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Formação docente para a Educação Bilíngue de surdos

CAPÍTULO VI PESQUISAS E PRÁTICAS DE GEOGRAFIA PARA SURDOS:

7.1 Formação docente para a Educação Bilíngue de surdos

A formação docente é primordial para que a Educação Bilíngue de surdos ocorra de forma adequada. As formações inicial e continuada devem contemplar não apenas os aspectos didáticos e metodológicos dos conteúdos escolares, como também as singularidades de aprendizagem dos estudantes surdos.

Para se conhecer a formação dos professores de Geografia que estão atuando nas Escolas de Surdos, o quadro 4 apresenta um compilado das informações obtidas, por meio das entrevistas, as quais serão analisadas em seguida.

QUADRO 4 – Cursos de formação dos professores entrevistados

Professor(a) Graduação Pós-Graduação Cursos de

Libras P1 História - Especialização em Educação de

Surdos Sim

P2 Estudos Sociais - Especialização em Libras (cursando) Sim

P3 Letras, História e Geografia - Especialização em Educação Especial - Especialização em Metodologia de Ensino de História Sim

P4 Geografia - Especialização em Libras (cursando)

- Especialização em Geografia Sim P5 Estudos Sociais e Geografia - Especialização em Libras - Especialização em Deficiência Intelectual Sim

Fonte: Pesquisa de campo realizada em Escolas de Surdos, de 2015 a 2017. Org: PENA, F.S., 2017.

Ao informarem sobre a formação inicial, apenas três professores cursaram licenciatura em Geografia, tendo um deles realizado o curso na modalidade à distância, após ter se formado em Letras e História.

A ausência de professores de Geografia que dominam Libras, devido à complexidade para se aprender esta língua, assim como qualquer outra, fizeram com que as escolas contratassem professores do curso de História e Estudos Sociais para ministrarem os conteúdos de Geografia.

Para mim é uma surpresa conhecer você, uma professora de Geografia que também domina Libras. Se vê hoje muitos professores de História que ensinam Geografia para Surdos, devido à falta de professores capacitados. (P5).

Esse fato pode comprometer o ensino dos conhecimentos geográficos, uma vez que o curso de licenciatura em Geografia possibilita o domínio sobre o conteúdo curricular, que abrange tanto as competências e habilidades docentes, como os conceitos que perpassam os conteúdos programáticos.

Também, segundo a professora P5, a falta de profissionais que saibam Libras é um problema para a educação dos surdos. A mesma teve facilidade em atuar nesta área, meramente por ter aprendido a língua.

Eu não planejei trabalhar em uma Escola Bilíngue. As coisas foram acontecendo, por eu ter o domínio da Libras. São poucos os professores dos conteúdos específicos que dominam a Libras. (P5).

Deve-se considerar que o fato de saber Libras não significa que o professor consiga ministrar aulas significativas para os estudantes surdos, do mesmo modo que não basta saber a Língua Portuguesa para ministrar boas aulas para os estudantes ouvintes. São necessários conhecimentos sobre a cultura surda, as metodologias de ensino e os recursos didáticos que podem contribuir para aulas inclusivas com surdos.

Também sobre a formação inicial, os professores foram questionados se, durante o curso de licenciatura em Geografia, foram formados para ministrar aulas para estudantes surdos. Duas professoras afirmaram que foram parcialmente formadas, sendo que a professora P3 cursou uma disciplina de Libras, e a professora P5 disse que foi convidada a estagiar na Prefeitura Municipal, em um programa de inclusão de alunos com deficiência e com surdos, durante o segundo ano da Graduação. “Neste estágio aprendi Libras com os próprios surdos” (P5).

Os demais professores disseram que não foram formados, durante a graduação, para a educação de surdos. Entretanto, com relação aos cursos de formação continuada, na área da surdez, todos os professores participaram de cursos de Libras – básico, intermediário e avançado, oferecidos por Associações de Surdos, Igrejas, escolas e institutos. Duas professoras estavam cursando, também, Especialização em Libras, e outra já havia concluído. O professor P1 havia cursado Especialização em Educação Especial.

