• Nenhum resultado encontrado

Capítulo II – Breve histórico

2.1. Colônia

Foi em 20 de maio de 1710 que o Provedor da Fazenda Real da Capitania do Rio de Janeiro representou ao Governo de Lisboa contra as muitas edificações que se faziam nas áreas de marinha.

Em resposta, determinou El-Rei ao Governador do Rio de Janeiro, que informasse sobre as edificações feitas nas marinhas, em relação às quais representara o Provedor da Fazenda, vê-se a primeira menção ao termo marinha, cujo texto conclui:

“Parece-me ordenar-vos Me informeis com vosso parecer, ouvindo os Officiaes da Camara sobre a matéria, e ouvireis também ao Patrão-Mor da Ribeira, e algumas pessoas que tenhão intelligencia de mar, se se poderão fazer estaleiros, onde se possão fabricar Navios de Guerra.”73

Seguiu-se a esta, a Ordem Régia de 7 de maio de 1725, em que El Rei demonstra sua preocupação com as construções nas testadas das marinhas e proibindo-as:

“(...) os moradores desta Cidade que possuem casas na banda do mar,

tratando do seu accrescentamento, as avançarão tanto delle que totalmente deixarão as praias sem marinha, não só em prejuízo do bem público, mas de Minha Fazenda Real.”

Para o quanto ordena:

“(...) daqui em diante se siga a disposição que insinuais, de que ninguém, pode alargar um só palmo para o mar, nem edificar casa até a ponte do Valongo (...)”

Ante a já presente dificuldade de delimitação, seguiu-se a sempre citada Ordem Régia de 10 de janeiro de 1732, esclarecendo e introduzindo parâmetros para definição legal das terras de marinha:

“Determina porém o mesmo Senhor que Vm. faça continuar a mesma obra, na certeza de que tudo o que toca a água do mar e accresce sobre ella é da Coroa, na forma da Ordenação do Reino; e de que da linha dagua para dentro sempre são reservadas 15 braças pela borda do mar para serviço publico, nem entrão em propriedade alguma dos confinante com a marinha e tudo o quanto allegarem para apropriar do terreno é abuso inattendivel;”

Às Ordens Régias, seguiram-se os Avisos de 18 de novembro de 1818, de 29 de abril de 1826, de 13 de julho de 1827, onde, segundo, Manoel Madruga, conclui-se que se designou por marinhas e de propriedade nacional – o espaço de terreno compreendido em 15 braças entre a terra firme e o bater do mar em marés vivas.”74

Inicia-se, assim, a consolidação da práxis administrativa, por meio de decisões, instruções, resoluções, editais, circulares, avisos, ordens e portarias, como ensina Rosita de Sousa Santos:

“Do período do descobrimento ao ano de 1818, encontramos um único decreto – o de 21 de janeiro de 1809 -, e ao chegarmos à Independência em 1822, as marinhas tinham merecido somente mais um decreto, em 13 de julho de 1820, quando foi declarada de competência da Repartição da Marinha, em todos os portos, de qualquer porção de praia.”75

74 MADRUGA,op. cit., p. 68 75 SANTOS, op. cit., p. 6

Embora ainda não figurasse em corpo legislativo, as marinhas eram já importante realidade nacional e fonte arrecadatória.

Foi assim que em 04 de outubro de 1831, foi publicada lei sobre a Organização do Tesouro Nacional e Tesourarias das Províncias no Império, onde estabeleciam-se competências para inspecionar arrecadação, distribuição e contabilidade das despesas públicas a ser exercida pelo Tribunal do Tesouro Nacional (art. 6º, §1º).

A Lei Orçamentária de 15 de novembro de 1831 foi a primeira a mencionar a expressão “terrenos de marinha”, no art. 51, n. 14:

“Art. 51: O governo fica autorizado a arrecadar no ano financeiro do 1º de julho de 1832 ao último de junho de 1833, as rendas que foram decretadas para o ano de 1831-1832, com as seguintes alterações:

14: Serão postos a disposição das Câmaras Municipais, os terrenos de Marinha, que estas reclamarem do Ministro da Fazenda ou dos Presidentes das Províncias, para logradouros públicos, e o mesmo Ministro da Corte, e nas Províncias os Presidentes, em Conselho, poderão aforar a particulares aqueles de tais terrenos, que julgarem convenientes, e segundo o maior interesse da Fazenda, estipulando, também, segundo for justo, o foro daqueles mesmos terrenos, onde já se tenha edificado sem concessão, ou que, tendo já sido concedido condicionalmente, são obrigados a eles desde a época da concessão, no que se procederá a arrecadação. O Ministro da Fazenda no seu relatório da sessão de 1832, mencionará tudo o que ocorrer sobre este objeto.”

