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Proposta de zoneamento geoambiental do município do Crato/CE

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Academic year: 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA LINHA DE PESQUISA: ESTUDOS DO AMBIENTE URBANO E RURAL

Flávia Jorge de Lima

Proposta de Zoneamento

geoambiental do município do

Crato/CE

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Cestaro

Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Cesar de Araújo

NATAL/RN

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Flávia Jorge de Lima

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do titulo de Mestre junto ao Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Orientador: Prof. Dr. Luiz Antonio Cestaro

Co-orientador: Prof. Dr. Paulo Cesar de Araújo

NATAL/RN

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Aos meus pais, Francisca (Dalvirene) e José (Zé), pelos sábios ensinamentos e por acreditarem que esse sonho se tornaria realidade. Vocês são presença constante e a essência de minha vida; a força que me trouxe até aqui e a inspiração para os novos caminhos a serem trilhados. Amo vocês incondicionalmente.

Ao meu avô Raimundo (in memorian), meu segundo pai, homem cujo amor contagiava o meu ser.

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Agradecimentos

Após uma jornada longa e dolorosa, mas, ao mesmo tempo, prazerosa, escrever os agradecimentos representa a satisfação da conquista de mais um sonho transformado em realidade. Significa, também, choros e risos presentes em cada linha escrita, momentos únicos que estarão comigo por toda a minha vida. Agradecer hoje, a todos vocês, não foi fácil, pois cada um tem um significado próprio, um valor impar na construção desse trabalho que agora concluo. Agradeço então:

Ao orientador e professor Dr. Luiz Antônio Cestaro, pela valiosa orientação e por acreditar que eu conseguiria superar as barreiras que se fizeram presentes no decorrer desse trabalho.

Ao co-orientador e professor Dr. Paulo César de Araújo, pela atenção, paciência e orientação cartográfica.

A CAPES, pela bolsa concedida para realização desse trabalho.

Aos companheiros da biblioteca setorial, em especial, a bibliotecária Angelik, por oportunizar o encontro com o mundo dos livros e por sua cordialidade em ajudar a entender o universo de regras que normatizam os trabalhos acadêmicos.

Aos funcionários do restaurante universitário, em especial, a Damiana, Ângelo, Lourdes (Lu) e Francisco (Chiquinho), pelo acolhimento familiar nos momentos da alimentação. O carinho de vocês foi muito importante nesse período efêmero de permanência pelos espaços marcados pela diversidade do universo acadêmico da UFRN.

Ao Programa de Pós Graduação em Geografia – UFRN, pela possibilidade única de vivenciar novas relações acadêmicas essenciais para o meu aprimoramento profissional.

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Aos professores do Departamento de Geografia da UFRN Ademir, Edna, Elias Nunes e Edílson, pela disponibilidade em ouvir-me e contribuir com o meu amadurecimento acadêmico.

Ao professor Edson Vicente (Cacau), mestre e amigo estimado, por junto a mim partilhar e vivenciar o amor pela Geografia.

A professora Dra. Zuleide do Departamento de Geografia da UFRN, pelo acolhimento, apoio e incentivo no decorrer do mestrado. Tu és uma professora admirável.

Ao geólogo da CPRM/RN, Vladimir Cruz de Medeiro, pela relevante contribuição na análise do mapa geológico do município do Crato/Ce.

Aos colegas Tarik e Darlington do Departamento de Geografia da UFRN, pela cordialidade e assessoria no que diz respeito ao manuseio do Arc gis.

Ao Departamento de Assistência ao Estudante da UFRN, pela concessão de bolsa residência, que sem a qual não teria sido possível minha permanência na referida instituição de ensino.

Aos colegas da assistência técnica e gerência de rede da UFRN, em especial, Vicente e Henrique, pela assessoria computacional e amizade construída.

A Universidade Regional do Cariri (URCA), lugar onde iniciei minha vida acadêmica e que ainda hoje me acolhe em seus braços.

Aos professores Francisco das Chagas, Basílio, Alexsandra, Lireida e Socorro do Departamento de Geografia da Universidade Regional do Cariri (URCA), pelo magnífico acolhimento e carinho com que sempre me receberam nas instâncias da universidade e em qualquer outro ambiente, quando os procuravam com minhas angustias “dissertativas” e busca de material para construção desse trabalho.

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A Fundação Cearense de Meteorologia, pelo material concedido para realização desse trabalho de mestrado.

Aos colegas do mestrado (Turma 2006), companhias estranhas que logo se tornaram familiares. Pessoas com os quais aprendi que o novo de imediato amedronta, mas que depois de um tempo, esse novo constitui as pegadas de um outro olhar capaz de apreender que o estranho também é familiar e, por isso, necessário as nossas descobertas enquanto ser humano, dotado de sentimentos, fraquezas e coragem. Espero encontrá-los pelos trilhos que nos conduzirão ao ápice de nossa profissão.

Aos colegas e amigos Ramos, Aldeir, Jefferson, Judson, Alcides Furtado, Igor, Daniela Cândido e ao moto taxista Seu Biriba, manifesto minha gratidão pela magnífica colaboração no trabalho de campo. Esse trabalho também possui um pouco de cada um de vocês.

Aos colegas de residência, Iury e Hermes, pela presteza e assistência computacional em momentos importantíssimos desse trabalho. Sou muito grata a vocês.

A Michel, funcionário do laboratório de geoprocessamento da Universidade Regional do Cariri, pela presteza às minhas visitas ao laboratório em busca de material.

As amizades fiéis e incondicionais construídas aqui, nesse território potiguar, durante a minha permanência nas imediações da UFRN. A vocês, Juliana Raissa, Olívia, Janny, Lidianne Kaline, Gracileide e Ednara, amigas que sempre estiveram comigo compartilhando das alegrias, tristezas e dos momentos indescritíveis que me fizeram chegar até aqui. Adoro vocês.

A Kelly Diniz, amiga e colega de mestrado, presença impar e apoio contínuo no trilho dessa caminhada.

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A Marwyla, colega de residência, recém chegada nesse lugar, mas que, de imediato, conquistou minha amizade com seu instinto maternal.

A Ana Cleta, amiga, irmã e estímulo constante de vida. Manifesto minha sincera e intensa admiração.

Agradeço também aos irmãos de Ana Cleta e esposas, cidadãos potiguares sempre receptivos a minha presença em suas famílias.

A Joana Dark e família pelo acolhimento em sua residência no ano de 2006, período de intensa inquietação e carência familiar. Obrigada por tudo.

Ao colega Rafael Celestino, pela colaboração e atribuições de intermediador de meus diálogos com o professor Idalécio na obtenção de informações. Meus sinceros agradecimentos.

Aos amigos cearenses, Brenna, Ana Américo (Aninha mauriti), Dênis, Mardineuson, Sadra, Polliana, Jandilma, Rejane, Mara Gabriella, Verônica (Im), Teresa Cândida e Ítalo, pelo incentivo contínuo e por acreditarem que eu seria capaz de chegar a esse momento de conquista e aperfeiçoamento acadêmico.

A Marcos Antônio, colega de mestrado, amigo e irmão. Sua presença foi essencial para superar os obstáculos que cruzaram o meu caminho. Que a nossa amizade resista aos encontros e desencontros da vida e que sejamos sábios para cultivá-la entre nós.

A Luiz Antônio, colega de mestrado e amigo incondicional. Obrigada pela força, companheirismo, fidelidade acadêmica e, acima de tudo, pela linda amizade estabelecida entre nós.

A Tia Socorro e Tio Gilberto, pela hospitalidade e carinho manifestados por mim nas idas ao Crato. Tios, já me sinto da família.

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A minha segunda família Isabel, Fernanda, Felipe, mãe “Tonha” e pai Alcide, pessoas impares na minha vida, meu eterno reconhecimento. Obrigada por tudo.

Por fim, a Deus, espírito presente em todos os meus caminhos. Deus tu és a luz e a essência do meu ser. Sem tua força, com certeza não estaria aqui escrevendo esses agradecimentos que simbolizam a conclusão de mais um projeto de vida, de mais um sonho realizado.

