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CAPÍTULO V AS ESCOLAS DE SURDOS PESQUISADAS EM SÃO PAULO

5.2 Colégio Seli

O Instituto Seli é uma escola particular especializada em educação para surdos, a qual ofertava serviços diversificados, como: o Colégio Seli (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio), Cursos de Libras, Cursos de Extensão, Capacitação e Pós-Graduação.

Localizava-se no município de São Paulo, capital do estado de São Paulo, no Setor Sudeste, conforme mostra o mapa 7. Estava sediado no bairro do Tatuapé, o qual possui terrenos valorizados e comércio de alto padrão, com intensa verticalização e adensamento urbano. O bairro conta com quatro bibliotecas municipais, escolas e universidades, construções históricas e museus, além de hipermercado, shopping e bancos.

MAPA 7 – Localização do Colégio Seli – São Paulo-SP

Fonte: IBGE, 2015. Org.: BORGES, M. S., 2017.

No ano de 2017, o Colégio Seli possuía turmas de 5º ano (com oito estudantes), 6º ano (sete estudantes), 7º ano (dezoito estudantes), 9º ano (dezenove estudantes), sendo uma turma para cada ano. Devido ao número reduzido de estudantes, a turma de 8º ano não foi oferecida.

O Colégio também atendia estudantes do Ensino Médio, com quatro turmas de 1º ano, sendo uma de estudantes surdos que possuíam outras deficiências, duas turmas de 2º ano e uma turma de 3º ano.

O Colégio Seli tinha como missão: "Formar e educar cidadãos surdos com consciência e capacidade crítica para atuarem na sociedade em geral e na comunidade de surdos permitindo, ao mesmo tempo, a livre expressão de suas individualidades". (SELI, 2017).

Na figura 31, observa-se a entrada do prédio de três andares do Instituto Seli, onde os serviços oferecidos e o Colégio Seli se localizavam.

FIGURA 31 – Prédio do Instituto Seli – São Paulo, 2017

Autora: PENA, F. S., 2017. Fotografia do prédio do Instituto Seli, onde se localizava o Colégio Seli. São Paulo, 2017.

Sendo um instituto particular, desenvolvia programa de bolsas de estudo (parciais), em que eram beneficiadas algumas famílias de alunos em situação de vulnerabilidade social comprovada, após entrevista para avaliação pedagógica e financeira.

Também realizava parcerias com empresas que se voluntariavam a apadrinhar, parcialmente, os estudantes surdos, oferecendo-lhes aporte financeiro para as mensalidades.

5.2.1 História do Colégio Seli27

O Colégio Seli foi criado em 2002, com o atendimento aos surdos na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I (1º ao 5º ano), utilizando a Língua Brasileira de Sinais como primeira Língua e a Língua Portuguesa, em suas modalidades oral e escrita, como segunda Língua.

No ano de 2006, começou a ofertar, também, a escolarização do Ensino Fundamental II (6º ao 9º ano) e do Ensino Médio, disponibilizando uma sala para alunos com deficiência múltipla, associada à surdez.

Nesse mesmo ano, iniciaram-se os cursos de Libras (Básico, Intermediário e Avançado), voltados para a comunidade, para os estudantes e para os seus familiares. “O Instituto, atento à importância da interação família-escola, oferece aos pais dos seus estudantes a oportunidade de participar dos cursos de Libras sem pagamento das parcelas”. (SELI, 2017).

Em 2010, além da escolarização na Educação Básica, o instituto se preocupava com a empregabilidade dos estudantes, o que levou a iniciaram-se parcerias com empresas privadas para a inserção de alunos do Ensino Médio – maiores de 16 anos, no mercado de trabalho (em horários complementares ao período de aulas).

A nossa meta é oferecer recursos para que estes alunos possam trabalhar em horários alternados ao colégio, e possam arcar com as despesas dos estudos. Estamos sempre atentos para não permitir que alunos e familiares se acomodem com esse auxílio, mas sim, busquem, juntos a nós, um crescimento pessoal e profissional, atingindo sua independência financeira e cidadania plena. (SELI, 2017).

Na figura 32 é possível observar a evolução dos serviços prestados pelo Instituto Seli. Em parceria com a Faculdade XV de Agosto, começaram a ser ofertados cursos de Pós-Graduação. No ano da pesquisa, foi oferecido o curso “Pós-Libras: Tradução e Interpretação”; o “Pós-Libras: Educação para Surdos”; o “Diversidade e Inclusão: recursos humanos e outros segmentos”, nas modalidades presencial e semi-presencial, além do curso de extensão pedagógica “Libras e como ensinar o Aluno Surdo”.

27 As informações sobre o Instituto foram adquiridas por meio do site oficial do mesmo, assim como entrevista

com o diretor. O PPP do Colégio não foi disponibilizado para a pesquisadora, com a justificativa de que estava sendo reestruturado.

FIGURA 32 – Instituto Seli e os serviços oferecidos – 2002 a 2016

Fonte: Site do Instituto Seli. São Paulo, 2017.

De acordo com o site institucional, em 2015 o Instituto Seli elaborou o seu material didático próprio, criando uma editora. As publicações foram realizadas por profissionais de educação – surdos e ouvintes, que se dedicavam ao trabalho de inclusão. Foram editadas apostilas pedagógicas, apostilas do curso de Libras em seis níveis, incluindo um CD, e apostila de sinais religiosos.

