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2 OS SISTEMAS EDUCACIONAIS MUNICIPAIS E A DESCENTRALIZAÇAO DA EDUCAÇÃO: ANTIGOS DESAFIOS, NOVAS POSSIBILIDADES

B) O CME de Ananindeua como mediador da política educacional local

Diversos autores tem se empenhado na tarefa de analisar os Conselhos de Educação no Brasil (CURY, 2001; WERLE, 2008; TEIXEIRA, 2004; SOUZA & FARIA, 2003; GADOTTI & ROMÃO, 1993; DAVIES, 2003). Alguns evidenciam o caráter marcadamente de execução de tarefas administrativas pelos conselhos, com características burocráticas de funcionamento e a enfraquecida participação de alguns membros, principalmente os representantes da sociedade civil. Tais processos, de uma forma ou de outra, podem ainda estar presentes na atualidade, mas que, para Teixeira (2004), a sua atual constituição tem sido percebida como a abertura de espaços públicos, de participação da sociedade civil, caracterizando a ampliação do processo de democratização da sociedade. Pressupondo-se que estes órgãos na função de intermediação entre o Estado e a sociedade, traduzem ideais e

concepções mais amplas de educação e de sociedade que, em cada momento histórico, influenciam a dinâmica das políticas educacionais em pauta (p. 692-693).

Os ventos do processo de redemocratização da década de 1980, consubstanciados pelas políticas públicas dos anos seguintes, favorecem as mudanças das formas de controles centralizados dos processos educacionais que, para a construção e consolidação dos CMEs, foi significativo, pois, principalmente, os municípios passaram a experimentar um conjunto de práticas coletivas de tomadas de decisões pelos próprios participantes do jogo político- democrático. Os Conselhos Municipais de Educação foram alçados à condição de órgão deliberativo que congrega as diferentes instâncias, que

Como órgãos da esfera pública, (...) possuem uma estrutura mista, que conta com a presença da sociedade civil, vinculada ao Estado. Essa composição cria a possibilidade de uma ação mais articulada e global das organizações e define as bases para uma ação política sobre as esferas de decisão do poder. Nos conselhos municipais, nos fóruns, nas conferências, a participação constitui, atualmente, instrumento de controle social e político do Estado pela sociedade, possibilitando aos cidadãos atuarem na definição de critérios e parâmetros para orientarem a ação pública (TEIXEIRA, 2004, p. 702).

Assim, este conselho surge num contexto de importantes mudanças, onde os municípios brasileiros puderam constituir seus SMEs e, com isso, embrenharam-se da tarefa de constituírem suas próprias normas e políticas educacionais. Cuja autonomia de gestão administrativa, pedagógica e financeira deverá considerar as condições específicas de cada localidade. Constituindo-se como instâncias que poderão colaborar significativamente para a democratização da educação em nível local.

A pesquisa defendida por Farias (2009)39 acerca da participação social no Conselho Municipal de Educação de Ananindeua, se tornou uma importante ferramenta para o entendimento da política educacional no município de Ananindeua. Sendo um estudo cujo foco central é o CME, sua origem, configuração, competências e contribuição na construção da política educacional, o indico como fonte para aprofundamento. Nesta parte do trabalho, pretendo levantar algumas considerações acerca da importância desse colegiado e algumas percepções do seu papel quanto órgão normativo do SME/Ananindeua.

A criação do Conselho Municipal de Ananindeua se deu no ano de 1997 com a promulgação da Lei Municipal 1.271, o coloca como um órgão do Estado, de caráter permanente, isto é, com atuação que independe dos governos que se sucederão no poder político municipal. Criado anteriormente à instituição do SME, só foi devidamente instalado quando da posse de sua primeira gestão no ano de 2005. Tendo as funções normativa, consultiva, deliberativa e fiscalizadora, sua composição foi definida com um total de dez membros efetivos, sendo cinco representantes da administração pública municipal e mais cinco das organizações da sociedade civil, indicados em processos próprios, relacionados ou não às modalidades de ensino de atuação prioritária do município.