A tarefa de listar as pessoas aos quais sou grata foi extremamente difícil, pois o medo e a angústia de esquecer o nome de alguém ruíam o meu ser. Assim, tendo que listar, tive que transgredir as limitações impostas pelos meus sentimentos e expor de fato os meus sinceros agradecimentos. Aos meus colegas potiguares e cearenses que não estão presentes nessa lista, sintam-se abraçados e agradecidos pela existência na construção de minha história de vida, pois, o fato de não estarem aqui não significa grau de importância. Todos são importantes para mim, afinal,

Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos.

Fernando Pessoa

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A paisagem não foi concebida como um consolo fácil para o desastre ecológico. Tampouco como uma solução para os profundos problemas que ainda atormentam qualquer democracia desejosa de reparar o abuso contra o ambiente e, ao mesmo tempo, preservar a liberdade. Como todas as histórias, esta é menos uma receita para a ação que um convite à reflexão; pretendo mais contribuir para o auto-conhecimento que sugerir uma estratégia de redenção ecológica. No entanto, demonstrar que, ao longo dos séculos, se formaram hábitos culturais que nos levaram a estabelecer com a natureza uma relação outra que não a de simplesmente esgotá-la até a morte, que o remédio para nossos males [possa] vir de dentro de nosso universo mental comum. [Assim, espero] então, [que esta dissertação] não tenha sido um completo desperdício de boa polpa de madeira.

(13)

RESUMO

O zoneamento geoambiental, como produto da integração dos diferentes elementos do meio físico, é um importante instrumento para o planejamento da gestão do território. O município do Crato, em função de sua complexa paisagem, apresenta uma diversidade de sistemas geoambientais, cuja caracterização e delimitação poderão contribuir para a ocupação mais adequada e menos impactante do espaço municipal. Esse trabalho, apoiado na teoria geossistêmica, buscou atingir os seguintes objetivos: elaborar uma proposta de zoneamento geoambiental; caracterizar os sistemas geoambientais identificados e delimitados, envolvendo suas potencialidades e limitações em termos de uso e ocupação do solo; e gerar uma base de dados com mapas digitais em ambiente SIG (Sistema de Informação Geográfica). Foram identificados quatro sistemas geoambientais (Chapada do Araripe: Platô e Encostas, Maciços e Cristas Residuais, Sertões da Depressão Periférica Meridional do Ceará e Planícies Fluviais) e dez subsistemas geoambientais (Platô Oriental Revestido por Cerradão/Cerrado, Platô Ocidental Revestido por Cerrado/Carrasco, Encosta Norte-Ocidental, Encosta Oriental, Maciço Residual Central, Maciços Residuais Setentrionais, Depressão Sertaneja Dominada por Material Sedimentar, Depressão Sertaneja Dominada por Material do Embasamento Cristalino, Planícies Fluviais Úmidas e Planícies Fluviais Secas). Os sistemas e subsistemas identificados seguem, em parte, aqueles propostos pela FUNCEME, com mudanças em função do maior detalhe do mapeamento proposto.

(14)

ABSTRACT

The geo-environmental zoning is an important means to plan the management of the territory, once it is the result of integration of different elements of the physical environment. The Municipality of Crato has a diversity of geo-environmental systems due to its complex landscape, which characterization and delimitation will contribute to the most appropriate occupation and the fewer prejudicial to municipal area. This study, which was supported by geo-systemic theory, searched to reach the following objectives: to elaborate a proposal of geo-environmental zoning; to characterize identified and demarcated geo-environmental systems, including their potentiality and limitations of land use and human occupation; and to generate a database on digital maps through GIS – Geographic Information System. Four geo-environmental systems were identified (Chapada do Araripe: plateau and hillside, Massif and residual crest, Sertão of peripheric southern depression and fluvial Plains) and ten geo-environmental subsystems (Eastern plateau covered by cerradão/cerrado, Western plateau covered by cerrado/carrasco, Northern-west hillside, central residual Massif, Northern Residual Massifs, Sertaneja depression dominated by sedimentary materials, Sertaneja depression dominated by embasement crystalline material; wet fluvial plains and dry fluvial plains). The identified system and subsystem are similar to those proposed by FUNCEME in spite of some changes due to the more detailed mapping.

Key-words: Geo-environmental zoning. Geo-environmental systems. Potentiality.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

QUADRO 01: Classes de declividade em porcentagem e graus segundo as categorias de declividade de Cottas (1983)

53

FOTOS 01, 02, 03:

Campo realizado em julho de 2008 55

QUADRO 02: Modelo de ficha de campo 55

FIGURA 01: Precipitações pluviométricas (mm) 61

FIGURA 02: Balanço hídrico do Crato/CE 62

QUADRO 03: Coluna litoestratigráfica da Bacia Sedimentar do Araripe 67

FIGURA 03: Modelo esquemático dos aqüíferos 98

QUADRO 04: Adaptação da classificação da FUNCEME (2006) para o município do Crato/CE

109

QUADRO 05: Quadro explicativo das adaptações para o município do Crato/CE da classificação da FUNCEME (2006)

110

QUADRO 06: Categorias espaciais dos sistemas e subsistemas geoambientais para o município do Crato/CE, conforme FUNCEME (2006), base de dados gerados em SIG e trabalho de campo

115

QUADRO 07: Quadro síntese com as principais informações resultantes da análise integrada dos sistemas geoambientais

121

FOTOS 04, 05:

Visualização do subsistema Platô Oriental Revestido por Cerradão/Cerrado

126

FOTOS 06, 07, 08

Visualização do subsistema Platô Ocidental Revestido por Cerrado/Carrasco

129

FOTOS 09, 10:

Visualização do subsistema Encosta Norte-Ocidental 131

FOTOS 11, 12, 13:

Visualização do subsistema Encosta Oriental 134

FOTOS 14, 15:

(16)

FOTOS 16, 17, 18:

Visualização do subsistema Maciços Residuais Setentrionais

141

FOTOS 19, 20, 21:

Visualização do subsistema Depressão Sertaneja Dominada por Material Sedimentar

144

FOTOS 22, 23,24:

Visualização do subsistema Depressão Sertaneja Dominada por Material do Embasamento Cristalino

148

FOTOS 25, 26, 27:

Visualização do subsistema Planícies Fluviais Úmidas 152

FOTOS 28, 29:

(17)

LISTA DE MAPAS

Mapa 01: Imagem LANDSAT-7 com o limite do município do Crato/CE 51 Mapa 02: Mapa das curvas de nível e cotas altimétricas do município do

Crato/CE

52

Mapa 03: Localização do município do Crato/CE 58

Mapa 04: Mapa geológico do município do Crato/CE 72

Mapa 05: Modelo digital do terreno do município do Crato/CE 77 Mapa 06: Mapa de declividade do município do Crato/CE 78 Mapa 07: Mapa das unidades geomorfológicas do município do

Crato/CE

80

Mapa 08: Mapa de solos do município do Crato/CE 87

Mapa 09: Mapa da rede de drenagem do município do Crato/CE 95 Mapa 10: Mapa dos sistemas e subsistemas geoambientais do

município do Crato/CE

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LISTA DE SIGLAS

APA Área de Proteção Ambiental

CE Ceará

COGERH Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos

CPRM Serviço Geológico do Brasil

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias

EMI Energia, Matéria e Informação

FLONA Floresta Nacional do Araripe

FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia

FUNDETEC Fundação de desenvolvimento Tecnológico do Cariri

GPS Sistema de Posicionamento Global

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MDT Modelo Digital do Terreno

MMA Ministério do Meio Ambiente

ONG Organização não Governamental

PDDU Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano

PERH/CE Plano Estadual de Recursos Hídricos do Estado do Ceará

SAD South American Datum

SEMACE Superintendência Estadual do Meio Ambiente.

