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2. ECONOMIA DO MEIO AMBIENTE, UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E

2.2. Economia Ambiental e Ecoturismo

2.2.2. Conservação de Recursos e Máximo Rendimento Sustentável

2.2.2.2. Economia do Rendimento Máximo Sustentável

Três conceitos econômicos de nível de quantidade ótimo de exploração, associados à capacidade de carga ou capacidade de assimilação ambiental, são importantes para a exploração de recursos naturais: ótimo privado (Qp), ótimo social (Qs) e ótimo ecológico (Qe) (SINCLAIR e STABLER, 2009).

Uma atividade turística, em geral, segundo os autores, gera benefícios e custos para a sociedade que superam os benefícios e custos privados do explorador da atividade em si, então, os Benefícios Sociais Marginais (BSM) e os Custos Sociais Marginais (CSM), na maioria das vezes ultrapassarão a Receita Marginal (MR) e os Custos Privados Marginais (CPM). O ponto de exploração ótimo social (Qs) dos recursos naturais é alcançado quando BSM=CMS e o ponto de exploração ótimo privado (Qp) é alcançado quando MR=CPM. Já o ponto de exploração ótimo ecológico (Qe) é alcançado de acordo com o limite da resiliência ambiental, ou seja, da Capacidade de Assimilação Ambiental (CAA) para absorver os impactos da atividade econômica sem prejuízo ao seu ecossistema, que no gráfico da Figura 9 é representada por uma linha pontilhada. Uma exploração acima desta capacidade gera externalidades não assimiladas e nocivas, sendo ainda cumulativas ao longo do tempo aumentando a degradação sucessivamente.

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Na Figura 9 – O Conceito de Ótimo Econômico Aplicado ao Turismo se

visualiza graficamente os pontos ótimos de exploração, ficando fácil identificar a distinção conceitual. Nada simples, porém, crucial, colocado pelos autores é decidir, no contexto sócio-político-econômico de um destino turístico, qual destes pontos ótimo deve ser buscado para minimizar os efeitos prejudiciais mais amplos do turismo e da sustentabilidade em longo prazo.

Figura 9 – O CONCEITO DE ÓTIMO ECONÔMICO APLICADO AO TURISMO

Fonte: Sinclair e Stabler (2009, p.204)

O conceito de rendimento máximo sustentável se aplica aos recursos naturais renováveis, podendo ser a renovação natural do meio ambiente ou por gestão apropriada. A relação entre o esforço da exploração e o estoque total do recurso determinará o rendimento. Ao se considerar a receita gerada em relação ao custo do esforço, tem-se uma questão econômica onde é possível a aplicação de condições normais de maximização do lucro que determinem a quantidade total extraída do estoque do recurso, resultado que pode ser superior ou inferior à quantidade ótima ecológica (Oe). E a quantidade total de extração tenderá a ser superior à ótima ecológica sempre que o acesso for livre (custo adicional zero, além do custo da exploração), resultando em degradação ambiental (SINCLAIR e STABLER, 2009).

Os modelos bioeconômicos de rendimento máximo sustentável aplicados, geralmente a situações produtivas como pesca e silvicultura, podem ser reinterpretados no contexto do ecoturismo, onde os recursos naturais possam ser degradados pelo uso excessivo. Neste caso, conforme observado graficamente na

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Figura 10 do modelo bioeconômico, a maximização do lucro (LM) vai estar na maior distância vertical entre receita total e custo total. O Rendimento Máximo Sustentável (RMS) indicará a renda máxima possível que cairá para zero no ponto mínimo (M), por causa da redução da capacidade do recurso suportar visitantes. Exemplos: estação de esqui com capacidade de cobertura de neve reduzida pelo uso excessivo; safaris turísticos com uso intenso que prejudicam a reprodução animal, etc.

Figura 10 – MODELO BIOECONÔMICO DO RENDIMENTO MÁXIMO SUSTENTÁVEL APLICADO À UTILIZAÇÃO DO TURISMO

Fonte: Sinclair e Stabler (2009, p.206)

O ponto de equilíbrio (PE) mostra o ponto de fornecimento que atende à demanda dos turistas, o que só é possível onde não existam custos além dos custos de comercialização das viagens, ou seja, acesso gratuito. E quanto menores forem os custos de comercialização, mais próximo do ponto M estará a utilização dos recursos, mostrando assim a exploração excessiva.

Um cuidado a ser tomado na exploração dos recursos naturais, segundo Sinclair e Stabler (2009), é diferenciar recursos renováveis de recursos únicos irreprodutíveis e, portanto, não renováveis (exemplo: Passarela dos Gigantes, Grand Cânion, Cordilheira do Himalaia). Essencialmente a flora e a fauna são renováveis, mas também potencialmente esgotáveis se administrados de forma imprópria.

Segundo os autores existe uma proposta de solução da teoria econômica do rendimento máximo sustentável para exploração dos recursos naturais pelo ecoturismo (SINCLAIR e STABLER, 2009, p.210):

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“A receita sugerida pela economia é que a base de recursos primários do

turismo, ou as partes dela que abrangem recursos de acesso gratuito, fique sujeita a regimes de gestão que assegurem a obtenção da contribuição máxima

para o turismo e a economia local, permitindo ao mesmo tempo uma regeneração constante.... Assim, além da necessidade de informações detalhadas de

natureza física, biológica e econômica, a fim de determinar o máximo de

sustentabilidade, a administração desses recursos implica medidas de controle

que talvez necessitem de regulamentação, nos casos dos recursos aos quais

seja impossível controlar o acesso, em vez de medidas monetárias”

Vários são os instrumentos econômicos que podem ser aplicados na administração do ecoturismo, tanto pelo lado da oferta como pelo lado da demanda: subsídios aos setores hoteleiros ou transportes para reduzir a ocupação ou tempo de estada, taxas de entrada, número máximo de vistos ou leitos, instrumentos reguladores como períodos de defeso, restrições anuais, limitações ao acesso, quotas permitidas, etc. A definição, o uso e a administração destes instrumentos constituem tarefas da Política Ambiental.

Os autores ressaltam que a economia do rendimento máximo sustentável requer a abordagem de outros aspectos muito relevantes para o ecoturismo e que já foram detalhados neste estudo, são eles: o aspecto institucional por se tratar de uso de recursos comuns; e a cooperação por envolver altos custos de transação.

A gestão sustentável dos recursos naturais, portanto, exige o entrelaçamento de vários aspectos teóricos da economia ambiental. Encontrar combinações possíveis para a sua gestão sustentável é por isso um grande desafio e faz surgir a seguinte questão: Quais são então os limites para se explorar de forma sustentável um recurso natural como um bem econômico? A seção seguinte trata da busca dessa resposta.