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Os desafios e a importância de ensinar Geografia para os estudantes surdos

CAPÍTULO VI PESQUISAS E PRÁTICAS DE GEOGRAFIA PARA SURDOS:

7.4 Os desafios e a importância de ensinar Geografia para os estudantes surdos

Assim como para os estudantes ouvintes, o ensino de Geografia para os estudantes surdos precisa ser pensado e construído de maneira crítica, pois há desafios encontrados pelos professores, durante a sua prática, para a construção dos conceitos geográficos.

O professor P1 afirmou que o seu maior desafio era realizar a aula em Libras, justificando que ela não é a primeira língua do professor ouvinte. Outra questão levantada foi o pouco domínio que os estudantes possuem com relação à Língua Portuguesa escrita.

Para a professora P2, o maior desafio é adquirir a terminologia da Geografia em Libras, por ser pouco divulgada e escassa. Ela disse ser necessária a utilização de classificadores ou sinais criados e combinados com os estudantes, para tentar ensinar de maneira mais clara.

Na visão da professora P3 o maior desafio ao ensinar Geografia para os estudantes surdos é o vocabulário, explicando que muitas palavras são desconhecidas e não fazem parte do cotidiano deles. “No geral, a dificuldade que a gente tem de trabalhar é introduzir o vocabulário, para fazer com que os estudantes surdos entendam os seus conceitos”. (P3).

Segundo a professora P4, os desafios estavam na falta de conhecimento prévio de alguns estudantes, assim como no domínio insuficiente da Língua Portuguesa. Uma das alternativas apresentadas pela professora, para driblar essas dificuldades, era explorar, de

todas as maneiras, os conceitos geográficos, assim como fazer uma ligação com a realidade dos estudantes surdos.

Assim como a professora P2, a professora P5 acreditava que o maior desafio era a falta de sinais de Libras específicos da Geografia. “Para não ficar soletrando as palavras, crio e combino sinais com os alunos. Explico para eles que aquele sinal não existe, mas que podemos combinar para utilizar nas aulas”. (P5). A professora complementou que os maiores desafios do ensino de Geografia para os estudantes surdos são encontrados na escola comum.

As pesquisas da área, discutidas no Capítulo VI, confirmam o que a professora P5 afirmou. São muitos os desafios na escola comum, para o ensino de Geografia para surdos. Além da falta de sinais de Libras específicos da Geografia, os professores não são formados para atender esse grupo de alunos, não possuem recursos didáticos e atendem a um número grande de alunos por turma, sendo eles, na maioria, ouvintes.

Para além dos desafios, todos os professores também discorreram sobre a importância do ensino de Geografia para os estudantes surdos.

O professor P1 informou que:

As informações não são amplamente divulgadas entre os surdos, especialmente entre os que não sabem a Língua Portuguesa. O professor de Geografia é importante por apresentar os problemas do mundo, a política, as questões econômicas e sociais. (P1).

A professora P2 afirmou que a Geografia é de grande importância para os estudantes surdos, por possibilitar a ampliação da sua visão de mundo, nas mais diversas esferas, fazendo com que estabeleçam conexão com as demais áreas do conhecimento.

As professoras P3 e P4 também enfatizaram que a importância da Geografia para os estudantes surdos é a ampliação do conhecimento do mundo, o qual expande a compreensão da realidade na qual estão inseridos.

A professora P5 afirmou:

Geografia é vida! Eu a vejo em todos os lugares. Eu não consigo olhar as coisas sem relacionar com a Geografia: estar parada no trânsito, ver a chuva. A vida está em torno da Geografia e tudo se entrelaça. Sou apaixonada pela Geografia e acredito que ela é fundamental para os estudantes surdos. (P5).

Por fim, os professores deixaram um recado para os professores de Geografia da escola comum, os quais estão recebendo em suas salas de aula os estudantes surdos. Considerou-se importante essa abordagem pelo fato da maioria dos estudantes surdos brasileiros estar matriculada nessa escola.

O professor P1 pediu que aprendessem a Libras, pois considerava que a língua de sinais é fundamental para o ensino e a aprendizagem dos estudantes surdos.