SIG Sistema de Informação Geográfica

SRH Secretaria dos Recursos Hídricos

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TIN Triangulated irregular network

URCA Universidade Regional do Cariri

UTM Universal Transverse Mercator

(20)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 20

PRIMEIRO CAPITULO ... 24

1 Fundamentação teórica... 25

1.1 Paisagem... 25

1.1.1 Sistemas e sistemas ambientais... 26

1.1.2 Geossistemas... 29

1.1.3 A dinâmica dos geossistemas... 30

1.1.4 Espacialização dos geossistemas... 32

1.2 Os zoneamentos: ambiental, ecológico econômico e geoambiental... 34

1.2.1 Zoneamento Ambiental... 38

1.2.2 Zoneamento Ecológico Econômico... 40

1.2.3 Zoneamento Geoambiental... 43

SEGUNDO CAPÍTULO... 48

2 Materiais e métodos... 49

2.1 Levantamento de dados e mapas... 49

2.2 Base cartográfica e imagem de satélite... 49

2.3 Tratamento e elaboração da base de dados cartográficos... 50

2.4 Trabalho de campo... 55

2.5 Base de dados: finalização dos mapas 56 TERCEIRO CAPÍTULO ... 57

3 Caracterização do meio físico ... 58

3.1 Condições climáticas... 59

3.1.1 Características climática regional e local... 59

3.2 Caracterização geológica... 62

3.2.1 Bacia Sedimentar do Araripe... 63

3.2.1.1 Unidades litoestratigráficas da Bacia Sedimentar do Araripe ... 66

3.2.2 Depósitos Cenozóicos-Terciário/Quaternário... 70

3.2.3 Embasamento cristalino... 71

3.3 Formas de relevo... 75

3.4 Solos... 86

3.5 Recursos hídricos superficiais e subterrâneos... 93

3.5.1 Recursos hídricos superficiais... 93

3.5.2 Recursos hídricos subterrâneos... 97

(21)

QUARTO CAPÍTULO... 107

4 Zoneamento geoambiental... 108

4.1 Sistemas geoambientais do município do Crato/CE... 108

4.1.1 Adaptação da classificação da FUNCEME (2006) para o município do Crato... 108

4.2 Classificação dos sistemas geoambientais do município do Crato ... 113

4.3 Caracterização, potencialidades e limitações dos sistemas geoambientais... 120

4.3.1 Sistema geoambiental Chapada do Araripe: Platô e Encosta... 120

4.3.1.1 Platô Oriental Revestido por Cerradão/Cerrado... 126

4.3.1.2 Platô Ocidental Revestido por Cerrado/Carrasco... 129

4.3.1.3 Encosta Norte-Ocidental... 131

4.3.1.4 Encosta Oriental... 134

4.3.2 Sistema geoambiental Maciços e Cristas Residuais... 138

4.3.2.1 Maciço Residual Central... 138

4.3.2.2 Maciços Residuais Setentrionais... 141

4.3.3 Sistema geoambiental Sertões da Depressão Periférica Meridional do Ceará... 144

4.3.3.1 Depressão Sertaneja Dominada por Material Sedimentar... 144

4.3.3.2 Depressão Sertaneja Dominada por Material do Embasamento Cristalino... 147

4.3.4 Sistema geoambiental Planícies Fluviais... 151

4.3.4.1 Planícies Fluviais Úmidas... 151

4.3.4.2 Planícies Fluviais Secas... 153

4.4 Zoneamento geoambiental e o Plano Diretor municipal... 155

4.4.1 Plano Diretor do município do Crato ou PDDU – Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano... 158

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 162

(22)

Introdução

Moro num grão de areia Lá no sul do ceará Numa pequena aldeia Longe do azul do mar No vale do cariri É ali o meu lugar...

...Cariri esconderijo do amor Cariri estandarte de paixão Cariri minha terra meu abrigo Cariri um oásis no sertão...

...Eu sou o caipira e a caipora Eu sou um pedaço dessa história Eu sou tudo o que sou e sou feliz Eu sou da nação dos cariris

(23)

Introdução

As transformações da paisagem são resultantes, sobretudo, das diferentes formas de uso e ocupação do solo associadas ao crescimento populacional e consumo.

As atividades produtivas marcadas por forte e crescente exploração dos recursos naturais e fincadas no modelo de desenvolvimento capitalista, não vêm repercutido positivamente na manutenção do equilíbrio ambiental, sobressaindo, pois, a imperiosa busca pelo lucro que deixa aquém o papel de resguardar a sustentabilidade do ambiente.

A questão da sustentabilidade esbarra nos interesses das políticas desenvolvimentistas que, em seu projeto de gestão, simplificam a problemática ambiental em detrimento do fator econômico. Não é mais possível gerir um território sem antes repensar a capacidade de suporte dos sistemas geoambientais, haja vista que deles retiramos os elementos base de nossa sobrevivência.

Continuar na atual política de gestão do território é convidar à exaustão irreversível das riquezas naturais do planeta Terra. O Brasil vem, desde o início de sua colonização, arrastado pelos projetos de exploração como o extrativismo vegetal (pau-brasil), cana de açúcar, a mineração e a plantação de café. Assim, a ocupação do território brasileiro sempre esteve atrelada ao modo intensivo e exaustivo de exploração das riquezas naturais, cuja forma de ocupação desencadeou inúmeros problemas ambientais que ameaçam a capacidade de renovação de suas potencialidades e seu possível reequilíbrio.

O modelo de crescimento econômico do país não é mais viável quando se observa um número crescente de problemas relacionados à questão ambiental, em escalas e dimensões de diferentes proporções, os quais afetam diretamente as condições de vida humana.

(24)

A paisagem é a materialização dos elementos que estão a nossa volta e, por isso, não é estática, nem tampouco, simples de ser apreendida. A sua complexidade vai além da perspectiva natural, pois integra um conjunto heterogêneo de formas naturais e artificiais que, num dado momento, exprime a herança da sucessiva relação homem e natureza (SANTOS, 2002). Por sua vez, também é dinâmica, dotada de estrutura e funcionalidade que determinam sua capacidade de resposta às transformações na busca pela manutenção do seu equilíbrio.

Nesta perspectiva, o diagnóstico do meio natural constitui uma ferramenta para se pensar novas formas de apropriação da paisagem, a partir do conhecimento integrado dos seus elementos bióticos e abióticos. Este conhecimento perpassa a idéia de que tudo faz parte de um todo e que, para ser compreendido, precisa ser tomado como um sistema, algo que não pode ser apreendido apenas pelas partes, mas sim, como um conjunto indissociável e complexo no qual tudo se interliga e interage. A análise sistêmica oferece o suporte necessário para o entendimento da interação dos elementos naturais e antrópicos.

Deste modo, o entendimento da dinâmica e estrutura da paisagem torna-se imprescindível para um melhor aproveitamento dos recursos naturais em consonância com suas potencialidades e limitações.

Dentre os trabalhos que têm a preocupação em propor medidas para a ordenação do território, bem como compreender a interação dos elementos que compõe a paisagem a partir da análise sistêmica, podemos citar os diversos tipos de zoneamentos, planos diretores e de manejos.

O zoneamento geoambiental se destaca por constituir a proposta de trabalho dessa dissertação. Esse, por conseguinte, pode ser definido como um diagnóstico do meio natural, que, fundamentado na teoria geossistêmica, apresenta as respectivas potencialidades e limitações dos sistemas geoambientais, de modo a subsidiar a gestão do território.

(25)

Desta forma, o zoneamento geoambiental permite o conhecimento das potencialidades e limitações da paisagem para a elaboração e aplicação do plano diretor e de outros trabalhos, fundamentais a uma gestão eficiente.

Com base nesse propósito, o presente trabalho teve como objetivo principal elaborar uma proposta de zoneamento geoambiental do município do Crato/CE. Por sua vez, para se atingir esse objetivo foi necessário seguir os seguintes objetivos secundários:

• Verificar a consistência do zoneamento geoambiental do Cariri produzido pela

Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, no qual o município do Crato/CE está inserido, e detalhar seus limites na escala de 1:100.000.

• Caracterizar os sistemas geoambientais identificados para o município.

• Apresentar as potencialidades e limitações dos sistemas geoambientais em

termos de uso e ocupação do solo.

• Gerar uma base de dados com mapas digitais em ambiente SIG (Sistema de

(26)

Primeiro Capítulo:

Fundamentação teórica

A pior coisa que pode acontecer na vida de uma pessoa não é quando seu projeto não dá certo, seu plano de ação não funciona ou quando sua viagem termina no lugar errado. O pior é não começar. Esse é o maior naufrágio.

(27)

1 Fundamentação teórica

1.1 Paisagem

A discussão sobre paisagem sempre esteve atrelada ao conhecimento geográfico, mesmo quando a geografia ainda não era tida como ciência.

