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Codificação/categorização dos dados

2. O conselho geral: Considerações gerais

4.2. A análise de conteúdo

4.2.1. Codificação/categorização dos dados

A codificação das observações, reunidas nas nossas notas de campo, foi feita com a letra O, seguida do tipo de reunião, também ela codificada, com letras e números, por exemplo, ORGP1, primeira observação da reunião geral de pais, ORCG2, observação da reunião número 2 do conselho geral.

A codificação dos atores foi igualmente realizada utilizando combinações de letras e números, por exemplo, PP1a, pai professor do 1.º ciclo.

A codificação dos documentos consultados obedeceu ao mesmo critério, a letra A para atas, seguida de outras letras e números que as distinguem pela sua natureza e ordem temporal: A1CG ata da primeira reunião do conselho geral; E para entrevista, E1PCG, entrevista realizada em primeiro lugar ao presidente do conselho geral; PEA, projeto educativo do agrupamento; PAA, plano anual de atividades; RI, regulamento interno do agrupamento; RAE, relatório da avaliação externa, RAI, relatório de avaliação interna.

Quanto à categorização, como dissemos, a nossa grelha de análise foi construída a partir de um processo misto, combinando duas etapas: a categorização a

priori, atendendo ao quadro teórico base e aos objetivos e questões gerais definidos

previamente, e a categorização a posteriori, resultante de informações obtidas, no decurso da interação verbal, da recolha de informação, num processo compósito, designadamente as que dizem respeito aos efeitos da abertura da escola à comunidade e efeitos de uma provável politização/partidarização/ municipalização da educação; efeitos/reflexos da reorganização da rede escolar, resultante da fusão das escolas do concelho, já quase no final do trabalho empírico; relevo da sobrerrepresentação de pais professores na escolha parental; efeitos da pertença de representantes dos pais, no CG, a movimentos associativos de pais e interferências ou não na sua atuação local.

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Assim, as categorias gerais e respetivas subcategorias apresentam-se de acordo com o quadro que segue:

Quadro 16 - Matriz da categorização e subcategorização dos dados recolhidos

Categorias Subcategorias

A. Intervenção dos pais no órgão de direção estratégica CG

1. Contextos Local Data Atores

Disposição dos atores no espaço

2.Grau de envolvimento na elaboração dos documentos orientadores da política da escola

- PEA - RI - PAA

- Avaliação da escola

3.Tipologia das intervenções parentais -Individual

- Coletiva - Colaborador - Fiscalizador

4. Natureza dos assuntos tratados pelos pais

5. Pais Professores

- Diferenças/semelhanças

6.Interação dos pais com os outros atores - Relações de poder

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constrangimentos/mudanças

- Diferenças entre a teoria e a prática B. Lógicas de ação dos

atores/pais

Burocrática

(Burocrato-gestionária)

- Conhecimento dos normativos - Preparação/formação - Serviço público - Ordem/ legitimação - Eficácia/ controlo Política - Fontes de poder - Tipologias de interesses

- Conflito (alianças/ negociação) C. Efeitos da abertura da escola à comunidade - Receios da partidarização/municipalização da educação G. Efeitos da reorganização da rede escolar

- Desafinação entre a teoria e a prática - Centralização do poder

- Esvaziamento do CG H. Movimento associativo de

pais

- Contaminação de papéis dos atores pais

Procedemos à codificação dos dados, procurando agregá-los em unidades que considerámos relevantes para uma compreensão do conteúdo, tendo sempre em consideração os objetivos que traçámos e as questões gerais que pretendíamos ver respondidas.

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Para algumas das operações enunciadas, nomeadamente a codificação dos dados, de acordo com as categorias, socorremo-nos de uma das recentes ferramentas informáticas para a análise qualitativa de dados: o Nvivo10,da página do QSR (Qualitative Solutions Research) 73

Servimo-nos desta ferramenta na etapa de codificação dos dados colhidos nas entrevistas e nas atas, pois facilitou o trabalho de arquivo das mesmas e a seleção de enunciados, unidades de contexto e de registo, “transportando-as” para as categorias formuladas previamente ou criadas, passíveis de reformulação, ampliação ou eliminação, ao longo do processo de codificação dos documentos.

Constituiu uma ajuda preciosa, de economia de tempo e de espaço, não foi preciso trabalhar com vários ficheiros abertos simultaneamente, pois o programa fez esse trabalho de agregação, como os exemplos seguintes, utilizados para a categoria escola - arena política - pretendem ilustrar: internals, fonte, ficheiro do computador, neste caso, as entrevistas, unidades de registo, frases, palavras selecionadas, como “interesse”, “conflito”, “poder” (Cf. Matriz de categorização e subcategorização dos dados colhidos, pp.170-171) e outras associadas, utilizadas nos discursos dos vários entrevistados; o número de ocorrências, references, de segmentos discursivos com essas ocorrências verbais, selecionadas pelo investigador e transportadas através da leitura exaustiva de cada uma das fontes para a categoria e ou subcategoria, e a cobertura percentual coverage no texto codificado.

73http://www.qsrinternational.com/news_whats-new_detail.aspx?view=549 , acedido durante os

meses de julho e agosto de 2012..

Este programa lançado em 2002, por uma universidade australiana, teve como um dos seus percursores o NUD*IST. O seu principal mérito consiste no armazenamento de informação em categorias específicas, procurando facilitar, através da substituição do trabalho manual de recorte e “colagem”, o trabalho do analista que se defronta com uma grande quantidade e diversidade de fontes, sources. Este programa permite trabalhar com diversos “textos” e agrupar informações por nodes, categorias. Permite a visualização de cada documento autónomo ou de cada categoria e respetiva coverage (fonte, número de referência e cobertura textual).