A professora P2 afirmou:

Espero que os professores olhem o aluno surdo procurando conhecê-lo melhor, na sua integralidade; quais as suas necessidades, principalmente no campo da linguagem. Que procurem fazer cursos de Libras e saber as melhores metodologias para o ensino. Enfim, que se envolvam de verdade. (P2).

A professora P2 também acreditava que o ensino de Geografia para alunos surdos, bem como das demais disciplinas, precisa aprofundar mais na questão das adaptações e das terminologias. Outro ponto que via com preocupação era o ensino da Língua Portuguesa escrita, concomitantemente ao ensino da Libras, pois delas dependem todos os outros componentes curriculares. “É indispensável o domínio de ambas as línguas para a eficácia do ensino, pois os alunos precisam desenvolver-se na leitura e na produção de textos, assim como na aquisição de conhecimentos pela Libras” (P2).

A professora P3 também deixou uma mensagem para os professores de Geografia da escola comum:

Acredito que um professor do ensino comum pode ter anos de experiência, mas se chegar um aluno surdo, posso dizer que ele não vai conseguir muita coisa. É um trabalho bem diferente. Ele deve buscar não apenas aprender Libras, mas conhecer a cultura do surdo e como ele aprende. (P3).

A professora P4 afirmou:

Primeiramente, deve-se exigir o intérprete de Libras na sala de aula. Também é necessário conhecer a cultura surda e ter um mínimo de conhecimento da língua de sinais, sendo que esta é a primeira língua do surdo. (P4).

A professora P5 alegou:

Não vou falar para eles adaptarem o currículo, o que a maioria tem falado. É preciso adaptar a metodologia de ensino. O professor deve ser capaz de trazer para a escola novas formas de ensinar. Às vezes ele tem em casa caixinhas de leite, pedrinhas do quintal, e muitas outras coisas que podem fazer uma aula diferente. Quando ele adapta sua forma de ensinar Geografia, ele não precisa saber Libras. Ele consegue ensinar qualquer aluno – Surdo, ouvinte, aluno com deficiência intelectual – porque ele vai utilizar outros tipos de recursos para chegar naquele aluno. (P5).

Quatro professores entrevistados enfatizaram a necessidade do professor da sala de aula comum aprender a Libras para se comunicar com o estudante surdo. Duas professoras

destacaram as metodologias de ensino diferenciadas para o ensino de Geografia para surdos; e duas apontaram a necessidade do professor conhecer a cultura surda e as peculiaridades do ser surdo.

Todas essas sugestões devem ser contempladas – de forma que uma não anule a outra, para que o ensino de Geografia seja devidamente concretizado. Não basta o professor dominar Libras, nem apenas conhecer metodologias de ensino. Assim como afirmou a professora P2, os professores precisam se envolver verdadeiramente, conhecendo a cultura surda, sua língua e as metodologias de ensino mais adequadas para a educação de surdos.

Certamente, apenas a formação docente não garante um ensino de Geografia adequado para esse grupo de estudantes, mas a mesma pode possibilitar novas lutas e ações para a real inclusão escolar dos surdos.

A partir das análises realizadas neste capítulo, referentes à formação docente, ideias, concepções e práticas pedagógicas dos professores de Geografia das escolas pesquisadas, verificou-se que a formação inicial dos mesmos não contemplou a educação de surdos. Todavia, eles buscaram se capacitar para atender os estudantes na perspectiva da Educação Bilíngue, principalmente a partir do aprendizado da Libras.

Acreditavam no trabalho desenvolvido nas escolas onde atuavam, embora enfrentassem desafios para o ensino de Geografia bilíngue, como a falta de sinais de Libras específicos da área e de recursos didáticos. Eram os professores quem elaboravam seus próprios materiais, sendo necessária também a utilização de classificadores ou sinais criados e combinados com os estudantes. Realizavam aulas expositivas dialogadas em Libras, com o uso de imagens, mapas, recursos tecnológicos como TV, projetor multimídia, computadores e Internet, dentre outros, associados ao português escrito e à Libras.

O próximo capítulo, “A Geografia Escolar na perspectiva dos estudantes surdos” apresenta e analisa questões sobre o ensino e a aprendizagem de Geografia na perspectiva dos próprios estudantes, considerando-se as práticas realizadas na escola comum e na Escola de Surdos.