Os povos da antiguidade já tinham uma noção integrada da paisagem quando a concebiam como algo resultante da reunião de, dentre outros, rios, florestas, montanhas, rochas, nos quais poderiam ser observados forma, tamanho e fisionomia (SILVA, 1997).

A paisagem, enquanto concepção científica, nasceu com Alexandre Von Humboldt no século XVIII. Para Humboldt a paisagem era a materialização dos elementos naturais e antrópicos com seus arranjos e relações espaciais. A reunião desses elementos acontecia de forma complexa e, por isso, não poderiam ser apreendidos de forma isolada (BÓLOS I CAPDEVILA, 1992).

Nessa perspectiva, a paisagem ganha relevância nas discussões geográficas a partir do momento em que se busca compreender a complexidade do meio natural. Bertrand (1972, p.2) ao discutir paisagem enfatiza que

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos que reagindo dialeticamente uns sobre os outros fazem da paisagem um conjunto único e indissociável em perpétua evolução.

Esse conjunto único e indissociável não possui uma delimitação de seus elementos estruturais e funcionais, passível de acontecer num dado espaço. A delimitação não pode ser, segundo Bertrand (1972, p.8), “[...]um fim em si mesmo, mas somente como um meio de aproximação em relação a cada realidade geográfica”.

(28)

isso, precisa ser apreendido nas dimensões do todo. Bólos i Capdevila (1992, p.9) reforça o sobredito quando expõe que “As unidades integradas não são a simples soma de seus componentes, pois, é da interação entre os mesmos que se origina uma estrutura que os converte em algo basicamente diferente”.

Conhecer apenas a estrutura da paisagem não é o suficiente para estabelecer um diagnóstico acerca de sua dinâmica evolutiva numa escala temporo-espacial. Além do conhecimento da estrutura e, por conseguinte, da compreensão do processo evolutivo da paisagem, é necessário, também, identificar os componentes mais sensíveis às mudanças provocadas pela dinâmica natural e pela intervenção antrópica, bem como o papel que desempenham na paisagem (ALMEIDA, 1997 apud OLIVEIRA, 2008). Deste modo, é possível apreender a complexidade da estrutura, funcionamento e dinâmica que influenciam e determinam a evolução e organização da paisagem.

1.1.1 Sistemas e sistemas ambientais

Rodriguez et al (2004) e Tricart (1977) consideram sistemas como sendo o conjunto de elementos que se relacionam entre si e que formam uma determinada unidade e integridade que se processam mediante fluxos de matéria e energia.

As propostas ligadas à analise de sistemas na Geografia remontam à década de 1930, iniciando com as contribuições de Von Bertalanffy, com base na biologia teorética. Na busca da superação da visão mecanicista na ciência esse autor propôs a Teoria Geral dos Sistemas como instrumento útil capaz de fornecer modelos a serem usados em diferentes áreas e transferidos de uma para outra, evitando analogias vagas que comprometessem a análise dos fatos e ou fenômenos na ciência. Destarte, a teoria compreende a formulação e a derivação dos princípios válidos para qualquer tipo de sistema, constituindo uma reorientação precisa na ciência em toda a escala de disciplinas, que vão da Física, Biologia às ciências sociais, comportamentais e à própria Filosofia (BERTALANFFY, 1977)

(29)

corrente de pensamento em pleno auge naquele momento, cujo, sistema pode ser definido como um modelo consistente de um conjunto de elementos em interação”.

A construção do pensamento sistêmico permeia, segundo Capra (1996, p. 46), alguns critérios comuns, quais sejam:

1 – [...] é a mudança das partes para o todo. [...] Suas propriedades essenciais ou sistêmicas são propriedades do todo que nenhuma das partes possui.

2 – [...] sua capacidade de deslocar a própria atenção de um lado para outro entre níveis sistêmicos [...] que representam níveis de diferente complexidade. Em cada nível os fenômenos observados exibem propriedades que não existem em níveis inferiores.

3 – [...] As propriedades das partes não são propriedades intrínsecas, mas só podem ser entendidas dentro do contexto do todo maior. [...] Aquilo que denominamos parte é apenas um padrão numa teia inseparável de relações.

Como nos aponta Dias (1998), a concepção sistêmica, oriunda de unidade integrada, começa a tomar forma principalmente nos estudos concernentes às questões ambientais, a partir da tomada de consciência pelo homem de que o mesmo é constituinte e parte do complexo conjunto denominado natureza, ora em perfeita harmonia evolutiva e funcional, ora em estágios iniciais ou profundos de degradação.

Para Troppmair (2000) a visão sistêmica fortalecida e disseminada pelas ciências, a partir da teoria proposta por Von Bertalanffy, constitui um feito para a Ciência Geográfica, que agora passa a ver a sistematização e a integração dos elementos do meio ambiente como um potencial a ser analisado e explorado pelo homem no processo de compreensão da complexidade da totalidade do ambiente, desprezando a idéia de que o meio físico é um produto acabado e fragmentado.

(30)

As características pertinentes a cada sistema são condicionadas pela organização, composição e fluxo de energia e matéria. Deste modo um sistema pode atingir vários estados, desde estável a fortemente instável. Considera-se em estado de equilíbrio quando apresenta um ajustamento completo de suas variáveis internas às situações externas, haja vista que as influências exercidas pelo ambiente controlam a quantidade e a qualidade de matéria e energia a ser movimentada por todo o sistema (ALMEIDA & TERTULIANO, 2002).

A paisagem, portanto, como entidade integradora e explicada a partir da análise sistêmica, trouxe a Geografia várias concepções como Ecologia da Paisagem, introduzida por Carl Troll em 1938, que posteriormente foi substituída por Geoecologia da Paisagem, como Ecogeografia, proposta por Tricart na década de 1970, como Geossistema, conceituado por Sotchava e Bertrand, nas décadas 1960 e 1970, respectivamente. Essas concepções foram aventadas com o intuito de melhor entender a interação entre os elementos bióticos, abióticos e antrópicos, fundamentais à compreensão dos sistemas ambientais, que, por sua vez, representam uma organização (sistema), formada por elementos que funcionam através de fluxos de energia e matéria dominantes numa interação constante.

Christofoletti (1999, p.35), acerca dos sistemas ambientais, escreve que

[...] os sistemas ambientais representam entidades organizadas na superfície terrestre de modo que a espacialidade se torna uma das características inerentes.[...] A organização destes sistemas vincula-se com a estruturação e o funcionamento de (e entre) vincula-seus elementos, assim como resultado da dinâmica evolutiva e que os ecossistemas e geossistemas são as duas unidades representativas dos sistemas ambientais. Os ecossistemas correspondem aos sistemas ambientais biológicos numa perspectiva ecológica; os geossistemas correspondem aos sistemas ambientais para a sociedade humana envolvendo os elementos físicos, biológicos e antrópicos, dentro de uma visão geográfica.

Os ecossistemas formam o sistema ambiental do meio biótico, enquanto que o geossistema corresponde aos sistemas ambientais do meio físico (sistemas geoambientais). Os sistemas geoambientais equivalem à organização espacial proveniente da interação dos elementos clima, relevo, hidrografia, geologia, solo, cobertura vegetal e as interferências ocasionadas pela ação antrópica.

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análise das potencialidades dos recursos e na avaliação das modificações ocorridas na superfície terrestre, objetivando as práticas de manejo em face da sustentabilidade ambiental para a sociedade.

Os sistemas ambientais serão, portanto, sempre produtos inacabados que a todo instante, de acordo com sua dinâmica de fluxo e ciclos de energia e matéria, estarão sempre buscando seu equilíbrio a partir de uma reorganização da estrutura constituinte, ganhando, pois, novas peculiaridades que permitam a coexistência do homem e outros seres vivos, bem como o desenvolvimento de suas atividades.

1.1.2 Geossistema

Na década de 1960, a paisagem é incorporada a Geografia Física sob a ótica geossistêmica que, para Sotchava (1977), somente a partir dela, a Geografia consegue estabelecer uma conexão nas suas análises, independentemente dos campos disciplinares das ciências da natureza.