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Ilustração 1 - Amostra da cobertura percentual em cada entrevista: categorização da escola como arena política

Ilustração 2 - Amostra do número de referências textuais por entrevista: Categorização da escola como arena política

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Quadro 17 - Amostra guardada no Word com os dados codificados no Nvivo: Participação dos pais no RI

E5E

1 3,10% Na do regulamento interno eu creio que sim que havia que era até do… fazia parte do conselho geral e havia um representante dos pais Porque depois nós dividimos eu fazia parte também do grupo de trabalho do regulamento interno e o que ficou combinado era que cada um, mas fazia tenho a certeza que sim, lembro-me que cada um ver e organizar a parte que correspondia a cada sector.

E6P

P2a 1 0,23% sei que do regulamento interno que participava

2 0,40% Eu penso que sim e que havia e que havia por email também porque a pessoa que…

3 0,46% ia fazendo, ia entregando, ehh, pronto. Esse tipo de participação eu sei que eles tiveram.

E8P

P1a 1 1,01% Exato, foi a mesma coisa, aí foi debatido alguns temas em C. Geral e foi debatido, mais ou menos as alterações

que houve no regulamento interno

E9D

2b 1 0,71% Sim penso que foi a mesma coisa, também foram sugestões que eles tivessem assento

numa equipa mesmo não conheço

E10 PP1 b

1 0,24% Também não, não tenho conhecimento

E12 PND t

1 0,99% Não foi enviado também por emails e eles e não só antes das reuniões darmos a opinião

E13

BP 1 0,71% Todas as comissões de trabalho que foram instaladas os pais estiveram sempre a preocupação de nomear alguém

E14

D1b 1 1,20% Sim, sei que sim, que pelo menos no regulamento interno que foi nomeada uma pessoa, um representante dos pais

para estar presente

E15

PNP 1 1,05% depois no regulamento interno houve equipas de trabalho tiveram a participação dos pais, penso que foi o presidente que fez parte

salvo o erro

E17

Aa1 1 0,22% Sei que deram o seu contributo.

Partimos de uma codificação aberta de um conjunto de categorias iniciais, esta codificação permitiu a inclusão de outras categorias, seguidamente realizámos uma

codificação axial, um processo que consiste na relacionação, articulação das categorias

mãe, chamemos-lhe assim, para utilizar o vocabulário do software informático, com as categorias filhas, isto é, com as suas subcategorias (Strauss e Corbin, 2002). Ao longo destas operações, de comparação e cruzamento de informação, fizemos uma

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codificação seletiva, visto que efetuámos revisões e reconstruções das categorias e ou

subcategorias até atingirmos o chamado ponto de saturação teórica, no qual “ (…) já não emergem propriedades, dimensões ou relações novas (…).” (ibidem: 157).

O desenvolvimento atual de novas técnicas de análise de dados, proporcionado pelo uso de computadores e programas específicos, incluindo o Word e o Excel, revelou-se muito útil na fase mecânica, no arranjo e disposição gráfica dos materiais, na redução de dados, na identificação de frequências e coocorrências, na sua apresentação através de figuras, tabelas, gráficos, esquemas (afinal, técnicas próprias dos estudos convencionais) contribuindo, sempre para a simplificação deste processo compósito de análise.

Apesar desta ajuda, reiteramos que nenhum software informático faz análise de conteúdo, limita-se a fazer operações delineadas, comandadas pelo investigador. Por detrás de um computador, há sempre um investigador, um ser e as suas circunstâncias, um autor, parafraseando Barthes (1973: 66) “ (…) perdido no meio do texto (não por detrás dele à maneira de um deus de maquinaria), há sempre o outro, o autor.” Podíamos acrescentar há sempre outros, também, os leitores74.

Não podemos esquecer, com Lincoln,Y. S & Guba, E.G. (1985: 289-356), que os dados resultam de uma interação entre o investigador e as fontes, por isso, são construções; a análise dos dados é uma reconstrução dessas construções; os dados não são independentes dos valores do investigador nem da sua linguagem teórica, surgem para dar respostas a questões formuladas pelo investigador que decide quando e como questionar. Os dados são o resultado de um processo de interpretação, também influenciado pelos valores e a linguagem natural dos respondentes e ou observados. Os dados serão também o resultado da interpretação dos leitores, neste diálogo permanente, neste palimpsesto que é conhecimento humano75.

74 O autor tem sempre um leitor em mente quando escreve o seu texto: “Todavia, o público leitor a que o

autor endereça o seu texto (…) nunca é, nem pode ser, um auditório intemporal e universal.” (Aguiar e Silva, 1982: 300-301). O “policódigo” do autor e o do leitor têm de intersetar-se mutuamente.

75 Ao escrevermos uma tese de doutoramento dirigimo-nos a vários leitores, em primeira instância

leitores especializados na matéria, mas trata-se de um texto “(…) que de facto pressupõe vir a ser lido e consultado por muitas outras pessoas, incluindo estudiosos não versados naquela disciplina.” (Eco, 1988: 156). Também por isso, temos de ter em atenção o modo como escrevemos, pois se trata de uma metalinguagem, uma linguagem sobre outras linguagens, que possibilite ser compreendida, ser

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Para Santos Silva (2001: 319) “ (…) os factos humanos são sempre factos interpretados, o que os distingue radicalmente dos eventos físicos; a consciência dos atores é o elemento constitutivo decisivo do mundo social” e haverá sempre obstáculos que poderemos ou não contornar ao conhecimento científico sobre os fenómenos sociais.