• Nenhum resultado encontrado

3. GESTÃO ECONÔMICA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

3.3. Ecoturismo em UC’s: a Experiência da Costa Rica

A Costa Rica, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores do país, é dividida administrativamente em 7 províncias – Alajuela, Cartago, Guanacaste, Heredia, Limon, Puntaneras e San José, subdivididas em 81 cantões e estes em distritos. Os principais setores na composição do produto interno bruto são: agricultura (8,5%), indústria (29,4%) e serviços (62,1%).

O país possui um grande percentual de área com cobertura florestal, correspondendo a quase 48% do território nacional. Sendo que 44% desta área com cobertura encontram-se sob proteção de alguma unidade de conservação pública e os outros 56% em área particular gerenciado pelo Sistema Nacional Florestal. Esta

57

área ainda é bastante fragmentada com uma média de 153 hectares por fragmento, e somente 23% do território possui área com faixa de amortização superior a 500 metros (CALVO, 2008).

A área pública preservada da Costa Rica corresponde a 25,58% do território

nacional (Tabela 5). Sua gestão é feita pelo Ministério do Meio Ambiente e Energia –

MINAE, por meio do departamento coordenador do Sistema Nacional de Áreas de

Conservação da Costa Rica – SINAC. O SINAC é um sistema de gestão

institucional, descentralizado e participativo com a finalidade de elaborar políticas, planejar e executar processos dirigidos, visando à sustentabilidade no manejo dos recursos naturais do país (SINAC–1, 2011).

Tabela 1– DISTRIBUIÇÃO DA ÁREA PÚBLICA PRESERVADA DA COSTA RICA

QUANTIDADE CATEGORIA ÁREA (ha) % do Território Nacional (5.099.873 ha)

25 Parques Nacionais 623.771 12,23%

8 Reservas Biológicas 21.674 0,42%

32 Zonas Protegidas 155.817 3,06%

11 Reservas Florestais 227.834 4,47%

58 Refúgios da Vida Silvestre 180.035 3,53%

15 Mangues 77.869 1,53%

12 Outras Categorias 17.306 0,34%

161 Totais 1.304.306 25,58%

Fonte: tradução de Costa Rica National Parks (2011).

O sistema é constituído por onze subsistemas ou áreas administrativas denominados de Áreas de Conservação (Figura 13), sendo desvinculado do conceito político-administrativo, ou seja, dos estados e federação e, portanto,

diferente do conceito brasileiro do SNUC (SINAC–1, 2011).

Figura 13 – SISTEMA NACIONAL DE ÁREAS DE CONSERVACIÓN DE COSTA RICA

Fonte: Tradução de figura original de SINAC–1, 2011.

58

A Costa Rica tem sido desde os anos 80 um exemplo mundial de preservação ambiental e de ecoturismo, principal conceito de desenvolvimento estratégico do país, com um fluxo anual de turistas superior a um milhão de visitantes gerando um faturamento anual superior a 1,2 milhões de dólares (KOENS et. al., 2009).

A vantagem competitiva do ecoturismo na Costa Rica está tanto na vivência diferenciada da natureza, onde os turistas adentram nas florestas para vivenciar a biodiversidade vegetal e animal (não tendo que ser protegidos contra os animais, como na África, o que diminui o custo da experiência); como na pluralidade de atrações localizadas próximas umas as outras, facilitando assim o acesso dos turistas, reduzindo também o custo de visitação. O país também vê crescer a demanda por produtos e serviços complementares ao ecoturismo, que ainda tem que ser trabalhada pelas áreas protegidas, pois ainda há pouca diversidade disponível para o consumo (INCAE, 2002).

A combinação de efeitos de um conjunto de elementos favoráveis – um

sistema de áreas protegidas, magníficos exemplos de biodiversidade tropical, bela paisagem natural do país, estabilidade econômica e social, características culturais

propícias – permitiu a elaboração de políticas governamentais e a participação ativa

do setor privado no ecoturismo, provando ser esta atividade econômica na Costa Rica uma forma sustentável do uso da terra e seus recursos naturais. Tornando-se assim uma das mais importantes atividades econômicas do país (Figura 14) (GÁMEZ, 2007).

Figura 14 – PRODUÇÃO DA COSTA RICA EM DÓLARES (US$) DE 1950 A 2000 DE: CAFÉ, BANANA, CARNE, MADEIRA E TURISMO

Fonte: Tradução de MIDEPLAN (1998); MINAE – FONAFIFO (1998); SEPSA-MAG database, 2000; Watson et al,1998 apud Gámez, 2007.

59

Alguns indicadores sociais, econômicos e ambientais evidenciam a transformação ocorrida na Costa Rica nas últimas décadas. Observa-se, na Figura 15, que de 1940 a 2000 a população quase quintuplicou. Neste período o modelo de desenvolvimento adotado pelo país foi de exploração intensiva dos recursos naturais. Esse cenário se modificou a partir da crise ambiental que permitiu desenvolver uma consciência ambiental e modificar o rumo das políticas para o uso sustentável dos recursos naturais (GÁMEZ, 2007).

Figura 15 – COSTA RICA: INDICADORES SOCIAL, ECONÔMICO E AMBIENTAL DE 1940 A 2000.

Fonte: Tradução de: Gámez and Obando (2003) apud Gámez (2007, p.79).

Observa-se ainda, na Figura 15, que a evolução do PIB/per capita (GNP/per capita) a partir dos meados da década de 80 tem um comportamento muito parecido com a evolução do crescimento do turismo no país observado na Figura 15, ficando evidente a importância crescente desta atividade para a economia da Costa Rica.