Após a década de 1960, com a intensificação dos problemas ambientais, as ciências que estudavam tais questões passam a repensar os métodos de análise para compreender a nova realidade que se estabelece, tendo em vista que os métodos tradicionais de estudos fragmentados, setorizados e mecanicistas não apresentam mecanismos para compreendê-la em sua dinâmica evolutiva, funcional e estrutural.

Corroborando o sobredito Sotchava (1977, p. 42) expõe que:

Se considerarmos que a chamada ciência da paisagem antropogênica abrange não apenas a avaliação (por meio de classificação) de todas as manifestações dos fatores antropogênicos nos complexos naturais, mas, também, uma atitude construtiva em relação aos mesmos (conservação, preservação e o mais importante, otimização), a abordagem sistêmica (estudo do geossistema) tem um significado decisivo para ela.

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geossistema, portanto, é um espaço único, resultante da estrutura, da dinâmica e das interrelações de seus elementos componentes, o qual se manifesta na paisagem, como entidade real, coesa e integrada (TROPPMAIR & GALINA, 2006).

Cavalcanti et al. (1997, p.21) definem geossistema como sendo um

[...] sistema espaço-temporal, uma organização espacial complexa e aberta formada pela interação entre componentes ou elementos físicos (estrutura geológica, relevo, clima, solo, águas superficiais e subterrâneas, vegetação e fauna) que podem em diferentes graus ser transformados ou modificados pelas atividades humanas.

A concepção de geossistema corresponde à aplicação do conceito de sistema e à abordagem sistêmica da paisagem. É concebido como uma abordagem que analisa o meio físico sob a interferência dos fatores sociais e econômicos, influenciando diretamente na sua estrutura espacial. O geossistema, assim como o ecossistema, “[...] é uma abstração, um conceito, um modelo teórico da paisagem” (BÓLOS I CAPDEVILA, 1992, p.36).

A conexão da natureza com a sociedade, de acordo com o processo de retroalimentação, cria uma rede hierárquica de organizações dos sistemas naturais, com estágio de evolução temporal sob a influência cada vez maior do homem, em níveis local, regional e global, nos quais os elementos (solo, vegetação, etc.) da paisagem são ligados pela troca de matéria e energia (SOTCHAVA, 1977).

Nessa perspectiva, torna-se impossível compreender o geossistema sob a ótica do desprezo dos fatores resultantes da ação humana, concretizada sobre as unidades espaciais formadoras da paisagem, tendo em vista que, o tratamento geossistêmico tem como questão fundamental a compreensão da integração das variáveis naturais e antrópicas, cuja fusão resultante desta integração é primordial na disposição da estrutura espacial e apreensão do conhecimento acerca da qualidade ambiental (MONTEIRO, 2000).

1.1.3 A dinâmica nos geossistemas

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apresenta uma estrutura e uma funcionalidade própria que podem evoluir numa escala de tempo variando de breve a muito longa. De acordo com essa escala de tempo, o geossistema pode ser classificado em três grupos: de curta, média ou longa duração.

Bertrand (1972), buscando estabelecer o equilíbrio dos geossistemas apoiou-se na teoria de bio-resistasia de Erhart. Conforme Dias (1998), H. Erhart em 1995 quando elaborou a teoria da bio-resistasia, levou em consideração a cobertura vegetal como elemento capaz de atuar contra os processos morfogenéticos.

O geossistema é considerado em bioestasia quando a atividade geomorfogenética é fraca ou nula. Quando a geomorfogênese, acrescida ou não da interferência humana, é o fator dominante, o equilíbrio do geossistema é sensivelmente modificado, atingindo o estado de resistasia que logo procurará um novo equilíbrio, condicionando à existência de um novo geossistema.

Acerca da dinâmica dos geossistemas encontra-se, também, a concepção ecodinâmica de Tricart (1977) que considera a Terra como um sistema vivo e que, ao lado das pesquisas analíticas, deve-se desenvolver estudos integrados cooperando com a ecologia no estudo ecodinâmico do ambiente. A classificação ecodinâmica proposta por Tricart é considerada, segundo Ribeiro (2004), como mais elástica do que a de H. Erhart, por incorporar uma condição de transição.

A unidade ecodinâmica é caracterizada pela dinâmica do meio ambiente que repercute de forma imperativa sobre as biocenoses. Assim, o conceito de unidades ecodinâmicas “[...] é integrado no conceito de ecossistema [...] enfoca as relações mútuas entre os diversos componentes da dinâmica e o fluxo de energia/matéria no meio ambiente” (TRICART, 1977, p.32).

Fundamentado nas interferências entre processos morfogenéticos e pedogenéticos, foi elaborado um modelo de classificação denominada de ecodinâmica. Através dos meios estáveis, de transição ou intergrade e fortemente instáveis viabilizou-se a possibilidade de avaliar as condições de sustentabilidade dos geossistemas. Assim Tricart (1977) classifica:

• Meios estáveis - onde ocorre o predomínio da pedogênese sobre a

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ênfase à cobertura vegetal. Tais características são observáveis em: cobertura vegetal densa que reduz os efeitos mecânicos da morfogênese; dissecação moderada do relevo, com curso d`água de fraca incisão e vertente de evolução lenta; e em ausência de eventos naturais catastróficos como vulcanismos e terremotos.

• Meios intergrades - apresentam uma passagem gradual entre os meios

estáveis e instáveis, com interferência permanente da morfogênese e da pedogênese, atuando concorrentemente sobre o mesmo espaço. O equilíbrio fitoestático pode, de acordo com o grau de interferência na unidade ecodinâmica, evoluir para estável, instável ou fortemente instável. A cobertura vegetal, portanto, é fator fundamental nesse processo de evolução.

• Meios instáveis ou fortemente instáveis – onde a morfogênese é o elemento

predominante e determinante na dinâmica do sistema natural apresentando características de desequilíbrio ou de instabilidade morfogenética. Os fenômenos naturais catastróficos e os efeitos negativos da ação humana são determinantes para a insustentabilidade do meio, bem como para a superação dos efeitos da morfogênese sobre a pedogênese, anulando o equilíbrio.

1.1.4 Espacialização do geossistema

Bólos i Capdevila (1992), analisa a paisagem como sendo parte do espaço geográfico concreto que se ajusta ao modelo geossistêmico - um modelo teórico da paisagem. A paisagem é, portanto, a projeção e a materialização do geossistema sobre uma área, cuja evolução, se dá pela entrada de energia numa determinada escala.

O geossistema, conforme Cavalcante et al (1997, p.21), possui “[...] uma expressão espacial na superfície terrestre, representando um sistema composto por elementos que funcionam mediante fluxo de EMI (energia, matéria e informação) em uma interação areal completa”.

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compreendem: geossistemas (paisagens ou ambiente naturais), geócoros (geossistemas de estrutura heterogênea), geômoros (classe de geossistemas com estrutura homogênea) e geótopos (geossistemas associados a unidades morfológicas ou setores fisionômicos homogêneos).

Na espacialização de Bertrand (1972) foram adotadas as seguintes escalas espaciais, classificadas hierarquicamente e em ordem decrescente: zona, domínio, região, geossistema, geofácie e geótopo.

No que concerne à espacialização dos geossistemas é importante destacar que Sotchava ao estabelecer sua classificação preconizou as formações biogeográficas, enquanto que Bertrand, as ordens taxonômicas do relevo.

Troppmair (2000, p.36) ao analisar as proposições atribuídas ao termo geossistema afirma que o “[...] geossistema e suas subdivisões utilizadas por geógrafos apresentam definições e escalas totalmente diferentes e vagas”.

É notória a confusão feita pelos autores ao tentarem atribuir uma definição, bem como uma escala concreta de classificação de geossistema. A noção de geossistema diz respeito a um modelo de abstração da paisagem, que pode atingir diferentes magnitudes de análises, conforme a complexidade dada a partir dos seus elementos constituintes, bem como da sua expressão fisionômica e espacial.

Desta forma, não convém a classificação dada pelos autores Sotchava e Bertrand, quando se apropriam do termo geossistema como mais uma categoria espacial, uma subdivisão, uma forma de compartimentação da paisagem. O geossistema corresponde, portanto, a um conceito não espacial, e, por isso, torna-se inadequado sua apreensão como forma de designar um determinado espaço.