Da leitura das leis, conclui-se que a competência do Tribunal era mais ampla, do que a do Ministério.

Assim, os terrenos de marinha passaram ao controle do Ministério da Fazenda, sob vigilância do Tribunal do Tesouro Nacional, ambos com a incumbência de relatórios.

Fora conferida a disposição às Câmaras Municipais para logradouros públicos, bem como foi permitido ao Ministro da Corte e aos Presidentes das Províncias, o aforamento, à luz

do que fosse mais conveniente segundo o maior interesse da Fazenda, inclusive com determinação do foro mais justo, controle, fiscalização, regularização e arrecadação.

Esta descentralização e confiança emprestadas aos presidentes das províncias, tinham como finalidade a facilitação do exercício do aforamento, com o conseqüente cultivo das terras.

Outrossim, a falta de clareza e a interpretação tendenciosas, fizeram nascer a instrução n. 348 de 14 de novembro de 1832, na qual definiu-se em seu art. 4º:

“Hão de considerar-se terrenos de marinha todos os que, banhados pelas águas do mar e rios navegáveis, vão até a distância de 15 braças craveiras para parte da terra, contadas estas desde os pontos a que chega a preamar médio.”76

Ainda neste mesmo ano decisão assinada por Nicolau Vergueiro, Presidente do Tribunal do Tesouro Nacional, no qual estabelece:

“(...) hão de se considerar terrenos de marinha todos que, banhados pelas águas do mar, ou dos rios navegáveis, vão até a distância de 15 braças craveiras para parte da terra, contadas estas desde os pontos a que chega o preamar médio.”77

Outra Lei, também desta, época determinou a demarcação dessa faixa em todo o litoral brasileiro.78

A lei orçamentária n. 38 de 3 de outubro de 1834, destinava à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a receita dos foros arrecadados.79

76 SANTOS, op. cit., p.13

77 Jornal A Tribuna, 28/09/1976. “A Lei e a realidade na questão dos terrenos de marinha”. Jorge Martins

Rodrigues

78 Jornal A Tribuna, op. cit. 79 Cf. Anexo, p.

Segundo Rosita de Sousa Santos, esta lei teve vigência por 104 anos, até ser revogada pelo Decreto-lei n. 710, pelo qual conclui:

“(...) daí, por diante, a terra de marinha apareceu sempre como o elemento gerador de uma renda registrada nas leis orçamentárias, e a regulamentação de todos os casos que surgiram, foi toda ela feita por meio de atos administrativos. (...)

Os atos administrativos conduziam a vida dos terrenos de marinha e dos foreiros, através de uma algaravia, que hoje classificaríamos como casuística, atendendo e resolvendo situações formadas por uma vivência que muito distante já se achava das regras ditadas pelas ordenações filipinas, que continuariam em vigor até a constituição outorgada por D. Pedro I, e que permaneceram como embasamento da atuação do judiciário até 1916.”80

Nada obstante, a administração além de suprir a falta de legislação expressa, estava em descompasso com o Poder Judiciário, como se nota no Aviso de 1º de outubro de 1861, expedido pelo Presidente do Tribunal do Tesouro Nacional, dirigido pelo Sr. Presidente da Província da Bahia:

“(...) para sua intelligencia e devido cumprimento.... acrescendo o que está decidido na Resolução de 30 de maio de 1850, que he de competência administrativa o contencioso dos terrenos de marinha...”

Em 19 de junho de 1863, novo Aviso reforçava a determinação:

“Declarou-se ser de exclusiva competência administrativa o contencioso dos terrenos de marinha, e no caso do Poder Judiciário insistir em tomar conhecimento de semelhante questão, deve ser levantado conflito de jurisdição.”81

80 SANTOS, op. cit., 13/14 81 SANTOS, op. cit., p. 15

No documento TERRENOS DE MARINHA COSTEIROS (páginas 53-58)

Documentos relacionados