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2.1 PCN-EM E PNLD-EM: ATITUDES RESPONSIVAS AOS ALUNOS DO ENSINO

2.1.2 Coleções Selecionadas: Manual e Compêndio

O PNLD 2012/Ensino Médio resenhou onze coleções no seu Guia de Livros Didáticos de Língua Portuguesa, dentre as quais Português Linguagens e Português: contexto, interlocução e sentido, obras escolhidas para investigarmos a abordagem do gênero anúncio publicitário. A primeira, da autoria de Thereza Cochar Magalhães e William Roberto Cereja tem o feitio de manual; a segunda, de Marcela Pontara, Maria Bernadete M. Abaurre e Maria Luíza M. Abaurre tem índole de compêndio.

De acordo com o Guia (2011, p. 14), manual é um tipo de livro didático que se organiza, fundamentalmente, como uma sequência de “passos” e de atividades concebidas, elaboradas e ordenadas em virtude de certa prática docente no tratamento didático (transmissivo ou reflexivo-construtivo) dos objetos de ensino. Assim, cada unidade ou seção de um manual equivale, geralmente, a uma aula ou a uma sequência de aulas desenvolvida em torno de um determinado tópico. A série total dessas unidades e seções contém, em princípio, a programação de um ano letivo de um específico segmento de ensino. Por essas características, um manual é dotado de planejamento de ensino próprio, implicado na sequência de unidades, ainda que essa composição permita alguma escolha ou adaptação por parte do professor.

Distintamente, o compêndio é um tipo de livro didático que visa, primordialmente, a expor e a discutir, de modo sistemático, todos os objetos de maior relevância da disciplina num determinado nível de ensino. Além disso, objetiva recomendar e orientar (mais ou menos detalhadamente) as práticas didáticas mais compatíveis com os pressupostos teóricos e metodológicos assumidos pela obra e oferecer (em maior ou menor quantidade) subsídios para o trabalho de sala de aula, como atividades e exercícios de referência, modelos, sugestões de trabalho, textos complementares, entre outros. Desse modo, as atividades são exemplos e/ou modelos, a serem replicados e/ou adaptados, e a seleção, a ordenação e o tratamento didático dado

45 aos objetos de ensino propostos ficam a cargo do planejamento e das práticas do próprio docente, incluindo a elaboração de atividades complementares.

Ambas as coleções se publicaram em três volumes, de acordo com as exigências do Edital do PNLD 2012. Português Linguagens se configura por doze unidades – quatro por volume – e cada uma delas apresenta capítulos estruturados em quatro eixos (quase sempre alternados de acordo com a progressão dos capítulos), os quais sejam, “Literatura”, “Língua: uso e reflexão”; “Produção de textos” e “Interpretação de textos”. Por sua vez, Português: contexto, interlocução e sentido se compõe de 26 unidades temáticas, – dez no volume I, oito no volume II e oito no volume III – e cada uma delas em capítulos constitutivos de um dos três grandes blocos em que se estrutura a coleção, a saber, o de “Literatura”, o de “Gramática” e o de “Produção de textos”. A junção dessas três parcelas dá forma a cada um dos volumes, caracterizando o perfil de compêndio, haja vista a necessidade de o professor criar uma ordem de exploração que combine ou rearranje os capítulos integrantes desses três compartimentos. Tal disposição se diferencia do manual, já que, neste, a sequência combinatória dos eixos pode ser seguida como está impressa, sem exigir, embora admita, o gerenciamento do docente.

Em princípio, nossos critérios de seleção das obras não levaram essa distinção em conta, mas o inventário do corpus levou à percepção imediata de desigualdades na estrutura composicional das coleções, razão pela qual, ao categorizarmos os dados, de acordo com as seções/eixos das obras, assimilamos essa classificação inscrita nas resenhas do Guia.

As duas coleções passaram pelo crivo do PNLD, considerando-se seus pontos fortes e fracos, seu destaque, sua programação do ensino e seu manual do professor. A seguir, estão reproduzidos os quadros esquemáticos recortados do Guia, os quais cumprem a função de caracterizar, concisa e claramente, as propriedades que podem interferir na escolha dos professores e antecipar as prioridades de ensino que estão no forro da seleção:

46 Fonte: http://www.fnde.gov.br/programas/livro-didatico/guia-do-livro/item/2988-guia-pnld-2012-ensino- m%C3%A9dio Acesso em 23. Set. 2013 às 13h:30.

E http://www.abrelivros.org.br/home/images/stories/GuiaPNLD2012_LINGUAPORTUGUESA.pdf

Acesso em. 05. Jun. 2014 às 14h.

Quadro 2 - relativo à coleção Português: contexto, interlocução e sentido

Fonte: http://www.abrelivros.org.br/home/images/stories/GuiaPNLD2012_LINGUAPORTUGUESA.pdf Acesso em. 05. Jun. 2014. 14h.

Esses quadros perfilam, objetivamente, as obras e nos apontam pistas a serem consideradas na análise, principalmente se consentirmos que os itens pontuados podem auxiliar nosso olhar nas interpretações dos dados. Obviamente, esses indícios só podem existir se conviverem com a disposição de compreender o corpus sem engessá-lo em qualquer prognóstico.

47 Em relação à primeira coletânea, por exemplo, como ponto forte, temos a exploração de textos de diferentes linguagens, o que sugere o trabalho com enunciados verbo-visuais na sua multimodalidade, como é o anúncio; e, como ponto fraco, os exercícios de análise linguística a partir de frases isoladas, com ênfase em atividades de classificação de termos da oração, o que já aponta para questões de natureza mais gramatical, provavelmente, descartadas da concepção de enunciado concreto.

No que concerne à segunda coleção, consta como ponto forte a noção de gênero, que traz em si a de enunciado concreto, recaindo sobre a modalidade escrita da língua; e, como ponto fraco, o trabalho com a oralidade. Esse apontamento é bem-vindo por ressaltar a produção escrita, o que nos aguça a curiosidade sobre o tratamento da leitura. A consulta ao Guia do Livro Didático, um documento de avaliação, parece, portanto, assistir nossa análise, embora essa se dê numa dimensão bem menor se comparada aos itens contemplados pela resenha do PNLD. Como afirmamos, se essa especificidade do estudo de um gênero pode parecer reducionista, há de se considerar que as possiblidades que esse recorte possibilita, certamente, beneficiam a análise, ampliando a perspectiva de criarmos inteligibilidade para a abordagem dos eventos discursivos que enfocamos.