Complementando, Troppmair & Galena (2006) expõem que tanto Sotchava como Bertrand, ao aplicar a concepção geossistêmica, tomaram como base a extensão territorial de seu país (o território russo de grande extensão, e o francês de pequena extensão), esquecendo de deixar clara, a dimensão da escala utilizada para classificação da paisagem, que quando analisadas, mostram-se conflitantes.

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espacial da paisagem, reduzindo o poder de informação acerca de sua complexidade.

A discussão acerca da espacialização é fundamental para que a análise geossistêmica permita uma melhor representação e compreensão da dinâmica da paisagem, que em essência, é extremamente complexa e imprescindível à apropriação do espaço, configurando-se em um elo de integração entre a teoria geossistêmica e a gestão do território.

A gestão de um território exige um conhecimento integrado de seus recursos naturais, com suas respectivas potencialidades e limitações. Deste modo, a análise integrada da paisagem, a partir do modelo geossistêmico, dar o suporte necessário para apreensão da complexidade do meio físico de uma determinada área, viabilizando o estabelecimento de estratégias de uso dos espaços, conforme sua capacidade de suporte.

Nesta perspectiva, o zoneamento geoambiental como ferramenta de gestão, utiliza-se da concepção geossistêmica no intento de apresentar um diagnóstico do meio físico que resulte de uma integração dos elementos do meio natural (geologia, clima, solo, cobertura vegetal, geomorfologia e hidrografia) e não de uma soma de informações fragmentadas e individualizadas, incapazes de possibilitar a compreensão e apreensão da complexidade da paisagem.

1.2 Os zoneamentos: ambiental, ecológico-econômico e geoambiental

A organização do espaço sempre foi uma premissa para o grupo de pessoas que se propõe a viver em estado gregário, sob objetivos e normas comuns. Esta disposição vem sendo observada desde a antiguidade, quando já existiam formas de planejamento (SANTOS, 2004, p.16).

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uma alternativa às teorias e aos modelos tradicionais do desenvolvimento desgastadas”.

Segundo Ross (2006), no período que segue às décadas de 1970 e 1980, as pesquisas integradas de caráter geográfico se debruçaram sobre os estudos dos impactos ambientais, diagnósticos, zoneamentos e planejamento ambiental com pretensões de fornecer as bases para gestão territorial do país, acometido por um crescimento urbano-industrial intenso e acelerado, bem como por uma política de crescimento econômico avassaladora, dissociado dos interesses e compromisso com a questão ambiental.

Entretanto, mesmo com os avanços alcançados pela valorização da qualidade ambiental como forma de manutenção das riquezas do planeta Terra, as políticas voltadas para a gestão do território, ainda permanecem, no que concerne a sua aplicação, apregoada pelos interesses tradicionais de gerenciamento, que em essência, priorizam o crescimento econômico. Deste modo, observa-se uma relação divergente entre o que é alavancado pela ordem do discurso e o que é posto em prática frente às proposições defendidas. Em um texto sobre o desenvolvimento da Amazônia Mello (2002) questiona justamente o descaso das políticas públicas com a estrutura espacial da Amazônia, evidenciado pela contradição entre o discurso e a prática de gestão do território.

Na tentativa de conhecer e de superar as divergências entre crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável do território, várias conferências internacionais, bem como trabalhos acadêmicos e técnicos com metodologias diversas, estão sendo desenvolvidos, no intento de propor uma nova organização espacial e, com isso, um ordenamento territorial das atividades humanas, destacando-se os planos diretores e os zoneamentos agrícola, ambiental, ecológico-econômico e geoambiental.

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O zoneamento, como instrumento de planejamento, é estabelecido a partir de variáveis ambientais como uso e ocupação do solo, geomorfologia, rede hidrográfica, potencialidade erosiva, declividade, hipsometria, litologia e estrutura geológica, dentre outros, de acordo com os objetivos definidos na proposta de trabalho.

No entanto, o zoneamento não pode ser apreendido como uma medida de contenção e restrição das atividades humanas, mas como mecanismo de reorganização do uso dos espaços a partir do conhecimento acurado das potencialidades e limitações dos recursos naturais, com vistas à concretização da política de desenvolvimento sustentável. Para tanto, precisa estar ancorado a uma abordagem interdisciplinar que, conforme a hierarquização das escalas espacial e temporal, considere a estrutura, funcionamento e a dinâmica evolutiva de cada sistema ambiental, possibilitando a compreensão das relações de causa/efeito entre os elementos integrantes dos sistemas e entre os sistemas.

O estudo dos sistemas geoambientais pressupõe o conhecimento e a caracterização geral de seus elementos, numa perspectiva de integração ou de relações mútuas entre si, a partir de dois pontos fundamentais: complexidade e heterogeneidade. Assim, a visão holística e sistêmica permite ao pesquisador perceber, diagnosticar e representar a compartimentação das unidades geoambientais sob os princípios da integração e da interdisciplinaridade.

Esta integração só é possível se os objetivos do zoneamento estiverem bem definidos, explicitando a estrutura metodológica do trabalho e a hierarquia dos níveis de complexidade e, por conseguinte, a organização do meio com a respectiva escala temporo-espacial.

Santos (2004, p.128) ressalta que “[...] para integrar temas é preciso elaborar uma estrutura que represente, claramente, os critérios e procedimentos adotados para o cruzamento entre as informações”. A integração dos dados constitui um desafio aos pesquisadores, pois exige uma adequação de conceitos e escalas nas dimensões temporal e espacial, que possibilitem o cruzamento das informações de forma que os resultados reflitam a realidade da área estudada (SILVA & SANTOS, 2004).

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às diretrizes e metas a serem alcançadas pelas equipes de pesquisadores que planejam uma determinada área, diferindo do zoneamento que compartimenta e agrupa porções do espaço segundo critérios pré-estabelecidos com características similares. Ora é usado na determinação de zonas que levam em consideração apenas um elemento preponderante, deixando para trás o processo de integração das informações (SANTOS, 2004).

Contudo, para a obtenção de um zoneamento racional e viável é imprescindível o conhecimento aprofundado do local selecionado, dos métodos de integração das informações, da escala que melhor represente a integração dos dados e das pretensões da sociedade atual no que diz respeito à qualidade de vida e, conseqüentemente, ambiental.

A escala é uma outra questão fundamental na elaboração dos diversos tipos de trabalhos que se preocupam com a gestão do território. De acordo com a escala adotada (estadual, regional, municipal e de porção do município) temos uma quantidade de informações que poderão ser contempladas ou não, repercutindo diretamente na qualidade do trabalho que poderá ter seus objetivos não atendidos. Santos (2004, p.44) reforça tal afirmação quando expõe que “[...] a definição do espaço exige a escolha de uma escala que melhor o represente”.

Nos zoneamentos observa-se com grande freqüência uma inadequação entre a área escolhida e a escala adotada. O tamanho da área deve ter relação com a escala e com os fenômenos a serem trabalhados no conteúdo do zoneamento. Cendrero (1975) explica que na definição da escala é fundamental pensar, antes de tudo, no tempo e no material disponível para elaboração do trabalho, destacando que os tipos de escala normalmente utilizados na realização de estudos de planejamento são: macro > 1:500 000 (reconhecimento); meso 1:250 000 – 1:25 000 (semi detalhe); micro < 1:10 000 (detalhe). Os mapas, geralmente explorados nos trabalhos relacionados aos vários níveis de zoneamento, devem ser produzidos em escalas que estejam de acordo com a extensão da área, o grau de heterogeneidade e a natureza do estudo.

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Na ocasião, é dada ênfase aos zoneamentos ambiental, ecológico-econômico e geoambiental por serem os mais utilizados nos planos de gestão do território, e por este último constituir a questão central deste trabalho.

O zoneamento ambiental, substituído pelo ZEE (atual instrumento da política de ordenamento territorial brasileira), tem como pretensão o desenvolvimento socioeconômico atrelado á conservação dos recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida do homem. O ZEE, por sua vez, tem a mesma premissa do zoneamento ambiental, porém com maior poder de integração, tendo em vista que envolve não só as variáveis ambientais, econômicas e sociais, mas também, as jurídicas, institucionais e governamentais.

