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2. TEORIA DO RESTAURO E MÉTODOS DE INTERVENÇÃO NO

2.4 Propostas Contemporâneas para a leitura e classificação de Projetos de

2.4.2 Classificações das posturas intervencionistas por Tiesdell, Oc e Heath

De uma forma simplificada Tiesdell, Oc e Heath (1996) sugerem modos de intervir em áreas consolidadas de interesse para preservação. Tais modos identificam o caráter arquitetural

das intervenções a partir dos conceitos de “justaposição contextual" e "uniformidade contextual", inicialmente propostos por Richard Rogers, acrescentando a eles uma prática intervencionista, com uma postura intermediária entre ambas: a de "continuidade contextual". A postura intervencionista denominada de "uniformidade contextual" é entendida como uma “cópia ou imitação dos estilos da vizinhança”, sendo também entendida como “pastiche” – uma cópia literal da tradição (TIESDELL, OC, HEATH, 1996, p. 188). Neste caso, o princípio da distinguibilidade entre o antigo e o novo não é levado em conta, mas busca uma “unidade estilística”. As críticas a este tipo de atitude projetual estão relacionadas ao fato de que a mesma “pode induzir o observador ao engano de confundir a intervenção ou eventuais acréscimos com o que existia anteriormente” (KÜHL, 2006, p.25).

Podemos ver este tipo de postura projetual em exemplos de grande porte e também em casos mais simples e de menor porte. Podemos ilustrar esse tipo de intervenção com o projeto de “restauro” de alguns imóveis privados situados no município de Natividade, em Tocantins. A cidade, que apresenta uma estrutura urbana colonial, com ruas irregulares e seu conjunto arquitetônico, se destaca por sua simplicidade, com ausência de monumentalidade nas construções públicas e privadas (VIEIRA, GOES, 2014). Portanto, com o intuito de preservar e recuperar a feição colonial, a “recuperação” dos imóveis, sob responsabilidade do Programa Monumenta/ BID, foi apoiada na ideia de “recomposição” estilística do período da arquitetura singela do ciclo do ouro e da pecuária (Figuras 14 a 17)20.

O caso da "justaposição contextual" vai partir do princípio da distinguibilidade, destacando a "marca do tempo". Este tipo de posição aproxima-se das ideias do Modernismo e resulta “da justaposição dos edifícios de diferentes épocas, onde cada um tem a sua própria expressão de tempo” (TIESDELL, OC, HEATH, 1996, p. 190). A crítica a este tipo de intervenção está em um possível desrespeito ao que se quer preservar, ao ponto de a nova construção chamar mais atenção que a preexistente.

20 O Programa Monumenta (foi um dos programas da trajetória brasileira na gestão dos seus sítios históricos), implementado no ano de 1999, foi financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento e apoiado tecnicamente pela Unesco. Segundo Cruz (2009, p.142) O programa Monumenta teve como princípio fundamental a ideia de que a ação do Estado não é suficiente para garantir a conservação do patrimônio cultural, sendo necessária uma ação conjunta entre os setores público e privado, além da mobilização da sociedade civil. Nesse contexto, o programa Monumenta associa a sustentabilidade de suas ações à atração de parceiros do setor privado e à capacidade dessas ações de promover a dinamização da economia e a renovação dos investimentos privados na área.

Figuras 14 a 17: Recuperação das características originais coloniais

Fonte: PICANÇO, 2009

Identificamos como exemplo dessa postura a construção o Museu de Arte Moderna da Áustria (2003): neste projeto, dos arquitetos Peter Cook e Colin Fournier, a forma e a escala do prédio diferem totalmente do contexto em que ele está inserido (Figura 18).

Figura 18: Museu de Arte Moderna da Áustria e sua relação de justaposição com o contexto

Fonte: www.veja.abril.com.br

Por fim, a "continuidade contextual" pode ser caracterizada pela visão pós-moderna, quando, ao invés das “diferenças, acentua a continuidade entre os tempos”, sendo um tipo de intervenção com uma postura intermediária entre o extremo das outras categorias.

ANTES DEPOIS

Entendemos que "continuidade contextual" relaciona-se com a atuação proposta por Kühl (2006, p.27-28) que, ao falar sobre as maneiras de diálogo entre o novo e a preexistência, conclui:

Deve-se sempre procurar uma relação positiva do novo com o preexistente que, de modo eficiente e respeitoso, atue como elemento de conexão no tecido figurativo. [...]. A arquitetura contemporânea afirma-se como tal, sem impingir de modo ostentatório sua própria presença, ou seja, sem recair na competição. Deve-se assumir a responsabilidade projetual de se fazer novos elementos articuladores, sem perder a individualidade e personalidade, mantendo-se o princípio da distinguibilidade [...]. Para Andrade Júnior (2006, p.177), esta terceira abordagem é definida como “uma arquitetura que, se valendo de linguagem atual, consegue criar um diálogo com a arquitetura do passado através da reinterpretação – e não da cópia pura e simples – de alguns de seus aspectos mais significativos”.

Um exemplo que representa este tipo de atitude projetual é o do Grande Hotel de Ouro Preto projetado por Oscar Niemeyer. Ao nosso ver a forma arquitetônica respeita o contexto em que o imóvel está inserido, confundindo-se, em certa medida, com as demais edificações, sem deixar de transmitir a noção de continuidade entre os tempos, pois é perfeitamente perceptível sua linguagem modernista com pilotis, laje das sacadas dos apartamentos, os brises, entre outros (Figuras 19 e 20).

Figura 19: Relação do Grande Hotel de Ouro Preto com o seu entorno

Figura 20: Linguagem modernista do Grande Hotel, que não imita o estilo da vizinhança nem rompe com a leitura do conjunto.

Fonte: VITRUVIUS, 2010

Dentre as diferenças entre o hotel e o seu contexto, destacamos especialmente as dimensões do volume e horizontalidade do hotel. A volumetria das edificações do entorno é básica, composta pelo volume principal com a justaposição do volume do telhado; já a volumetria do Grande Hotel possui um jogo compositivo com subtrações no volume principal. Acentuamos, também, que as construções do entorno ao hotel alinham-se na testada do lote, ocupando toda a extensão de sua largura, sem afastamentos frontais ou laterais, diferentemente da área de ocupação do Hotel.