A Lei 2.153/2005, que cria o SME de Ananindeua, além de explicitar funções que não compunham a Lei de criação do CME, também amplia a quantidade de seus participantes. Passa a ser composto, provisoriamente, por quinze membros efetivos e respectivos suplentes (Art. 21) para um mandato de dois anos, com possibilidade de recondução por igual período, com função considerada de relevante interesse público e com exercício prioritário sobre qualquer outra atividade. Sendo cinco indicados pelo Poder Executivo Municipal, considerando-se os setores-fins da SEMED, e dez representantes de entidades e/ou grupos sociais, abaixo mencionados:

I - 01 (um) representante docente da entidade sindical dos trabalhadores da educação pública no Município;

II - 01 (um) representante da entidade sindical, do Município e/ou estado, dos professores da rede privada;

III - 01 (um) representante de gestores das instituições educacionais do Sistema Municipal de Ensino, considerada a rede pública municipal e a rede privada de educação infantil;

IV - 02 (dois) representantes de pais e/ou responsáveis de alunos de escolas do Sistema Municipal de Ensino;

39 A dissertação de mestrado “O CME do Município de Ananindeua na construção da política educacional: a busca pela participação social” foi fruto da pesquisa efetivada sobre este colegiado, pela aluna de mestrado Maria Celeste G. de Farias. Que junto comigo participou de algumas ações do LAGE – Laboratório de Gestão Escolar – ICED/UFPA, coordenado pela Profª Drª Terezinha Fátima Andrade Monteiro dos Santos. O trabalho deverá, futuramente, ser consultado no site www.ufpa.br/ce.

V - 01 (um) representante de instituições de ensino superior; formadoras de profissionais para a educação Básica;

VI - 01 (um) representante do colegiado municipal de incumbência relacionada à Criança e ao Adolescente;

VII - 01 (um) representante de organização social, de finalidades relacionadas à Educação Infantil e/ou ao Ensino Fundamental no Município;

VIII - 01 (um) representante de entidade social, de finalidades relacionadas às pessoas com necessidades especiais;

IX – 01 (um) representante de alunos de escolas da rede pública municipal, maior de 16 anos.

Alguns elementos se destacam. Primeiro, a ampliação da participação da sociedade civil e a recomendação de que os processos de escolha dos mesmos se dêem de forma democrática por assembléias ou fóruns com finalidade específica, com legitimidade e que atenda a critério como: idoneidade moral, expressivo compromisso sócio-educacional e residência ou reconhecida atuação social ou profissional no município (Art. 23). Assegura-se a representação de pais ou responsáveis da rede públicas, por meio da Associação de Pais e Mestres, e da rede de escolas privadas de Educação Infantil, mediante organização própria (Art. 21, § 1º). As entidades sociais deverão estar legalmente constituídas há, pelo menos, três anos e serem socialmente reconhecidas (Art. 21, § 2º). Para a representação de alunos deverá haver um referendo de, pelo menos, 1/3 de conselheiros escolares do colegiado próprio da rede de escolas ou, da entidade representativa, quando existir (Art. 21, § 3º).

O Artigo 20 da Lei do SME define o CME como um

Órgão de Estado e de natureza colegiada, de natureza colegiada com autonomia administrativa, para o desempenho das funções fiscalizadora, consultiva, deliberativa, normativa, propositiva, mobilizadora, e de controle social, de forma a assegurar a participação da sociedade na gestão da educação do Município como mediador entre a mesma e o Poder Público.

As funções do CME serão realizadas através de um conjunto de incumbências, onde destacamos aquelas previstas no Art. 28 da Lei do SME e no Art. 3º do Regimento Interno do CME/Ananindeua. O cumprimento dessas funções é imprescindível para que o CME atenda as suas finalidades expressas nestes dois documentos, que são: assegurar a participação da sociedade na gestão da educação do Município e colocar-se como mediador entre a sociedade civil e o Poder Público Municipal, na discussão, formulação, controle e implementação das políticas municipais de educação.

- FUNÇÕES NORMATIVA, CONSULTIVA, PROPOSITIVA E DELIBERATIVA