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4. ESTUDO DE CASO DE BONITO/MS

4.3. O Cluster de Ecoturismo de Bonito – MS

Até a década de Setenta, os recursos naturais de Bonito serviam praticamente ao lazer dos habitantes da região e de poucos aventureiros. No início da década de oitenta surgiram os primeiros empreendimentos turísticos da cidade que foram os passeios de bote inflável no rio Formoso. Na sequência iniciaram-se as visitas à Baía Bonita (atual Aquário Natural), à Gruta do Lago Azul e à Gruta de Nossa Senhora Aparecida (BOGGIANI, 2001).

A vocação turística do município ganhou força nos meados da década de oitenta, após mudanças econômicas com cortes de subsídios e incentivos da política agrícola. A agricultura regional defronta-se ainda com o fim de contratos de arrendamento de terra e retomada destas por seus proprietários para produção pecuária; e com a exploração insustentável do solo que danificava os rios e florestas da região, fato que gerou intensos protestos locais contra o desmatamento intensivo e queimadas de zonas florestais (LAMOSO e LOMBA, 2006).

No final da década de 80, para o licenciamento ambiental da fábrica de cimento da Camargo Corrêa Industrial S.A. na região, foi realizado um dos primeiros Estudos de Impacto Ambiental (EIA - Rima) do Estado do Mato Grosso do Sul. A partir de solicitação das organizações ambientalistas foi feito um levantamento espeleológico das cavidades subterrâneas em áreas ao norte do empreendimento com análise do risco de uso de explosivos pela fábrica para extração de calcário. Foram mapeadas e identificadas seis cavidades, fato que chamou a atenção de espeleólogos do mundo inteiro. A fábrica foi então instalada no município de Bodoquena (70 km de Bonito) para evitar a mobilização ambiental de Bonito, que se

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repetiu em 1993 quando a população posicionou-se contra a instalação de outro empreendimento de mineração de calcário nas proximidades do rio Perdido (BOGGIANI, 2001).

Para Boggiani (2001), o turismo iniciou-se na década de 80, porém o processo de profissionalização desta atividade no município tem como marcos de seu início dois fatos:

 Em 1992, a expedição Franco-Brasileira Bonito-92 com o objetivo de explorar os lagos profundos das cavernas de Bonito. Foram documentadas várias cavernas e no lago subterrâneo da Gruta do Lago Azul (50 metros de profundidade) encontraram fósseis de mamíferos pré-históricos: bichos preguiças gigantes, tigre dente de sabre, cavalos primitivos;

 E a primeira movimentação ambientalista organizada de Bonito sensibilizada pelos acontecimentos da Eco-Rio-92 (chamada de Pró-Formoso), que protestava contra a exploração insustentável da agricultura e o descaso com o lixo e o esgoto.

Ainda em 1992 foi iniciado o primeiro curso de formação de guias turísticos que propiciou aos fazendeiros iniciarem em suas propriedades a atividade ecoturística de forma harmônica com a criação de gado, tornando-se assim outra fonte de renda. Em 1995, foi criado o Conselho Municipal de Turismo (COMTUR) e o

Fundo Municipal do Turismo (FUMTUR)30, Lei 695/95, quando se tornou obrigatória

à visitação acompanhada com guias turísticos.

Além dos prêmios e divulgação a cidade contou com uma grande expansão: de mão de obra para o turismo, de empreendimentos comerciais, de atrativos, de agências, e principalmente, do ramo de hotelaria. Segundo dados de maio de 2011

fornecidos pelo COMTUR31, Bonito dispõe de 46 atrativos ao todo (20 de aventura, 5

de balneário, 2 de gruta, 6 de flutuação, 2 de mergulho com cilindro, 6 de contemplação e 5 de cachoeira). O município que em 1995 dispunha de 662 leitos, 9 agências de turismo e 52 guias, atualmente dispõe de 4.959 leitos, 52 agências de turismo e aproximadamente 70 guias cadastrados e qualificados.

Em 2011, o município de Bonito foi eleito, pela 10ª vez consecutiva como melhor destino ecoturístico do Brasil pela Revista Viagem e Turismo da editora abril

30 Composição do Conselho Muinicipal do Turismo (COMTUR) e do Fundo Municipal do Turismo (FUMTUR) no Anexo 2 31 Os dados foram levantados junto ao COMTUR em maio de 2011 junto ao Diretor de Indústria Turismo e Comércio de

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(BONITO-3, 2011). Justamente por ser um dos mais estruturados destinos do país foi também escolhido como destino potencial por vários programas federais, dentre estes se destaca a escolha do município em 2007 como um dos 65 destinos nacionais modelos e pilotos de investimento de políticas públicas do Programa Nacional do Ministério do Turismo: 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento

Turístico Regional (BRASIL – TURISMO, 2011). Neste programa os destinos foram

avaliados, gestores foram capacitados e desenvolveram um sistema de gestão com oficinas, treinamentos e projetos até o ano de 2010.

Neste contexto de produtores rurais, paisagens únicas, ambientalistas, espeleólogos, mergulhadores e estudiosos, Lomba (2011, p.35) classifica o cliente e o estilo do turismo em Bonito:

“Em Bonito, existe o turismo em areas rurais ou naturais com belezas exóticas. É um turismo caro e elitizado, em que 46,3% dos turistas possuem renda acima de 20 salarios minimos (LOMBA, G., 2004, p. 86), no qual verifica-se a presença de investimentos que combinam status e fetiche da mercadoria sobre o “consumo e colecao” de paisagens e belezas naturais, tornando Bonito um dos principais pontos turisticos do pais (EMBRATUR, 2005).”

