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1 VITIMOLOGIA

2.3 CLASSIFICAÇÃO

2.3.1 Segundo Benjamin Mendelsohn

A primeira classificação que se tem notícia é a do pioneiro da Vitimologia, o professor e advogado Benjamin Mendelsohn.

Mendelsohn foi o primeiro a descobrir a existência de uma relação inversamente proporcional entre a culpabilidade do vitimário e a participação da vítima no fato que a vitimiza. É dizer que, no plano real (e não no plano jurídico), quanto maior a participação da vítima, menor a culpa do ofensor (BODERO, 2001, p.75, tradução nossa).23

Benjamin Mendelsohn classificou as vítimas em cinco perfis diferentes, são eles: 1) vítima completamente inocente ou vítima ideal; 2) vítima menos culpada que

23Trecho original: Mendelsohn fue el primero a descubrir la existencia de una relación inversamente

proporcional entre la culpabilidad del victimario y la participación de la víctima en el hecho que lo victimiza. En otras palabras, que a una mayor participación de la víctima corresponde (en el plan de la realidad, no en el jurídico) una menor culpabilidad del hechor.

o delinquente ou vítima por ignorância; 3) vítima tão culpada quanto o delinquente ou vítima provocadora; 4) vítima mais culpada que o delinquente ou pseudovítima; 5) vítima como única culpada ou vítima agressora (PIEDADE JÚNIOR, 1993).

Edmundo Oliveira apresentou e explicou a classificação proposta por Mendelsohn da seguinte maneira:

1. Vítima completamente inocente ou vítima ideal. Está eventualmente alheia à atividade do criminoso, nada provocando ou nada elaborando para a produção do crime.

2. Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância. Caracteriza-se por um impulso não voluntário ao delito, mas um certo grau de culpa leva essa pessoa à vitimização.

3. Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator. Qualquer um pode ser o criminoso ou a vítima.

4. Vítima mais culpada que o infrator. Pode ser a) Vítima provocadora, que incita o autor do delito; b) Vítima por imprudência, que determina o acidente por falta de controle de si mesma.

5. Vítima unicamente culpada. Classificam-se em: a) Vítima infratora, que comete uma infração e resulta finalmente vítima, como na circunstância do homicídio por legítima defesa; b) Vítima simuladora, portadora de séria Psicopatia ou outra desordem mental como Psicose, Paranoia, Esquizofrenia ou Neurose (OLIVEIRA, 2001, p. 154, grifos no original).

A partir dessa primeira classificação, Mendelsohn percebeu a existência de três grandes grupos, chamados: 1) vítima inocente ou ideal - aquela que não participou na produção do resultado; 2) vítima provocadora, imprudente, voluntária e ignorante - aquela que participa da ação querida pelos agentes; e 3) vítima agressora, simuladora e imaginária - aquela que não deve ser considerada vítima, senão co-autora do resultado criminoso.

2.3.2 Segundo Hans von Hentig

Segundo Bodero, quanto às vítimas, Hans von Hentig dizia:

Há, sem dúvida, vítimas casuais, aquelas que são postas em contato com o autor do delito apenas por azar. Mas, quase sempre, nos delitos contra a honestidade, na fraude, no assassinato e em vários tipos de roubo - encontra-se alguma relação com ele [...] Somente na dosimetria da pena o juiz pode levar em conta a contribuição da vítima. A ciência que estuda os nexos causais das condutas não pode deixar de prestar atenção nas vítimas [...] Ainda que a lei tente excluir a vítima da participação no crime e no que é inerente a ele, já se reconheceu, de forma hesitante, seu envolvimento (BODERO, 2001, p. 75, tradução nossa).24

24 Trecho Original: Hay, sin duda, víctimas casuales, a las que sólo el azar pone en contacto con el

Em sua obra principal, von Hentig elaborou uma classificação geral e um estudo sobre tipos psicológicos das vítimas. Dividiu-as em treze categorias, como, por exemplo: idosos, jovens, mulheres, estrangeiros, homossexuais, prostitutas, viciados, entre outros sujeitos que considerava vítimas em potencial. Além disso, analisava as atitudes das vítimas em relação a seu agressor (BODERO, 2001). Após, von Hentig as insere em diferentes grupos que não classifica de maneira precisa, mas refere-se à existência de vítimas solitárias, deprimidas, atormentadas, libertinas, etc. (OLIVEIRA, 1999).

