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2 OS SISTEMAS EDUCACIONAIS MUNICIPAIS E A DESCENTRALIZAÇAO DA EDUCAÇÃO: ANTIGOS DESAFIOS, NOVAS POSSIBILIDADES

A) O papel da SEMED na construção e execução da política educacional

A política educacional que vem sendo desenvolvida pelo governo do município de Ananindeua desde o ano de 2005, tem se empenhado, pelo menos no âmbito legal, na busca pelo fortalecimento do sistema de ensino. Na tentativa de implementar um conjunto de ações que possibilitassem melhorar a educação local, o executivo municipal, através da Secretaria Municipal de Educação, se empenhou na formulação de um amplo projeto que desse conta das mudanças necessárias a serem empreendidas para transformar a educação municipal. Assim, foi criado o Programa “Escola Ananin, Escola Cidadã” que, desde o início da gestão, vem reforçando a tentativa de mudar o panorama de grande déficit na oferta, principalmente, na educação infantil que em 2005 girava em torno de 89,6% para a faixa de 0 a 6 anos e as altas taxas de evasão e repetência nas séries iniciais do ensino fundamental que era de 20,3% de retenção e 9,2% de evasão, segundo dados do INEP/SEMED.

Como órgão executivo do sistema, de acordo com a Lei do SME, a Secretaria Municipal de Educação tem entre suas finalidades a proposição e coordenação, de forma participativa, de políticas e diretrizes educacionais para o município e instituições que constituem o SME. Também deve buscar articulação e parcerias com outros órgãos da administração municipal com vistas à melhoria do seu desempenho e resultado de suas competências, além de propor normas, medidas, atos e outros ao Poder Executivo relativos ao desenvolvimento da educação no Município (Art. 15).

Consoante a isso a criação, pela SEMED, do Programa “Escola Ananin, Escola Cidadã” já previa dentre suas ações a criação do SME/Ananindeua, como ação prioritária do governo, que busca a gestão democrática, a construção da identidade e autonomia da

entre o poder público e a sociedade civil na participação, na co-responsabilidade e controle social da política educacional do município (p. 34), que até o momento ainda não havia sido legitimado. A implantação de um processo participativo para a institucionalização do SME se daria a partir da criação de uma Comissão Interinstitucional.

O Programa define as principais dificuldades encontradas pelo governo da época. A maioria das escolas possuía apenas quatro salas, sem sala de leitura, áreas para atividades recreativas/esportivas ou bibliotecas e laboratórios de informática. Os dados estatísticos mostravam a persistência de taxas históricas de evasão e repetência que, no ensino de 5ª a 8ª série era em torno de 12,8%de retenção e 10,6% de evasão. Já nas turmas de Educação de Jovens e Adultos a evasão escolar era de 41%. A existência do turno intermediário era colocado como grande entrave, pois dificultava a adoção de medidas para a superação da baixa produtividade do ensino, pela reduzida permanência do alunos em sala de aula. Além disso, um reduzido quadro funcional que se tornava mais crítico por haver 42% de docente só com formação em nível médio. Urgia a necessidade de concurso público.

Para mudar este quadro o Programa previa como grandes desafios e metas, principalmente, a busca pela universalização do ensino fundamental; a criação de uma política de Educação Infantil; a garantia da permanência do aluno na escola com aprendizagem de qualidade; e a elevação do índice de aprovação e erradicação do analfabetismo. Além de outras proposições que visam mudar a situação acima mencionada como: a escola de tempo integral; a qualificação docente em nível superior; formação continuada para os servidores; descentralização dos procedimentos de gestão; política de inclusão digital, profissionalização e geração de renda.

No tocante à descentralização dos procedimentos de gestão esta é vista como condição para a autonomia escolar e da gestão municipal transformarem a realidade educacional. No entanto, a autonomia é um conceito visto de forma bastante restrita e que não sustentam em si as idéias apresentadas neste estudo. Os formuladores afirmam que

Não se pode, porém, perder de vista a condição de pertencimento a um sistema maior de Gestão Municipal (que também é dependente do estadual e nacional) e neste a um subsistema que é o Sistema Municipal de Ensino. A consciência dessa “dependência” política e administrativa da estrutura municipal, ajuda os envolvidos a construir um conceito responsável e tecnicamente correto do que significa buscar a autonomia da escola e da gestão municipal da educação sem perder de vista a sua limitação por pertencer a um sistema maior (2005, p. 17, grifos no original).

Pertencer pode significar tanto ser propriedade de, quanto ser parte de e da

competência de. Ser dependente é estar subordinado a. Nesse sentido, a idéia de subsistema de ensino, o coloca como algo ou alguma coisa na condição de só existir pela existência do

Sistema Maior? O sentido de pertença está na consciência de fazer parte de um sistema maior (gestão municipal) ou ser de sua competência? Estar subordinado a este Sistema Maior tiraria de si a sua autonomia de definir os próprios rumos? Esta análise lembra as palavras de Barroso (2007), quando afirma que o problema atual da gestão escolar é o de saber como é

possível dispor de boas formas de coordenação da ação pública sem que isso ponha em causa o funcionamento democrático das organizações (p. 02).

Do exposto, considero que o sentido de dar autonomia não pode levar à construção de um SME dotado de toda a autoridade, sem considerar as determinações que emanam dos outros poderes constituídos. No entanto, gozam de liberdade para se organizar, definir suas escolhas, de tomar decisões coletivamente. Assim, não se pode privá-lo da sua condição de ser autônomo para definir os direcionamentos que próprios envolvidos na sua organização queiram dar. Num processo democrático de decisões compartilhadas e não de uma dependência política, que, espera-se não ser o retorno ao centralismo político-administrativo.

Dentre outras ações, importantes para a construção e consolidação do SME, estão previstas: a elaboração e implementação do Plano de Cargos e Remuneração dos Servidores Municipais; a construção, ampliação, revitalização, humanização e aparelhamento das escolas e setores administrativos da gestão; ampliação da educação infantil e construção de um Centro de Referência; criação da casa dos Conselhos; avaliação institucional; ampliação do tempo escolar; elaboração da proposta curricular para a rede municipal; criação de programas para as mais diversas áreas de atuação: ensino fundamental, EJA, informática e outras; implantação do ensino fundamental de nove anos; formação continuada de recursos humanos; formação do educador; construção do Projeto Pedagógico das escolas.

Do ponto de vista legal, os formuladores o definem como um Programa inovador, por se tratar de gestão educacional coletiva e estar sustentado na busca de uma identidade para a educação escolar de Ananindeua e na construção de um modelo educacional respaldado nos princípios da escola cidadã. Traz em si o respeito à diversidade, a garantia de acesso escolar a todos, a inclusão social e tecnológica, a valorização do servidor público e um programa de (re) qualificação da educação local por meio da melhoria da qualidade social da educação. Espero que outros estudos verifiquem se suas propostas foram de fato contempladas nas ações para a melhoria da educação municipal.