Porém, com este resultado acelerado de crescimento do setor ecoturístico, segundo Koens et. al. (2009), o país já atingiu em três das quatro unidades

estudadas – Tortuguero, Monteverde e Manuel Antônio – o dilema do crescimento

de escala do ecoturismo, onde os custos derivados do uso intensivo aumentam e passam a superar os benefícios em uma ou mais das três dimensões básicas da sustentabilidade: ambiental, econômica e social. Somente o turismo na unidade de ASCOMAFOR, um projeto integrado de turismo rural com base comunitária de pequena escala, manteve os benefícios superiores aos custos nas três dimensões (KOENS et al., 2009).

Segundo Koens et al. (2009) devido ao fato do ecoturismo ser a principal fonte de renda governamental da Costa Rica, houve pressão política e social para o

60

país continuar como líder no mercado internacional de turismo, correndo assim o risco de direcionar o ecoturismo no país para um turismo de larga escala. Entretanto para que isso não ocorresse várias ações foram tomadas para redirecionar as dimensões do turismo para a sustentabilidade, por exemplo:

 Introdução de programas de compensação por serviços ambientais, que resultaram em uma reversão da situação de crescente desmatamento ambiental para crescente aumento de cobertura florestal;

 Criação em 1995 do “Sistema Nacional de Areas de Conservación – SINAC” com o propósito de consolidar as áreas de conservação do país. E para atingir este objetivo foi criada uma rede descentralizada e participativa de escritórios regionais com o intuito de auxiliar na promoção e desenvolvimento do turismo sustentável apoiando e trabalhando em conjunto com as instituições locais;  Criação do Instituto Costarriquense de Turismo (ICT) que estabeleceu alguns

programas de certificação para o turismo sustentável, como o “blue flag eco- labelling” para as praias e que posteriormente se estendeu para os hotéis e para as companhias de turismo, por meio do programa de cerificação para o turismo sustentável.

Segundo os autores, apesar dos esforços políticos para a descentralização da gestão sustentável do turismo não houve investimentos locais nas dimensões organizacionais e políticas para a distribuição desta atividade, fato que culminou com gestões locais incipientes e despreparadas resultando em ações e planos inadequados e com isso descrédito e desarticulação da população local.

Outra observação é que os impactos ambientais são mais facilmente

resolvidos em áreas exploradas por meio de pacotes turísticos – como no caso de

Tortuguero, ou quando há grande envolvimento da comunidade – como no caso da

ASCOMAFOR. No caso de Monteverde houve uma desarticulação institucional local devido ao rápido crescimento da comunidade. Este tipo de exploração por pacotes por outro lado causa maiores impactos nas comunidades locais que são praticamente excluídas do negócio, o que aconteceu com Tortuguero.

Contudo, ao comparar os custos ambientais do turismo com os custos derivados de produções alternativas para a região (produção madeireira, plantação de banana e criação de gado), os autores concluem que apesar dos custos atuais derivados do uso intensivo, ainda assim o ecoturismo tem em relação às outras atividades produtivas de uso intensivo de recursos naturais, de longe, os menores

61

custos ambientais e por isso continua sendo uma ótima alternativa estratégica de desenvolvimento para a Costa Rica.

As lacunas do processo de gestão no nível local, segundo os autores, são resultantes da velocidade de crescimento do turismo no país; e sugerem para a reversão deste quadro que a participação local seja desafiada e estimulada a organizar-se politicamente com foco na gestão de resíduos e da poluição, a chamada agenda marrom. E para o nível governamental a sugestão dos autores é que o país fique longe do turismo de massa que intensifica e muito os custos ambientais, podendo resultar em danos irreversíveis.

O resultado do estudo do ecoturismo na Costa Rica reforça que esta pode ser uma alternativa econômica muito mais interessante para o desenvolvimento sustentável se existir capacidade institucional adequada no nível local, o que implica primeiro a existência das seguintes condições:

a. Consciência Ambiental disseminada na população;

b. Envolvimento do setor privado nas políticas baseadas nos paradigmas de desenvolvimento sustentável;

c. Igualdade de consideração dos aspectos ambientais, econômicos e sociais no modelo de desenvolvimento sustentável;

d. Aceitação, Compreensão e Domínio das políticas de desenvolvimento a serem implantadas por toda população, mas principalmente pelos participantes;

e. Alto nível de empreendimento local na indústria do turismo; f. Integração da cultura local às atividades turísticas.

O exemplo da exploração do ecoturismo nas unidades de conservação da Costa Rica mostra que o efeito multiplicador da atividade promoveu a aceleração do desenvolvimento econômico da região e possibilitou uma exploração menos intensiva dos recursos naturais das unidades que as demais atividades econômicas alternativas da região, como madeira, agricultura e pecuária.

Porém, o objetivo de uso totalmente sustentável foi comprometido pelo desvio do foco da gestão das unidades para a manutenção da principal fonte de renda governamental do país e de grande parte da sociedade, o que acabou por direcionar as unidades para um crescimento acima da capacidade de carga ambiental, prevalecendo-se os interesses econômicos e sociais, e negligenciando-se os aspectos ambientais.

62

Outra conseqüência deste direcionamento da gestão para o estímulo da demanda é que a velocidade do crescimento da rede turística causou desarticulações institucionais, ou seja, mudaram as condições na produção do ecoturismo sem que a estrutura de oferta estivesse preparada, desestruturando o regime de direitos de propriedade e como conseqüência comprometendo a sustentabilidade ambiental.

63

4. ESTUDO DE CASO DE BONITO/MS