O zoneamento geoambiental, diferente do zoneamento ambiental e do ecológico-econômico, constitui um trabalho técnico e acadêmico que tem como objetivo, elaborar o diagnóstico do meio físico a partir das variáveis de solo, geologia, hidrografia, relevo, clima e cobertura vegetal, fornecendo, pois, as informações necessárias aos planos de gestão sobre as potencialidades e limitações dos recursos naturais às pressões humanas.

1.2.1 Zoneamento Ambiental

Antes da institucionalização da Política Nacional do Meio Ambiente na década de 1980, já se trabalhava com zoneamentos. Os zoneamentos agroecológicos, industriais e urbanos já faziam parte dos trabalhos desenvolvidos no Brasil com pretensões de melhor aproveitar os espaços pelas atividades econômicas.

A Lei Federal, nº 6.803, de 2 de julho de 1980, destinada a orientar as questões ambientais, dispõe sobre as diretrizes básicas para o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição, definindo que as zonas destinadas à instalação industrial precisam está em conformidade com o zoneamento urbano, em consonância com a proteção do “meio ambiente”.

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objetivo “[...] preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida” (MMA, 2006, p.10), assegurando ao país condições de desenvolvimento que atendam aos interesses de todos os segmentos da sociedade. Dentro da referida política são estabelecidos vários instrumentos de execução como, por exemplo, o zoneamento ambiental citado no Art. 9º, inciso II, da Lei 6.938/1981.

Embora com uma perspectiva mais ampla, o zoneamento ambiental vem juntar-se aos zoneamentos já existentes tais como o industrial, agroclimático e urbano, no intuito de subsidiar o desenvolvimento e assegurar a conservação ambiental.

O zoneamento, institucionalizado por lei, passa a ser pensado numa ordem de grandeza atrelada à perspectiva de ordenamento territorial, contrapondo-se com a concepção tradicional em que o mesmo apenas se detinha a restringir ou alocar indústrias no espaço urbano ou, então, definir áreas com potenciais agrícolas. Agora o zoneamento perpassa a idéia de preservação, prevenção e manutenção dos recursos naturais (SCHUBART,1995 apud MMA, 2006).

De acordo com Santos (2004, p.135) o zoneamento ambiental “[...] prevê preservação, reabilitação e recuperação da qualidade ambiental. Sua meta é o desenvolvimento socioeconômico condicionando a manutenção, em longo prazo, dos recursos naturais e a melhoria da vida do homem” e que, segundo Silva & Santos (2004, p.230) arrola em seu bojo, essencialmente, os ”[...] indicadores ambientais que destacam as vocações e as fragilidades do meio. Deve representar metodologicamente as interações do meio, segundo um enfoque sistêmico”.

Complementando, Ross (2006, p.149) escreve que:

As proposições de zoneamento ambiental devem refletir a integração das disciplinas técnico-científicas na medida em que consideram as potencialidades do meio natural, adequando o programa de desenvolvimento e os meios institucionais a uma relação entre sociedade e natureza cujo princípio básico é o ordenamento territorial calcado nos pressupostos do desenvolvimento com políticas conservacionistas.

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ou diretrizes, por meio do conhecimento das variáveis ambientais, capazes de estabelecer novas formas de explorar as potencialidades do Brasil respaldado nos princípios concernentes ao desenvolvimento sustentável. Conseqüentemente, o referido zoneamento tornou-se o alicerce dos trabalhos voltados para o planejamento ambiental, podendo ser desenvolvido por universidades, órgãos públicos ou privados, desde que atendendo as suas pretensões de proteção, conservação e recuperação da qualidade ambiental.

O zoneamento ambiental nesta perspectiva funcionou como uma carta de navegação para a gestão do território. Ademais, utilizou-se de parâmetros ambientais como declividade, geologia, relevo, clima, hidrografia, uso e ocupação do solo e respectivas pressões antrópicas sobre o meio para então, sob a visão sistêmica, de integração e interdisciplinaridade, obter informações necessárias à geração de cenários que viabilizassem a orientação e a materialização dos planos de gestão do território, cujos critérios podem ser aplicados em níveis de município, estado e região. Ressalta-se, pois, que tal trabalho, ainda hoje é desenvolvido, principalmente, por pesquisadores. Entretanto, com menos freqüência devido à inserção do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) na Política Nacional do Meio Ambiente.

1.2.2 Zoneamento Ecológico Econômico

O Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE) é o atual instrumento de ordenação territorial da Política Ambiental Brasileira que, por meio do Decreto Federal, nº 4.297 de 10 de julho de 2002, substitui o zoneamento ambiental contido no Artigo 9º, inciso II, da Lei Federal, no 6.938, de 31 de agosto de 1981. Fundamenta-se na idéia de que o ZEE tem maior poder integrativo, por aglutinar as variáveis ambientais, institucionais, jurídicas, econômicas e sociais necessárias ao ordenamento territorial brasileiro.

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década de 1990, no intuito de conhecer as áreas de grande relevância ecológica, econômica e social.

Porém, somente a partir do Decreto Federal nº 4.297 de 10 de julho de 2002, é que oficialmente o ZEE é regulamentado por lei como ferramenta do setor governamental no processo de gestão do território.

O ZEE pode ser definido como sendo um instrumento de otimização dos espaços e das políticas públicas, com base na integração dos sistemas ambientais, econômico, social e cultural, capazes de fornecer subsídios às estratégias e ações governamentais de reorganização das atividades humanas, em equilíbrio com as potencialidades naturais que auxiliam na implementação e tomada de decisão por parte das esferas governamentais, que atendam aos preceitos do desenvolvimento sustentável, assegurando a potencialidade econômica e ambiental do Brasil.

O Art. 2º, do Decreto Federal nº 4.297 de 10 de julho de 2002, afirma que o ZEE

[...] é um instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população.

Becker & Egler

(1996) inferem que a elaboração do ZEE pressupõe uma concepção transdisciplinar e o entendimento da dinâmica dos sistemas ambientais, bem como da formação socioeconômica, fundamentado nas interações e interdependência entre seus componentes. Deste modo, a aplicação dos princípios

do ZEE deve

rá indicar a condição de sustentabilidade e de vulnerabilidade do

ambiente,

permitindo, pois, “[...] a prognose de seu comportamento futuro, diante das diversas alternativas de expansão e integração da estrutura produtiva regional

no processo de ocupação e uso do território”

(BECKER & EGLER

,1996, p.14). De acordo com o MMA (2001, p.24) o ZEE é

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Para Silva & Santos (2004, p.230) o ZEE, numa perspectiva sistêmica e dialética, é resultante das “[...] relações de interdependência entre os subsistemas físicos, bióticos e socioeconômicos. Pesa em seu conteúdo, o diagnóstico da estrutura e da dinâmica ambiental e econômica, bem como do patrimônio biológico e cultural do país”.

Sousa (2004) complementa expressando que o ZEE auxilia as políticas territoriais aos olhos da proteção ambiental, da qualidade de vida, da contenção dos riscos e da redução de perda das potencialidades naturais. A partir dos estudos integrados, fundamentados na concepção sistêmica, define-se as zonas de planejamento, resultante dos dados naturais, socioeconômicos e da estrutura jurídico-institucional. Atende aos anseios das políticas públicas ambientais manifestadas no espaço, objetivando o planejamento e o ordenamento territorial (ROSS, 2006).

O ZEE, após seis anos de institucionalização na Política Nacional do Meio Ambiente, já possui suas bases metodológicas e teóricas definidas. Porém, a sua realização no âmbito dessa política, ainda enfrenta o desafio da integração dos diversos ZEEs, resultante de políticas de gestão setorizadas e não articuladas, decorrentes de uma escala maior de aplicação, ou por apenas estar sendo idealizado na perspectiva de inventário de dados ambientais e sócio-econômicos. Deste modo, para que os objetivos do ZEE sejam alcançados, é necessário que estejam direcionados para a gestão governamental, dotando-a de conhecimentos técnicos suficiente para a aplicação de políticas públicas.