Três professores relataram que, anteriormente aos cursos, haviam tido contato com pessoas surdas e se interessaram em aprofundar o aprendizado da Libras. A professora P3

afirmou que o seu interesse pela área de educação de surdos iniciou devido ao convívio com um irmão mais novo, o qual é surdo. Entretanto, de acordo com ela “conhecer uma pessoa surda não significa que você sabe Libras. Eu comecei a me comunicar, de fato, em Libras, após os cursos” (P3).

Apesar dos professores não terem sido contemplados com uma formação inicial adequada para os estudantes surdos, observou-se que todos buscaram cursos complementares para atender as peculiaridades desse grupo de estudantes.

Sobre a importância de o professor dominar a Libras na educação dos surdos, todos os professores entrevistados afirmaram ser fundamental, justificando que:

Não existe contato efetivo entre o aluno surdo e o professor, se não for por meio da Libras. (P1).

Com certeza é importante, pois o aprendizado do aluno pode ficar comprometido caso não haja a comunicação efetiva em sua primeira língua. (P2).

Você vai encontrar surdos bem oralizados, que entendem bem a fala, mas existem surdos que não falam nada. E tem surdos que não falam e que não sabem Libras. Então, você utiliza todos os recursos: Libras, oralização e mímica. Na aula o mais importante é se comunicar. Vai depender do que o aluno sabe. (P3).

É fundamental, porque em Libras podemos construir os conteúdos para os alunos Surdos, os quais têm um melhor esclarecimento da Geografia. (P4). É muito importante o professor saber Libras, porque a comunicação com os alunos acontece, principalmente, por meio dela. (P5).

A Libras, sendo a língua utilizada pela comunidade surda brasileira, é primordial para a comunicação e a construção dos conhecimentos, junto aos estudantes surdos, sendo valorizada pelos professores entrevistados.

Assim como afirmou a professora P3, há também uma grande diversidade linguística do alunado, em uma mesma turma: alunos com distintos níveis de fluência em Libras, sendo que alguns também são oralizados. O estágio cognitivo também pode variar, pois alguns alunos possuem maiores conhecimentos prévios e outros adquiriram uma língua tardiamente. Essas diferenças exigem do professor uma dedicação extra, na intenção de atender todas as demandas linguísticas e cognitivas dos estudantes.

Sobre o domínio da Libras, duas professoras de Geografia afirmaram que possuem domínio avançado, mas que não utilizam muitos sinais próprios da Geografia. Três professores, além do domínio avançado, utilizam sinais na área de Geografia.

As duas professoras que disseram não dominar muitos sinais na área de Geografia justificaram que não há padronização ou sistematização dos sinais geográficos, assim como ocorre em outras áreas escolares. São utilizados classificadores36 e combinam-se sinais com os estudantes.

As pesquisas estudadas no Capítulo VI, em especial aquelas dos autores Machado (2007) e Arruda (2015), enfatizam essa questão. Elas afirmam a necessidade de se compilar, criar e divulgar os sinais específicos de Geografia, para que haja um ensino mais significativo. Ao se analisar o perfil dos professores de Geografia das Escolas de Surdos, percebe-se que, apesar de não terem sido formados para a educação desses estudantes durante a graduação, buscaram se capacitar e especializar para atender as demandas desse grupo de alunos. Se identificam e acreditam na proposta da Educação Bilíngue, reconhecendo a importância da Libras.

Entretanto, deve-se questionar o fato de professores de outras áreas estarem ministrando Geografia, e vice-versa. Espera-se que a inserção da disciplina de Libras nos cursos de licenciatura incentive os novos professores a se envolverem com a comunidade surda e aperfeiçoarem suas competências para a educação de surdos.