5.2.2 Caracterizando os Espaços, os Profissionais e os Estudantes do Colégio Seli

Com relação ao espaço físico, o Colégio Seli possuía salas de aula com lousa de vidro, TV digital e computador com Internet para o professor, sendo três salas de aula adaptadas para cadeirantes. Também havia laboratório de informática, lanchonete, auditório, quadra poliesportiva, secretaria, sala do diretor, sala dos professores, coordenação pedagógica e cozinha. O Colégio não possuía biblioteca.

Os espaços eram identificados por placas, com o nome em Língua Portuguesa escrita e o sinal em Libras, assim como observado na figura 33. Não havia sinais luminosos para identificar o término das aulas.

FIGURA 33 – Placas sinalizadoras dos espaços no Colégio Seli

Autora: PENA, F.S., 2017. Fotografia do corredor do Colégio Seli com a sala de aula identificada com placa em Libras e Língua Portuguesa escrita. São Paulo, 2017.

Todas as salas de aula eram equipadas com TV digital, sendo utilizadas pelos professores com o notebook ligado pelo cabo HDMI. Era possível a visualização de slides, imagens, mapas, vídeos e pesquisas na Internet, simultaneamente à aula, o que despertava o interesse dos estudantes surdos.

A figura 34 apresenta um momento da aula de Geografia, onde é possível verificar alguns dos recursos mencionados.

As carteiras ficavam dispostas em formato de semicírculo, possibilitando a comunicação em Libras entre todos os estudantes e a professora. Durante as aulas, além do recurso tecnológico, a professora de Geografia utilizava folhas de atividades com imagens coloridas, mapas e aula expositiva dialogada em Libras.

FIGURA 34 – Aula de Geografia na sala de aula do Colégio Seli

Autora: PENA, F.S., 2017. Fotografia da sala de aula do Colégio Seli com professora de Geografia e estudantes surdos. São Paulo, 2017.

A lanchonete era o local onde os estudantes se reuniam antes e depois das aulas, assim como no recreio. A figura 35 apresenta, à esquerda, o espaço da lanchonete com as mesas e cadeiras. No auditório, observado à direita, eram realizadas peças teatrais, palestras e demais atividades escolares que necessitassem de um espaço maior.

Autora: PENA, F.S., 2017. Fotografias da lanchonete e do auditório do Colégio Seli. São Paulo, 2017.

Os conteúdos programáticos do Ensino Fundamental II eram realizados conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, com acréscimo da oferta da disciplina de Libras por um professor surdo. No contraturno eram oferecidos cursos de Língua Portuguesa escrita e de Matemática.

O Colégio possuía um grupo de profissionais especializados, formado por professores surdos e ouvintes fluentes em Libras, com cursos de Pós-Graduação na área de Educação de Surdos. Também possuía parcerias com fonoaudióloga e psicóloga, fluentes em Libras, para os estudantes surdos que buscassem pelos serviços, com atendimentos fora do Colégio.

O Instituto indicava cursos de aperfeiçoamento para seus estudantes – a partir de 14 anos de idade – junto a empresas parceiras. Para alunos do Ensino Médio, além da grade curricular normal, o Instituto se dizia preocupar em treiná-los para uma entrevista e para fazer redação, para uma colocação no trabalho. Também para o Ensino Médio, fazia simulados preparatórios para os vestibulares.

Durante a pesquisa estava sendo organizada a Feira Cultural de 2017, cujo tema era “Surdez: historicidade, cultura e linguagem”. Cada turma de estudantes, com orientação dos professores, iria apresentar oficinas sobre: “Arte Surda”; “Contação de Histórias em Libras”; “Qualidade de vida: análise e reflexão sob a perspectiva do sujeito surdo”; “A empregabilidade é possível?”; “Surdos brasileiros: quantos são?”; “Libras: que língua é essa?”; “Surdos: tempo e a história”; “Os surdos na sociedade atual: acessibilidade”; “Surdos: quem são? quais são as suas identidades?”; “Representatividade e estereótipos da surdez”.

O evento estava sendo importante para os estudantes surdos do Colégio e também para os visitantes, pois seriam pesquisados e apresentados temas fundamentais para a compreensão e valorização do ser surdo.

Os estudantes surdos matriculados no Colégio Seli, assim como observado nas demais escolas, possuíam domínios diferentes da Libras e da comunicação oral. Alguns eram oralizados e faziam leitura labial, além de se comunicarem em Libras. Outros não eram oralizados e se comunicavam em Libras, com domínios diferentes da mesma.

A partir das observações e análises documentais realizadas pela pesquisadora, verificou-se que o Colégio Seli realizava suas atividades procurando seguir a perspectiva da Educação Bilíngue. Contava com profissionais qualificados, os quais dominavam Libras, possuíam e realizavam cursos na área da educação de surdos, oferecidos pelo Instituto Seli.

Além de adotar a Libras como primeira língua e a Língua Portuguesa escrita como segunda, o colégio propunha atividades que valorizavam os estudantes surdos e suas diferenças de aprendizagem. As aulas eram ministradas utilizando-se recursos como imagens,

mapas e TV conectada ao notebook, além de atividades com textos curtos e debates em Libras entre professor e alunos, os quais sentavam em formato de semicírculo durante as aulas.

O Colégio também se preocupava com a inclusão do surdo na sociedade, realizando atividades complementares para o ingresso nas Universidades e no mercado de trabalho.

O espaço físico da escola possuía placas com sinais em Libras e adaptações arquitetônicas para estudantes com deficiência física. Na sala de aula e no espaço da lanchonete, os estudantes surdos se comunicavam constantemente, demonstrando gostar da escola e do contato constante com os colegas surdos e professores fluentes em Libras.