A elaboração do ZEE acontece com base na área de aplicação selecionada, adaptada às especificidades locais e aos interesses específicos de gestão de cada estado. Nesta perspectiva, cabe ressaltar que esses interesses particulares de cada gestão podem, de acordo com as pretensões políticas dos gestores, mascararem os dados e comprometer a veracidade do trabalho, resultando em um ZEE de legitimação de interesses particulares e não coletivos, com ênfase apenas no crescimento econômico, dissociado do social e do ambiental. Entretanto, para que isso não aconteça, é impreterível a existência de gestores comprometidos com a ética e os princípios de uma gestão eficiente do território.

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metodológicos, a partir de uma equipe interdisciplinar e integrada, articulando os seguintes eixos: ambiental, sócio-econômico, jurídico e institucional.

Com base no exposto, fica explícito que a realização do ZEE deve partir, antes de tudo, do interesse dos gestores e não de pesquisadores individualizados, haja vista que não é um trabalho de caráter acadêmico, mas de gestão do território, carecendo de implementação e de consolidação a partir das instâncias governamentais.

1.2.3 Zoneamento Geoambiental

O zoneamento geoambiental configura-se em um trabalho técnico-acadêmico, que não se encontra contemplado na legislação brasileira (SILVA & SANTOS, 2004). Porém, está incluso no rol dos zoneamentos comumente usados pelas equipes que efetuam trabalhos na perspectiva ambiental. No entanto, mesmo não estando apoiado pela legislação, apresenta-se como um trabalho fundamental para a realização dos diversos zoneamentos previstos pela lei. Possui, conforme os objetivos, várias finalidades de aplicação, propiciando, nos últimos anos, uma maior difusão do zoneamento geoambiental como instrumento relevante na gestão do território. Ademais, “[...] fundamenta-se na interdisciplinaridade, síntese, abordagem multiescalar, dinâmica e princípios que são comuns a grande parte das ciências naturais” (MORAES, 2003, p.24).

O zoneamento geoambiental configura-se em um diagnóstico do meio físico, a partir do estudo integrado da geologia, relevo, hidrologia, cobertura vegetal, solo, clima e uso do solo, tendo em vista a ordenação do uso dos espaços, segundo suas características bióticas e abióticas (recursos naturais, qualidade ambiental e padrão de uso da terra). Consiste em compartimentar, com base nas características homogêneas, as unidades geoambientais que são obtidas a partir da integração dos dados do meio natural acoplado às pressões humanas de uso da terra, através da concepção geossistêmica, o que permite classificar as zonas de acordo com a capacidade de suporte e tolerância às intervenções humanas (SANTOS, 2004).

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as relações entre os subsistemas naturais e as condições de uso e ocupação que encerram a realidade estática e dinâmica do espaço”.

O zoneamento geoambiental é descrito por Brandão et al (2003) como um trabalho de base para o ordenamento territorial, pautado num diagnóstico do meio físico e na identificação dos impactos ambientais oriundos da pressão humana sobre as diversas unidades geoambientais reconhecíveis.

Ademais, conforme Stefani (2000), esse trabalho de diagnóstico é resultante dos avanços do conhecimento acerca das coberturas intempéricas, associado às informações geológicas, pedológicas, fisiográficas e morfoestruturais.

Oliveira (1990, p.1) na sua proposta de zoneamento geoambiental do município de Quixeramobim/CE considera que

O zoneamento geoambiental é um meio indispensável para estabelecer o diagnóstico dos recursos naturais e avaliar suas potencialidades e limitações de uso bem como em caracterizar uma área com relação as suas aptidões e restrições a atividades em desenvolvimento e/ou passíveis de serem implantadas.

Em sua tese de doutoramento Ohara (1995, p.5) coloca que o zoneamento geoambiental deve ter como objetivo a formulação de conhecimentos técnicos “[...] para orientar e elucidar a tomada de decisões na implementação de alternativas de desenvolvimento regional compatível com a sustentabilidade e vulnerabilidade dos sistemas ambientais”.

Os zoneamentos geoambientais apesar de seguirem uma base conceitual semelhante, se divergem por questões metodológicas, que são adaptadas aos objetivos do estudo, que segundo Adamy (2005), se estruturam através da geologia e, principalmente, da geomorfologia, por ser mais fácil de ser identificado e delimitado no espaço, contribuindo diretamente na classificação dos sistemas geoambientais.

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físicas do substrato rochoso e depósitos superficiais, solos, assembléias biológicas e ação antrópica.

Silva (2005) também descreve a metodologia de Zuquette et al (1997) que tem como ênfase a geologia. Para a representação dos resultados elabora-se a carta de zoneamento geoambiental que corresponde a uma carta geotécnica. Para obtenção desta carta adota os seguintes mapas: mapa de substrato rochoso, mapa de qualidade das águas, bacias hidrográficas, de condições geológicas e cartas derivadas (de potencial ao escoamento superficial, ao movimento de massa, de recarga de aqüífero, de probabilidades de eventos naturais).

Ohara (1995), para o desenvolvimento de sua tese, considerou as características do meio físico adicionado aos processos específicos de alteração intempérica e/ou do tipo de colóide intempérico predominante, como também as anomalias de morfoestrutura. As homogeneidades das unidades foram delimitadas de acordo com a ruptura da declividade, que está associada ao limite litológico e/ou geológico, ao limite erosivo e a descontinuidade estrutural. A homogeneidade interna das unidades de zoneamento é conforme Ohara (1995, p.6)

[...] inversamente proporcional ao tamanho da área. A uniformidade interna é maior à medida que as unidades são menores, e menores à medida que as unidades são maiores. [...] as unidades definidas são o resultado de um balanço adequado de uniformidade ou homogeneidade e continuidade.

Com ênfase na geomorfologia destaca-se a metodologia de Souza et al (2000), de Brandão (2003) e da FUNCEME (2006), que se fundamentam na concepção geossistêmica, considerando os fatores de potencial ecológico e de exploração biológica. Os sistemas geoambientais são delimitados e hierarquizados em unidades homogêneas de acordo com a geomorfologia da área, analisando sua capacidade de suporte, vulnerabilidade e estabilidade, por meio da proposta ecodinâmica de Tricart.

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tabelas de síntese e de mapas que apresentem de forma clara os resultados, exigindo uma escala adequada ao tamanho da área e das informações disponíveis.

Os trabalhos consultados evidenciam a importância do zoneamento geoambiental para o conhecimento das potencialidades e das limitações do meio físico, no intento de fornecer suporte ao ordenamento territorial, preconizado pelos projetos de gestão e ancorado nos preceitos do desenvolvimento sustentável. Este tipo de zoneamento vai além da concepção de um mero diagnóstico do meio físico. Ele atinge diretamente a sociedade, a partir do momento em que fornece o conhecimento necessário ao estabelecimento de atividades no espaço, garantindo a manutenção de sua capacidade de suporte, bem como uma relação salutar entre sociedade e sistemas geoambientais, que se consubstanciam numa dinâmica evolutiva, integrativa e complexa.

Deste modo, pode ser usado para auxiliar no desenvolvimento agrícola, planejamento de bacias hidrográficas, como base para o conhecimento das potencialidades, limitações, vulnerabilidade e sustentabilidade natural aos processos erosivos, para subsidiar na instalação de dutos, rodovias, indústrias, implementação de projetos agropecuárias, mineração, aterros sanitários, obras de engenharia como açudes, túneis e prédios, bem como mecanismo de ordenamento de uso e ocupação do solo, elaboração de planos diretores e ZEE (ADAMY, 2005; NUNES,1996).

Com base no exposto, a proposta de zoneamento geoambiental do município do Crato-Ce configura-se em um instrumento impreterível aos planos de gestão do município, fornecendo subsídios à implementação do plano diretor e da política ambiental municipal. A complexidade dos sistemas geoambientais do município exige um diagnóstico integrado do meio físico, que apresente as potencialidades e limitações dos seus recursos, de forma que contribua para o seu ordenamento territorial, reorganizando as atividades humanas existentes e as que poderão surgir em seu território.

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permite a visualização de informações que são impreteríveis ao conhecimento mais acurado das potencialidades e limitações do município do Crato.

Imagem

Figura 01: Precipitações pluviométricas (mm)  Fonte: Magalhães, (2006)
Figura 02: Balanço hídrico do Crato

Referências

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