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Lei de Proteção as Vítimas e Testemunhas Ameaçadas Lei nº 9.807, de

1 VITIMOLOGIA

3.1 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

3.1.2 Lei de Proteção as Vítimas e Testemunhas Ameaçadas Lei nº 9.807, de

A Lei nº. 9.807, de julho de 1999, conhecida como "Lei de Proteção as Vítimas e Testemunhas" estabelece normas para a organização e para a manutenção do programa de proteção destinado a vítimas e testemunhas que estejam sofrendo ameaças.

Apesar da inegável importância da lei, sua abrangência é limitada, conforme dispõe o artigo 1º, ao definir que as medidas de proteção prestadas pela União, pelos Estados e pelo Distrito Federal devem ser requeridas por "vítimas ou por testemunhas de crimes que estejam coagidas ou expostas a grave ameaça em razão de colaborarem com a investigação ou processo criminal".

Dessa maneira, apesar de trazer garantias importantes, esta lei limita seus beneficiários, restringindo sua proteção somente às vítimas e testemunhas que estejam sofrendo ameaça ou coação.

Art. 2º: A proteção concedida pelos programas e as medidas dela decorrentes levarão em conta a gravidade da coação ou da ameaça à integridade física ou psicológica, a dificuldade de preveni-las ou reprimi-las pelos meios convencionais e a sua importância para a produção da prova. Percebe-se, portanto, que, para ser digna de receber a proteção do Estado, a vítima precisa, necessariamente, estar sendo vítima de um novo crime, qual seja: a coação no curso do processo.

É dizer, não basta ser vítima de um crime para receber proteção, o Estado só age quando a pessoa passa a ser duplamente vitimizada.

Uma vez incluída no rol de pessoas aptas a receber amparo, conforme dispõe o parágrafo 1º do art. 2º da Lei em comento, a proteção também poderá ser dirigida ou estendida à/ao cônjuge ou companheira/o da vítima, seus ascendentes, descendentes ou outra pessoas que seja dependente, desde que possua convivência com a vítima.

A Lei prevê, em seu art. 5º, quem pode solicitar o ingresso no programa de proteção e a maneira de fazê-lo. Porém, dispõe, no parágrafo 3º do mesmo artigo, que, em casos de urgência (a depender da gravidade e da iminência da coação ou ameaça) a vítima pode ser colocada provisoriamente sob a custódia de órgão policial. Após, o conselho deliberativo decidirá sobre o ingresso ou exclusão da vítima no programa e as providências necessárias ao cumprimento deste.

O artigo 7º da Lei nº 9.807/99 estabelece as medidas que, dentre outras, podem ser aplicadas de maneira isolada ou cumulativamente, em razão da gravidade de cada caso. São elas: segurança residencial, incluindo controle de telecomunicações; escolta e segurança nos deslocamentos da residência; transferência de residência ou acomodação provisória em local protegido; apoio e assistência social, médica e psicológica; ajuda financeira mensal para prover as despesas de subsistência individual ou familiar, nos casos em que a pessoa protegida encontra-se impossibilitada de praticar seu trabalho ou, ainda, quando inexiste fonte de renda (o teto dessa ajuda financeira será fixado pelo conselho deliberativo). A lei ainda prevê a possibilidade da alteração do nome completo da pessoa protegida, em casos excepcionais em que se julgar necessário para a sua proteção (art. 9º).

Por fim, a duração do programa de proteção, conforme dispõe o art. 11 da Lei, será de, no máximo, 2 (dois) anos, podendo ser prorrogada somente mediante circunstâncias excepcionais. Resta evidente e dispensaria comentários o fato deste prazo ser, na realidade do nosso sistema, completamente falho. Não é necessário nenhum conhecimento técnico para saber que um processo pode durar (e comumente dura), mais do que esse tempo. Dessa forma, apesar da ótima intenção da lei, a morosidade do nosso sistema legal a torna insatisfatória para fornecer a proteção necessária.

Além disso, a Promotora de Justiça Roberta Maristela Rocha dos Anjos, presidente do Conselho Deliberativo do Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas (PROVITA) do Estado do Rio de Janeiro, alerta que outro fator comprometedor do pleno funcionamento do programa é a falta de investimento público. Garante que o PROVITA-RJ se sustenta em razão do esforço individual empregado pelos funcionários da entidade da sociedade civil conveniada (ANJOS, 2018).

A Promotora tece ainda uma crítica ao Poder Executivo, ao garantir que, apesar da falta de amparo, o PROVITA-RJ funciona de maneira decente, solucionando situações de graves violações dos Direitos Humanos (ANJOS, 2018).

Resta evidente, portanto, que um dos maiores desafios do programa seja a falta de recurso para uma satisfatória implementação do sistema da maneira em que determina a lei, o que depende, sobretudo, da atenção e da vontade dos governantes (ANDREUCCI, 2011).

Até o ano de 2018, quando o PROVITA completou 20 anos de atuação, os Estados que contavam com programas de proteção em âmbito estadual eram os seguintes: Acre, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Minas Gerais, Pernambuco, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. As vítimas e testemunhas dos demais Estados eram amparadas pela equipe federal do PROVITA, coordenada pelo Ministério dos Direitos Humanos (BRASIL, 2018).

Ante o exposto, é possível perceber a importância e a indispensabilidade de uma lei que proteja as vítimas e testemunhas em situação de ameaça. Apesar disso, resta clara a insuficiência do diploma já existente ao deixar de abranger as demais vítimas. Aquelas que, ainda que não estejam sofrendo ameaças, não deixam de padecer em razão do ato que as vitimizou. Embora seja compreensível a maior gravidade da situação em que se encontram as vítimas amparadas pela Lei em comento, não se pode olvidar que todas as pessoas vitimizadas merecem tratamento digno e respeitoso. O Estado não pode esperar que a vítima venha a ser novamente vitimizada (em razão do crime de coação no curso do processo) para fornecer proteção. Principalmente porque o modus operandi do Estado sobrevitimiza não somente as vítimas não abrangidas pela lei, como também aquelas que, apesar de terem o direito à proteção, não a recebem, seja por falta de recurso destinado ao programa, seja por falta de atenção dos governantes.

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