O ciclo de desenvolvimento do turismo de Bonito foi estudado por Frata (2007) até o ano de 2006. Sua conclusão nesta data foi que o produto turístico em Bonito já havia passado pelas fases de exploração, investimento, desenvolvimento e estava no estágio de consolidação caracterizado, dentre outros fatores: pela estabilização do número de turistas nos anos de 2004, 2005 e 2006; pela retração dos preços dos atrativos para atrair mais turistas, que ocorreu por meio da redução dos dias de alta temporada de 99 dias para 63 dias no calendário de 2007; e pelas ações para divulgação do destino. Observa-se, atualizando-se os dados até 2010 uma continuação da queda da visitação com uma grande recuperação na sequência, veja Figura 17.

No gráfico da visitação em Bonito de 1996 até o ano de 2010 (Figura 17), observa-se a forma aproximada ao Ciclo de Vida de Butler e suas fases: a primeira é a fase de exploração, que em Bonito iniciou-se por volta de meados da década de 1980, porém sem registros. Na sequência vêm as fases de: investimento,

desenvolvimento e consolidação. Esta última ocorre entre 2004 e 2006 – identificado

por Frata (2007), não só pela quantidade estável de visitantes, mas também pela estabilização e até redução de preços. Os estágios subsequentes à consolidação segundo o Ciclo de Vida de Butler são os de estagnação (seguido de decadência)

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ou rejuvenescimento. Para Frata (2007) Bonito não apresentava em 2007 as características da estagnação, ou seja, capacidade máxima do destino ocupada e desgastes provocados pelo excesso de demanda nos ambientes econômico, social e ambiental.

Figura 17 –CICLO DE VIDA DO DESTINO TURÍSTICO DE BONITO / MS POR MEIO DO FLUXO DE TURISTAS ENTRE 1996 E 2010

Nota: Qtd visitantes no ano = (Ʃ Visitantes de todos os passeios para o ano em referência ) / 3 pois cada visitante faz uma média de três passeios por viagem.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do COMTUR de 1996 a 2003 e de 2006 a 2011 Para os anos de 2004 e 2005 foram utilizados dados do estudo de Salgado (2007, p.48).

Diante do quadro de estabilização do número de visitantes as associações em conjunto com as prefeituras de Bonito, de Jardim e de Bodoquena, uniram-se ao Estado do Mato Grosso do Sul e ao SEBRAE e elaboraram em 2005 o Plano Operacional de Comercialização do Destino-Bonito/MS, para o período 2006-2008. Foi um plano de marketing com o objetivo de organizar, divulgar e promover o destino no mercado nacional e internacional, captar eventos empresariais e sociais e demais públicos para as épocas de baixa temporada como a terceira idade para minimizar o problema da sazonalidade. A partir de 2007 ainda observa-se a queda mais acentuada da visitação até 2008, sugerindo um período de decadência, seguido posteriormente por um aumento de praticamente 58% de visitação de 2008 para 2009 e de mais 4% em 2010, reflexos do plano de comercialização do destino e caracterizando uma revitalização do destino.

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 33.000 44.733 46.200 59.133 54.466 56.533 67.866 70.833 69.014 67.187 66.160 59.875 56.668 88.465 92.054 0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000 80000 90000 100000 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 QTD VISITANTES NO ANO

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Para analisar o problema da sazonalidade tem-se o formato da curva de distribuição mensal do fluxo de visitação mais atual de 2010 na Figura 18 e a distribuição comparativa de visitação aos trinta atrativos mais visitados de Bonito (“top 30”) de 1996 a fevereiro de 2004 na Figura 19.

Figura 18– DISTRIBUIÇÃO DA DEMANDA DE PASSEIOS TURÍSTICOS EM BONITO – MS/2010

Fonte: Elaborado pela autora com dados fornecidos pelo COMTUR (2011) Bonito / MS

Figura 19 - DISTRIBUIÇÃO DA DEMANDA DE PASSEIOS TURÍSTICOS EM BONITO - MS DE 1996 À FEV/2004

Fonte: Secretaria de Turismo de Bonito – MS, com legenda adaptada pela autora. 43.049 23.347 10.145 16.109 9.426 15.454 35.818 14.484 25.499 27.132 22.817 32.884 0 2.000 4.000 6.000 8.000 10.000 12.000 14.000 16.000 18.000 20.000 22.000 24.000 26.000 28.000 30.000 32.000 34.000 36.000 38.000 40.000 42.000 44.000 46.000

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Demanda de Visitantes em Bonito / MS no ano de 2010 Qtd de visitantes em 2010

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Observa-se o mesmo padrão de distribuição da demanda com modificação positiva e mais representativa no mês de junho de 2010 que mostra um crescimento mais acentuado na visitação. As ações estruturais mais importantes para reduzir à sazonalidade concentraram-se na melhoria da rodoviária e do aeroporto e aumento de linhas alternativas destes meios de transporte (FRATA, 2006), permitindo assim, a atração de eventos e de públicos diversificados. Apesar dos esforços, o problema da sazonalidade persiste, pois, é inerente à atividade econômica explorada pelo município, em função do sistema de férias escolares e do fato das famílias ainda serem o seu maior público, o que concentra os visitantes nos períodos de pico das férias escolares: janeiro e julho.

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4.4. A UC Monumento Natural da Gruta do Lago Azul