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3 Caracterização do meio físico

3.6 Cobertura vegetal

As diversas formações vegetais constituem um dos principais recursos naturais renováveis, haja vista que funciona como fonte de alimento para os seres vivos, como proteção do solo, manutenção dos recursos hídricos e controle do efeito

da evaporação, além de ser fundamental para o equilíbrio das características climáticas e servir de habitat para uma diversidade de seres vivos. Por sua vez, é um elemento natural que sinaliza os diferentes efeitos negativos da ação humana, bem como as condições de equilíbrio pertinentes à paisagem e, por conseguinte, aos sistemas ambientais.

No município do Crato também encontramos uma diversidade de cobertura vegetal condicionada pelas peculiaridades do clima, do relevo e do solo. Encontramos, portanto, caatinga arbóreo-arbustiva, mata seca, mata úmida, mata ciliar, cerrado, cerradão, carrasco e vegetação secundária.

Com base no trabalho da FUNCEME (2006), MMA (2000), FUNDETEC (1999) e Fernandes (2006), apoiados na classificação fitogeográfica para o Brasil de Andrade-Lima (1966), apresentamos as descrições da cobertura vegetal para município do Crato.

Cerradão (Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa)

Esta formação vegetal, também conhecida por Floresta Subcaducifólia Tropical Xeromorfa, desenvolve-se sobre o platô da Chapada do Araripe em direção ao Estado de Pernambuco, em altitudes que variam de 800m a 960m, com solos arenosos, profundos e úmidos, de fertilidade natural baixa oriundo do arenito da Formação Exu e cobertos por serrapilheira. As chuvas orográficas constituem, também, outro condicionante para o seu desenvolvimento.

Fisionomicamente é caracterizada por apresentar três estratos: um arbóreo de porte elevado, com árvores de 10-12m de altura; um mediano, mais ou menos denso, formado por arbustos ou arvoretas que atingem até 3m; e por último, um herbáceo, quase reduzido e pobre de espécies. Evidencia um escleromorfismo menos intenso e solo mais profundo e de maior riqueza orgânica e mineral (FERNANDES, 2006). Considerada uma vegetação de transição entre a mata úmida e o cerrado, o cerradão, compreende uma variação do cerrado fechado, denso, com aspecto fisionômico florestal (MMA, 2000).

Conforme Fernandes (2006, p. 107) distingue-se do cerrado por “[...] apresentar uma fisionomia de caráter florestal, tendo seus elementos um maior desenvolvimento, graças às condições mais favoráveis, ligadas à nutrição mais rica, ao lado de solo profundo e úmido, com uma camada de folhas em decomposição”.

Favorece a infiltração da água no topo da chapada que, por sua vez, alimenta as fontes e aqüíferos da Bacia Sedimentar do Araripe e, em particular, do município do Crato.

Cerrado

O cerrado corresponde a uma formação vegetal caracterizada por uma

[...] estrutura biestratificada e extensivamente particularizada pelo estrato inferior dominado pelas herbáceas e pelo pequeno espaçamento entre as plantas. Distingue-se de todos os outros modelos por formar uma fisionomia com padrão inconfundível, pelas particularidades organográficas (esclereomorfismo, nanismo e consistência das folhas) (FERNANDES, 2006, p. 101).

De acordo com MMA (2000), o Cerrado corresponde a uma vegetação de baixa densidade, aberta que, em virtude das alterações climáticas e pedológicas ao longo do tempo, apresenta um extrato herbáceo denso, além de árvores e arbustos bastante ralos, com caules tortuosos, altura média de 4m e folhas geralmente largas, cobertas de denso pêlo e com persistência de suas folhas durante o período crítico ou de estio (MMA, 2000).

Está distribuída sobre o platô da chapada de forma esparsa, contígua ao cerradão e ao carrasco, com uma estrutura arbóreo-arbustiva, aberta, de caráter semicaducifólia, com solos pobres, profundos e de alta permeabilidade.

Carrasco

O carrasco corresponde a uma formação vegetal microfanerófita, com predomínio de arbustos e de trepadeiras lenhosas. Distingui-se, pois, da caatinga e do cerrado pela ocorrência de trepadeira, abundante em número e espécies (ARAUJO & MARTINS, 1999). Conforme Araújo & Martins (1999, p.12) “[...] é uma formação vegetal própria, individualizada, caducifólia densa, com trepadeiras e árvores emergentes esparsas”. Ademais, ainda segundo os autores Araújo & Martins (1999), não possui estratificação, cujas copas encontram-se distribuídas cerradamente e entrelaçadas pelas trepadeiras em toda a estrutura aérea da vegetação lenhosa.

Configura-se, portanto, num “[...] padrão particular, com realce na caracterização morfoestrutural de seus componentes evidenciados pelas formas esclerofílicas e mesofílicas (caducifólias ou semicaducifólias)” (FERNANDES, 2006,

p. 153), que, pela condição ecológica e composição florística, integra uma cobertura vegetal exclusiva.

O carrasco desenvolve-se, geralmente associados ao reverso das serras sedimentares, solos arenosos, com temperatura amena e solo úmido em relação ao ambiente da caatinga, bem como menos fértil do que o solo em que se desenvolve o cerrado e o cerradão.

Exibe indivíduos de pequeno diâmetro e com altura média de 3,6m. Ocorre em pequenas extensões no topo da chapada na área limite com Exu/PE.

Mata úmida (Floresta Subperenifólia Tropical Pluvio-Nebular)

As matas úmidas, segundo Fernandes (2006, p. 155), são “[...] formações de altitudes que, pela similitude vegetacional e florística, sem dúvida, representam remanescente da mata pluvial driádica (mata atlântica ou floresta serrano-oriental), válidas com disjunções florestais circundadas pelas caatingas.”