Hans von Hentig, em 1957, durante um trabalho sobre Psicologia dos Delitos em particular, sugere uma nova divisão para as vítimas em dois grupos, sendo eles: 1) resistente; 2) cooperadora ou coadjuvantes (PIEDADE JÚNIOR, 1993). No primeiro grupo estariam as vítimas que reagem ao ataque do agressor e no segundo grupo as vítimas que concorrem para a produção do resultado querido pelo agressor.

Foi a partir das publicações e conferências ministradas por von Hentig que o mundo cientifico passou a admitir que alguns delitos restariam sem solução se não fossem analisados através do prisma da relação autor-vítima ou se não se contemplassem a conduta cooperadora ou provocadora do sujeito passivo do delito (BODERO, 2001).

2.3.3 Segundo Jiménez de Asúa

A resistência do professor espanhol Luis Jiménez de Asúa em aceitar a Vitimologia como uma ciência, como era defendida por muitos outros estudiosos, não o impediu de criar a sua própria classificação para as vítimas.

Para Jiménez Asúa, as vítimas diferenciavam-se entre: indiferentes, indefinidas ou inominadas e vítimas determinadas (PIEDADE JÚNIOR, 1993).

As vítimas indiferentes seriam aquelas escolhidas ao acaso, sem nenhum critério pré-definido. Piedade Júnior (1993) a exemplifica como aquela vítima que é

tipos de hurto - se encuentran en alguna relación con él (...) Sólo en la medición de la pena puede tener en cuenta el juez la contribución de la víctima. La ciencia que estudia los nexos causales en las conductas, no puede dejar de prestar atención al problema de la víctima (...) Aunque la ley trate de excluir a la víctima de la participación en el delito y de lo a él inherente, ha reconocido a veces, titubeando y de mala, su implicación.

escolhida por um assaltante que busca, em uma via pública, por uma pessoa qualquer para praticar um roubo.

De outra banca, a vítima determinada é aquela escolhida pelo criminoso por algum motivo específico ou por alguma característica própria da pessoa da vítima, como, por exemplo, nos casos de crimes praticados com abuso de confiança.

Por último, as vítimas indefinidas ou indeterminadas seriam aquelas representadas pela coletividade, sem qualquer tipo de individualização. Piedade Júnior (1993, p.101), citando Nuvolone, explica que, nesse grupo, se encontram "as vítimas que sofrem, genérica e indeterminadamente, todos os tipos de agressões em atentados e violências da sociedade moderna". Neste grupo, estão, entre outros exemplos, as vítimas de ataques terroristas, vítimas das propagandas enganosas e as vítimas do desenvolvimento e do processo científico (PIEDADE JÚNIOR, 1993).

2.3.4 Segundo Elías Neuman

O autor argentino Elías Neuman propõe uma divisão em quatro grupos. São eles: 1) vítimas individuais; 2) vítimas familiares; 3) vítimas coletivas; e 4) vítimas da sociedade e do sistema social. Para cada um desses grupos, Neuman acrescentou desdobramentos que atendiam a realidades locais e universais diárias (PIEDADE JÚNIOR, 1993).

As vítimas individuais seriam o sujeito passivo do crime quando apresentado por uma pessoa física. Por sua vez, as vítimas familiares seriam as vítimas de crimes ocorridos em contexto familiar ou doméstico, como maus tratos ou agressões sexuais. As vítimas coletivas são aquelas cujo titular do bem jurídico tutelado não é uma pessoa física, podendo ser uma pessoa jurídica, a coletividade ou, até mesmo, o Estado. Por fim, as vítimas da sociedade e do sistema social são aquelas que ocorrem por ação ou omissão do Estado, como, por exemplo, as mortes por falta de atendimento médico nos hospitais públicos.

2.3.5 Segundo Lola Aniyar de Castro

A vitimóloga venezuelana Lola Aniyar de Castro, que dedicou seus esforços a estudar o sistema de vitimização na América Latina, criou uma classificação bastante prestigiada pelos estudiosos, porque, segundo eles, a clareza e

objetividade utilizadas nesse agrupamento abarcou todos os tipos de vítimas, não deixando espaço para esquecimento (PIEDADE JÚNIOR, 1993).

Dividida também em quatro grupos, Lola Aniyar de Castro separou as vítimas em: 1) vítima singular e coletiva; 2) vítima de si mesma e vítima de crimes alheios; 3) vítima por tendência reincidente, habitual e vítima profissional; e 4) vítima que atua com culpa inconsciente, vítima consciente e vítima que age com dolo (PIEDADE JÚNIOR, 1993).

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