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2.9 Reações adversas às drogas envolvidas na PQT

2.9.1 Clofazimina

Em geral, a clofazimina tem boa tolerabilidade quando administrada em doses menores que 100 mg diárias. As reações adversas mais consistentes são geralmente relacionadas à dose e usualmente reversíveis com a descontinuação da droga (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Os órgãos mais comumente afetados são a pele, trato gastrointestinal e os olhos (GURFINKEL; PINA; RAMOS-E-SILVA, 2009).

Na pele, ocorre pigmentação de rosa a marrom escuro ou acinzentado em grande parte dos pacientes, no decorrer de algumas semanas de tratamento (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009); ocorre devido ao acúmulo do pigmento nos macrófagos, usualmente aparente após 10 semanas de início do tratamento. Em pacientes em tratamento de hanseníase, esse efeito adverso ocorre em 75% a 100% dos casos. Costuma desaparecer poucos meses após o término do tratamento (GURFINKEL; PINA; RAMOS-E-SILVA, 2009).

Ictiose e ressecamento ocorre em 8% a 28% dos pacientes submetidos a tratamento prolongado (GURFINKEL; PINA; RAMOS-E-SILVA, 2009; BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Em 1% a 5% dos indivíduos, observam-se rash cutâneo e prurido (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Outras reações menos comuns podem ocorrer, como fotossensibilidade, eritrodermia, erupções acneiformes e queilose monilial(BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Fotossensibilidade induzida por droga é definida como uma dermatose que resulta da interação entre a luz em um determinado comprimento de onda e um agente químico na pele, sendo que, para uma determinada droga administrada sistemicamente ser fotossensibilizante, ela deve ser fotoativa e ativada pela luz que incide sobre a pele. O comprimento de onda capaz de gerar fotossensibilidade encontra-se entre 310 e 750nm, abrangendo parte de UVB, UVA e luz visível. Quando ocorre dano celular direto sem elicitar resposta imune, diz-se que há fototoxicidade, manifestada clinicamente como reações exageradas de queimadura solar como eritema e descamação e surge logo após a exposição solar. Quando há alterações moleculares

nas células do indivíduo com formação de antígenos que desencadeiam uma resposta imune, diz-se que há fotoalergia, que se manifesta através de lesões papulosas, alterações eczematosas e liquenificação que surgem de 1 a 10 dias após a exposição solar e requer sensibilização prévia à droga suspeita (BENNET, 2007).

O efeito colateral mais severo da clofazimina decorre do depósito dos cristais da droga na mucosa intestinal, que pode levar a obstrução intestinal. Essa complicação é rara e ocorre após meses de tratamento com altas doses (>100 mg/dia) (GURFINKEL; PINA; RAMOS-E- SILVA, 2009). Dor abdominal e epigástrica, diarréia, náuseas e vômitos acontecem em 40% a 50% dos casos e são as mais comuns e principais queixas gastrointestinais (GURFINKEL; PINA; RAMOS-E-SILVA, 2009; BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).Menos comumente, podem ocorrer sangramento gastrointestinal, anorexia, constipação, perda de peso, hepatite, icterícia, enterite eosinofílica, hepatomegalia (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Nos olhos, pode haver pigmentação da córnea e conjuntiva devido aos depósitos de cristais de clofazimina, além de queixas como ressecamento, queimação, prurido e irritação. Menos frequentemente, pode causar redução da acuidade visual e conjuntivite (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Alteração na coloração da urina, fezes, saliva, suor são também relatadas (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Queixas relacionadas ao sistema nervoso são pouco frequentes, incluindo vertigem, sonolência, fadiga, cefaleia, tontura, neuralgia, alteração do paladar (BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Foram relatados quadros de depressão secundária à descoloração da pele, podendo, raramente, levar a suicídio(BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Quadros mais raros foram descritos, como infarto esplênico, tromboembolismo, anemia, cistite, dor óssea, edema, febre, linfadenopatia e dor vascular(BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

Como alterações laboratoriais, podem ocorrer hiperglicemia e elevação da velocidade de hemossedimentação (VHS). Menos comuns são a elevação dos níveis de albumina, bilirrubina sérica e AST ou TGO (aspartato aminotransferase ou transaminase glutâmico- oxalacética), eosinofilia e hipopotassemia(BULA DA CLOFAZIMINA, 2014; MINISTÉRIO DA SAÚDE DO BRASIL, Guia de vigilância epidemiológica, 2009).

O estudo de Queiroz et al. (2002) mostrou que o tratamento a longo prazo com clofazimina 50 mg/dia pode resultar em pigmentação cutânea, mas com discretas alterações hematológicas e bioquímicas e sem associação com sinais e sintomas clínicos. Nesse estudo, observou-se eosinofilia e elevação dos níveis de creatinina, potássio, bilirrubinas e amilase, relacionadas ao uso isolado da clofazimina, sem significância clínica, tendo detectado a ocorrência de metaemoglobinemia e anemia hemolítica somente quando havia associação com dapsona e rifampicina (QUEIROZ et al., 2002).

O estudo de Paina et al. (2008) demonstrou, na análise da série leucocitária, uma inversão da proporção entre células mono e polimorfonucleares, com redução do número de células mononucleares e elevação do número de células polimorfonucleares, provavelmente devido ao fato da clofazimina induzir à mobilização de neutrófilos marginados. Além disso, observou-se prolongamento do tempo de protrombina (TP) e de tromboplastina parcial ativada (TTPA) e elevação dos níveis plasmáticos de gama-glutamiltransferase (ɤ-GT) (PAINA; QUEIROZ; SOUZA, 2008).

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