3.1 Aspectos gerais de saúde 3.3.4 Cobrança e controle Os participantes nº06, nº29 e nº40 relataram que há cobrança mas que, segundo eles, é uma cobrança normal que não incomoda. No relato dos demais participantes foi possível perceber a existência de cobrança das chefias por qualidade e produção. No relato do participante nº01 observou-se a referência à cobrança e reclamações quanto à falta de reconhecimento do trabalho “Tem bastante cobrança. Às vezes incomoda. Ontem um rapaz deixou passar um defeito e não era uma coisa tão grave e o supervisor veio e deu uma advertência para ele. Eu fiquei indignado, não gostei porque o cara trabalha bem, é chato, ele não fez por querer. Às vezes tem elogio, às vezes passa em branco. A maior parte é cobrança. O que eu fico indignado é que o cara trabalha tão direitinho nunca ninguém vem dizer ‘tu é dez’. Deixou passar a primeira vez aquele defeito o cara vem lá e dá a advertência para ele. Aqui se trabalha em cima de qualidade e custo, não pode gastar, tem que estar cuidando disso o tempo todo, evita gerar custo, evita isso, evita aquilo para não gerar custo. E qualidade tem que estar ali, então é uma coisa assim que a gente trabalha sempre em cima da navalha, toda a vida. É complicado” (participante nº 01 - setor de prensa). Setor de esmaltação: A maioria dos participantes comentou que a cobrança é normal e que não incomoda. No relato do participante nº07 foi possível perceber que a cobrança, em determinados momentos, causa irritação e incômodo, ou no relato do participante nº19 que disse ir irritado para casa em função da cobrança “Me sinto bastante submetido, às vezes o cara chega até irritado em casa porque o cara faz o que pode, mas eles sempre querem mais, estão sempre cobrando mais, fica ruim para a gente, eles tem que ver que muitas vezes a responsabilidade cai só em cima da gente, aí a gente tenta levar da melhor forma como operadores de máquina, mas principalmente os supervisores vem cobrar da gente, mas não pensam que não é só a gente que está aí trabalhando, é uma equipe inteira” (participante nº19 - setor de esmaltação). Quando há cobrança nesse setor esta também está relacionada à qualidade, não gerar custos e produção. Setor de forno: A maioria dos participantes também considerou que a cobrança nesse setor é normal e não incomoda e que a relação com as chefias é tranqüila. O participante nº35 referiu que já houve mais cobrança, mas que com a mudança de chefia essa condição melhorou bastante (mudança em função da reestruturação da empresa, a função do gerente de fábrica foi extinta). Dois participantes da Terceira Queima, nº44 e nº45, relataram que não possuem um supervisor na fábrica, que um dos colegas foi designado como líder e que a falta de habilidades em liderar ou a confusão de papéis provocou brigas e discussões, irritação e incômodo entre os trabalhadores dessa Unidade. No relato do participante nº45 foi possível verificar melhor tal fato e que características negativas essa liderança produziu no grupo “Eles botaram um líder no nosso setor à noite, eu não me sentia a vontade para trabalhar ali porque entre os colegas sem ser ele nós nos dávamos muito bem, só que as vezes ele era o tipo que conversava com a gente uma coisa, levava outra, isso causava muita confusão e muita coisa ele achava que mandava, a gente não se sentia muito à vontade; foram feitas umas 04 reuniões com o chefe, 01 vez foi feita com a assistente social e ela resolveu o problema, ele tinha dado uma melhorada, depois voltou a ficar meio ... é porque é assim os chefes que tem aqui se eles tiverem que conversar com a gente, chamar a atenção, ele não é de chamar a atenção na frente de todo mundo, chama na salinha, conversa, ele não esse nosso líder ele achava que podia as vezes causava uma discussão com alguém já vinha desde a salinha dele até aqui fora todo mundo escutando, acho que o respeito que ele quer nós também queremos, apesar de ter um pouquinho mais de compromisso com a gente que ele é responsável por nós, só que eu acho que ele tinha amizade com todo mundo e não precisava estragar tudo, ele continua trabalhando com a gente, eu voltei de férias agora e eles falaram que ele não está mais sendo nosso líder, só está responsável para pegar a chave se precisar de alguma que sim só que o problema deles é que eles viam que ele era errado mas não tomavam nenhuma atitude, sempre deixavam não sei se por medo de tiara ele daquela posição” (participante nº45 - setor de forno/ Terceira Queima). Setor de classificação: Nesse setor foi relatado que há cobrança, mas que não incomoda. No relato do participante nº26 foi possível perceber as conseqüências das mudanças que a empresa vem implementando: aumento de tecnologia e diminuição do número de funcionários o que acarreta mais trabalho e responsabilidade para quem fica. Outra constatação é a mudança no estilo de liderança, com mais diálogo e transparência nas relações. “Todos os setores aqui é cobrado bastante, a empresa está enxugando, tirando várias pessoas aí, cada vez cobra mais, se tinha duas pessoas fazendo o mesmo serviço hoje não vai ter mais, hoje vai ter uma só e isso aí é bastante cobrado, as chefias cobram da gente, quando está bom ‘meus parabéns’, mas quando está ruim, dá problema, é bastante cobrado e com razão, não pode deixar amolecer. P: Essa cobrança incomoda? R: Não, no início sim as vezes tem uma cobrança que não incomoda quando teu chefe chega te cobrando numa boa, mas tem aquela cobrança, esses tempos aí tinha aquele ritmo de escravidão que o chefe chegava na fábrica e a turma já se escondia, ficava com medo, receio, aí isso incomodava, ficava até irritado, até comentavam ‘Pô, o cara enchendo o saco!’ mas hoje não, hoje já tem mais, sei lá as cabeças mudam, a mentalidade muda, hoje a nossa chefia tem mais diálogo com a gente” (participante nº26 - setor de classificação). Setor de expedição: Nesse setor também foi relatado que a cobrança diminuiu, antes irritava e incomodava e que atualmente está mais tranqüilo. Citaram que a cobrança está relacionada a fazer o que precisa ser feito, mas não incomoda é uma cobrança normal. Os participantes da pesquisa relataram que a cobrança e controle a que estão submetidos foi considerada normal e que, na maioria das vezes, estava relacionada à qualidade, produção e não gerar custos. Mesmo assim houve relatos de que a cobrança produzia manifestações como irritação e incômodo. Segundo os participantes a cobrança por parte das chefias já foi maior e que com a mudança das mesmas essa condição melhorou, relataram que sentiam mais diálogo e transparência nas relações. De acordo com Dejours (1996) a transparência e as relações de confiança são aspectos fundamentais para a estabilização e construção do grupo de trabalho e do sentimento de pertencer a este grupo. 3.3.5 Advertências: No documento Organização, condições do trabalho e percepção de riscos à saúde por parte dos trabalhadores: um estudo em uma indústria cerâmica (páginas 100-103)