do IASB e oferece a opção por um ou outro formato, pela maior facilidade na preparação, o método indireto é o escolhido pelas empresas (Golub & Huffman, 1984).

Klammer e Reed (1990) investigaram as vantagens comparativas dos dois formatos do fluxo de caixa. No experimento realizado pelos autores, os analistas de bancos foram convidados a estudar um conjunto de demonstrações contábeis, responder uma série de perguntas sobre os fluxos de caixa das empresas e tomar uma decisão sobre concessão de crédito. Os resultados mostram que houve menor variabilidade no valor dos empréstimos concedidos quando os analistas recebiam demonstrações contábeis divulgadas pelo método direto, diferentemente do método indireto. Os resultados sugerem que o método direto pode ser preferível ao método indireto, o qual é o mais comumente utilizado.

Diferentemente da pesquisa de Klammer e Reed (1990), McEnroe (1996) entrevistou analistas e investidores para responderem dentre outros assuntos, quais seriam suas preferências na divulgação dos fluxos de caixa, se pelo método direto ou pelo método indireto. Os resultados mostram que os entrevistados não expressaram uma preferência esmagadora por nenhum dos métodos.

Hendriksen e Van Breda (2010, p. 178) afirmam que o FASB prefere que as empresas divulguem as DFCs pelo método direto, mas elas parecem preferir preparar a demonstração no formato indireto. Os autores afirmam que “. . . este enfoque mais oculta do que revela . . .” e entendem que o método indireto deveria ser abandonado.

Krishnan e Largay III (2000), Orput (2009) e Farshadfar e Monem (2013) indicam que para a previsão de fluxo de caixa, a divulgação da DFC pelo método direto fornece informação mais útil para os usuários das demonstrações contábeis do que a DFC divulgada pelo método indireto. Adicionalmente, observando a afirmação do FASB de que o lucro líquido é melhor preditor de fluxo de caixa futuro, Krishnan e Largay III (2000) testaram tal afirmação e verificaram que os fluxos de caixa, quando preparados pelo método direto, são melhores preditores de fluxos de caixa operacionais futuros do que os lucros líquidos e os accruals.

Bradbury (2011, p. 124) pesquisou se o método direto é melhor do que o método indireto na questão de previsão. O autor informou que alguns países como a Austrália e a Nova Zelândia exigem a divulgação da DFC pelo método direto. Os resultados da pesquisa de Bradbury (2011, p. 128) indicam que a divulgação da DFC pelo método direto melhor prediz o desempenho futuro da empresa e tem forte associação com o preço das ações do que a DFC divulgada pelo método indireto. Isso ocorre em função do estudo utilizar a desagregação dos componentes do fluxo de caixa operacional e, neste contexto, como o método indireto é preparado por reconciliação do lucro líquido e por diferenças entre saldos, os valores desagregados levam desvantagem na predição e na associação com o preço das ações.

É importante salientar que a somatória dos fluxos de caixa preparados por qualquer um dos dois formatos resulta no mesmo valor da variação do caixa e equivalentes de caixa do período reportado. Os equivalentes de caixa são definidos pela IAS 7 (IASB, 2010) como investimentos utilizados para gerenciar os compromissos de caixa de curto prazo da empresa.

Dessa forma, os equivalentes de caixa precisam ter conversibilidade imediata em um montante conhecido de caixa e estarem sujeitos a um risco insignificante de mudança de valor. Um investimento qualificado como equivalente de caixa deve apresentar, também, vencimento de curto prazo, aproximadamente 90 dias contados a partir da data de sua aquisição e não da data- base de fechamento de balanço.