A mata úmida ou serrana, também conhecida por Floresta Subperenifólia Tropical Plúvio-Nebular, constitui uma vegetação de porte elevado localizada, mormente, na parte superior das vertentes da chapada a partir de 700m. A sua exuberância expressiva e a elevada biodiversidade decorrem, predominantemente, da altimetria que favorece a ocorrência de chuvas orográficas que, conseqüentemente, proporciona maior umidade.

Esta unidade vegetacional de acordo com FUNCEME (2006, p.52), possui uma fisionomia com “[...] predomínio de um estrato arbóreo com alturas superiores a 15m, formando uma cobertura vegetal bastante densa, a exemplo do que se verifica na área da Floresta Nacional do Araripe (FLONA)”.

Segundo MMA (2000) o inventário florestal feito pra esta área aventa que a mata úmida além de possuir um potencial madeireiro, detém também, diversas espécies frutíferas como Araçá (Psidium), Cajuí (Anacardium humile St. Hill), Cajueiro (Anarcadium occidentale L.) e Pitanga (Eugenia michelli Lam).

A preservação dessa vegetação é fundamental para a conservação tanto das fontes que alimentam os principais rios do município como do microclima local e da diversidade de espécies

Mata seca (Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial)

A Mata seca, conhecida também por Floresta Subcaducifólia Tropical Pluvial, encontra-se distribuída numa faixa bastante estreita na área subjacente à

mata úmida na encosta da chapada, bem como recobrindo áreas dos maciços residuais, geralmente a partir da cota de 500 até 600m de altitude. Desenvolve-se em solos relativamente profundos e férteis, com presença de umidade em decorrência da altimetria. É caracterizada, conforme FUNCEME (2006), por uma fisionomia arbóreo-arbustiva, mesmo possuindo um estrato herbáceo muito denso que se desenvolve apenas no período de chuvas. Em seu estado original predomina o arbóreo-arbustivo, cujas árvores podem chegar até 15m de altura.

Esta formação vegetal diferencia-se da caatinga pelas melhores condições “[...] ecológicas (mesofilia) e pela composição florística, embora presentemente esteja enriquecida por alguns elementos das caatingas. Recobrem encostas das serras subúmida/secas ou daquelas isoladas, entre 500-600m de altitudes” (FERNANDES, 2006, p.157).

Na mata seca encontram-se tanto espécies da mata úmida como da caatinga arbórea, cuja faixa de amplitude ecológica permite a coexistência destas espécies. É importante destacar que o limite da mata seca com a mata úmida é nítido. Entretanto, com a caatinga arbórea isto não acontece, dificultando a delimitação do contato das mesmas (MMA, 2000).

Baseado no estudo feito pelo MMA (2000) a mata seca encontra-se bastante degradada pela ação antrópica, estando, pois, desprovida de suas características originais. Por estar distribuída em áreas com declividade acentuada, sua destruição provoca aumento da erosão com perda considerável de solo e, conseqüentemente, redução da capacidade de regeneração da vegetação original, privilegiando as espécies da caatinga arbustiva mais adaptadas às condições xéricas.

Caatingas (Floresta Caducifólia Espinhosa)

As caatingas compreendem as formações vegetais que apresentam indivíduos arbustivos, com altura variando entre 3m e 5m, e de indivíduos arbóreos com altura mínima de 5m, alguns alcançando até 12m, além do extrato herbáceo abaixo de 2m (MMA, 2000). São consideradas como um tipo vegetacional xérico, de caráter estacional, acentuada caducifolia e, freqüentemente, espinhosa.

Desenvolvem-se em clima semi-árido, com índices elevados de temperatura e evaporação, escassez e irregularidade na distribuição das chuvas anuais, baixa umidade e sobre litologia diferenciada.

Fernandes (2006, p.144), ao se referir à caatinga coloca que sua flora, “[...] sempre mantida por respostas de natureza comportamental, revela um comprometimento mais fisiológico do que morfológico, diante dos condicionantes ecológicos.”

No município do Crato encontramos a caatinga arbóreo-arbustiva. Essa corresponde à caatinga de porte elevado, recobrindo as partes mais baixas, subjacente à mata seca dos maciços residuais, da área da Chapada do Araripe e da depressão sertaneja. A degradação dessa cobertura vegetal tem dado lugar ao desenvolvimento de uma vegetação secundária, resultante da intensificação da atividade agropecuária.

Mata Ciliar

Este tipo de formação vegetal ocorre ao longo do curso dos rios e nas áreas que sofrem inundações sazonais em decorrência do transbordamento das águas fluviais no período chuvoso. Desenvolve-se em solo Neossolo flúvico, bastante fértil, drenado e de umidade considerável. Suas espécies vegetais tanto estão adaptadas ao período de inundação da área de várzea quanto ao período de estiagem, responsável pelo ressecamento e pela redução da umidade dos solos, resultando daí seu caráter subcaducifólio. Destacam-se em sua fisionomia as Palmeiras, como o babaçu, carnaúba, etc.

Essa formação vegetal encontra-se bastante degradada no município. Os espaços que antes eram ocupados pela mata ciliar, hoje são ocupados pelos canaviais, próximos à sede do município, à margem dos rios Batateira, Grangeiro e Saco Lobo, pela agricultura de subsistência e pela pecuária extensiva, ao longo dos demais cursos d’água do município.

Quarto Capítulo:

Zoneamento Geoambiental

Por mais complexas que possam ser as relações dessa humanidade conturbada com o seu planeta em via de deterioração, não será possível atingir um conhecimento geográfico apenas no econômico, por mais determinante do social que ele seja.